Um engenheiro nunca é só um engenheiro. É engenheiro civil, agrónomo ou mecânico. Tal como um biólogo pode ser um virologista, um micologista (estuda os fungos) ou um entomologista (estuda insetos). O mesmo acontece com médicos, advogados, físicos, terapeutas, arquitetos e por aí fora. As especializações são tantas que tornam bastante complicada a tarefa de contar o número de profissões.

Os técnicos do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) fazem esse trabalho de tempos a tempos e, na última revisão, em 2011, enumeraram 708 profissões. Se parece pouco, é porque a Classificação Portuguesa das Profissões, um calhamaço com mais de 400 páginas, não separa essas funções por especialidade. Caso contrário, a lista, organizada de acordo com os parâmetros da Organização Internacional do Trabalho, teria milhares e milhares de profissões.

Essa contagem tem de ser atualizada de vez em quando porque estão sempre a surgir novos empregos. Há poucos anos apareceu, por exemplo, o gestor de redes sociais para promover marcas ou analisar o comportamento dos consumidores no Facebook, no Twitter, no Instagram, entre outros. O desenvolvedor de aplicações móveis é outra profissão nova dentro do ramo da programação de computadores, que surgiu, há menos de uma década, com a finalidade de criar aplicativos para smartphones e tablets.

Em contrapartida, outras profissões tornam-se obsoletas, acabando por se extinguir, como é o caso das lavadeiras, dos datilógrafos ou das governantas. Um dos principais responsáveis pelo surgimento ou desaparecimento de profissões é a tecnologia que substitui o trabalho de pessoas ou cria ofícios para novas necessidades.

O mundo do trabalho é um labirinto com uma infinidade de caminhos, muito parecido com um formigueiro cheio de galerias subterrâneas.

Cada formiga tem o seu papel. Umas tratam da limpeza, outras da segurança, há as que vão à procura de comida e as que armazenam os mantimentos ou as que cuidam dos berçários, adaptando as rotinas e as estratégias às regiões onde vivem.

E nós somos quase como as formiguinhas. A grande diferença é que elas nunca perguntam a si próprias se gostariam de fazer outra coisa na vida ou se o trabalho delas deveria ser melhor recompensado. Num formigueiro, não há greves e ninguém acorda de mau humor para ir trabalhar. A desvantagem é que muitos talentos são desperdiçados.

Os humanos trabalham para pagar as contas e para manter o mundo a girar, mas não só. O objetivo também é descobrir o que melhor sabem fazer e chegar a casa com a sensação de que são bons naquilo que fazem. Uns já encontraram esse trabalho, alguns estão ainda à procura e outros adiaram essa tarefa. Há sempre os sortudos que acertam à primeira e os que experimentam muitos caminhos antes de acertarem.

E haverá também sempre aquelas profissões mais populares, advogados, gestores, informáticos, polícias ou professores. E também empregos que a maioria nem desconfia existirem, mas alguém tem de os fazer. Nancy Rica Schiff, por exemplo, é uma fotógrafa americana especialista em empregos esquisitos. Ela percorre os Estados Unidos de lés a lés à procura de profissões raras. Já encontrou de tudo dentro de laboratórios, museus, fábricas, casinos, aquários ou resorts de golfe.

Fotografou cheiradores de axilas, que se certificam da eficácia dos desodorizantes, farejando sovacos transpirados, provadores de ração, que avaliam sabores e texturas de biscoitos e comida para cães e gatos, inspetores de batatas fritas que são rápidos a eliminar as rodelas de tamanhos diferentes ou mergulhadores que se atiram de cabeça para os lagos nos campos de golfe à procura de bolas perdidas.

O Bichinho das contas também selecionou 7 profissões que, não sendo raras nem esquisitas como as que Nancy descobriu, dificilmente nos lembraríamos delas no dia-a-dia. Embora umas sejam mais visíveis e outras quase invisíveis, todas existem porque há sempre alguém a precisar de um serviço de mais alguém.

Ornitóloga ou Ornitólogo

Mochila às costas, caminhadas longas por matas, florestas e bosques, subindo montanhas ou atravessando lagos e descendo rios. Os ornitólogos fazem o que for preciso para observar de perto os passarinhos e outras aves, classificando-os em espécies, géneros e famílias. Por isso, quem achar piada a esta profissão tem de ter uma boa preparação física e, mais importante ainda, não entrar em pânico de cada vez que se cruza com insetos, aranhas, cobras e restante bicharada.

Muitas vezes, os ornitólogos percorrem quilómetros e quilómetros para depois esperarem horas a fio no mesmo lugar que as aves decidam dar o ar da sua graça. Só assim conseguem descobrir os hábitos e os comportamentos que têm sozinhos ou em grupo, as habilidades que aprenderam ou com as quais nasceram e a sua importância para a conservação do ecossistema.

Atuário ou atuária

Alguém tem de pensar no dia de amanhã. Como vai ser quando chegarmos à reforma? O que acontece se tivermos uma doença ou um acidente? Qual é o plano B, se tudo der para o torto? Esse é o papel de um atuário ou de uma atuária, que usa as ciências exatas como matemática, estatística e probabilidades, economia, finanças, entre outras, para medir, analisar e gerir todos os imprevistos que podem vir ou não a acontecer.

