O bicho da Matemática desmascarado pela ciência

A Matemática é um bicho papão que incute medo desde a infância até à vida adulta. E desde cedo o gosto pelos números e contas tem de ser estimulado através da música, dos jogos e brincadeiras. Ou copiando modelos de países que parecem ter superado um trauma não só responsável por sensações semelhantes à dor, como transmitido de pais e professores para os mais novos.

Vamos lá pôr os números a correr e a saltar

[label type=”success”]Data [/label]2017
[label type=”success”]Instituição[/label]Departamento de Nutrição da Universidade de Copenhaga, Dinamarca.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Matemática aprende-se melhor em movimento.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]As crianças melhoram o desempenho a Matemática quando os exercícios implicam movimentar o corpo. Esta foi uma das constatações do estudo sobre o impacto dos diferentes tipos de ensino com 165 alunos a frequentar o 1.º ano em três escolas. Durante seis semanas, as crianças foram divididas em três grupos: o primeiro usou o corpo para aprender a somar ou a subtrair. Na segunda sala, os alunos foram organizados individualmente ou em pequenos grupos, usando peças de legos para resolver os problemas. Por fim, o último grupo utilizou materiais convencionais como lápis, papel, quadro, entre outros.

Os alunos que usaram o corpo para fazer exercícios de matemática obtiveram resultados duas vezes superiores comparados com os que aprenderam com peças de legos e objetos geométricos. Os resultados mostraram também que o ensino da Matemática combinado com o movimento do corpo resultou melhor em crianças com um desempenho médio ou acima da média. Para as crianças com grandes dificuldades nesta disciplina, as vantagens foram poucas.[/note]

Sentado é que ninguém aprende

[label type=”success”]Data [/label]2016
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Groningen, Holanda
[label type=”success”]Conclusão[/label]Aprender em movimento é mais eficaz

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]A investigação com cerca de 500 alunos dos 1.º e 2.º anos concluiu que pular, agachar e correr facilita muito mais a aprendizagem tanto da Matemática como da gramática. O estudo dividiu as crianças de 7 e 8 anos em dois grupos, um deles seguiu o modelo tradicional e o outro usou movimentos corporais enquanto recitavam as perguntas e davam as respostas. Ao soletrar, por exemplo, ga-ve-ta, pulavam três vezes. Ou para resolver 2×4, eles poderiam agachar oito vezes enquanto contavam.

Dois anos mais tarde, a equipa da Universidade de Groningen constatou que o nível de aprendizagem do primeiro grupo estava quatro meses mais adiantado do que os alunos que aprenderam sentados. As crianças que usaram o movimento mostraram maiores ganhos em velocidade e conhecimentos de Matemática e ortografia, além das melhorias na capcidade de concentração.[/note]

Começar o dia a contar e acabar a ler na cama

[label type=”success”]Data [/label]2017
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Londres, Reino Unido.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Aprender Matemática na parte da manhã tem ganhos para a aprendizagem.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]As aulas de Matemática são mais rentáveis na parte da manhã porque as crianças se concentram melhor antes do almoço. Em contrapartida, as aulas de História deverão acontecer à tarde quando desempenham melhor as tarefas que envolvem análise, debate e interpretação. O estudo, conduzido durante 9 anos numa secundária na Bulgária, avaliou notas, horários e faltas, concluindo que quando os adolescentes tiveram aulas de Matemática pela manhã, os resultados melhoraram em 7%. E quando as aulas de História aconteceram à tarde, as classificações tiveram uma subida de 6%. Pela manhã, há maior apetência para tarefas repetitivas, que exigem velocidade e foco. Com o avançar do dia, essa capacidade diminui, ficando os alunos mais criativos e recetivos à discussão de ideias.[/note]

Filosofar também é um exercício de matemática

[label type=”success”]Data [/label]2015
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Durham, Reino Unido.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Discussões filósoficas tem impacto na aprendizagem da Matemática.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]Durante um ano, 3 mil alunos ingleses entre os 8 e os 11 anos tiveram aulas com discussões à volta de conceitos como verdade, justiça, bullying ou bondade. Sentados em círculos no chão da sala, as crianças participaram em sessões semanais do projeto “filosofia para crianças”. Na hora de avaliar os resultados, os investigadores concluíram que a experiência deu um impulso significativo na aprendizagem da Matemática e na capacidade de leitura com os alunos a mostrar um avanço de cerca e dois meses face aos outros colegas.

