Não precisamos de provas científicas para saber que brincar ao ar livre ajuda as crianças a crescer fortes e felizes. Ainda assim, não custa relembrar as vantagens do contacto com a natureza. O Bicho-que-Morde reuniu oito estudos que mostram como como um par de horas por dia a brincar nas matas, nos jardins ou nas florestas ajuda a combater a miopia, a melhorar o desempenho escolar, a memorização, a autoestima e muito outros benefícios que se podem prolongar na vida adulta.
Tira os olhos do ecrã e vai estendê-los ao sol
O estudo da Universidade de Queensland, Austrália, demonstrou que brincar ao ar livre previne e combate a miopia. Com uma hora por dia, no mínimo, já se veem alguns resultados, mas dobrar esse tempo é o ideal. Crianças e adolescentes conseguem prevenir o surgimento da miopia e até travar a sua progressão ao passarem algumas horas expostos à luz solar.
Saberá a polícia que as árvores combatem o crime?
O Laboratório de Paisagem e Saúde Humana, da Universidade do Illinois, estudou a relação entre o crime e o número de árvores em bairros de Chicago, nos EUA. Resultado: nas zonas próximas de espaços verdes, os investigadores encontraram uma taxa de criminalidade 7% mais baixa. Os moradores sem acesso a zonas verdes apresentaram também menor capacidade de concentração e dificuldades em controlar os seus impulsos mais agressivos. Uma outra conclusão interessante é que os bairros com mais árvores incentivam mais as pessoas a sair de casa.
Agarrem nos cadernos e vamos lá para fora
As atividades ao ar livre são tão importantes que deviam ser obrigatórias nos currículos das escolas. Esse é o aviso que os investigadores das universidades de Plymouth, no Reino Unido, e de Western Sydney, na Austrália, deixaram no relatório The Student Outcomes and Natural Schooling. Os benefícios não se veem apenas na aprendizagem e na saúde. A mudança de ares ajuda também a melhorar o comportamento, a capacidade para enfrentar problemas, os níveis de confiança e as habilidades para saber lidar com os feitios dos outros.
Brincar é ganhar consciência ambiental
Quanto mais contacto com a natureza durante a infância, maior o envolvimento com as causas ambientais na vida adulta. Os efeitos de brincar ao ar livre são duradouros, garantem as investigadoras do Departamento de Design e Análise Ambiental e do Departamento de Desenvolvimento Humano da Universidade de Cornell.
Nancy Wells e Kristi S. Lekies entrevistaram dois mil nova-iorquinos entre 18 e 90 anos para perceber como a infância foi determinante para desenvolver a consciência ambiental. Brincadeiras nas matas e florestas, pesca e piqueniques estão entre as atividades que mais contribuíram. Mas o peso de colher flores, plantar árvores ou sementes e cuidar de plantas em casa não é menos valorizado. As atividades ao ar livre são decisivas, mas é igualmente importante incentivar esse gosto através de revistas, programas de televisão e livros.
Cada jardim é um exercício de memória
Saltar e pular em jardins e parques faz maravilhas à memória, conclui a investigação da Universidade de New Hampshire, que estudou o cérebro de 1410 crianças entre os dois e os cinco anos. Os que passaram pelo menos dez horas semanais com adultos em jardins ou parques conseguiram decorar novas palavras de uma forma cinco vezes mais eficaz do que aquelas que passaram menos tempo a brincar com os adultos nos jardins. A principal razão para esse fenómeno está na maior quantidade de estímulos para os olhos, o nariz e pele.
Sossegar a correr nas planícies
Basta expor crianças e adultos diagnosticados com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) a imagens de paisagens verdes para se verificar uma ligeira mudança no comportamento, sobretudo na concentração e na capacidade para controlar os impulsos. O que acontecerá então quando passam da teoria à ação?
Através de entrevistas aos pais de 400 crianças com TDAH, os investigadores da Universidade de Illinois encontraram uma ligação entre o seu comportamento e as brincadeiras em jardins e parques. Aquelas que brincam regularmente ao ar livre, rodeados de árvores e plantas, têm sintomas mais leves do que as que brincam dentro de casa ou ao ar livre sem espaços verdes. No caso de sintomas mais severos, as crianças apresentam algumas melhorias quando brincam em espaços verdes amplos e sem obstáculos, como planícies relvadas ou campos de futebol, por exemplo.
A felicidade é uma tenda junto ao lago
Acampar uma vez por ano é o suficiente para melhorar o desempenho escolar e contribuir para a felicidade de toda a família. A conclusão é do Instituto de Educação da Universidade de Plymouth, que entrevistou mais de cinco mil pais e filhos do Camping and Caravanning Club. Os resultados do inquérito mostraram que 4 em cada 5 pais acreditavam no efeito positivo desta prática sobre o desempenho escolar.
Os papás estão convencidos de que o acampamento ajuda na compreensão de matérias relacionadas com as disciplinas de Geografia, História e Ciências. O que não é descabido tendo em conta que as atividades mais frequentes nos acampamentos envolveram procurar plantas e animais escondidos em pedras e na vegetação e caminhar pelos trilhos onde as crianças descobriram ecossistemas e identificaram novas formas de vida.
Quando perguntado às crianças o que mais gostavam nos acampamentos, as respostas mais comuns foram: fazer amigos, brincar ao ar livre e aprender os vários truques de campismo. Outros efeitos como confiança, alegria, respeito pela natureza, capacidade de interagir em grupo foram também relatados pelos pais como importantes.
A ciência de bem chapinhar nas poças
Saltar à corda, brincar na terra, construir castelos de areia, correr atrás das galinhas, chapinhar nas poças não fazem bem apenas à saúde. É também benéfico para desenvolver a coordenação motora e cognitiva, a sociabilidade e a resolução de conflitos. As conclusões do estudo da Universidade de Illinois nem são assim tão surpreendentes, mas servem para confirmar que o contacto regular com a natureza é algo indispensável na rotina de todas as crianças. E dos adultos, que também merecem ser felizes!
Agora que sabes o bem que faz brincar ao ar livre, arrasta os adultos para fora de casa e leva-os a redescobrir a alegria que é respirar a natureza.