Quantos mil milhões serão precisos para acabar com a pobreza? Alguém tem um palpite? Muhammad Yunus precisou de 25 euros e uma simples ideia para que milhões de pessoas, em todo o mundo, pudessem sair da pobreza. É uma história maravilhosa, a dele, que os Bichos-carpinteiros têm muito orgulho em apresentar.
Muhammad Yunus tem 81 anos e nasceu em Chittagong, uma cidade portuária do Bangladesh perto da baía de Bengala. Foi um menino de sorte, já que os pais, não sendo ricos, conseguiram que os 9 filhos fossem para a escola e se tornassem doutores.
Yunus até ganhou uma bolsa e foi para os Estados Unidos fazer o doutoramento em Economia na Universidade Vanderbilt. Assim que terminou os estudos, foi convidado a ser assistente de Economia na Middle Tennessee State University. Mas, esse capítulo, não é o mais importante.
A melhor parte desta história começa quando, em 1972, ele regressa à cidade onde nasceu para dar aulas de Teoria Económica na Universidade de Chittagong. É por volta dessa altura que percebe que algo está errado com a Economia.
_ Teoria e só teoria… -, pensa o professor em voz alta a meio de uma aula.
_ O que foi que disse professor? – Pergunta um dos alunos da fila da frente.
_ Nada, nada Saif. Estava apenas a falar com os meus botões.
_ Ok, professor, mas parece-me que não está muito satisfeito connosco.
_ Não é nada disso, não te preocupes. É comigo que não estou satisfeito.
_ O que se passa professor Yunus? – Quis saber Afroja. Os outros alunos levantam os olhos dos cadernos e olham para o professor.
_ Bom, se querem mesmo saber, acho que algo está muito errado com o ensino da Economia.
Os alunos ficam calados. Não sabem o que dizer e Yunus decide explicar então por que anda tão triste nos últimos tempos.
_ De que servem tantas teorias, tantos estudos, tantos doutores se mesmo aqui ao lado há um bairro cheio de gente que se mata a trabalhar e, ainda assim, não consegue fazer uma refeição decente por dia?
_ Sabe uma coisa professor? Já tinha pensado nisso –, confessa Saif.
_ Pois eu passo o tempo a pensar nisso. Criámos um sistema com a finalidade de apenas fazer dinheiro em vez de resolver os problemas das pessoas.
_ E como mudar isso professor?
_ Não faço ideia, mas desconfio que as respostas não estão dentro destas quatro paredes.
_ Temos de ir ter com eles, não é?
_ É isso mesmo! Temos de ver de perto, fazer perguntas e ouvir o que as pessoas mais pobres têm para ensinar. Acho que só assim poderemos chegar a algum lado e mostrar que a economia não serve unicamente para fazer dinheiro pelo dinheiro.
Da teoria à prática: a primeira lição
Os alunos de Muhammad Yunus saem da sala de aula e vão à aldeia, encostada à universidade, onde dezenas de famílias são exploradas por agiotas.
Nessa mesma tarde, o professor sai com os seus alunos do campus universitário, dirigindo-se para a aldeia de Jobra, a poucos quilómetros da universidade. O seu colega, o professor Latifee, também vai com eles porque conhece muitas famílias que ali vivem, além de ter um jeito especial para falar com elas.
A aldeia está separada em três partes: a fração dos muçulmanos, a fração dos hindus e a fração dos budistas. A turma de Muhammad Yunus começa pelos muçulmanos. Caminham entre as ruas, cheias de crianças descalças, muitas delas a brincar só em cuecas, por entre as galinhas e as cabras.
Escolhem uma casa ao acaso. No alpendre, uma mulher trabalha com uma faca e canas de bambu. Ao lado, estão vários instrumentos feitos por ela.
_ Boa tarde, minha senhora – cumprimenta Latifee.
Ela dá um salto ao ouvir a voz dele. Levanta-se e corre assustada para dentro de casa.
_ Não tenha medo. Somos professores da Universidade de Chittagong e só queremos fazer algumas perguntas.
_ Não está ninguém em casa –, ouve-se lá de dentro.
O que ela quer dizer é que não há nenhum homem em casa. No Bangladesh é de muito mau tom as mulheres falarem com estranhos na ausência dos maridos. Mas a visita deles desperta a curiosidade dos vizinhos. Devagarinho aproximam-se, querendo saber o fazem por ali.
