Façam de conta que estão num café antigo – o Majestic do Porto, o Santa Cruz, em Coimbra, ou o Vianna de Braga. Sentados a beber uma laranjada fresca e a ver passar as modas do início do século 20. Com tanta coisa que, entretanto, já mudou, não é fácil acreditar neste jogo do faz-de-conta. Por isso, os Bichos no Sótão convidam todos a entrarem nesta cápsula do tempo. Não tenham pressa. Demorem-se nestas páginas tiradas da revista Ilustração Portuguesa.
Leiam com paciência as letrinhas miúdas. Não deixem escapar os retratos das rainhas, dos fidalgos barbudos e das gentes humildes dos campos e das cidades. Por aqui passou tudo: o Regicídio, a novela da primeira república, as cheias e as tempestades que destruíram vezes sem conta as nossas cidades, o ballet russo, os artistas modernistas e tudo o resto.
A Ilustração Portuguesa teve uma longa vida como suplemento semanal do jornal O Século. Deu a conhecer a vida social, a vida política, a vida cultural ou a vida desportiva, mostrando também o que se passava pela Europa e pelo mundo. Ela só deixa de ser publicada em 1993, mas, com a chegada da ditadura, foi perdendo o fôlego nas últimas décadas, com apenas uma ou duas edições por ano
Mas não percam mais tempo. O interessante está no que se segue. É só uma amostra. Se mais quiserem ver, visitem o site da Hemeroteca de Lisboa que tem todas as edições digitalizadas. Agora, abram a revista e, antes de tudo, olhem para a data. Vamos começar com o ano de 1903…
9 de novembro de 1903Chronica Mundana
♣ As «toilletes» das «rainhas» dos salões de bailes ilustram as tendências dos primeiros anos do século XX. Chegaram finalmente as mulheres «envoltas em sedas preciosas» de «tons quentes de âmbar e rubim», os decotes «baixíssimos», «vestidos de veludo escuro» e «grandes cabeções de rendas antigas» a fazer lembrar os «preciosos retratos de Rembrant e Velasquez». Para trás ficaram os «enormes chapéus com abas», que engoliam os rostos, os «corpetes que tudo tapavam» ou os capotes até ao tornozelo, «altura normal dos vestidos».
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Ilustração de Sua Majestade a Rainha Senhora D. Amélia
17 de janeiro de 1910
A primeira lutadora de
♣ Miss Roberts chegou de Londres para assombrar o público português. Delicada só na aparência, dominou o adversário com golpes meticulosos e científicos. «Parece quase não tocar no antagonista; dá-nos a ilusão de que lhe pega delicadamente com as pontas dos dedos», escreve o repórter deslumbrado com a sua força, «graça e leveza».
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7 de janeiro de 1918Publicidade de todos os tamanhos
♣ São 11 anúncios espartilhados numa única página. Espaço mais do que suficiente para promover a loja de Madame Santos e Silva, com «Espartilhos e cintas por medida» na Rua Garrett. Para quem acredita na magia do amor, Mademoiselle Rolland oferece «Grande variedade de pós e perfumes de atrair» «scientificamente analisados por operador diplomado pelo Instituto de Psicologia». E, para «grandes males, grandes remédios»: Siphilis cura desde moléstias de pele às impurezas do sangue. Ou Depuratol, o depurativo mais eficaz e poderoso vendido a 1$250 réis.
22 de janeiro de 1921
De como em Lisboa se é atropelado*
♣ Perante notícias recorrentes de atropelamentos, está na hora de perceber com entendidos as razões deste fenómeno que tanto perturba a vida citadina. Foi então o jornalista ter com os proprietários dos automóveis Mors, marca afamada por bater recordes de velocidade. Por um feliz acaso deu logo de caras com um estudioso do assunto, autor de detalhada tese, que dividiu os peões em vários tipos. O que «se despede na borda do passeio e atravessa impávido sem virar o focinho nem ligar importância ao pó-pó-pó». Até ao «que vai na lua (…) muito sereno no seu caminho. De repente dá um pulo, dá um ai! E dá um grito. E não dá mais nada porque morreu». Os mais «curiosos» são os das valsas e dos câmbios. «O das valsas é muito frequente do lado ocidental do Rocio. Encara o automóvel de frente. Faz depois três passos de valsa para a esquerda, 2 de polka para a direita, 4 de fox-trot para traz e quando está resolvido a fazer 3 figuras de one step está one-estampado debaixo das rodas.» .
