Há pelo menos 18 teorias para explicar as riscas das zebras. A contagem foi feita por investigadores da Universidade de Eötvös Loránd, na Hungria, mas nenhuma delas reúne o consenso da comunidade científica. De tempos a tempos um cientista anuncia que resolveu o quebra-cabeças, mas logo depois, aparece outro cientista a deitar por terra a descoberta do seu colega.

Tem sido assim desde 1871 quando Charles Darwing desmontou a primeira tese. O naturalista inglês William Burchell acreditava que as riscas, ao se confundirem nas ervas altas, protegiam as zebras dos leões e de outros predadores.  Darwing, todavia, relembrou-o que estes animais vivem nas savanas de África, com planícies abertas e vegetação rasteira.

As riscas das zebras não têm ainda uma explicação convincente.

Biólogos e outros investigadores procuram respostas desde o século XIX, mas até agora, este é um dos maiores enigmas do reino animal. Acasalamento, proteção contra insetos, defesa contra predadores ou mecanismo para combater climas quentes são algumas das funções já atribuídas às listras das zebras. Todas estas explicações fizeram algum sentido até alguém demonstrar o contrário.

Não há muito tempo surgiu uma hipótese que deixou os cientistas esperançados. Brenda Larison, investigadora na Universidade da Califórnia, nos EUA, defendeu, em 2015, que as listras ajudam a zebra combater as temperaturas baixas. Ao absorverem e refletirem o calor de forma diferente, as faixas pretas e brancas criam correntes de ar e arrefecem a temperatura corporal deste animal.

Enigma da Natureza

 Desde os finais do século 19 que se procura uma função para as riscas, mas nenhuma teoria foi ainda validada 

Uns anos mais tarde, em 2018, Gábor Horváth, da Universidade de Eötvös Loránd, na Hungria, usou barris de metal cobertos de água e forrados de pele de vários animais para demonstrar que essa crença não tem pernas para andar. Ao fim de quatro meses a medir todos os dias a temperatura descobriu que a pele cinzenta dos cavalos aquece tanto como as listras das zebras – a mais quente é do gado bovino preto e a mais fria é das vacas e cabras de pele branca.

Gábor Horváth, aliás, é autor de uma das muitas teorias sobre as funções das riscas das zebras. Em 2012, o investigador húngaro pintou cavalos de castanho, preto, branco e riscas pretas e brancas para saber quais deles têm a pele mais apetitosa para moscas e insetos. E foi assim que concluiu que as listas das zebras funcionam como um poderoso inseticida, repelindo sobretudo as moscas da família Tabanidae (conhecidas por tsé-tsé), espécie voraz que além de sugarem o sangue, transmitem doenças.

A teoria está entre as melhores até agora apresentadas, mas não chega para convencer os colegas de Gábor. Matthew Cobb, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, admite até que a experiência pode ter algum fundo de verdade, mas esta não será a principal função das riscas, uma vez que as moscas não são importantes o suficiente para comprometer a sobrevivência destes animais. Se assim fosse, os cavalos e os burros, parentes próximos das zebras, corriam grande perigo, uma vez que não têm nenhuma defesa contra insetos.

As explicações já deram tantas voltas que regressaram ao ponto de partida.

Quase um século e meio depois de Darwing ter arrasado a hipótese de camuflagem, o neurocientista inglês Johannes Zanker, da Universidade de Royal Holloway, em Londres, retomou em 2014 a teoria do disfarce, mas mostrou um ângulo diferente.

A camuflagem só funciona quando estes animais estão em grupo e em movimento. As riscas criam uma ilusão de ótica capaz de confundir os leões que não conseguem distinguir a que velocidade elas correm, qual a trajetória que tomam ou sequer onde começa o corpo de uma e acaba o corpo da outra.

Teorias há muitas

 Proteção contra insetos ou defesa contra predadores são algumas das funções já atribuídas às listras. 

A teoria aguentou pouco mais de um ano até os investigadores da Universidade da Califórnia – que, recorde-se, viram também a sua teoria invalidada em 2018 -, apresentarem um contra-argumento de peso. A ser verdade que as riscas criam uma ilusão de ótica nos predadores, haveria mais leões nas regiões onde as zebras têm menos riscas, como acontece mais a sul do continente africano, onde elas quase não são listradas nas pernas e têm a barriga lisa.

Não será de estranhar que mais teorias surjam nos próximos tempos.

É bem provável até que não haja uma explicação única, mas vários fatores envolvidos nas riscas das zebras. Uma coisa é certa: tudo na natureza tem uma razão. Os camaleões mudam de cor para se confundirem com a vegetação, os flamingos são cor-de-rosa porque comem algas carregadas de pigmentos alaranjados e os pavões têm caudas coloridas e brilhantes para chamar a atenção das fêmeas. Com as zebras e, até prova contrária, o enigma continua sem solução.

5 perguntas com respostas bem mais simples.

As zebras são pretas ou brancas?

Os biólogos julgaram durante muito tempo que as zebras eram brancas com riscas pretas. Era assim que parecia porque as barrigas de algumas espécies são brancas. Foi preciso observá-las ainda no útero das mães para descobrir que é precisamente o contrário. O embrião da zebra começa por ser totalmente preto. As riscas brancas surgem mais tarde quando os genes que codificam a melanina de pigmento preto são seletivamente desativados e substituídos por folículos de pelo branco que cobrem determinadas áreas da pele.

De onde vêm e quanto tempo vivem?

A zebra é um equídeo selvagem (família do cavalo e do burro), que vive nas savanas da África. São originárias da região sul do continente africano e herbívoras. Na vida selvagem duram entre 20 e 30 anos, enquanto em jardins zoológicos chegam ao 40.

Quantas espécies há?

Existem três espécies. A zebra-de-grevy (Equus greyvi) é a maior de todas, apresenta listras estreitas, barriga branca e vive nas pradarias semi-áridas da Etiópia e no norte do Quénia. É a espécie mais rara, considerada em risco pela World Conservation Union.

A zebra-da-planície (Equus burchelli) é a espécie mais populosa que habita grande parte da África austral e oriental. As suas listras mais largas ficam cinzentas à medida que avançam pelo corpo, razão pela qual são conhecidas como listras fantasmas. As pernas também têm muitas áreas brancas.

A zebra-da-montanha (Equus zebra) tem riscas curtas e largas que não chegam à barriga. É resistente, veloz e tem uma crina espetada. Está classificada como espécie vulnerável e vive no sul de Angola e na Namíbia.

As riscas são todas iguais?

Já sabemos que as riscas surgem quando a zebra ainda é um embrião, mas falta saber porque se desenvolvem de diferentes maneiras. É apenas possível determinar que as riscas são quase sempre verticais, exceto nas patas que surgem na horizontal.

De resto, os modelos matemáticos não foram capazes de prever com rigor um padrão. As riscas não só variam entre as diferentes espécies como de zebra para zebra. Tal como as impressões digitais dos humanos, também a zebra tem listras únicas que a diferencia de todas as outras.

É possível domesticar uma zebra?

Possível é, mas extremamente difícil porque, ao contrário dos cavalos e dos burros, as zebras são muito desconfiadas e ariscas. Ainda assim, houve algumas tentativas bem-sucedidas. A mais conhecida é a de Lionel Walter Rothschild (1868-1937), banqueiro, político e zoólogo inglês. A carruagem que fazia questão de conduzir pelas ruas de Londres, era puxada por 4 zebras, treinadas por ele.

E, agora, só para ficar tudo em família, experimenta ler também: «Por que são os burros tão casmurros?»

Fontes consultadas: The Guardian | Público | ScienceDirect | Royal Society Open Science | ionline |