Pseudónimos são nomes que escritores, artistas ou músicos inventam para mostrar o seu trabalho. Servem para chamar a atenção do grande público ou, pelo contrário, para proteger a vida privada. No caso destas 10 mulheres que o Bicho Que Morde apresenta já seguir, evitaram que fossem atacadas na praça pública. Todas elas são escritoras do fim do século 19 ou meados do século 20. Escreveram sobre política, injustiças sociais, poemas, romances e até contos fantasmagóricos. Nada disso era bem visto nas sociedades conservadoras, que obrigavam as mulheres a cuidar da casa, dos filhos e a ficar longe dos assuntos sérios. Ainda bem que estas e muitas outras mulheres ignoram as regras e os «bons costumes». Só é pena que tivessem de esconder a identidade. Hoje, todas elas são reconhecidas como grandes nomes da literatura.
Atacando os bons costumes
Nome: Amantine Dupin
Nacimento/morte: 1804 – 1876
Pseudónimo: George Sand
País: França (Paris)
Diz-se que o escritor russo Fiódor Dostoiévski considerava George Sand um dos maiores escritores de todos os tempos. Mal sabia ele que por detrás desse nome estava outro nome, o de Amantine Dupin, a escritora que usava uma identidade masculina para escrever contos de amor, peças de teatro, textos políticos e de crítica social, atacando os costumes conservadores e as injustiças sociais. Atualmente, Amantine Dupin é considerada uma das principais autoras francesas, juntamente com outros como Voltaire ou Victor Hugo.
Sair do anonimato com George
Nome: Mary Ann Evans
Nacimento/morte (1819 – 1880)
Pseudónimo George Eliot
País: Reino Unido (Warwickshire)
Se usasse o seu verdadeiro nome, ninguém compraria um livro seu – pensou Mary Ann Evans. Daí ter escolhido George Eliot para escrever grandes obras como «Adam Bede» (1859), «O moinho à beira do rio» (1860), «Silas Marner: o tecelão de Raveloe» (1861) ou «A vida era assim em Middlemarch» (1872), considerado um dos maiores romances do século XIX. O nome masculino serviu não apenas para ganhar notoriedade, mas também para criticar os papéis tradicionais atribuídos aos homens e às mulheres, os costumes e a conduta moral da sociedade vitoriana.
Ela é medíocre, mas ele é o máximo!
Nome: Eugénie-Caroline Saffray
Nascimento/morte: 1829 – 1885
Pseudónimo: Raoul de Navery
País: França (Bretanha, Ploërmel)
Começou a escrever aos 20 anos, após ficar viúva, assinando as suas obras de prosa e poesia com o pseudónimo feminino Marie David. Os críticos literários disseram logo que tinha uma escrita medíocre e que não iria longe como escritora. Foi então que Eugénie-Caroline Saffray adotou, em 1860, o nome do avô para publicar as obras seguintes. A partir daí, os romances de Raoul de Navery foram muito elogiados pela capacidade de prender os leitores e também por serem profundamente católicos.
Primeiro Bell e só depois Brontë
Nome: irmãs Brontë – Charlotte (1816 – 1855), Emily (1818 – 1848) e Anne Brontë (1820 – 1849)
Pseudónimo: os irmãos Bell – Currer Bell (Charlotte); Ellis Bell (Emily); Acton Bell (Anne)
Pais: Inglaterra (Thorton, Bradford, West Yorkshire)
Desde crianças que as três irmãs escreviam poemas e peças de teatro. As primeiras obras publicadas, contudo, foram assinadas com nomes masculinos. Charlotte, Emily e Anne fizeram-se passar por Currer, Ellis e Acton para o seu trabalho ser valorizado. O talento foi imediatamente reconhecido e elas acabaram por revelar a verdadeira identidade. Hoje, são as romancistas mais famosas e lidas na Inglaterra.