A evolução foi sobretudo visível entre as crianças de condição socioeconómica mais baixa, mas os resultados foram igualmente benéficos em outras dimensões. Segundo os professores, o comportamento dos seus alunos também melhorou com menos casos de indisciplina e maior participação nas aulas.[/note]

Do mindinho ao polegar, todos contam

[label type=”success”]Data [/label]2016
[label type=”success”]Instituição[/label]Universidade de Sydney, Austrália.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Usar os dedos ainda é o melhor método para aprender.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]Os alunos que usam os dedos para decifrar certos problemas de Geometria, de Álgebra e de Matemática são capazes de resolvê-los de forma mais rápida e fácil, sugere o estudo da Universidade de Sydney que avaliou o desempenho de 275 alunos de 13 anos. Os investigadores estão convencidos de que usar, por exemplo, o dedo indicador para traçar os ângulos ou seguir retas pode fazer com que o cérebro processe melhor a informação, reduzindo desta forma a carga na memória de trabalho dos alunos. Embora os resultados sejam considerados promissores, os investigadores advertem para a necessidade de mais estudos e experiências não só para aprofundar estes resultados como para perceber os seus benefícios em áreas distintas da Matemática.[/note]

Um degrau de cada vez

[label type=”success”]Data [/label]2013/2014
[label type=”success”]Autor[/label]John Mighton
[label type=”success”]Conclusão[/label]Crianças aprendem duas vezes mais rápido se a matemática for separada em componentes.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] JUMP (Junior Undiscovered Math Prodigies) é o método do canadiano John Mighton, dramaturgo, autor e professor de matemática. O projeto arrancou numa escola de Manhattan, em 2013/2014, com alunos de 4º ano e, no final do ano letivo, já se verificava um aumento significativo nas notas deles, em relação a toda a cidade de Nova Iorque. Atualmente é utilizado por 15 mil crianças, em oito estados dos EUA, estendendo-se também ao ensino no Canadá, com 150 mil alunos e, em Espanha, com 12 mil. Os testes pilotos entretanto feitos pela Universidade de Toronto concluíram que os alunos progrediram duas vezes mais rápido do que os alunos sujeitos ao ensino convencional.

Na base do modelo está a perceção de John Mighton de que o ensino atual, ao alternar constantemente entre o concreto e o abstrato, sobrecarrega o cérebro das crianças, provocando stress na memória de trabalho. Daí que tenha procurado um método dividido em duas partes:

[dropcap style=”flat” size=”2″]1.[/dropcap]as matérias são organizadas em várias componentes, cada uma explicada lenta e cuidadosamente até serem entendidas e interiorizadas;

[dropcap style=”flat” size=”2″]2.[/dropcap]seguem-se depois os exercícios praticados de forma contínua.

A principal diferença do programa JUMP é que ele começa com um passo pequeno e vai progredindo aos poucos até chegar a um nível mais complexo. O método sendo gradual aumenta a confiança das crianças que antes tinham dificuldades na disciplina, mas passaram a entender e a fazer os exercícios.[/note]

As frutas e os cubos já não servem para nada

[label type=”success”]Data [/label]2008
[label type=”success”]Entidade[/label]Universida de Estadual de Ohio, EUA.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Quanto mais abstrata é a Matemática, mais fácil se torna para as crianças.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]Andaram gerações de alunos a aprender Matemática com gomos de laranja, maçãs, comboios ou outras referências do quotidiano para agora chegarem uns especialistas americanos e dizerem que está tudo errado? É isso que os investigadores da Universidade de Ohio tentaram demonstrar para defender que as equações abstratas são mais eficazes do que os exemplos concretos. Apesar de terem usado estudantes universitários como cobaias, os autores defendem que os resultados podem ser transferidos também para os alunos dos ensinos básico e secundário.

Ensinar Matemática com fatias de pizza berlindes retirados de boiões poderá não ser o melhor método de ensino, acreditam os autores do estudo que questionam até o ensino no pré-escolar com cubos ou blocos de madeira, dado que a teoria nunca foi cientificamente testada. O estudo, todavia, levantou alguma polémica, com boa parte dos especialistas americanos a reconhecer resultados interessantes nesta experiência, mas a recomendarem alguma cautela dado a aprendizagem nunca ter um caminho único.[/note]

Dedinhos musicais aprendem melhor

[label type=”success”]Data [/label]2014
[label type=”success”]Entidade[/label]Departamento de Educação da Universidade de Aveiro.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Quem estuda música aprende melhor a Matemática (instrumentos de tecla estão em vantagem).

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label]As crianças que estudam música têm maior facilidade em apreender os conceitos matemáticos. Esta associação entre aprender a tocar um instrumento e melhor desempenho a Matemática acontece independentemente do desenvolvimento intelectual ou sequer da condição socioeconomica do aluno. E quanto mais longa for a relação da criança com a música, melhor é o seu desempenho matemático, sobretudo na área da Geometria.

