Por mais que a ciência, o conhecimento e a tecnologia avancem, haverá sempre porquês sem respostas. Alguns mistérios estão prestes a serem desvendados, outros longe disso e, em alguns casos, nunca vão ter respostas definitivas. Não é por isso que desistimos. A cada dia tentamos chegar mais perto.
Como começou a vida?
Há cerca de 4 mil milhões de anos, umas quantas substâncias químicas juntaram-se, dando origem às primeiras moléculas capazes de se reproduzirem. Nós, os humanos, estamos ligados a essas moléculas, mas o grande mistério é saber como e por que estas substâncias se organizaram formando algo semelhante à vida.
Teorias há muitas. Desde a sopa primordial de Stanley Miller que, em 1953, provou ser possível vários gases se combinarem entre si originando moléculas de aminoácido. Até teses mais antigas e bizarras, envolvendo microrganismos transportados por meteoritos ou extraterrestres até ao mar. Nenhuma delas tem o consenso da comunidade científica e, como tal, esta é mais uma pergunta a juntar-se à listas de porquês sem resposta.
O que nos torna humanos?
O ADN por si só é insuficiente para nos distinguirmos dos restantes animais. O genoma humano é, por exemplo, 99% idêntico ao do chimpanzé. Por outro lado, um monte de habilidades que se pensavam ser exclusivas dos humanos – linguagem, capacidade para inventar ferramentas ou reconhecer o próprio reflexo no espelho – foi presenciado em outros animais.
Talvez seja a cultura e o efeito que acaba por ter sobre os nossos genes (e vice-versa) que fazem a diferença. Os investigadores acreditam que, ao dominar o fogo, o homem deu um grande passo para desenvolver um cérebro grande e complexo. Mas os cientistas também estão convencidos de que é a nossa capacidade para a entreajuda entre povos e para o comércio que melhor nos distingue de outros animais.
De onde vem a consciência?
Para perceber o que procuram os cientistas é preciso, antes de mais, saber o que é a consciência. Entre as inúmeras maneiras de a definir, poder-se-ia dizer que é a nossa capacidade ver e sentir não só o mundo ao redor como a nós próprios.
Não basta somente sentir essa consciência, mas também saber que se tem essa capacidade de perceber o que se passa dentro e fora de nós próprios – sentimentos, pensamentos e ações. Em traços gerais, será sentir que temos uma alma ou uma mente. Desconhece-se se essa consciência está ligada a diferentes regiões do cérebro ou apenas a uma única parte.
Uma boa fatia da comunidade científica acredita que para encontrar uma resposta é preciso identificar as diferentes partes do cérebro envolvidas neste processo. Só assim será possível descobrir como o circuito neuronal funciona e conseguir finalmente desvendar como nasce a consciência. Algo que tanto a inteligência artificial como as tentativas para reconstruir cérebros podem vir a ajudar (sim, é verdade, há cientistas que julgam ser possível fabricar um cérebro artificial, com os seus cerca de 85 mil milhões de neurónios).
Susan Greenfield, investigadora da Universidade de Oxford, defende que a consciência resulta das ligações contínuas entre os neurónios desde o primeiro ao último momento de vida. O cérebro tira uma fotografia e armazena as experiências na memória. Cada vivência, como andar de avião, ler um livro ou brincar à chuva, provoca uma mudança na forma como o cérebro organiza as suas ligações. Quanto mais aprendemos sobre o mundo, mais conexões acontecem no nosso cérebro.
Os investigadores mais desconfiados (os céticos) duvidam dessa teoria, crendo que, enquanto se procurar a consciência entre as sinapses e as ligações cerebrais, não se chegará a lugar nenhum. Essa corrente defende que estímulos cerebrais e sensações são assuntos muito diferentes.
Ou seja, a sensação de frio, por exemplo, depende de estímulos no cérebro, não sendo o mesmo que a perceção de frio. Uma coisa é reconhecer o frio e outra é sentir esse frio. Além dessa diferença, contestam também a teoria das memórias armazenadas no cérebro. O grande argumento deles é que as nossas lembranças são experiências do passado e as ligações que acontecem no nosso cérebro só conhecem o presente.
Vá-se lá saber quem tem razão. A única certeza, por enquanto, é que este é mais um dos porquês sem resposta. Mas a ciência evolui e, tal como um dia já se acreditou que a raiz da razão estava no coração, os cientistas podem vir a surpreender com as suas novas teorias.
