O Bichinho das Contas, habituado a ver números em todo o lado, inventou várias fórmulas para calcular o peso das palavras.
Separar uma palavra comprida de um lado e uma curta do outro e pesar cada uma delas.
Arranjar uma palavra com mais consoantes e outra com mais vogais e ver qual é a mais pesada.
Aumentar e diminuir o grau dos substantivos para ver se ganharam ou perderam peso.
Há ainda outras pesagens que podem ser feitas entre as palavras esdrúxulas, graves e agudas ou entre as palavras monossilábicas (1 sílaba), dissilábicas (2 sílabas) ou polissilábicas (3 ou mais sílabas). E, já agora, verificar também se os acentos e as cedilhas contribuem ou não para o peso oscilar.
O Bichinho da Contas ficou só pela teoria. É preciso ser muito esdrúxulo para julgar que se pode agarrar nas palavras e pesá-las numa balança. Elas não são coisas que se enfiam nos bolsos para usar quando se tem frio ou comer quando se tem fome.
Mas, então, porque se diz para pesar ou medir bem as palavras?
O peso ou a medida, no caso das palavras, tem a ver com a forma e tom como são ditas. E também com o conjunto de palavras que se escolhe para construir uma frase. É o que se diz, porque se diz e como se diz, portanto, que carregam uma ou várias palavras de significados que confortam, alegram, afrontam, alertam ou até assustam.
Uma banana , por exemplo, é só uma banana, mas quando essa banana ganha vida própria passa a ser uma ofensa. Ninguém gosta de ser uma banana ou um banana, que se deixa enganar a toda a hora por qualquer um.
As palavras, por isso, pesam e têm de ser medidas. Mas não se chega a lado nenhum usando uma balança ou uma fita métrica. O peso das palavras está no impacto que provocam em quem as ouve. Não é possível tocá–las, muito menos agarrá-las. Mas são elas que dão forma às nossas ideias, moldam e expulsam os pensamentos que, de outra maneira, ficariam solitários na nossa cabeça.
As palavras no sentido literal não são quadradas ou redondas, não escorregam, nem arranham, não são leves nem pesadas. Muito embora, umas sejam mais difíceis de pronunciar do que outras. A facilidade com que se diz «folha» ou «lençol» não é a mesma para dizer palavras como «caramelizado» ou «atrofiado». Aquelas com mais consoantes são as que, por regra, dão mais trabalho às nossas cordas vocais, precisando ultrapassar uma maior quantidade de obstáculos até saírem pela boca e, muitas vezes, também pelo nariz.
Ao contrário das vogais – que se formam com uma simples vibração do ar –, as consoantes precisam dos lábios, dentes, língua, céu da boca e ainda do sininho da garganta (úvula) para saírem perfeitinhas.
Mas, fáceis ou difíceis de pronunciar, se convivermos algum tempo com elas, são capazes de surpreender e mostrar formas, texturas, tamanhos, temperaturas e muitas outras características atribuídas a objetos e pessoas.
São os escritores, os compositores e os poetas em particular que melhor tiram partido destes atributos. Brincam com a gramática, jogam com as palavras, tiram-nas do seu contexto, carregam ou trocam os seus significados e, ainda assim, elas continuam a fazer sentido.
É preciso talento, inspiração e trabalho para escrever como um poeta, mas não é preciso ser poeta para sentir o peso das palavras. Não só o peso, mas tudo no que elas se transformam quando lhes damos a devida atenção.
Frustrado com os primeiros exercícios, o Bichinho das Contas decidiu emendar o erro, inventando outras formas de avaliar os atributos das palavras. E não é que, desta vez, até faz algum sentido?
O que te vem à cabeça quando pensas em…?
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