Se algo é muito complicado e difícil de resolver, então, quer dizer que é um bicho-de-sete-cabeças. A expressão é tão antiga que nem se sabe muito bem como é que surgiu. Uns dizem que vem da Bíblia, mas também há quem acredite que vem da mitologia da Grécia Antiga.

A Grécia Antiga é responsável por muitas das expressões populares que nasceram dos mitos e lendas. Heróis, deuses, ninfas, titãs, centauros e outras figuras fantásticas foram inventados há mais de três mil anos e continuam bem presentes nas nossas conversas, nos filmes ou na literatura. Aqui ficam alguns significados de expressões que vieram da mitologia grega. Comecemos pelo mais complicado de todos: o bicho de sete cabeças… naturalmente!

Bicho-de-sete-cabeças

Grécia Antiga

Significado   Um problema muito sério. Expressão usada muitas vezes para dizer a alguém que as dificuldades não são tão grandes como julga.

Origem É difícil saber se a expressão veio da mitologia da Grécia Antiga ou da Bíblia. Aqui ficam as duas versões.

1 – Mitologia: Héracles (ou Hércules para os romanos) tem uma madrasta do pior. Hera nunca gostou dele pois é filho de Zeus, o principal deus da mitologia grega, e de Alcmena, uma simples mortal. Como não conseguiu matá-lo, ela usou os seus poderes para o enlouquecer momentaneamente, fazendo com que assassinasse os próprios filhos. Hércules teve então de cumprir (*) 12 trabalhos perigosíssimos e praticamente impossíveis para os crimes serem perdoados.

Matar a Hidra de Lerna foi apenas a segunda tarefa a ser-lhe atribuída. Era uma criatura de meter medo até aos mais valentes. Com corpo de dragão, tinha sete cabeças (em algumas versões nove cabeças) e vivia num pântano. E tão malcheirosa, que bastava um único bafo do seu hálito venenoso para matar qualquer mortal ou semideus, como é o caso de Hércules.

Como se não bastasse, de cada vez que ele cortava uma das cabeças, nascia outra no seu lugar. Ao ver que a estratégia não resultava, Hércules pediu ao sobrinho Lolau para queimar a parte arrancada com um pedaço de madeira em brasa, evitando que as cabeças voltassem a nascer. A última cabeça, considerada imortal, foi sepultada com uma enorme pedra por cima. E assim o bicho de sete cabeças foi derrotado.

(*) Os 12 trabalhos de Hércules também deram origem à expressão «trabalho hercúleo» para designar aquelas tarefas que exigem um enorme esforço e nos dão muito trabalho a executar.

Grécia Antiga

2 – Bíblia: a primeira besta que surge no último livro da Bíblia, Apocalipse de São João, é um monstro de sete cabeças e dez chifres. Como todas as figuras bíblicas, também esta criatura está carregadinha de simbologias. Para entender os seus significados, é preciso conhecer um bocadinho o período histórico em que o livro foi escrito. Viviam-se tempos tenebrosos para os cristãos, perseguidos e maltratados pelo Imperador Domiciano (81 a 96 d.C.). É por isso que, no capítulo 13 deste livro, a besta surge como a representação do Império Romano. As sete cabeças são as sete colinas da cidade Roma e os seus sete imperadores. E os dez chifres representam os 10 reis até Domiciano.

Carregar o mundo às costas

Grécia Antiga

Significado Usa-se para descrever alguém sempre preocupado com os seus problemas e com os dos outros. Ou de quem tem muitas responsabilidades no trabalho, com a família ou com os amigos.

Origem Atlas julgou que poderia alcançar o poder supremo e, juntamente com outros titãs, atacaram Olimpo, uma das mais altas montanhas da Grécia Antiga onde viviam os 12 deuses do panteão grego. Zeus e os seus aliados derrotaram-nos num estalar de dedos e, como era de se prever, castigou os revoltosos. Atlas foi condenado a carregar para sempre as colunas do céu que sustentam a terra.

Calcanhar de Aquiles

Grécia Antiga

 

Significado  Por mais forte que alguém seja, há sempre um ponto fraco que o torna frágil.

Origem Aquiles, filho do rei Peleu e da deusa Tétis, tinha o corpo protegido e quase nada o poderia matar. Quando nasceu, a mãe quis que ele fosse imortal e mergulhou-o nas águas mágicas do rio Estige. Não reparou, contudo, que deixou de fora a ponta do pé por onde o segurou. Um esquecimento que saiu caro ao filho durante a guerra de Tróia, quando foi ferido no calcanhar por uma flecha envenenada, lançada por Páris, mas guiada por Apolo, que, assim, vingou à morte do filho Tenes. Não sabemos, no entanto, se o herói morreu, já que, segundo os especialistas, nada se diz sobre a sua morte no poema épico de Homero, Ilíada.

Agradar a gregos e a troianos

Grécia Antiga

Significado  Quando se diz «não se pode agradar a gregos e a troianos» significa que, por regra, há sempre alguém descontente com uma decisão ou com algo que fizemos. É difícil contentar toda gente.

Origem Helena é uma bela mulher com quem todos os homens queriam casar. Mas o coração dela já suspirava por Menelau, rei de Esparta, com quem vivia. Até um dia aparecer Páris, príncipe de Tróia. Assim que a viu, ficou doido de amor e, aproveitando uma das ausências do marido, raptou-a, levando-a para Tróia. Começava assim a guerra entre gregos e troianos, que duraria uma década.

Menelau convocou todos os príncipes, que reuniram os seus soldados e partiram em mais de mil navios atravessando o Mar Egeu até Tróia. Estavam em vantagem numérica, mas a cidade era impenetrável, com apenas uma entrada e cercada de altas muralhas. Durante dez anos, tentaram, tentaram, mas nem da ombreira passavam.

Decidiram usar então a esperteza. Uma das versões conta que um dos soldados gregos, Sínon, se deixa capturar e convence os troianos de que o seu povo quer fazer as pazes. Para demonstrar a boa vontade, gostariam de oferecer um gigante cavalo de madeira. Outra versão diz que, seguindo o plano de Ulisses, os soldados fingem regressar nos navios, deixando na praia um enorme cavalo de madeira.

Qualquer que seja a versão, o certo é que os troianos levaram consigo o estranho presente, sem nunca desconfiar que, no interior, se escondiam os soldados gregos. Uma vez dentro da cidade, eles esperaram o anoitecer para atacar e destruir Tróia. Menelau resgatou Helena e, desta última batalha, nasceu a expressão, com raiz na Grécia Antiga, «Não se pode agradar a gregos e a troianos».

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