Por que sonhamos?
Considerando que um terço das nossas vidas é passado a dormir, poder-se-ia julgar que já sabemos tudo o que há para saber sobre sono e sonhos. Nada disso. Os cientistas estão ainda à procura de explicações mais completas que nos ajudem a perceber porque dormimos e sonhamos.
Os seguidores do psicanalista mais famoso, Sigmund Freud, acham que os sonhos mostram aqueles desejos que gostaríamos de realizar. Outros questionam se os sonhos não passam de lampejos acidentais de um cérebro adormecido.
Estudos com animais e os avanços nas tecnologias que desenvolvem imagens cerebrais conduzem-nos a conclusões mais complexas, sugerindo que os sonhos podem ter um papel na memória, na aprendizagem e nas emoções. Os ratinhos, por exemplo, mostraram que, durante os sonhos, repetem as experiências que tiveram quando estavam acordados, ajudando-os a resolver tarefas complicadas como encontrar a saída de labirintos.
De que é feito o Universo?
Depois de conquistar a Lua, o homem enviou sondas a Marte e a Júpiter, capturou imagens de galáxias a milhares de milhões de anos-luz e até tem duas sondas – Voyagers I e II – que já atravessaram a fronteira do sistema solar. E, ainda assim, esta continua a ser uma das grandes perguntas sem resposta. Tendo em conta a imensidão do Universo, todas as conquistas até agora feitas no Espaço representam quase nada.
Cerca de 95% do que existe no Universo permanece desconhecido e nem sequer se sabe de que matéria é feito. Os átomos compõem tudo o que vemos e tudo o que somos, mas são somente 5% do que existe. O restante é composto por aquilo a que os cientistas decidiram chamar de «matéria escura» e «energia escura». Nunca vimos ou tocámos nessas matérias e só sabemos que existem através de meios e efeitos indiretos.
A matéria escura, identificada em 1933, atua como uma cola invisível, ligando galáxias e aglomearados de galáxias. Os astrónomos calculam que a esmagadora maioria massa do Universo seja feita de matéria escura, isto é, matéria que não conseguem ver.
A energia escura, por outro lado, surge para tentar perceber porque o Universo se expande a um ritmo cada vez mais veloz (expansão acelerada), apesar da ação gravitacional. Ainda ninguém conseguiu explicar como acontece essa aceleração, mas uma das hipóteses é que seja consequência de uma nova forma de matéria, apelidada «energia escura», não detetada até agora. A energia escura, revelada em 1998, pressiona a expansão do Universo a velocidades cada vez mais incríveis. É “escura” porque interage com a matéria escura, entre outras, e é “energia” porque representa mais de 70% da energia total do Universo.
Estamos sozinhos no Universo?
Provavelmente não, mas como ainda não há qualquer prova oficial de vida alienígena, esta é mais uma das perguntas sem resposta. Todos os dias, os astrónomos usam sondas e satélites para vasculhar o Universo à procura de lugares onde a água possa ter originado formas de vida. E, todos os dias, radiotelescópios buscam sinais que possam ter sido emitidos por alienígenas. Em 1977, aliás, captaram algo muito promissor que ficou conhecido como Wow! – um forte sinal recebido pelo radiotelescópio Big Ear que, lido por um computador, resultou numa sequência de letras e números com duração de 72 segundos.
Significa isto que o homem tanto é capaz de usar as tecnologias para procurar água e oxigénio noutros planetas como detetar sinais inteligentes em pontos cada vez mais distantes. Ou seja, nas próximas décadas, tudo pode acontecer. E o que não faltam são lugares para explorar. Só na Via Láctea, há pelo menos 60 mil milhões de planetas que poderão estar habitados por qualquer forma de vida.
Há mais universos além do nosso?
Não há provas de nada, claro, e desconfia-se que esta será uma das eternas perguntas sem resposta. O certo é que os cosmólogos acreditam na existência de mais universos para lá do nosso. Multiverso é o nome para descrever um grupo de universos possíveis, baseado numa lógica de pura matemática. Ou seja, como o espaço é infinito, existirão provavelmente outros universos pela simples razão de que, a partir de uma certa distância, todos os arranjos entre moléculas começam a repetir-se, imitando sempre os mesmos padrões.
Como derrotar as bactérias?