A mulher acaba também por sair, ficando à porta com o filho nos braços.
_ Como te chamas? – Pergunta Yunus.
_ Sufia Begum.
_ E que idade tens?
_ 21.
_ O que fazes com o bambu?
_ Ferramentas.
_ Onde arranjas o bambu?
_ Compro.
_ Quanto custa?
_ 5 taka [mais ou menos 5 cêntimos]
_ Tens esse dinheiro?
_ Não. Peço emprestado a um paikar*
[*um comerciante de bambu, mas também um agiota, ou seja, alguém que, sem autorização do banco central, empresta dinheiro, cobrando juros estupidamente altos]._ Que acordo tens com ele?
_ Ao fim de cada dia tenho de lhe vender as minhas ferramentas para pagar o empréstimo. O que sobrar fica para mim.
_ E quanto fazes por dia?
_ 5 taka e 50 paisa.
_ Então tens um lucro de 50 paisa?
Sufia diz que sim com a cabeça.
_ Porque não pedes mais dinheiro emprestado para fazeres mais ferramentas e aumentares o teu lucro?
_ Podia fazer isso, mas o paikar iria cobrar muito dinheiro, como já aconteceu com outros vizinhos. Em vez de aumentarem o rendimento ficaram com tantas dívidas que já nem conseguem pagá-las.
_ Quanto é que ele cobra?
_ Varia de pessoa para pessoa. Alguns pagam mais 10% do valor do empréstimo por semana, mas há casos em que pagam 10% por cada dia que se atrasam a devolver o empréstimo.
Nos dias seguintes, Yunus e os alunos fazem várias visitas à aldeia. Organizam-se em grupos e procuram outras famílias com histórias parecidas à de Sufia. Ao fim de algumas semanas e, depois de percorrerem os quarteirões muçulmano, hindu e budista, encontram 42 famílias nas mesmas condições.
De regresso à sala de aula: a segunda lição
A maioria dos pobres trabalha o dia inteiro, ainda assim, não consegue sair da pobreza. Algo tem de mudar, mas o quê?
Muhammad Yunus sabe que a maior parte da população do Bangladesh vive na pobreza. O país tem paisagens belíssimas e tradições muito ricas, mas também é um dos lugares mais pobres do mundo.
_ O que causa a pobreza? – Pergunta o professor aos alunos durante a aula de Teoria Económica.
_ O desemprego –, responde um deles.
_ O desemprego não é a causa, pois a maioria dos pobres trabalha e não é pouco – contrapõe o professor.
_ Será que a culpa também é deles? – Quis saber outro aluno.
_ Nada há de errado com eles. Em Jobra ou em qualquer outra aldeia toda a gente sabe o que tem a fazer para sustentar a família.
_ O sistema! – Atira um aluno ao fundo da sala.
_ Nem mais! O que alimenta a pobreza é o sistema e a saída é emprestar-lhes algum dinheiro para poderem investir nos seus trabalhos sem ficarem à mercê de agiotas.
_ Pois, sim, tudo isso é muito bonito… – interrompe o mesmo aluno – mas não há banco nenhum disposto a emprestar dinheiro a quem não tem dinheiro. Os pobres não têm conta no banco, muitos nunca chegam sequer perto da porta de um banco e a verdade é que os bancos querem distância deles.
_ Mas se eles conseguissem os empréstimos, poderiam mudar-se para bairros com melhores condições, por os filhos a estudar, concorrer a melhores empregos e, quem sabe, até criar os seus próprios negócios –, riposta o professor.
_ Poderia ser tudo muito fácil, mas no fim é tudo muito complicado –, concluiu o aluno.
A teoria e a prática: assim nasce um banco
Muhammad Yunus fundou o Grameen Bank para conceder empréstimos a quem tem poucos rendimentos.
Ao ver que não podia contar com os bancos, Muhammad Yunus decide ele próprio emprestar o dinheiro às famílias. Mas, prestem atenção, não deu; emprestou e exigiu juros de volta, embora mais baixos do que os praticados pelos bancos. Caso contrário, estaria a fazer caridade, algo em que ele não acredita.
