Muitas vezes, os grandes livros transformam-se em sucessos instantâneos, vendendo milhares de exemplares e sendo traduzidos para dezenas ou centenas de línguas e dialetos. Outras vezes, demoram tempo a serem reconhecidos. Num caso ou no outro,  resistiram ao tempo, passando as histórias de pais para filhos ou de avós para netos. Os Bichos no Sótão selecionaram 10 clássicos da literatura infantil e juvenil, revelando não só as ilustrações originais, como contando também alguns dos segredos escondidos nestas obras. Se mais quiseres saber, é só leres estas 10 fichas. 

 

 

Os Contos dos Irmãos Grimm

Título originalContos Infantis e Domésticos
Autores Wilhelm Grimm e Jacob Grimm
País Alemanha
Ilustrações as ilustrações do alemão Gustav Süs (1855) estão entre as mais antigas que se conhecem, mas muitos artistas ilustraram edições históricas – desde os alemães George Cruikhank e Viktor Paul Moh até ao inglês Arthur Rackham.
1ª edição 1812

Ficha de leitura: os leitores detestaram os detalhes violentos ou as notas explicativas no rodapé das páginas. Jacob nem quis saber mais do livro e foi Wilhelm quem decidiu adocicar as histórias. Ao longo da vida, publicou mais seis edições, mudando o estilo e acrescentando mais contos. Boa parte das histórias ficaram bem diferentes, como é o caso da Branca de Neve ou de Hänsel e Gretel que viram as suas mães substituídas por madrastas. A intensão foi acalmar as famílias horrorizadas ao lerem que mães biológicas maltratavam os filhos. E foi assim que as coitadas das madrastas ficaram com o papel de vilãs.

Memórias de um Burro

Título originalMemoires d’un Ane
Autora Sophie Feodorovna Rostopchine | Condessa de Ségur (1799 – 1884).
Foi para os 20 netos que, já com 58 anos, a Condessa de Ségur começou a escrever, conseguindo viver dos direitos de autor. Publicou 20 obras, e as Memórias de um Burro, em particular, foi dedicado ao neto Henri de Ségur.
País França
IlustraçõesHorace Castelli (1825–1889
1ª edição1860

Ficha de leitura: Cadichon é um burro tão inteligente que decide escrever as suas memórias, depois de ouvir duas crianças a discutirem sobre as suas capacidades intelectuais. O livro é cheio de aventuras passadas com os muitos donos que teve. Por vezes, atravessou momentos de grande crueldade, mas viveu também muitas alegrias e episódios divertidos. Foi rica a vida deste burro que ensina aos humanos quão importante é aprender com os erros.

Alice no País das Maravilhas

Título originalAs Aventuras de Alice no País das Maravilhas
AutorLutwidge Dodgson, assinava com o pseudónimo de Lewis Carroll (1832 – 1898).

Além de professor de Matemática com um gosto especial por jogos e quebra-cabeças, Lewis Carroll foi romancista, poeta, desenhista, fotógrafo e reverendo anglicano. O livro começou a nascer durante um passeio de barco no rio Tamisa, que Lewis fez com as três filhas de um amigo. O nome da protagonista não é por acaso, já que uma das irmãs era Alice Liddell.

PaísReino Unido
IlustraçõesJohn Tenniel (1820-1914)
1ª edição1865 
Dois mil exemplares foram impressos em junho de 1865 para serem vendidos a 4 de julho. Assim que o ilustrador do livro, John Tenniel, viu os exemplares, ficou arrepiado com a fraca qualidade na impressão das imagens. Carroll suspendeu de imediato o lançamento. Hoje, restam 23 exemplares da primeira edição e valem uma fortuna.

Ficha de leitura: Alice cai numa toca de coelho, indo parar a um lugar com criaturas excêntricas como um chapeleiro louco, um gato risonho que tão depressa aparece como desaparece ou um coelho sempre com pressa e a olhar para o relógio. Tal como os sonhos, a história está cheia de absurdos, como poções que fazem encolher, bolachas que fazem crescer, tacos que se transformam em flamingos, bolas de cricket que viram ouriços, jogos de palavras, enigmas e poemas infantis.

Vinte Mil Léguas Submarinas

Título originalVingt Mille Lieues Sous Les Mers
AutorJules Gabriel Verne, conhecido nos países de língua portuguesa por Júlio Verne (1828 – 1905)

Embora tivesse seguido as pegadas do pai, formando-se em Direito, Jules teve sempre um espírito inquieto. Com 11 anos, embarcou como aprendiz de marinheiro num navio com destino à Índia. A viagem durou pouco, pois o pai conseguiu apanhá-lo ainda antes de sair de França. O filho confessou então que ia atrás de uma prima por quem se enamorara, mas prometeu que as próximas viagens seriam apenas em sonhos. E foi o que fez ao longo de uma centena de obras traduzidas para 148 línguas. É hoje considerado o inventor do género ficção científica e muitos dos livros anteciparam grandes invenções como submarinos e cápsulas espaciais. 