Os antibióticos são uma das maiores conquistas da medicina moderna. Não foi à toa que o médico e investigador escocês Alexander Flemming ganhou, em 1945, um Nobel com a descoberta da penicilina, fungo identificado em 1928, que passou a ser usado como o primeiro antibiótico. O feito permitiu chegar a medicamentos que venceram muitas doenças mortais, tornando também possíveis as cirurgias, os transplantes ou a quimioterapia.
Foi um enorme legado, que agora está em perigo. Só na Europa cerca de 25 mil pessoas morrem a cada ano por causa de bactérias multirresistentes. O flagelo é tão assustador que a Organização Mundial de Saúde considera estar perante uma «ameaça global» à saúde pública. Tudo isto porque os antibióticos passaram a ser receitados por quase tudo e quase nada, enfraquecendo a nossa resistência às bactérias.
Felizmente, a sequenciação do ADN tem ajudado a descobrir antibióticos que nunca desconfiámos que as bactérias pudessem produzir. A par dessas descobertas, surgiram métodos muito eficazes como o transplante de “boas” bactérias para curar algumas infeções graves. Ou ainda descobertas de bactérias nas profundezas dos oceanos que podem vir a ser muito úteis para num futuro próximo vencer algumas batalhas desta guerra. Mas, até prova em contrário, são as bactérias multirresistentes que têm conquistado terreno.
As superbactérias começaram a desafiar a medicina em 1950, quando o Staphylococcus aureus, causador de infecções cutâneas e respiratórias, deixou de responder à penicilina. A função do antibiótico é matar as bactérias para combater a infecção. Quando deixa de fazer efeito, é preciso encontrar um novo antibiótico ou uma nova classe deles.
O ritmo dessas descobertas tem sido demasiado lento, tendo em conta a velocidade com que as bactérias multirresistentes se desenvolvem. Basta lembrar que, no século passado, 10 classes de antibióticos foram desenvolvidas e, neste século, até agora, apenas duas, para perceber que a guerra está longe do fim.
Vamos encontrar a cura para o cancro?
Esta é outra das perguntas sem resposta. O cancro, sendo uma doença em constante evolução, causada pelo descontrolo dos nossos genes, é uma coisa viva que se adapta às condições mais hostis para conseguir sobreviver. A boa notícia é que, através de várias descobertas no campo da genética, estamos a aprender cada vez mais sobre as suas causas, como se espalha e também a melhorar os tratamentos e a prevenção.
Outra grande vantagem é saber à partida que metade de todos os cancros podem ser prevenidos apenas com bons hábitos alimentares, exercício físico e um estilo de vida mais saudável. Beber e comer com moderação, não passar horas a fio sentado no sofá, evitar exposições prolongadas ao sol, ficar afastado das zonas poluídas ou fugir do tabaco são excelentes trunfos que ajudam a fintar o cancro.
O que existe no fundo do oceano?
Os oceanos são como o Universo. Quanto mais conhecemos, mais percebemos que sabemos pouco ou quase nada sobre eles. Em ambos os exemplos, cerca de 95% estão ainda por explorar e, no caso dos oceanos, ainda não foi possível ver ou chegar ao mais profundo das suas águas. O belga Jacques Piccard e o americano Don Walsh foram os primeiros e os únicos oceanógrafos a descer mais fundo do que alguma vez alguém conseguiu.
Ambos viajaram num veículo para explorar águas desconhecidas que submergiu na Depressão Challenger, localizada na Fossa das Marianas. Situada na parte ocidental do Oceano Pacífico, essa trincheira é resultado de um choque entre duas grandes placas tectónicas – a das Filipinas e a do Pacífico.
A Depressão Challenger foi o ponto que Piccard e Walsh exploraram em 1960 a bordo do seu Trieste. A aventura foi um marco para a história da oceanografia, mas apenas mostrou uma parte mínima do chão do mar. É tão difícil alcançar o fundo do oceano que, na maioria das vezes, só se consegue atingir grandes profundidades através veículos não tripulados.
As descobertas até agora feitas, como o peixe barreleye com a sua cabeça transparente ou os crustáceos que podem vir a revelar-se úteis no tratamento do Alzheimer, são apenas partes ínfimas de um estranho mundo escondido pela superfície dos mares.
O que há no fim de um buraco negro?