O estudo, feito em 2014, implicou a análise do percurso escolar de 122 alunos de norte a sul do país a frequentar os 7.º, 8.º e 9.º anos e concluiu também que os intrumentos de teclas são os que melhoram ainda mais as notas a Matemática, exercitando melhor o raciocínio espacial. As teclas permitem representar visualmente os intervalos entre alturas de som que, por sua vez, têm correspondência com a geometria da música escrita.[/note]

Peça a peça se constrói a Matemática

[label type=”success”]Data [/label]2012
[label type=”success”]Entidade[/label]Universidade de Chicago, EUA.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Crianças que brincam com puzzles desenvolvem mais aptidões matemáticas.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] Pôr as crianças entre os 2 e os 4 anos a brincar com puzzles está entre as maneiras mais eficazes de desenvolver as aptidões espaciais como prever a rotação de um objeto ou reconhecer formas geométricas, concluíram os especialistas após conduzir um estudo, que avaliou também as condições socioeconómicas das famílias. Ao examinar os vídeos dos pais a brincar com os filhos durante as atividades quotidianas, a equipa de cientistas constatou que as crianças que se entretêm com os puzzles entre 26 e 46 meses têm melhores habilidades espaciais quando avaliadas aos 54 meses (4 anos e meio).[/note]

Os segredos do método asiático

[label type=”success”]Data [/label]2016
[label type=”success”]Entidade[/label]universidades de Oxford e de Exeter, Reino Unido.
[label type=”success”]Conclusão[/label]Método asiático também resulta com ocidentais.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] Será que o método Oriental resulta no Ocidente? A pergunta serviu de ponto de partida para investigadores das universidades de Oxford e de Exeter fazerem o teste com 550 alunos de 5 e 6 anos. Durante um ano, usaram o programa «Matemática Inspiradora», desenvolvido pela Universidade de Oxford com base nos mesmos princípios e manuais de ensino em Singapura.

Os resultados permitiram concluir que, não só eles melhoraram o desempenho face aos outros colegas, como o método serviu também para aprofundar o desenvolvimento profissional dos professores. Mas o que tem de diferente o modelo de Singapura? Para começar, o ritmo é mais lento nos primeiros anos de aprendizagem, acelerando à medida que o ensino progride nos anos seguintes. Os programas curriculares são menos abrangentes do que na maioria dos países europeus, incluindo Portugal.

Em contrapartida, aposta-se num maior aprofundamento dos conteúdos selcionados. Embora a memória e o treino sejam valorizados, o foco centra-se nas ferramentas visuais para ensinar conceitos abstratos. O metódo baseia-se na aprendizagem de conceitos através de pequenos passos, começando pelo uso de objetos e desenhos práticos, como blocos, cartas, barras ou diagramas. Toda a turma é ensinada em conjunto e as crianças devem aprender um conceito em profundidade antes de seguir em frente.[/note]

Tão mau que até dói

[label type=”success”]Data [/label]2013
[label type=”success”]Entidade[/label]Universidade de Chicago (EUA), Universidade Ocidental de Ontário (Canadá).
[label type=”success”]Conclusão[/label]Medo da Matemática provoca sensação de dor.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] O medo da Matemática pode ser tão angustiante que causa uma sensação de dor, concluíram os investigadores após estudarem os resultados de testes neurosensoriais aplicados a 28 estudantes universitários durante uma prova de Matemática. Os alunos que demonstraram esse medo ativaram, durante o teste, partes do cérebro responsáveis pela sensação de dor. O trauma, em alguns casos, apresenta sinais parecidos com o que o nosso cérebro costuma emitir perante situações negativas, como roturas amorosas. Não se trata, alertam os neurocientistas, de uma dificuldade inata, mas uma espécie de trauma desenvolvida desde a infância.[/note]

De pais para filhos como uma herança

[label type=”success”]Data [/label]2015
[label type=”success”]Entidade[/label]Universidade de Chicago (EUA).
[label type=”success”]Conclusão[/label]Medo da Matemática dos pais contagia os filhos.

[note note_color=”#faf9f2″ text_color=”#111111″ radius=”16″][label type=”success”]Resumo[/label] Ao analisar o desempenho escolar de 438 crianças dos seis aos 12 anos e o comportamento dos pais quando ajudam os filhos nas tarefas da escola, os investigadores da Universidade de Chicago chegaram à conclusão de que o medo dos adultos face à Matemática contagia as crianças, interferindo na sua aprendizagem. Manter a calma e mostrar aos mais novos que todos os obstáculos são ultrapassáveis é a estratégia dos investigadores recomendada aos pais.[/note]

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Elas e eles: a Matemática trata todos por igual

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