O lado gótico de Louisa
Nome: Louisa May Alcott
Nascimento/morte: 1832 – 1888
Pseudónimo: A.M. Barnard
País: EUA (Filadélfia, Pensilvânia)
Para o grande público, Louisa May Alcott é conhecida por ser a autora do clássico juvenil «As Mulherzinhas» (1868). Mas a escritora americana tinha também um gosto especial por histórias de suspense com muito sangue, vingança e crime à mistura. Essa era a sua faceta gótica, que só deixava sair sob o pseudónimo A.M. Barnard. O nome era neutro o suficiente para preservar a sua reputação literária e não escandalizar as «boas famílias» do século 19.
Nem feminino nem masculino
Nome: Violet Paget
Nascimento/morte: 1856 – 1935
Pseudónimo: Vernon Lee
País: França (Bolonha do Mar)
Violet Paget escreveu sobre quase tudo: viagens, arte, música ou contos fantasmagóricos. Era uma mente inquieta e sabia que nunca teria hipótese no mundo literário se revelasse a sua verdadeira identidade. «O nome que escolhi contém partes dos nomes do meu pai e do meu irmão, combinadas às minhas iniciais: H.P. Vernon-Lee. Tem a vantagem de não parecer nem feminino nem masculino», escreveu ela numa carta datada de 1875.
Um nome de homem para começar
Nome: Karen Blixen
Nascimento/morte: 1885 – 1962
Pseudónimo: Isak Dinesen
País: Dinamarca (Rungstdlund)
«África Minha» (1938) foi a obra que tornou Karen Blixen internacionalmente conhecida. Foi, contudo, com o nome de Isak Dinesen que iniciou a sua carreira literária, ao publicar «Sete Contos Góticos» (1934). Não é o único pseudónimo masculino que viria a usar. Pierre Andrézel serviu para ela publicar «As vingadoras Angélicas» (1944), romance que considerou ser apenas uma brincadeira sem grandes pretensões literárias.
Uma camuflagem para afastar os intrometidos
Nome: Alice Bradley Sheldon
Nascimento/morte: 1915 – 1987
Pseudónimo: James Tiptree Jr.
País: EUA (Chicago)
Alice Sheldon já tinha uma carreira como artista gráfica, pintora e ainda crítica de arte quando decidiu usar o nome de James Tiptree para se estrear na ficção científica. Conta ela que, sendo mulher, sentia que o seu percurso profissional já era duplamente examinado. «Um nome masculino pareceu-me uma boa camuflagem», confidenciou ela numa entrevista concedida à revista Science Fiction de Asimov.
A primeira super-heroína da BD
Nome: June Tarpé Mills
Nacimento/morte: 1918 – 1988
Pseudónimo: Tarpé Mills
País: EUA (Brooklyn, Nova Iorque)
June começou a carreira como designer de moda, mas nos anos 1930 interessou-se pela BD. Nessa altura – como ainda hoje – eram os super-heróis masculinos, como Spirit, Joe Shuster ou Super-Homem que dominavam as histórias aos quadradinhos. Mas foi ela quem, usando somente os seus apelidos Tarpé Mills, criou a Miss Fury (1941), a primeira heroína da banda desenhada.
Uma mulher metida na política
Nome: Victoire Leódile Béra
Nascimento/morte: 1824 – 1900
Pseudónimo: André Léo
País: França (Lusignan)
Victoire Béra juntou os nomes dos dois filhos gémeos para criar o pseudónimo com que assinou romances, artigos de jornais, crónicas ou ensaios políticos. Em 1867, ganhou grande notoriedade ao escrever uma série de reportagens sobre as duras condições de trabalho das classes operárias na revista «La Coopération». No ano seguinte, assume a sua verdadeira identidade para criar a Associação para o Melhoramento da Educação das Mulheres, publicando um dos primeiros textos sobre igualdade entre homens e mulheres. Esse foi, aliás, o artigo que deu origem à primeira onda feminista em França.