Mais do que moldar, muitos estudos procuraram ver como o nome determina as nossas escolhas, mas a sua validade é, em boa parte das vezes, questionável. O que é mais provável é o efeito que o nosso nome tem sobre os outros. É como um rótulo que se cola à nossa cara e que transporta estereótipos culturais e sociais capazes de condicionarem a perceção que professores ou empregadores têm sobre nós.
Ter um nome como Francisco, Vanessa ou João é só uma questão de gosto dos pais ou será que revela também algo do que se é? A melhor maneira de responder a essa pergunta é procurar pelos estudos dos especialistas. Ou, se calhar, é melhor não. Como mostra a psicóloga russa, Maria Konnikova, da Universidade Columbia, já se fizeram tantas investigações e tão estranhas que uma pessoa desconfia perante os surpreendentes resultados.
Há trabalhos a defender que os nomes influenciam a forma como escolhemos a profissão ou o lugar onde vivemos, trabalhos que explicam como o nosso nome determina com quem casamos, o salário que ganhamos ou porque somos contratados para um emprego. Chega-se ao ponto de sugerir que os nossos nomes podem determinar até se somos propensos a fazer donativos antes ou depois de as tragédias nos atingirem. Ou então a explicar que tipo de investidores somos quando jogamos na bolsa.
Mais importante do que procurar por estudos que associam o nome a tudo e mais alguma coisa será tentar destrinçar o que neste labirinto de teses é ou não confiável. Foi o que fez o psicólogo Uri Simonsohn da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Boa parte dos estudos que ele questionou e analisou (profissão, casamentos ou escolha de cidade de residência) baseia-se numa premissa a que, no jargão da psicologia, se dá o nome de efeito de egoísmo implícito, isto é, a nossa atração inconsciente por coisas e pessoas que nos fazem lembrar a nós próprios. Essa tendência, todavia, não é suficiente para explicar decisões determinantes na nossa vida e muito menos servir como uma metodologia exclusiva das investigações.
Tens mesmo cara de Laura!
Significa isto que o nome tem um peso inócuo na nossa identidade? Depende do ângulo em que se vê a coisa. Há vários estudos (suportados por metodologias mais complexas) a sugerir que, acima de tudo, um nome tem mais impacto sobre os outros do que sobre nós próprios. Uma destas investigações, por exemplo, procurou perceber que fundamento há quando se diz que as pessoas associam um rosto a um nome.
Quem nunca olhou para um conhecido ou um amigo e pensou: “É que nem podia ter outro nome”? Testes de laboratório demonstraram que essa sensação não é um mito urbano, mas bastante comum. Segundo o trabalho conduzido em 2016 na Universidade Hebraica de Jerusalém, o nosso nome é uma espécie de rótulo que os outros, condicionados por estereótipos culturais, nos colam e que representa expectativas sociais de como uma pessoa com um determinado nome deve parecer. Essa correlação levou os especialistas israelitas a supor que, se os outros depositam certas expectativas sobre nós, a tendência é para cumprir essas expectativas.
O que faltará ainda demonstrar é que implicações tem esse efeito na vida de cada um. Será que confiamos naquelas pessoas cujo nome não corresponde ao tipo de rosto que imaginamos? Será que um empregador seleciona os seus candidatos em função do nome deles?
Mude o nome se está à procura de emprego!
O mais curioso é que muitas destas questões já foram levantadas em estudos anteriores com resultados desconcertantes. Um trabalho da Universidade de Estocolmo, na Suécia, mostrou que os imigrantes que mudaram os seus nomes de origem eslava, asiática ou africana, como Kovacevic e Mohammed, para outros nomes suecos ou neutros, como Lindberg e Johnson, subiram substancialmente os seus rendimentos, ganhando em média mais 26% do que aqueles que mantiveram os seus nomes.
Outro trabalho feito por investigadores das universidades de Toronto e de Ryerson, no Canadá, exemplificaram como os candidatos a emprego com nomes asiáticos e formação canadiana têm menos probabilidade de serem chamados para entrevistas do que aqueles com nomes anglo-canadianos e com menos qualificações.
A investigação de Marianne Bertrand e de Sendhil Mullainathan, da Universidade de Chicago, obteve, em 2004, resultados muito semelhantes. Ao enviarem currículos fictícios atribuídos a nomes associados a africanos e brancos para anúncios que procuravam candidatos nos jornais de Bonston e de Chicago, os investigadores constataram que os «nomes brancos» tiveram mais 50% de respostas do que os restantes.
O que explica esses comportamentos, muitas vezes inconscientes, é um fenómeno identificado como efeitos da sinalização de nomes – o que os nomes dizem sobre etnia, religião ou condição socioeconómica. Esse procedimento pode acontecer até fora dos contextos de trabalho e desde muito cedo, como demonstrou outro estudo da Universidade de Flórida, que descobriu como alunos com nomes afro-americanos condicionavam negativamente a perceção dos professores sobre o seu desempenho escolar.
Por vezes, basta simplesmente um nome difícil de se pronunciar para fazer toda a diferença. Nomes mais fáceis atraem mais simpatia por parte de colegas e de patrões, sugere o trabalho de Simon M. Laham, Peter Koval e Adam L. Alter. E podem até ajudar um candidato a conquistar mais votos, como sugere outra investigação conduzida na Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos.