Pedrinhas, latas velhas, galhos ou trapos bastam para as brincadeiras das crianças em África provocarem gargalhadas e muita adrenalina. Com uma mão cheia de quase nada, elas inventaram jogos que são um puro divertimento, mas não só. Se quiseres também entrar nesta festa, prepara-te: são precisos reflexos rápidos, espírito de equipa, alguma resistência física e, claro, sair de casa para brincar ao ar livre. O Bicho Que Morde selecionou uma dúzia de sugestões para passares uma tarde inesquecível na praia, num piquenique, num aniversário e até no recreio da escola.
O mocho
País Moçambique
Jogadores Vários (quatro no mínimo).
Material Nenhum.
Boa parte das brincadeiras das crianças em África acontecem ao final da tarde, quando o calor abranda e é possível pôr o pé na rua. É o caso do mocho, jogado depois do sol posto. O mocho, neste caso, é uma criança, que, aproveitando a escuridão da noite, procura um lugar para se esconder. Os adversários, ao final de uns minutos, saem à procura dele. O primeiro a descobrir o seu paradeiro guarda para si o segredo e junta-se ao mocho. Os dois ficam quietos e caladinhos enquanto os restantes continuam a busca. Uma a uma, as crianças vão-se reunindo até, no final, ficarem todas juntas.
Mbube (leão)
País Gana
Jogadores Dois a jogar e vários a dar assistência.
Material Faixa de tecido.
Duas crianças têm os olhos tapados e estão dentro de uma área delimitada. Uma é o leão, outra é a presa e ambas têm de se mover devagar. Quando o leão estiver perto da presa, as outras crianças devem dizer bem alto: «Mbube! Mbube!». Mas, se ele estiver longe, os espetadores dizem baixinho: «Mbube! Mbube!». O volume do coro das crianças, subindo e descendo, vai guiando a caçada do leão, mas também a fuga da presa.
Jibóia
País Gana
Jogadores Um contra vários.
Material Galho de árvore para desenhar no chão.
Desenhar com uma vara um quadrado no chão ou na areia. Um jogador fica dentro desse quadrado, enquanto os outros andam à sua volta, sem nunca pisar as arestas. A criança dentro do quadrado tenta tocar nos adversários. Quem for tocado salta para dentro e ajuda a capturar os outros. O vencedor é o último a ser apanhado pelas jibóias.
Terra – Mar
País Moçambique
jogadores Um jogador dá instruções a vários.
Materiais Vara para desenhar na terra ou areia.
Riscar na terra ou na areia uma longa reta, em que de um lado fica a terra e do outro o mar. No início, todas as crianças ficam do lado da terra. Ao ouvirem uma delas gritar: «mar», saltam para o outro lado. E quando ouvirem «terra», fazem o mesmo para o lado oposto. O jogador que dá as instruções irá continuar a gritar terra ou mar, sem qualquer obrigação de alternar as hipóteses. Quem saltar para o lado errado ou tiver aquele impulso de saltar quando não é suposto, será eliminado. Ganha o último a permanecer no jogo.
Há uma versão muito parecida deste jogo. Chama-se Neéz deguíaan e é originária de Marrocos. A diferença é que, em vez de traço a dividir a terra do mar, é um quadrado ou um círculo para cada criança, que tem de saltar para dentro ou para fora consoante as indicações do jogador líder.
Ftifti
País Eritreia
Joadores Vários
Material Uma canção infantil conhecida de todos.
Escolher uma canção alegre e conhecida de todos os jogadores. Todos formam um círculo e cantam, repetindo uma série de quatro gestos:
1 – Dar um salto.
2 – Agachar e tocar no chão com as duas mãos ao lado dos pés.
3 – Saltar e levantar os braços para cima.
Quem perder o ritmo por cansaço ou confusão, deixa a roda, continuando do lado de fora a cantar e a bater as palmas. Ganha o último a permanecer no jogo.
Doszail
País Zimbabwe
Jogadores Um líder e vários jogadores.
Material Uma canção alegre e cheia de ritmo tocada na rádio ou no computador.
As crianças saltam ao pé-coxinho e batem palmas ao ritmo da música. Ao sinal do líder (pode ser, por exemplo, gritar: «agora»), os jogadores têm de ir ter com um outro jogador e bater cinco vezes nas palmas das mãos dele, retomando a dança logo a seguir. Quem colocar o outro pé no chão é eliminado. Ganha quem ficar mais tempo a dançar com um só pé.
Hámsa ibúhesh
País Marrocos
Jogadores Dois no mínimo.
Material Pedrinhas ou berlindes.
Cavam-se cinco buracos no chão ou na areia, a um palmo de distância um do outro. Cada jogador coloca-se a três passos de distância dos buracos e lança cinco pedrinhas ou berlindes para dentro dos buracos. Ganha quem conseguir preencher o maior número de buracos. Mais de uma pedra no mesmo buraco não oferece qualquer vantagem.
Meu querido bebé
País Nigéria
Jogadores Um contra vários.