É mais uma daquelas perguntas sem resposta e para as quais ainda não existem ferramentas que permitam conclusões cientificamente fundamentadas. A teoria da relatividade geral de Einstein defende que, quando um buraco negro é criado por uma estrela enorme que morre, ele continua revolvendo e perfurando o seu interior até formar um ponto infinitamente pequeno e denso, a que se dá o nome de singularidade. Mas, nessas escalas tão ínfimas, a física quântica provavelmente também tem algo a dizer. O problema é que a relatividade geral e a física quântica nunca se deram muito bem – há décadas que tanto uma como a outra têm resistido a todas tentativas de cooperação. No entanto, uma tese recente – Teoria-M -, que procura compreender os eventos antes do Big Bang, poderá, um dia, vir a explicar o centro invisível de um buraco negro.
Podemos viver para sempre?
São estranhos os tempos que vivemos. Começamos a pensar que a velhice, mais do que uma evolução natural da vida, é uma doença que pode ser tratada e, quem sabe, até evitada ou adiada por muito tempo. A cada dia que passa, sabemos mais sobre o que nos faz envelhecer e o que permite alguns animais viver mais do que outros.
Apesar de ainda não termos todos os ingredientes para fabricar o elixir da eterna juventude, as pistas recolhidas sobre danos ao ADN, o equilíbrio de envelhecimento, o metabolismo e a capacidade reprodutiva, mais os genes que regulam tudo isso, permitem ter uma compreensão cada vez mais completa que poderá conduzir a tratamentos medicinais.
O grande desafio, contudo, não passa somente por viver mais. Viver melhor, por mais tempo, é a grande questão que esbarra em doenças como diabetes ou cancro, típicas da idade. Cientistas acreditam que tratar o envelhecimento, por si só, poderá ser a chave, mas esta continua a ser uma das eternas perguntas sem resposta.
Como resolver o problema de excesso de população?
Desde a década de 1960, o número de habitantes na Terra duplicou para mais de 7 mil milhões, e estima-se que, até 2050, haverá pelo menos 9 mil milhões de terráqueos a viver no planeta. Onde vamos viver e como produzir comida e energia suficientes para alimentar e sustentar essa população?
Há quem acredite que colonizar Marte é uma forte possibilidade. Ou então construir prédios subterrâneos. Há também quem já tenha dado os primeiros passos para criar carne em laboratório e quem tenha importado a moda dos asiáticos de comer insetos. Parecem ideias saídas da ficção científica? Talvez, mas até agora são as melhores respostas para uma das grandes perguntas sem resposta.
É possível viajar no tempo?
O estudo de Einstein publicado em 1905 foi o primeiro passo para esta aventura. O autor da teoria especial da relatividade mostrou que, quanto mais rápido se viaja, mais devagar o tempo passa. E que o tempo não é igual em todo o lado, apenas a velocidade é que é constante. E foi assim que descobrimos um atalho para encurtar o tempo. Agora, só é preciso inventar a tecnologia que permita aumentar a velocidade ao ponto de ser possível viajar milhares de anos no futuro.
Essa proeza, contudo, já foi conseguida, mas apenas com partículas subatómicas. No caso dos humanos, exigiria energia em quantidades astronómicas que o nosso corpo não aguentaria. Ou então manipular a gravidade, o que também é uma tarefa pouco provável à luz da ciência atual.
Mas, o certo é que estudos, teorias e cálculos demonstraram que viajar no tempo é possível de duas formas: acelerando até se chegar próximo da velocidade da luz ou sobrevoando uma zona onde a força da gravidade seja extrema, como poderia acontecer com uma estrela de neutrões ou com um buraco negro.
As teorias só são válidas para o futuro, regressar ao passado é, por enquanto, pura ficção científica. O desafio aqui é muito maior, não basta chegar perto da velocidade da luz, teríamos de ultrapassá-la. Físicos e filósofos tendem a acreditar que as viagens ao passado esbarram no “paradoxo dos avós”, descrito em 1949 por Kurt Gödel, que defende que, ao viajarmos até ao passado, poderíamos evitar o nosso próprio nascimento. Bastaria que conseguíssemos impedir os nossos avós de se conhecerem.
Não é que seja impossível. Neste momento, está tudo em aberto, mas ainda nenhuma teoria conseguiu demonstrar essa possibilidade. E o que não faltam são teorias, desde paradoxos temporais, buracos de minhoca, que funcionam como portais do tempo, ou realidades paralelas. Tudo especulações, por enquanto. Boas especulações, é certo, mas não passam ainda de mais perguntas sem respostas.