Água no planeta é o que não falta. Cerca de 71% da superfície terrestre está coberta por oceanos, mares, rios e lagos. Mas água para beber…. Aí a história é outra! Dos 1 332 mil milhões de km cúbicos disponíveis na Terra, apenas 2,5% são próprios para consumo. Parece pouco? Então, acrescentem o facto de a maior parte da água doce (1,8%) estar retida no gelo da Antártica, do Ártico e dos glaciares. O que sobra é somente 0,7% do total. Essa é a quantidade reciclada em contínuo naquele ciclo que aprendemos nas aulas de ciências naturais.

É esse pingo que, desde sempre, sacia a nossa sede, renova a Natureza, rega a agricultura e é usado na indústria. A grande dúvida é saber se continuará a ser suficiente. É preciso não esquecer que a população mundial chegará provavelmente aos 10 mil milhões em 2050. E também que os períodos de seca vão ser mais frequentes.

Com cada vez mais gente a habitar o planeta e o clima em mudança, será que vamos ficar sem água? A resposta é…

Carrega aqui, por favor, e descobre a resposta.
Não, mas… Somente se formos capazes de gerir os recursos naturais e evitar os desperdícios.

Mais do que a quantidade disponível de água doce no planeta, é a má gestão que tem contribuído para quase um quarto da população mundial viver hoje em regiões classificadas como de stress hídrico.

O que é stress hídrico?
Nada mais do que gastar praticamente toda a água disponível.

Com as alterações climáticas, o cenário tende a piorar. Os grandes lagos estão a evaporar, o gelo das maiores cadeias montanhosas do mundo está a encolher e o grande desafio é gerir e distribuir a água disponível no planeta.

É preciso lembrar isso sempre que abrirmos uma torneira.

Reservas quase esgotadas

 Índia, Bangladesh ou Irão cavam cada vez mais fundo à procura de água no subsolo. 

Índia, Irão ou Botswana estão, por exemplo, entre os países mais afetados. Se, em alguns casos, os territórios são secos e áridos, noutros, a água utilizada vem dos lençóis subterrâneos, cuja renovação é muito mais lenta. Na cidade do México, essas reservas estão no limite. Chennai, na Índia, esgotou praticamente a água do subsolo. Em Daca, no Bangladesh, cava-se cada vez mais fundo à procura de água para dar de beber à população e alimentar a indústria.

Segundo o World Resources Institute, 33 cidades com mais de 3 milhões de habitantes (255 milhões no total) vivem num elevado nível de stress hídrico. Em 2030, esse número aumentará para 45 cidades, afetando 470 milhões de habitantes. E isso sem contar que mais de mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável e 2,7 mil milhões ficam sem ela pelo menos uma vez por mês. Se continuarmos a desperdiçar os recursos, o mais certo é, mais cedo do que tarde, chegarmos ao…

DIA ZERO – o momento em que as represas de todas as barragens ficam secas.

Várias cidades já estiveram bem perto disso. É o caso de São Paulo, no Brasil, ou Chennai (Madras, Índia). Em 2018, o município da Cidade do Cabo, na África do Sul, viu-se obrigado a racionar a água para os seus quatro milhões de habitantes após mais de três meses sem quase nenhuma chuva. O limite chegou aos 50 litros por pessoa, o que é menos de um terço do consumo diário em Portugal (187 litros por pessoa/dia).

As guerras da água

 A má gestão dos recursos hídricos é um dos grandes motivos para conflitos entre povos. 

A escassez de água tem sido um dos grandes motivos por que metade do mundo anda em guerra com outra metade do mundo. Os conflitos estendem-se desde as montanhas da Ásia Central até aos desertos mais áridos. Percorrem o leste da Ucrânia, a capital da Índia, Nova Deli, países africanos como Quénia, Etiópia, Mali ou Nigéria ou Iémen e Faixa de Gaza, no Médio Oriente.