Material Vara
As crianças escolhem um jogador que tem de se afastar do grupo. Na sua ausência, as crianças elegem outro jogador, o bebé, que terá de se deitar no chão para lhe desenharem o contorno do corpo. Terminada a tarefa, ele junta-se aos restantes colegas. É nesse momento que o primeiro jogador regressa. A sua missão é descobrir a quem pertence o contorno desenhado na areia. Se acertar, continua para uma nova ronda. Caso, contrário, é eleito um para o seu lugar.
Banyoka (cobra)
Países Zâmbia e Zaire
Jogadores Vários para formar duas ou três equipas.
Material Nenhum
Primeiro, é preciso definir uma linha de partida e outra de chegada. As crianças são divididas em duas equipas. Os jogadores devem ficar uns atrás dos outros, em fila indiana e sentados no chão. As pernas devem estar afastadas e os braços colocados ao redor da cintura ou, então, sobre o ombro da criança que está na sua frente. Após as duas equipas estarem prontas, inicia-se a corrida. Cada grupo deve mover-se como uma cobra. Ou seja, não podem levantar o rabo do chão, nem se soltarem uns dos outros. Vence quem, naturalmente, cortar a meta primeiro sem fazer batota.
Agarra a cauda
País Nigéria
Jogadores Vários para formar duas equipas.
Materiais Um lenço ou um bocado de tecido.
Este jogo precisa de duas equipas. Em cada uma delas, as crianças devem estar em fila indiana e a segurar os ombros do colega que está à sua frente. O último jogador enfia um lenço no bolso de trás, imitando a cauda de um animal. O primeiro jogador será a cabeça do bicho e vai tentar conduzir a sua equipa até à cauda da equipa adversária para arrancar o lenço do bolso.
Tenglach
País Argélia
Jogadores dois contra vários adversários.
Material vara para desenhar no chão ou na areia.
Desenhar no chão ou na areia um círculo largo, com cerca de sete passos de diâmetro. Duas crianças ficam dentro do círculo. Uma está sentada no meio e a outra está de pé a fazer de guardiã. As outras crianças espalham-se à volta, tentando tocar no ombro da criança que está sentada. Quem for tocado pelo guardião ou guardiã, sai do jogo, mas quem conseguir tocar na criança sem ser intercetado, ocupa o seu lugar no próximo jogo. A criança que estava sentada passa a ser a guardiã.
Matambula
País Angola
Jogadores três ou quatro contra vários.
Materiais tampas de panela e bolas de meias.
As crianças formam um círculo e três ou quatro jogadores e vão para o meio da roda, ficando de costas uns para outros. Cada um tem uma tampa de panela que usará como escudo. As crianças do círculo lançam bolas de meias, tentando acertar num dos adversários, que se defendem com as tampas. Quem for atingido sai do meio da roda. O jogador que ficar por último no meio do círculo é o vencedor.
Litoti
País Moçambique (cidades de Maputo e Niassa).
Jogadores Várias para formar duas equipas.
Material: latas velhas e bolas.
Este jogo terá duas equipas rivais num campo dividido em duas partes. Numa das partes, a equipa de construtores empilha o máximo de latas que conseguir. Na outra metade do campo, a equipa dos destruidores tenta derrubar as torres de latas, atirando bolas. Os destruidores poderão também tentar acertar nos jogadores, forçando-os assim a abandonar o jogo. No final de cada partida, as equipas trocam de papéis.
Kudoda
País Zimbábue
Jogadores Vários
Material Pedrinhas ou berlindes
Os jogadores sentam-se no chão, formando um círculo. No centro está desenhado outro círculo mais pequeno, onde estão 20 pedrinhas ou berlindes. Cada criança tem uma pedrinha ou berlinde na mão, que lança à vez em direção ao círculo mais pequeno. Os berlindes ou pedrinhas que saírem desse círculo são recolhidos pelo jogador, que dá a vez ao próximo. Ganha quem, no final, conseguir colecionar mais berlindes ou pedrinhas.
L’abe igi orombo – Música de roda
País Nigéria
Língua Yoruba
Equipas Duas
L’abe igi orombo (Debaixo da árvore da laranja) é a canção que é preciso aprender para cantar a duas vozes. As crianças são divididas em dois grupos iguais. O primeiro grupo começa a canção e, quando chegar ao fim da primeira estrofe, o segundo grupo começa também a cantar. A equipa 1 – aquela que começou primeiro – deve repetir o refrão («Orombo, orombo») duas vezes para, deste modo, terminar a canção juntamente com a equipa 2.
Letra de “L’abe igi orombo”.
L’abe igi orombo
N’ibe l’agbe nsere wa
Inu wa dun, ara wa ya
L’abe igi orombo
Orombo, orombo
Orombo, orombo
A melodia e a letra
Tradução
Debaixo da árvore da laranja
Jogamos sempre os nossos jogos
Estamos felizes, estamos entusiasmados
Debaixo da árvore da laranja
Laranja, laranja
Laranja, laranja.
Descobre também aqui as invenções que, a partir do nada, levaram luz, água limpa ou abrigo aos lugares mais pobres do planeta.
Fonte consultada: Brincadeiras africanas para a educação cultural, Débora Alfaia da Cunha (2016).