O professor da Universidade de Chittagong está convencido de que a caridade apenas prolonga a pobreza, tornando os pobres cada vez mais pobres e dependentes da ajuda dos outros. Por isso, deixa bem claro que o dinheiro terá de ser devolvido.
O empréstimo serviria apenas para começarem pequenos negócios. Poderiam comprar matérias-primas para fazer cestos e vender, ferramentas para construir móveis, comprar vacas e vender o leite.
Não é nenhuma fortuna o que ele empresta. É pouco mais de 25 euros no total, o que dá qualquer coisa como 50 cêntimos para cada família. Parece uma ninharia, mas é o suficiente para começarem com os seus próprios negócios e, passado alguns meses, devolverem o dinheiro com juros e tudo!
Muhammad Yunus fica tão surpreendido que logo se pôs a sonhar mais alto.
Se um empréstimo tão pequeno mudou a vida de dezenas de famílias, quantas mais poderia ele ajudar, fazendo o mesmo que em Jobra?
É então que, em 1976, decide fundar o seu próprio banco, o Grameen Bank, que na língua bengala quer dizer banco da aldeia. A instituição tem como clientes só os pobres. A notícia corre todas as vilas e aldeolas do distrito de Chittagong. Em pouco tempo, camponeses, artesãos, pescadores, mendigos, mulheres casadas, solteiras e viúvas entram no banco de Muhammad Yunus para pedir empréstimos.
Alguns usam o dinheiro para comprar vacas e venderam leite aos vizinhos, outros abrem pequenas mercearias à beira da estrada, outros ainda compram redes de pesca, em algumas aldeias, os habitantes juntam-se e pedem empréstimos um pouco maiores para abrir poços de água, distribuindo água potável por comunidades inteiras.
Com uma ideia tão simples, o professor Muhammad Yunus inventa um banco, onde não é preciso gravata, burocracia, cheques, cartões de plástico ou contratos cheios de cláusulas e letrinhas miúdas.
O Grameen Bank tem como regra de ouro confiar nos seus clientes.
Até agora, tem resultado. Basta olhar para os números: 97% dos empréstimos são devolvidos pelos credores dentro do prazo, o que ultrapassa até as percentagens atingidas pelos bancos tradicionais. Ao longo das últimas décadas, a instituição dele já emprestou mais de 20 mil milhões de dólares a mais de 10 milhões de pessoas.
Uma lição para o mundo inteiro
Ao sair da pobreza, as populações carenciadas estão também a contribuir para aumentar a riqueza do país.
Hoje, o Bangladesh ainda tem muita gente pobre, mas nada se compara há uns bons anos. Desde 1992, a pobreza desceu de 56% para 31%. O fundador do Grameen contribuiu e muito para encolher as estatísticas. E, tão importante como isso, é a lição que Muhammad Yunus ensina aos alunos e ao mundo inteiro.
_ Os pobres não são mais nem menos do que os ricos ou os remediados. Quando se trata de governarem as suas próprias vidas são criativos e têm uma enorme energia para irem à luta. Emprestar dinheiro a quem não tem dinheiro é só o empurrão de que precisam para saírem de uma pobreza que que começou com os bisavôs, passou para os avós e continuou com os pais deles.
_ E agora, chegou o momento de quebrar esta corrente! – Gritou um dos seus alunos cheio de entusiasmo.
_ Espero que tenhas razão, rapaz, não só por eles, mas por todos nós. Ao sair da pobreza, os habitantes de Jobra ou de qualquer outra aldeia estão também a contribuir para aumentar a riqueza do país.
Só mais uma história para aquecer o c❤ração
Hajeera passou de criança enjeitada a mulher de negócios. Um pequeno empréstimo bastou para conseguir alimentar a família e pôr as filhas a estudar.
Ao longo dos anos, Muhammad Yunus conheceu muitos casos que lhe aquecem o coração até hoje. Alguns testemunhos estão descritos na biografia dele, «O Banqueiro dos pobres», como a história de Hajeera Begum nascida em 1959 numa aldeia perto de Dhaka, capital do Bangladesh. O pai é um lavrador que mal consegue sustentar as seis filhas. Por isso, nem pensa duas vezes quando um homem mais velho e cego se oferece para casar com ela.
