Rafael Bordalo Pinheiro morreu há 116 anos, no dia 23 de janeiro, mas continuamos ainda hoje a rir das piadas dele. Está visto que não morreu nem nunca morrerá. Já se escreveram muitos livros, estudos e ensaios sobre o caricaturista, o ilustrador, o ceramista, o decorador, o jornalista, o professor, o fundador da BD e tantas outras facetas do artista. Fiquem, por isso, só com este jogo para celebrar a vida e a obra do homem que riu de tudo e de todos.
Percorre o questionário de 1 a 10 e descobre alguns dos factos mais importantes da vida de Rafael Bordalo Pinheiro.
1 – O que levou Zé Povinho a fazer o manguito?
a) – A lealdade ao rei e a obediência ao governo
b) – Os impostos, a corrupção e a exploração dos pobres.
c) – Vender fiado.
A resposta certa é…
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b) – Para justificar um gesto tão malcriado, recuemos até
12 de junho de 1875. Bordalo Pinheiro apresenta o Zé Povinho no jornal «
A Lanterna Mágica» a dar três tostões ao Santo António. Parece um peditório inocente, mas, atrás da máscara de santidade, esconde-se o rosto do chefe do governo, Fontes Pereira de Melo, com o rei D. Luís I ao colo. Zé coça a cabeça desconfiado, mas não lhe resta alternativa perante o chicote do comandante da guarda municipal e a cara de poucos amigos de Serpa Pimentel, o ministro da Fazenda. Nasceu assim a personagem satírica mais popular do imaginário português. Mas só ganharia fama no último quartel do século 19 quando vira figura de loiça a fazer o manguito contra os impostos ou os políticos corruptos. Logo a seguir, entra nas tabernas para fazer o mesmo manguito, mas dirigido a quem pergunta: «Vende fiado?».
2 – Qual o animal preferido de Bordalo?
a) – Rãs
b) – Gatos
c) – Andorinhas
A resposta certa é …
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c) – Que nos perdoem as andorinhas, os caracóis, os gafanhotos, as abelhas, as rãs ou os sardões, mas entre a grande bicharada que povoa a arte de Bordalo, os
gatos são a sua grande paixão. Talvez por serem meiguinhos, mas também indomáveis e provocadores. Foram reproduzidos nas peças de cerâmica em modelos pequenos ou gigantes, como é o caso do
Gato Assanhado, saído dos fornos da fábrica pela primeira vez em 1898. O
Gato Pires e a
Gata Pili, além de grandes companheiros do artista, são os sortudos também representados em muitos dos seus desenhos.
3 – Qual o animal escolhido por Bordalo para personificar a política?
a) – Cão
b) – Galinha
c)– Porca
A resposta correta é…
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c) – A Grande Porca tem a sua espetacular aparição n’ «A Paródia», o último jornal que Bordalo Pinheiro fundou, em 1900, com o filho Manuel Gustavo. A sua função era representar a baixa política, aparecendo quase sempre a amamentar os filhotes, cada um identificado com as siglas dos partidos. «A Política: a Grande Porca» é a primeira de uma série de animais que Bordalo desenhou para ilustrar os vícios da política. Entre os mais conhecidos, destacam-se o Grande Cão, esfaimado, de nome «Deficit» para representar as Finanças; a Galinha Choca (Economia), o Grande Papagaio (a lábia dos políticos); o Grande Burro (instrução pública) ou o Grande Caranguejo (progresso nacional).
4 – Qual o curso que Bordalo Pinheiro frequentou?
a) – Teatro
b) – Belas Artes
c) – Letras
A resposta certa é…
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Todos, mas não acabou nenhum. Bordalo andou na Escola de Arte Dramática, chegando a subir ao palco do Teatro Garrett, em Lisboa. Inscreveu-se também no Curso Superior de Letras e frequentou ainda a Academia das Belas-Artes. Mas não concluiu nem um dos cursos. O pai, preocupado com o futuro do filho, arranjou-lhe em 1863 um emprego na Câmara dos Pares, mas ele também não ficaria ali muito tempo. A passagem pelo parlamento da Corte, no entanto, será fundamental para se dar conta das intrigas políticas que irão libertar a sua veia humorística e inspirar muito do seu trabalho. Em 1869, publica as primeiras caricaturas no jornal «A Revolução de Setembro». Um ano depois, lança o primeiro álbum «O Calcanhar de Achilles», tornando-se a partir daí bastante reconhecido com encomendas, distinções e prémios internacionais.
