Quanto mais faz o brinquedo, menos faz a criança

Brinquedos simples estimulam a imaginação. Uma caixa de cartão ou uma bola é o que basta para desafiar os mais novos a explorar a mente, o corpo e a experimentar novos caminhos. São essas habilidades que os ajudam mais tarde a encontrar soluções para desafios cada vez mais exigentes. E não se trata de quantidade, mas de qualidade. Menos brinquedos é o que diminui a distração das crianças, levando-as a se focarem em brincadeiras mais duradouras, criativas e imaginativas.

Uma caixa, um pau, um lençol, um rolo de papel de cozinha ou uma folha branca não são o que parecem. Nas mãos das crianças, uma caixa é um barco a navegar em lagos adormecidos ou em mares de tempestade. Um ramo é a vareta de um mágico ou um giz para desenhar na areia. Um pau é a espada de um pirata e também a vassoura de uma bruxa. Um lençol é um acampamento na selva ou uma cortina a demarcar o território do inimigo. Um tubo de cartão é o telescópio apontado para o universo ou o binóculo a espionar atividades suspeitas em lugares distantes. E uma folha branca é que, sem os lápis coloridos, não passa mesmo de uma folha branca.

Digam lá se estes não são os melhores brinquedos de todos os tempos? E não é somente por trazer à memória as brincadeiras mais felizes da nossa infância. É sobretudo por não precisarem de botões, luzinhas a piscar ou barulhos eletrónicos para despertar a fantasia. Quanto mais faz um brinquedo, menos faz a criança. Qual é a piada de um carrinho com volante, buzina, espelho retrovisor e mudanças, que não deixa espaço para a imaginação? E a utilidade de uma bonequinha dançarina que só pede para observar os seus movimentos telecomandados? Ou de um écran com imagens em movimento e vídeos parvos num interminável loop?

Há uma razão pela qual os brinquedos simples são os melhores. São os que estimulam o pensamento criativo, desafiando os mais novos a explorar a mente, o corpo e a experimentar diferentes papéis.  Bolas, blocos de construção, plasticina ou lápis de cera são por regra mais salutares para as crianças do que divertimentos eletrónicos/educacionais, conclui um estudo conduzido no laboratório de Investigação Infantil da Universidade Temple, nos Estados Unidos.

Conduzir ou ser conduzido

As crianças são exploradoras por natureza. Assumem sempre um papel ativo e não passivo. Os melhores brinquedos não são, como tal, aqueles que dizem o que têm de fazer, mas aqueles que permitem que sejam elas a tomar as rédeas da brincadeira. Esse é o caminho para promover a autonomia, a criatividade, o pensamento crítico e a imaginação, defendem os investigadores.

Ao manipular brinquedos simples, as crianças experimentam e, entre a tentativa e o erro, abraçam a liberdade das suas ideias para construir a confiança nas suas próprias capacidades. E assim abrem-se os caminhos neuronais para os pensamentos elaborados, que, mais tarde, encontram as soluções para problemas cada vez mais complexos.

Não são apenas as habilidades intelectuais que estão em causa – avisam os especialistas – mas também as competências sociais e emocionais que, a brincar, a brincar, se ganham na interação com as outras crianças. Aprender a interpretar o comportamento e as emoções dos outros é algo vital para a criança desenvolver empatia pelo próximo. E mais vital ainda porque se tornam difíceis de ensinar à medida que elas crescem.

Menos é sempre mais

Daí a importância de escolher bem os brinquedos. Não se trata de quantidade, mas de qualidade. Quantidade, aliás, é o que compromete a qualidade, sugere um outro estudo saído em fevereiro de 2018 da Universidade de Toledo, em Ohio, nos EUA. Menos brinquedos é o que diminui a distração das crianças, levando-as a concentrarem-se em brincadeiras mais criativas e imaginativas, defendem os autores. E, em última instância, é o que conduzirá a um desenvolvimento cognitivo mais profundo.

Não é difícil entender a lógica por detrás desta conclusão. Uma criança com apenas um brinquedo brinca mais tempo e descobre novas e mais sofisticadas utilidades para ele. E com isso desenvolve também muitas facetas, desde habilidades físicas, imaginativas, coordenação motora fina, capacidade de autoexpressão ou resolução de problemas.

Por tudo isso, da próxima vez que o seu filho ou a sua filha pedincharem por um brinquedo que acabará esquecido no armário, seja forte e diga não. Sim, não é fácil, mas lembre-se que os melhores brinquedos de todos os tempos são justamente aqueles que também pesam menos no orçamento. E versáteis o suficiente para entreterem os mais novos de mil e uma maneiras.

Junte, por exemplo, uma caixa, um tubo de cartão e um pau e, como um passe de magia, terá um navegador na proa de um barco a avistar terra firme, enquanto um tripulante rema energicamente contra a maré. E, com isso, esquecem a choraminguice. Pelo menos até ao próximo anúncio na TV ou ida ao supermercado. Mas isso, queridos papás e mamãs, é a vida…

Este tema só fica completo com a leitura de:

Guia para escolher brinquedos espetaculares

Fotos e créditos

Artigo anteriorO toque mágico nas relações humanas
Próximo artigoGuia para escolher brinquedos espetaculares