É o único pretendente que não exige um dote para ficar com Hajeera. O dote é uma pequena fortuna em dinheiro, em joias ou em propriedades que um pai tem de dar aos futuros maridos das suas filhas. O costume foi caindo em desuso nas últimas décadas, mas ainda hoje é praticado entre muitas famílias, não só na Ásia Meridional como na África Subsaariana.
Quando a família é muito pobre, as filhas acabam por ser grandes encargos financeiros porque a noiva precisa de um dote para se casar. O valor aumenta à medida que a rapariga cresce e o casamento é, como tal, a solução mais fácil para muitos pais que assim transferem a responsabilidade para os genros.
Com o marido cego, o único rendimento que entra lá em casa são os pagamentos que Hajeera recebe das limpezas que faz nas casas de outras famílias. Ainda assim insuficiente para conseguir alimentar como deve ser as três filhas do casal.
Certo dia, Hajeera ouviu falar que um tal Banco Grameen empresta pequenas quantidades de dinheiro com juros muito baixos e sem necessidade de apresentar qualquer garantia.
_ O que achas de falar com eles? – Pergunta ao marido –. Podíamos talvez comprar um terreno para cultivar.
_ Nem te atrevas, ouviste? – Grita ele, levantando-se da cadeira e agitando a bengala como se quisesse espantar a ideia estapafúrdia da mulher.
_ Qual é o mal? – Pergunta Hajeera.
_ Já ouvi falar dessa coisa maldita, nada mais é do que uma conspiração dos cristãos para acabar com o islão.
Sabe-se lá porque é que é que o banco tem essa fama, boa parte dessas histórias são invenções maldosas dos agiotas que viram o seu negócio arruinado pelo Grameen. Eram só boatos, mas o certo é que muitos muçulmanos olham com desconfiança para a instituição fundada por Muhammad Yunus.
Sem contar nada ao marido, Hajeera entrou um dia numa agência do banco onde a convidaram a assistir a uma sessão de esclarecimento. Os funcionários encaminharam-na para uma sala e explicaram passo a passo os princípios pelos quais a instituição se rege. Entre as muitas regras que os credores têm de respeitar, há algumas fundamentais, tais como:
✅ Para obter um empréstimo, o candidato tem de se juntar a um grupo de pessoas, que fica “moralmente” responsável pelo seu pagamento.
✅ O acordo não precisa de cartórios, advogados ou bancários, é unicamente baseado na confiança e na crença de que o crédito é um direito de qualquer pessoa, pobre, rica ou remediada.
✅ Todos os empréstimos devem ser pagos em pequenas prestações, semanais ou quinzenais.
✅ Pode ser concedido, simultaneamente, mais de um empréstimo, ao mesmo indivíduo, que, no entanto, terá primeiro de provar que tem um plano de poupança.
Após a sessão, Hajeera teria de ser entrevistada por um grupo de funcionários para mostrar que percebera bem quais seriam as condições do empréstimo. Ela está tão nervosa que mal abre a boca.
Um dos funcionários vai buscar um copo de água e senta-se ao pé dela.
_ Tenha calma senhora Begum, respire fundo e vai ver que corre tudo bem.
_ Peço mil perdões, mas não estou habituada a estes ambientes –, explicou ela. – Desde criança que me dizem que não sirvo para nada. Os meus pais passaram a vida a dizer que eu só trouxe a miséria para a nossa casa. Quantas vezes ouvi a minha mãe dizer que eu nunca devia ter nascido porque não valho nem um cêntimo do dote que teriam de pagar para arranjar um marido.
_ Isso não é verdade! – Interrompe o funcionário.
_ Talvez seja… Não sei… Não sei se alguma vez serei capaz de pagar esse empréstimo.
_ Nós aqui acreditamos que sim. E temos tanta certeza disso que vamos repetir a entrevista e depois começaremos a discutir os pormenores do acordo. Combinado?
Hajeera porta-se lindamente durante segunda entrevista e, poucas semanas mais tarde, recebe o seu primeiro empréstimo: 2000 thaka, que corresponderá a 23 euros. Está tão feliz que as lágrimas lhe caem pela cara sem parar.
É um dia de festa, mas de grande ansiedade também. Hajeera segue o conselho dos seus orientadores e compra um bezerro para engorda e ainda algumas sacas de arroz para secar, descascar e vender.