País França
Ilustrações Alphonse de Neuville (1835-1885) e Édouard Riou (1833-1900)
1ªedição1871

Antes do livro, a história saiu em fascículos, publicados na revista Magasin d’Éducation et de Récréation, entre março de 1869 e junho do ano seguinte. Em novembro de 1871 a obra é publicada com 111 ilustrações de Alphonse de Neuville e Édouard Riou.

Ficha de leitura: Náutilus é um submarino comandado pelo capitão Nemo que, juntamente com a sua tripulação, navega nas profundezas do mar. A humanidade, desconhecendo esta máquina, julga estar a ser ameaçada por um monstro marinho. O professor Aronnax parte então numa fragata com o intuito de caçar a besta, mas acaba prisioneiro de Nemo. Juntos vivem as maiores aventuras das suas vidas, passando por lugares como a cidade perdida de Atlântica ou os mares gélidos do Polo Sul e enfrentando lulas gigantes, baleias e outras criaturas saídas da imaginação de Verne.

As Aventuras de Pinóquio

Título originalAs Aventuras de Pinóquio. História de um Fantoche.
AutorCarlo Lorenzini, assinava com o pseudónimo de Carlo Collodi (1826- 1890)

Além de escrever livros infantis e manuais escolares, era um jornalista bem conhecido em Itália. Antes de se dedicar à escrita, tentou ser comediante, mas sem sucesso. Foi nessa altura, aliás, que criou o seu nome artístico Collodi.

País Itália
IlustraçõesEnrico Mazzanti (1850 – 1910)
1ª edição1883.

Em 1881,  Ferdinado Martini convidou Collodi a escrever histórias infantis em folhetins no Giornale per i Bambini (Jornal para Crianças). Ele aceitou o desafio, enviado dois capítulos da série La Storia di um Burattino (A História de um Fantoche). A rapidez na resposta não teve a ver com o entusiasmo dele, mas com as dívidas de jogos que precisava pagar. Na carta ao amigo escreveu: “Envio-lhe esta brincadeira, faça o que quiser com ela; mas se a publicar, pague-me bem para ter vontade de continuá-la.”

Os primeiros fascículos foram um sucesso e ele continuou a escrever até, um belo dia, enforcar o boneco numa árvore e dar o assunto por terminado. Só não contava com a fúria dos leitores que o obrigaram a continuar até Pinóquio ser um rapaz como todos os outros. A história terminou em janeiro de 1883 e, no mês seguinte, foi publicada em livro com o título As Aventuras de Pinóquio.

Ficha de leitura: Pinóquio parece um rapaz malcomportado, mas nem sequer é um rapaz. É um boneco talhado a partir de um pedaço de madeira encantada, que sonha em vir a ser de carne e osso. Por fazer só o que lhe apetece, sofre as maiores desventuras. É roubado, enforcado ou usado como cão de guarda. Animado pela promessa da Fada Azul de o transformar num menino, decide mudar o comportamento. A obra foi adaptada pela Disney em 1940, que acrescentou o pormenor do nariz que cresce quando ele mente.

As Aventuras de Huckleberry Finn

Título original As Aventuras de Huckleberry
AutorSamuel Langhorne Clemens, com o pseudónimo Mike Twain, (1835 – 1910).
País  Estados Unidos
IlustraçõesEdward Windsor Kemble (1861 – 1933)
1ª edição  1884 (Reino Unido); 1885 (Estados Unidos)

Ficha de leitura: para escapar aos maus tratos do pai bêbado, Huck Finn foge com Jim, um escravo que quer ir para o norte dos Estados Unidos, onde a escravatura já foi abolida. Os dois vivem muitas aventuras ao longo do rio Mississippi, algumas delas perigosas, mas voltam ao saber que uma tia de Huck morreu e lhe deixou uma fortuna, dando também a liberdade a Jim. O regresso a casa dura pouco tempo. Ao saber que uma outra tia o quer adotar, Huck, sempre avesso a regras e disciplina, decide fugir outra vez, rumando ao Oeste ainda por desbravar.

O Maravilhoso Feiticeiro de Oz

Título original The Wonderful Wizard of Oz
AutorLyman Frank Baum, mais conhecido como L. Frank Baum (1856 -1919)

Lyman Frank Baum teve várias profissões antes de começar a escrever livros aos 40 anos: foi ator, criador de aves, dramaturgo, jornalista ou empresário e, por algumas vezes, esteve à beira da falência. Acabou por descobrir o talento para a escrita quando experimentou usar rimas para contar histórias aos quatro filhos.

PaísEstados Unidos
Ilustrações William Wallace Denslow (1856 –1915)
1ª edição 1900

A obra, lançada a 17 de maio, tem um sucesso tão grande nos Estados Unidos, que o autor escreve mais 13 livros dedicados às aventuras passadas na Terra de Oz. A história continua até hoje a inspirar dezenas de outros autores, que juntos já lançaram mais de meia centena de livros inspirados na saga de Oz. 