5 – Quem era a principal vítima da sátira de Bordalo?
a) A Igreja
b) Os políticos
c) A Monarquia
d) a República
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Todas, menos a d). Bordalo Pinheiro atirava-se contra ministros, bispos e até o rei D. Carlos. Ninguém escapou às suas sátiras, inclusive ele próprio, muitas vezes retratado com humor e alguma malícia. A crítica política e social valeu-lhe muitos dissabores. No Brasil, onde esteve durante três anos, sofreu dois atentados e um assalto na redação do jornal «O Besouro». Ao regressar a Lisboa, criou o semanário «António Maria», continuando a satirizar figuras da política ou da Igreja e enfrentando, por isso, vários processos na Justiça. Obrigado a encerrar também este jornal, fundou com o filho Manuel Gustavo o «Pontos nos ii», em 1885, tendo de o encerrar seis anos mais tarde, na sequência de mais uma censura. Logo de seguida retoma a publicação de «António Maria», mantendo a sátira política, que, como republicano convicto que era, se dirigia sobretudo à monarquia constitucional.
6 – Por que sai Bordalo de Lisboa e vai para as Caldas da Rainha?
a) Porque quer curar uma bronquite nas termas.
b) Porque não quer aturar mais a inveja dos colegas.
c) Porque já não suporta Lisboa.
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a) e b) – Bordalo Pinheiro deixa o frenético Chiado e muda-se para as Caldas da Rainha com o intuito de aproveitar as termas e curar uma bronquite. A desilusão com os meandros da política e com a falta de solidariedade dos colegas jornalistas, no entanto, é o grande motivo para se afastar da capital. «Eu não pertenço ao ajuntamento dos jornalistas por isso que estou sozinho e não há ajuntamentos de uma só pessoa.» Com a ajuda do irmão, funda em 1883 a Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha e passa a viver num chalé rodeado de plátanos e ulmeiros. A natureza invade o seu quotidiano, entrando também na sua cerâmica colorida e cheia de tomates, abóboras, couves, lagartos, nabos, andorinhas, galos, rãs ou peixes.
7 – Qual a peça de Bordalo retirada de circulação?
a) Escarrador John Bull
b) Zé Povinho
c) Perfumador Árabe
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a) – O escarrador John Bull foi retirado do mercado por intimação do governo britânico. A peça, que teve aliás a primeira versão em penico, representa a figura do reino da Grã-Bretanha e foi usada por Rafael Bordalo Pinheiro para criticar a cedência da realeza portuguesa ao Ultimato dos ingleses. A 11 de janeiro de 1890, o governo britânico exigiu a Portugal a retirada das tropas nos territórios que iam de Moçambique a Angola, incluídos no Mapa cor-de-rosa. A coroa portuguesa fez-lhes a vontade, provocando um coro de críticas dos republicanos. O episódio, visto como uma humilhação nacional, também está na origem do verso «contra os bretões, marchar, marchar!», incluído no hino «A Portuguesa» de Henrique Lopes e Alfredo Keil.
8 – Qual destas frases foi escrita ou dita por Rafael Bordalo Pinheiro?
a) «Pedimos aos acontecimentos a fineza de nos fazerem cócegas, ao menos uma vez por mês.»
b) «Fui gato noutra encarnação».
c) «Quem tiver olhos, que veja; quem não quiser ver, que durma.»
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Todas. A primeira citação surgiu n’ «A Paródia», o último jornal fundado por Bordalo Pinheiro. A segunda frase surge numa história aos quadradinhos da publicação «António Maria». Por fim, a frase da alínea c) é retirada da publicação «O Binóculo» – semanário de caricaturas de figuras do teatro, das artes e da literatura.
9 – Qual é a única peça que Bordalo não conseguiu vender?
a) Jarra Beethoven
b) Travessa Bacalhau
c) Terrina Cabeça de Porco
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a) – Com 2,30 metros de altura, a Jarra Beethoven foi – contra todas as expetativas – modelada, esculpida e cozida como uma peça inteira. Quem encomendou a obra foi o político republicano José Relvas para a Casa dos Patudos, em Alpiarça. Perante a dimensão descomunal da jarra, vê-se obrigado a recusá-la. Sem nenhum comprador em Portugal, Bordalo levou-a para o Brasil, em 1899, mas também não teve sorte. Decidiu, por fim, sorteá-la numa tômbola gigante com mais de mil rifas, mas o bilhete vencedor não saiu a ninguém. É então que oferece a Jarra Beethoven ao presidente brasileiro, Campos Sales. A peça encontra-se atualmente exposta no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
10 – De que morreu Bordalo Pinheiro?
a) Lesão no coração.
Na madrugada de 23 de janeiro de 1905, Bordalo Pinheiro morria vítima de uma «forte lesão no coração», segundo relatou a imprensa da época. Tinha apenas 58 anos, mas deixou um legado inesgotável. A fábrica das caldas garante que, nos seus arquivos, há ainda centenas de desenhos dele suficientes para lançar novos produtos por mais de 100 anos. A obra de Bordalo já atravessou os cinco continentes, não só em exposições internacionais como nas malas dos turistas e emigrantes que espalham por todo o mundo a sua arte. Querubim Lapa e Paula Rego são outros grandes nomes da arte portuguesa inspirados pelo génio de Bordalo Pinheiro, que continua a influenciar também a nova geração de artistas como Catarina Pestana, Fernando Brízio ou Elsa Ribeiro.