Alguma vez reparaste na cara que alguém faz ao perceber que pisou cocó de cão? E na expressão de um adepto quando o clube dele marca um golo? Ou, então, saberás por acaso qual é a tua cara ao abrir uma prenda de aniversário, que é exatamente aquilo que pediste? Nojo, alegria, tristeza, medo, raiva e surpresa são as seis emoções básicas que o rosto humano consegue expressar.
Mas, atenção, os sentimentos humanos são bem mais complicados. E as seis expressões básicas são demasiado simples para abarcar todo o tipo de emoções que nos sobressaltam sem qualquer aviso. Até porque, uma surpresa nem sempre é agradável, às vezes é triste, outras vezes deixa-nos muito irritados ou bastante receosos. O mesmo acontece com o medo, com o nojo ou com a raiva, que, com frequência, arrastam outras sensações.
De cada vez que expressamos uma emoção, os músculos do rosto conjugam uma série de movimentos para transmitir aos outros aquilo que nos vai na alma. E quanto mais elaborada for essa emoção, mais complexas são também as transformações que acontecem no rosto. É como se o cérebro fosse um cozinheiro a dosear os ingredientes para que os músculos consigam cozinhar a expressão que melhor corresponde ao que se está a sentir.
Algumas gramas de alegria e umas pitadas de surpresa, por exemplo, fazem a nossa boca esboçar um sorriso, abrir muito os olhos e levantar as sobrancelhas. Umas boas doses de nojo e tristeza q.b. são o suficiente para cerrar os dentes, franzir a testa e deixar descair os cantos da boca.
No caso das expressões que combinam várias emoções, os movimentos do rosto são muitas vezes subtis. Aos olhos destreinados, passam desapercebidas e foi por isso que os investigadores da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, recorreram aos computadores para conseguir contabilizar o número de expressões faciais de um rosto humano.
Além das seis emoções básicas universalmente conhecidas, os cientistas identificaram outras mais complexas, usando um algoritmo que mapeou cerca de 5 mil imagens de expressões humanas, decompondo todos os movimentos dos músculos.
Cada uma das seis expressões faciais básicas tem um conjunto específico de movimentos musculares e que se tornam mais complexos ao serem combinados com outras 15 emoções. Com mais ou menos variações, estas 21 caretas que o rosto faz servem para expressar os mesmos sentimentos em quase todas as pessoas, pelo menos nas culturas ocidentais.
Esta é a lista das 21 expressões mapeadas pelos investigadores americanos:
Feliz | Chocada/o | Surpreso/a |
Admirada/o | Amedrontada/o | Zangado/a |
Enojado/a | Surpreso/a | Surpresa feliz |
Feliz, mas enojado/a | Triste e com medo | Triste e zangada/o |
Triste e surpreendido/a | Tristemente enojada/o | Com medo e zangado/a |
Com medo e surpreendido/a | Com medo e enojada/a | Com raiva e surpreso/a |
Zangada/o e enojada/o | Enojado/a e surpreso/a | Ódio |
Os rostos não mentem
As palavras
nem sempre correspondem
ao que estamos a sentir, mas
as expressões, essas, nunca mentem
nem sempre correspondem
ao que estamos a sentir, mas
as expressões, essas, nunca mentem
A investigação realizada em 2014 pode vir a ser bastante útil para ajudar a diagnosticar alguns problemas e doenças que afetam a cognição, como o autismo ou traumas do foro psicológico. E, quem sabe, contribuir até para aperfeiçoar a inteligência artificial, desenvolvendo robôs capazes de interpretar as expressões humanas.
Tão importante também é o estudo permitir conhecer melhor o cérebro e as suas capacidades de comunicar. As expressões faciais são a mais antiga forma de comunicação entre os humanos. Muito antes da fala ou a escrita, já usávamos o rosto para comunicar perigos e ameaças.
Essa capacidade é ainda hoje um dos pilares da comunicação. Para entendermos os outros, não basta saber escutar, mas também ver e interpretar aquilo que se ouve e que se vê na cara dos outros. São várias as investigações a demonstrar que a comunicação verbal precisa de outros elementos para ser melhor entendida. No global, as palavras ditas são o que menos importa, 7% apenas. Cerca de 38% da comunicação é conseguida através do tom de voz e 55% deve-se aos gestos e às expressões faciais.
O rosto é a nossa parte mais honesta. As palavras podem muitas vezes não corresponder ao que estamos a sentir, mas as expressões, essas, não mentem. Tanto assim é que, em alguns países, há departamentos de polícias que contam com especialistas em linguagem corporal para ajudar a detetar mentiras de supostos criminosos durante os interrogatórios.
Mas o estudo das emoções não é apenas útil para apanhar mentirosos, melhorar a comunicação com os outros ou ajudar a ciência a aperfeiçoar a inteligência artificial. Servem principalmente para conhecermos mais sobre nós próprios e dar importância aos nossos sentimentos. Ao tomarmos consciência deles, percebemos que há muitos estados de alma a viver dentro de nós. Umas vezes estamos tristes, outras vezes frustrados, alegres, irritados ou até eufóricos. Somos feitos de muitas e diferentes emoções e só um pateta é que diz estar sempre alegre. E, mesmo assim, está a mentir.
Clica em cada imagem do painel e descobre o que faz o teu rosto para expressar as 6 emoções básicas.
Fontes consultadas: PNAS | Artists Network | Scholarpedia | Ebah