A lista de conflitos continua com agricultores contra pastores, munícipes contra autarquias, vizinhos contra vizinhos, tribos contra tribos. Com as terras inférteis e as barrigas vazias, as populações deixam as suas casas, cruzam fronteiras e atravessam oceanos para tentar escapar às secas e à pobreza.

E não julguem que nós por cá estamos longe destes conflitos. Há vários anos que Portugal e Espanha brigam pela água que corre nos rios ibéricos.

Só que não é uma guerra entre tribos ou com populações enraivecidas nas ruas. É antes entre gabinetes de ministros a acusarem-se mutuamente de má gestão dos recursos hídricos. O Tejo – ou Tajo para os espanhóis – é o centro da discórdia, mas ambientalistas e especialistas apontam o dedo a ambos os países por não cumprirem a Convenção de Albufeira, que estabelece os caudais médios ecológicos.

Apesar de algumas regiões do planeta sofreram mais que outras, a falta de água é um problema à escala global a que ninguém está imune. Muitos acreditam que a solução está nas tecnologias. Países como os EUA, a Austrália, a Arábia Saudita, o Japão ou o Kuwait viraram-se para a dessalinização. Poderosas turbinas sugam a água dos mares e retiram-lhe o sal. Mas, a parte que é devolvida aos oceanos fica tão poluída, que provoca estragos enormes nos ecossistemas marinhos. Isto sem contar com os custos elevadíssimos e com os combustíveis fósseis, usados durante o processo, que contribuem para o aquecimento do planeta.

A aldeia que derrotou a seca

 Em Aanore, bastou poupar a água e plantar árvores para recuperar o lençol freático da aldeia. 

Por vezes, não é preciso complicar para encontrar a melhor resposta. Basta ter a consciência de que todas as gotas de água são preciosas. Foi precisamente isso que fizeram os habitantes de Aanore, uma aldeia do estado de Maharastra, a 350 quilómetros de Bombaím. A povoação indiana é uma das 20 mil da região que enfrentam secas cíclicas e falta de água.

Há pouco menos de um ano, Sandeep Patil, o líder religioso da aldeia, juntou os habitantes numa assembleia-geral e fez dois pedidos:

1– não desperdiçar uma única gota de água;

2 – plantar duas árvores à entrada das suas casas.

Juntamente com os pedidos, Patil fez algumas recomendações que os aldeões seguiram à risca:

A LAVAGEM DAS MÃOS, DO ROSTO E TAMBÉM DOS PRATOS, APÓS AS REFEIÇÕES, TEM DE SER FEITA JUNTO A ESSAS ÁRVORES.

Algo de incrível aconteceu três meses depois. O lençol freático, no subsolo da aldeia, voltou a encher-se com água.  Aanore é hoje uma aldeia com recursos suficientes para cultivar as hortas, dar de beber às pessoas e aos animais.

O plano seguinte é plantar mais árvores, muitas árvores. Os adultos das aldeias ali à volta ainda têm memória dos dias da infância em que brincavam pelos campos e quintais. Hoje, com as altas temperaturas e o sol cada vez mais agressivo, os filhos deles passam o dia entre quatro paredes até ao entardecer. Mas, isso está prestes a mudar com a plantação de um corredor verde a ligar várias povoações. O objetivo é fazer com que a água não volte a desaparecer do subsolo das aldeias. E – não menos importante – que as crianças possam correr à solta o dia inteiro.

🌳 Antes de ires embora, descobre também «Quanto vale uma árvore».
😉

Fontes consultadas: National Geographic (1) | National Geographic (2) | Live Science  | FAO | Science Alert  | NYTIMES | Circle of Blue | The World’s Water | DNAIndia |
Fotos e créditos

Açude seco na zona rural de Santa Quitéria, Ceará, Brasil (canoa abandonada no rio seco) | © Porto Neto – CC BY-SA 4.0

Criança junto a um espelho de água | © Rajeshbahuguna.inCC BY-SA 4.0