Eles e elas. Um certo género de brincadeira

Já se fizeram todo o tipo de experiências: com bebés, crianças pequenas ou mais velhas e o resultado é o mesmo. Parece haver uma tendência biológica para eles gostarem de carros e elas de bonecas. O mesmo já não acontece com as cores. Azul e rosa são preferências socialmente adquiridas, que condicionam futuras escolhas. Contrariar a tradição é a brecha que os investigadores propõem para rapazes e raparigas assumirem escolhas livres de preconceitos e terem as mesmas oportunidades de aprendizagem.

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Bebés já têm preferências estereotipadas

[label type=”success”]Data [/label]2016
[label type=”success”]Instituição[/label]City University London e UCL.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Preferências estereotipadas surgem em bebés e acentuam-se com a idade.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] 101 crianças, a frequentar creches do Reino Unido, foram organizadas em três grupos etários para observar as suas preferências por brinquedos sem a presença de adultos.

  • 9 a 17 meses – fase em que os bebés podem já demonstrar as preferências por brinquedos sem interferência de terceiros;
  • 18 a 23 meses – momento em que ocorrem as primeiras noções de identidade de género;
  • 24 a 32 meses – quando essa identidade está mais desenvolvida.
  • Brinquedos testados: boneca, peluche rosa, tacho, carro, urso de peluche azul, um garfo e uma bola.
  • Resultado: as preferências estereotipadas estão presentes em todas as idades, aparecendo no início do desenvolvimento da identidade de género e acentuando-se à medida que se avança nas faixas etárias. [/note]

A teimosia dos rapazes

[label type=”success”]Data [/label]2017
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Londres e Universidade Caledónia de Glasgow.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Rapazes são mais consistentes nas preferências de brinquedos estereotipados.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] Nada de surpreendente acontece quando 787 rapazes e 813 raparigas entre 1 e 8 anos são repetidamente expostos a brinquedos socialmente categorizados por género. Eles brincaram com camiões, comboios e robôs e elas com póneis, casinhas e bonecas. O comportamento, bastante consistente, levou os cientistas a sugerir um peso relevante da biologia na base dessas escolhas.

À medida que os testes se focaram em crianças mais velhas, a preferência dos rapazes por brinquedos estereotipados tornou-se mais persistente, nem sequer experimentando as restantes opções, padrão não tão expressivo nas raparigas. O que pode significar que os efeitos sociais persistiram por mais tempo nos rapazes ou, então, que há uma forte predisposição biológica deles para certas brincadeiras.[/note]

O efeito masculino nas escolhas femininas

[label type=”success”]Data [/label]2017
[label type=”success”]Instituição[/label]University College London’s Institute for Women’s Health.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Raparigas com níveis altos de testosterona gostam de brinquedos típicos para rapazes.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] O estudo de John A. Berry tinha como finalidade avaliar a exposição das hormonas masculinas nos fetos das grávidas com Síndrome do Ovário Policístico (SOP) – condição na qual as mulheres têm a testosterona ligeiramente elevada. Foi por acidente que se descobriu que as bebés das mães com SOP tinham maior interesse por brinquedos catalogados como masculinos. A investigação incluiu 787 meninos e 813 meninas entre 1 e 8 anos, dos EUA, Canadá, Europa, Israel e China.

O comportamento manteve-se na presença e ausência de adultos, de brinquedos de género neutros e ainda perante os diferentes índices de igualdade de género dos países. Mas isso não significa que os fatores sociais e culturais não tenham influência. Quando os testes de laboratório foram substituídos por observação em casa, os rapazes demonstraram maior interesse por brinquedos «masculinos», enquanto as raparigas mais velhas optaram por atividades «femininas». [/note]

 

A infância em tons de amarelo e verde

[label type=”success”]Data [/label]2018
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Hong Kong, China.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Cores estereotipadas condicionam as escolhas deles e delas.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] Imagine que as crianças, a partir de agora, aprendem que o amarelo é uma cor de meninas e que o verde é de meninos. Essa foi a ideia que os investigadores da Universidade de Hong Kong semearam na cabeça dos pequeninos. A experiência com 129 rapazes e raparigas entre os 5 e os 7 anos demonstrou que as crianças deliberadamente manipuladas assumiram as suas preferências de acordo com o género a que pertenciam. E ainda que essas preferências condicionaram igualmente a tendência para escolher os brinquedos amarelos (elas) e verdes (eles). Os resultados, dizem os autores, estão em sintonia com estudos anteriores, sugerindo que essas ideias apreendidas na infância perduram pela vida fora. [/note]

As cores não escolhem géneros

[label type=”success”]Data [/label]2010
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Cambridge, Reino Unido.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Bebés de ambos os sexos gostam das mesmas cores e formas.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] Será que as cores e as formas dos brinquedos influenciam as preferências de rapazes e raparigas? O estudo com bebés de 18 e 24 meses mostrou que elas continuam interessadas em bonecas e eles nos carros, independentemente da cor, do brilho ou de outras caraterísticas dos brinquedos.