* Artigo de prevenção rodoviária – texto e ilustrações de Sanches de Castro.
6 de março 1941O dia do ciclone
♣ 15 de Fevereiro de 1941 ficou conhecido como “o dia do ciclone”. A tempestade provocou mortos e feridos que não foram contabilizados e um rasto de destruição por todo o país. Três semanas mais tarde, a revista Ilustração Portuguesa publicava um portfólio de 6 páginas com fotos, mostrando o caos resultante da força do ciclone que se formou entre a Madeira e o Cabo de S. Vicente: famílias desalojadas, estradas cortadas, árvores arrancadas pela raiz, ligações telegráficas e telefónicas interrompidas, naufrágio de embarcações, chaminés derrubadas ou casas sem telhados.
9 de setembro de 1957
Os 4 grandes do futebol – 1956-1957
♣ Os anos 1950 são a década dourada do Benfica que vence 3 campeonatos nacionais da I Divisão e 6 Taças de Portugal. Calado, Palmeiro, Zézinho, Ângelo, Germano, Águas, Coluna, José Augusto e Cavém estão entre as estrelas do clube, que nessa altura, não aceitava jogadores estrangeiros.
♣ No anterior campeonato, era o F. C. do Porto que se sagrara campeão. O clube só voltaria a ganhar em 1959. E, depois disso, teve de esperar 19 anos sem comemorar o título, de 1959 a 1978. Mas quando a corrente de má sorte se quebrou, venceu logo dois campeonatos de uma assentada, em 1977-78 e 1978-79.
♣ O Belenenses esteve quase a apanhar o Porto, mas ficou-se pelo 3.º lugar. A década foi frustrante para os azuis, que estiveram muitas vezes à beira de serem campeões. No ano anterior, o campeonato fugiu-lhes a 4 minutos do fim. Da equipa campeã, em 1946, apenas sobraram até meados da década Serafim e Feliciano. Até que chegaram grandes reforços. Primeiro Matateu e Vicente e, mais tarde, Yaúca, Di Pace, Dimas entre outros.
♣ Em 1956-1957 o Sporting ocupou o 4.º lugar e esteve longe do seu melhor. As grandes épocas dos leões aconteceram nos anos 40 e 50, décadas em que dominaram a I liga – venceram 9 dos 14 campeonatos entre 1941 e 1954 e 5 Taças de Portugal. O ano de 1956 é a data da inauguração do estádio José Alvalade, no dia 10 de Junho.
♣ No anterior campeonato, era o F. C. do Porto que se sagrara campeão. O clube só voltaria a ganhar em 1959. E, depois disso, teve de esperar 19 anos sem comemorar o título, de 1959 a 1978. Mas quando a corrente de má sorte se quebrou, venceu logo dois campeonatos de uma assentada, em 1977-78 e 1978-79.
♣ O Belenenses esteve quase a apanhar o Porto, mas ficou-se pelo 3.º lugar. A década foi frustrante para os azuis, que estiveram muitas vezes à beira de serem campeões. No ano anterior, o campeonato fugiu-lhes a 4 minutos do fim. Da equipa campeã, em 1946, apenas sobraram até meados da década Serafim e Feliciano. Até que chegaram grandes reforços. Primeiro Matateu e Vicente e, mais tarde, Yaúca, Di Pace, Dimas entre outros.
♣ Em 1956-1957 o Sporting ocupou o 4.º lugar e esteve longe do seu melhor. As grandes épocas dos leões aconteceram nos anos 40 e 50, décadas em que dominaram a I liga – venceram 9 dos 14 campeonatos entre 1941 e 1954 e 5 Taças de Portugal. O ano de 1956 é a data da inauguração do estádio José Alvalade, no dia 10 de Junho.
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Graçolas ingénuas da rubrica Bom Humor
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Alice Malone salva 5 mil crianças
♣ Alice Malone, uma «tranquila» inglesa, na altura com 56 anos, tem um elemento raríssimo no sangue, que permite curar bebés com icterícia. Desde que os médicos fizeram essa descoberta, ela passou a doar quase 1 litro de sangue por semana, salvando mais de 5 mil crianças e sem receber um centavo pelo feito. E isto apesar de as autoridades médicas dos Estados Unidos lhe terem oferecido 400 contos por ano para ir viver no outro lado do Atlântico e ajudar as crianças americanas. Alice recusou e continuou a viver em Stevenage, uma pequena cidade do condado de Hertfordshire, na Inglaterra. Vale pena ler esta história.
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As capas e os artigos