Ele ou ela são a nossa boia de salvação em emergências, estimando, por exemplo, o valor de indemnizações em casos de despedimentos ou acidentes, avaliando regimes de pensões ou sistemas de seguros. Mas os atuários não veem só números à frente. Cada cálculo ou estimativa tem sempre em conta que o mundo está constante em mudança.

Entomologista forense

Não é qualquer um que gosta de uma profissão que obriga a passar a maior parte do tempo entre larvas, insetos e cadáveres em decomposição. Esse é o lado negro de um entomologista forense. Mas, a faceta empolgante deste ofício é a perícia para desvendar crimes. Ele ou ela é como um inspetor ou inspetora de uma brigada de homicídios à procura de pistas.

Só que, em vez de interrogar as testemunhas sobre o que viram ou julgaram que viram, pergunta diretamente aos bichos o que aconteceu. As larvas e os seus ovos depositados nos cadáveres contam tudo o que sabem: há quanto tempo a vítima foi assassinada, se foi transportada para outros locais ou até se as lesões aconteceram antes ou depois da morte.

Musicoterapeuta

A música, sozinha, já é terapêutica. Tem poder para nos relaxar, comover, dar energia ou alegria. Agora imagine-se o que pode ela fazer quando usada por profissionais para promover a concentração, controlar raivas, stress ou ansiedades, estimular o movimento e posturas corretas do corpo, ajudar a expressar sentimentos e emoções ou desenvolver a capacidade para trabalhar em grupo.

Uma ou um musicoterapeuta estudou música, mas não só. Aprendeu também que cada som, ritmo, melodia e harmonia, aliado a outras disciplinas como psicologia ou a neurologia, pode fazer maravilhas pela saúde e bem-estar.

É ainda uma profissão pouco conhecida, mas o que não faltam são lugares onde os musicoterapeutas são precisos. Desde hospitais psiquiátricos, centros de reabilitação, lares de idosos, escolas e jardins-de-infância, prisões, hospitais, entre muitos outros sítios.

Engenheira acústica ou engenheiro acústico

Uma discoteca, um bar com música ao vivo, uma sala para espetáculos ao vivo, um auditório, um cinema, um teatro, um estúdio, um estádio, um pavilhão ou uma igreja não são apenas obras de arquitetos ou de engenheiros civis. Há sempre um dedo (ou um ouvido) de um engenheiro acústico, que mexe na arquitetura dos edifícios para conseguir o melhor resultado sonoro para cada caso.

É ele ou ela que decide, por exemplo, a quantidade e o tamanho das janelas, que muda o formato das paredes ou a altura do pé direito para tirar o melhor partido da acústica de um espaço. Os seus serviços não se esgotam no planeamento de edifícios para receber os mais diversos públicos. Juntamente com outros profissionais de áreas distintas, preocupam-se também com a acústica urbana, controlando o ruido de prédios, de transportes, de máquinas ou de equipamentos.

Barista

O café é a bebida mais popular nas manhãs dos portugueses, mas é muito mais do que uma simples bica ou um cimbalino que se bebe ao balcão antes de entrar no escritório. O café para os baristas é uma ciência que implica conhecer toda a cadeia de produção, desde o cultivo à moagem e torrefação dos grãos, aos tipos, qualidades, sabores, aromas, texturas, técnicas de extração da bebida ou modos de o servir.

O barista sabe tirar um bom café com temperatura, quantidade de água e pressão ideais. E também conhece ou então inventa todas as combinações que resultam em bebidas cujo principal ingrediente é, obviamente, o café.

Sericultora ou Sericultor

Um sericultor ou uma sericultora é alguém paciente. Alimenta e protege as lagartas do frio ou do calor e espera o tempo que for preciso para que dos seus casulos sejam extraídos delicados fios de seda. A produção de seda já praticamente não existe em Portugal, apesar de ter sido uma atividade importante até finais do século 19.

Hoje subsistem algumas produções domésticas, como é o caso da Quinta da Carapalha, explorada pela Associação de Pais e Amigos do Cidadão Doente Mental de Castelo Branco, ou de um punhado de tecedeiras de Freixo de Espada à Cinta, apoiadas pela câmara municipal.

Aventurar-se nesta atividade será quase como começar do zero, mas, por outro lado, é uma boa oportunidade para recuperar uma tradição milenar que começou na China. Conta-se que os chineses, ao terem descoberto a seda, esconderam este segredo durante quase 30 séculos, castigando severamente quem revelasse aos estrangeiros a sua origem.

Atualmente, o bicho-da-seda não tem apenas utilidade na indústria têxtil, serve também para produzir biomateriais para a medicina, ração para animais e até para consumo humano devido ao seu alto valor proteico. Na medicina tradicional chinesa, as lagartas são também usadas para tratar diabetes e outras doenças.

Salsicheira ou salsicheiro

Fazer salsichas não é só encher chouriços. É tarefa que exige prática e conhecimento para saber preparar as carnes e dosear os condimentos usados nas salsichas frescas, fiambre, paio, chouriço ou presunto. E também destreza para desmanchar carcaças de animais em peças, retirando-lhes ossos e gorduras. Picar, pesar e misturar as carnes é uma parte deste trabalho, a outra é encher a tripa com a carne, saber a quantidade de salmoura a injetar e dominar a arte do fumeiro.

Fontes consultadas: 

Classificação Portuguesa das Profissões, Instituto Nacional de Estatísticas (2011) | • Daily Mail |