Ficha de leitura: Dorothy é uma órfã a viver no interior do Kansas com os tios e, inesperadamente, é arrastada por um ciclone para uma terra mágica. Para regressar a casa, terá de encontrar o feiticeiro de Oz, o único com o poder de realizar todos os desejos. No caminho enfrenta muitos obstáculos, desde bruxas a monstros, mas também conhece bons amigos – o Espantalho, que sonha em ter um cérebro, o Leão Cobarde, que queria ser corajoso e o Homem de Lata, que dava tudo para ter um coração.

A História de Pedrito Coelho 

Título originalThe Tale of Peter Rabbit
Autor Beatrix Potter (1886-1943) |texto e ilustrações

Beatrix e o irmão Bertham passaram a infância rodeados de animais. Ambos tinham aulas em casa e na sala de estudo havia ratos, coelhos, um ouriço, morcegos, uma coleção de borboletas e outros insetos. Era Beatrix que cuidava deles, observando os seus comportamentos e entretendo-se a desenhá-los. 

País Inglaterra
1ª edição1902

Beatrix escreveu o livro em 1893 para Noel Moore, o filho de cinco anos da sua antiga governanta. Após várias editoras terem recusado publicar a história, Beatrix lança a obra por conta própria, em 1901. No ano seguinte, a editora Frederick Warne & Co. decide imprimir a história, que se torna num sucesso imediato. A obra já foi traduzida para 36 línguas, com mais de 45 milhões de exemplares vendidos.

Ficha de leitura: Peter, personagem inspirada no coelho que Beatrix teve na infância, vive com a mãe e três irmãs. Eles podem brincar em qualquer lado, menos no jardim do senhor McGregor. E é justamente ali, onde o pai um dia foi apanhado e acabou esfrangalhado numa tarde, que Peter vai apanhar cenouras e outros legumes. É o único a desobedecer à mãe, acabando por ser descoberto pelo senhor McGregor. Peter só escapa depois de passar por muitas aflições. Ao chegar a casa, faminto e esfarrapado, em vez de mimos da mamã, leva um ralhete e vai para a cama só com um chá de camomila no estômago para aquietar a traquinice.

O Principezinho

Título originalLe Petit Prince
AutorAntoine de Saint-Exupéry (1900-1944) | texto e ilustrações

É durante a segunda Guerra Mundial que Saint Exupéry escreve O Principezinho, mas nunca chegará a ver a obra publicada. Ele é aviador do Exército de Libertação e, embora estivesse proibido de voar por ter mais de 40 anos, insiste para que lhe sejam atribuídas missões. A 31 de julho de 1944, levanta voo de Borgo, na Córsega, rumo a Saboia, mas é intercetado por dois aviadores alemães e despenha-se algures no mar mediterrâneo.

PaísFrança
1ª edição 1943 (Estados Unidos); 1946 (França)

A edição francesa de O Pequeno Príncipe deveria estar à venda no Natal de 1945, mas será adiada até abril de 1946 e publicada três anos depois da edição americana. Com 145 milhões de exemplares vendidos, é considerado o livro mais vendido no mundo depois da Bíblia. Foi traduzido para 265 línguas e dialetos, desde tibetano, arménio, lapão, bengali ou bielorusso só para citar alguns exemplos.

Ficha de leitura: a história de um rapaz que cai do asteroide B 612 e vagueia de planeta em planeta pode parecer a aventura de mais um herói, mas à medida que se avança nas páginas descobre-se um Principezinho que sonha sair do lugar onde nasceu e conhecer novos sítios e gentes. Sonhos que, afinal, são os mesmos que unem a humanidade. Mas este rapaz também consegue ver em cada coisa e cada pessoa aquilo que as torna únicas no mundo.

A Fada Oriana

AutoraSofia de Mello Breyner Andersen (1919-2004)

Sofia era uma poetisa bem conhecida quando se estreou nos contos infantis. Começou a escrevê-los para entreter os filhos, que apanharam sarampo e não podiam sair da cama. As crianças ficaram tão viciadas nas histórias, que pediram mais e mais. Mesmo depois de ficarem boas, sempre que regressavam da escola, perguntavam se a mãe tinha escrito mais alguma coisa.

PaísPortugal
IlustraçãoBió, pseudónimo de Isabel Maria Vaz Raposo (1929)
1ª edição1956 (Edições Ática)

Ficha de leitura: Oriana é uma fada que ajuda gentes pobres e cura as árvores doentes. Nunca se cansa de trabalhar, até um dia ver a imagem dela refletida no espelho da água e ficar enfeitiçada por ela própria. A partir daí, esquece-se das suas tarefas e, como castigo, a Rainha das Fadas tira-lhe as asas e a varinha de condão. A floresta seca, os animais fogem para os montes e as pessoas perdem-se no labirinto da cidade. Oriana só volta a ter asas quando esquece a vaidade e volta a ajudar os habitantes da floresta.