Quando o marido se depara com o animal no quintal, fica tão entusiasmado que nem se lembra mais das alarvidades que disse sobre a instituição de Muhammad Yunus. Hajeera consegue no prazo de três meses pagar o seu primeiro empréstimo e fazer um segundo, que usa para arrendar um pedaço de terra com 70 bananeiras e comprar mais um bezerro.
Ela é agora proprietária de um terreno onde cultiva arroz e bananas. As traseiras da casa estão cheias de cabras, patos e galinhas. Os funcionários do banco estão tão orgulhosos dela que, de vez em quando, convidam-na para falar em sessões que a instituição promove pelas aldeias e vilas nas redondezas de Dhaka.
Apesar da timidez, Hajeera sobe ao palco e conta a história dela, terminado mais ou menos da mesma maneira.
_ Nós lá em casa já conseguimos fazer três refeições por dia e, uma vez por semana, até comemos carne. Se vocês perguntarem o que penso do banco Grameen, digo-vos que, para mim, foi mais do que uma mãe, pois deu-me uma nova vida. Espero que a pobreza acabe aqui e para isso conto enviar as minhas filhas para a escola. Quero que estudem e cheguem à universidade. O futuro delas vai ser muito melhor, eu sei.
🟡🟣🔴Nota final: Muhammad Yunus provou que o microcrédito resulta não só no Bangladesh, mas no mundo inteiro. Há centenas e centenas instituições que seguem o exemplo do Banco Grameen em quase 100 países. Em Portugal, por exemplo, Associação Nacional de Direito ao Crédito foi criado em 2002 e já ajudou alguns milhares de pessoas.
AS três inspirações de Muhamad Yunus
A mãe Sofia
Desde pequeno que Yunus sabia o que era a pobreza. Não é que lá em casa faltasse alguma coisa, mas em Bathua, aldeia onde nasceu, a maioria das crianças tinha de trabalhar para ajudar a família. Ele é o terceiro de 14 filhos de Dula Mia e Sofia Khatun (cinco acabaram por morrer ainda na infância). O pai era ourives e sempre fez das tripas coração para os filhos estudarem. Foi uma grande inspiração para ele, mas a mãe é que acabou por ser a maior influência da vida dele. Sofia procurava sempre ajudar os vizinhos pobres, recebendo-os em casa e, muitas vezes, dando-lhes roupas e refeições. «Graças a ela, sempre soube que nasci com a missão de ajudar os mais desfavorecidos, embora ainda não soubesse como», contou Yunus na sua biografia.
Os escuteiros
Muhammad Yunus adorava as longas caminhadas de mochila às costas, gostava também dos jogos, de promover debates ou angariar dinheiro para as atividades do seu grupo de escuteiros. Foi com os eles que, durante os anos do secundário, partiu à descoberta do mundo, viajando pelo Canadá, Japão e Filipinas. Em 1953, atravessou a Índia de comboio para participar no I Jamboree Nacional do Paquistão. As viagens eram quase sempre acompanhadas pelo director da escola, figura que também teve uma grande impacto na sua juventude. «Sempre fui um líder nato, mas Quazi Sahib é que me ensinou a sonhar alto e a saber canalizar as energias das minhas paixões nos projetos certos.»
Luta pelos direitos civis
Enquanto viveu nos Estados Unidos, entre 1965 e 1972, Muhammad Yunus viu de perto a luta dos negros pelos direitos civis. Em vários estados, sobretudo os sulistas que até 1863 permitiam a escravidão, a população afro-americana era tratada como inferior. Mississippi, Alabama, Tennessee ou Georgia impunham por exemplo leis para separar os brancos dos negros em lugares públicos, proibiam casamentos entre as diferentes raças ou negavam o acesso aos direitos mais básicos como saúde e educação. Durante os anos 1960 e 1970, Yunus sentiu-se inspirado pelos movimentos dos direitos civis e juntou-se a eles. Ao regressar ao Bangladesh ficou muito perturbado com as injustiças sociais à sua volta. Em 1974, o país atravessava uma das maiores secas, causando uma onda de fome sobretudo nas vilas e aldeias rurais. Yunus não poderia fazer de conta que a pobreza não existia e, por isso, usou os seus conhecimentos em economia para melhorar a vida dos mais desfavorecidos.
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