O que se verificou aliás é que, ambos têm sensivelmente as mesmas inclinações: tons vermelhos em detrimento dos azuis e formas redondas em vez de angulares. O mesmo já não aconteceu com bebés de 18 meses do sexo masculino, que preferiram as bonecas. O comportamento levou os autores a sugerir que, tal como acontece com as cores estereotipadas, é a influência social e cultural que vai afastando os rapazes das bonecas.[/note]

Brinco com tudo, menos com o rosa!

[label type=”success”]Data [/label]2015
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Cambridge.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Cores influenciam preferência pelos brinquedos.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] A experiência consistiu em dar às crianças a possibilidade de escolher entre um comboio e um boneco. Num primeiro momento, esses brinquedos tinham cores típicas de género e, num segundo, as cores eram atípicas. O teste foi feito com rapazes e raparigas entre os 20 e 40 meses e repetido quando atingiram os 26 e os 47 meses. Em ambos os momentos, os meninos brincaram com comboios azuis e as meninas com bonecos vestidos de rosa.

Ao substituírem as cores por vermelho e castanho, eles e elas acabaram por tender para os brinquedos atípicos, sobretudo os meninos mais velhos, mais preocupados em fugir ao rosa. Os resultados sugerem que, uma vez adquiridas, as preferências de cores típicas de género começam a influenciar as preferências de brinquedos, especialmente entre os rapazes. Os autores propõem, por isso, a remoção do código de cores de género dos brinquedos como forma de incentivar as mesmas oportunidades de aprendizagem para ambos os géneros.[/note]

Da embalagem ao produto, tudo conta

[label type=”success”]Data [/label]2010
[label type=”success”]Autor[/label]Becky Francis.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Como a indústria do brinquedo molda a identidade da criança.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] No estudo intitulado «Género, brinquedos e aprendizagem», Becky Francis, psicóloga de educação, defende que a brincadeira ajuda a desenvolver a identidade da criança. Ao construírem, através do lúdico, a realidade social, elas procuram também encaixar-se em papéis que percecionam como sendo para rapazes e raparigas. E a própria indústria do brinquedo, ao usar embalagens, cores, imagens e textos diferenciados para elas e eles, ajuda a cristalizar essa identidade.

Os brinquedos para rapazes tendem a conter informações didáticas, com instruções técnicas, enquanto os brinquedos das raparigas tendem a ser em torno de atividades imaginativas e criativas, desenvolvendo por isso habilidades diferentes. Os rapazes, ao brincarem com carros, aviões, máquinas ou peças para montarem, tendem a percecionar a brincadeira como algo que envolve ação e movimento. As raparigas, por seu turno, ao receberem brinquedos como bonecas, jogos de cozinha ou de maquilhagem acabam por associar a brincadeira a aspetos estéticos e a habilidades domésticas.[/note]

O poder das imagens (e das palavras também)

[label type=”success”]Data [/label]2017
[label type=”success”]Autor[/label]Lauren Spinner
[label type=”success”]Conclusão[/label]Imagens e palavras certas combatem estereótipos de género.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]Lauren Spinner, psicóloga educacional, dividiu crianças entre os 4 e 7 anos em dois grupos. Usando ilustrações e palavras de incentivo, os rapazes e as raparigas do primeiro grupo foram desafiados a brincar com objetos culturalmente associados ao sexo oposto, enquanto o segundo foi incentivado a manter a tradição.

Resultado as crianças do primeiro grupo mostraram-se mais abertas à ideia de que eles e elas podem gostar de todo o tipo de brinquedos. E foram também mais flexíveis perante a ideia de que os rapazes podiam brincar com póneis e raparigas com carros.

Mas, na hora de escolherem os brinquedos, tanto as crianças do primeiro como do segundo grupo seguiram as convenções sociais. A experiência não mudou as suas preferências, tornando-as apenas mais propensas a aceitar que as outras crianças pudessem divertir-se com qualquer tipo de brinquedo. Tendo sido uma experiência isolada, a autora sugere que, se essas imagens anti-estereotipadas estivessem disseminadas nos discursos dos educadores, na publicidade ou nas escolas, os mais novos poderiam descobrir novos interesses, atividades e habilidades.[/note]

 

Se as igualdades e diferenças de género são temas que lhe interessam, experimente ler também: Elas e eles: a Matemática trata todos por igual.

 

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Foto de abertura (crédito): The Henry Ford  via Flickr CC BY-SA 2.0

 

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