Pouca gente sabe que, antes de ser uma personagem famosa da literatura infantil, Winnie The Pooh foi um ursinho de verdade. Após a mãe morrer, foi acolhido por um militar. Não querendo levá-lo para as trincheiras, deixou-o no zoo de Londres. Winnie era tão alegre e generoso que se tornou na atração principal da cidade. Só depois disso, serviu de inspiração para Alan Milne escrever os livros que fizeram a Europa esquecer a Primeira Grande Guerra e voltar a acreditar na humanidade.
O comboio parou na cidade de White River pouco depois da hora do almoço. O tenente Harry Colebourn aproveitou a paragem de breves minutos para esticar as pernas e respirar um pouco de ar fresco. Desceu os degraus da carruagem, mas antes sequer de pisar a plataforma, ficou paralisado ao dar de caras com um ursinho preto que o olhava cheio de curiosidade.
_ Quer levá-lo? – Perguntou o dono, entregando-lhe a trela –. É seu por 20 dólares.
_ Onde o encontrou? – Quis saber Harry.
_ Matei a mãe dele durante uma caçada, mas não posso fazer o mesmo com ele.
O tenente, que era também cirurgião veterinário e adorava animais, sacou logo ali do bolso duas notas de 10 dólares e levou o urso para o comboio.
O que tem este episódio passado na tarde de 24 de agosto de 1914 de especial? Bom, um filhote de urso especado na estação de uma cidadezinha canadiana já seria suficiente. Mas este é também o começo de uma história pouco conhecida que deu origem a uma outra história mundialmente famosa.
O ursinho preto foi a inspiração para escritor inglês Alan Alexander Milne, criar, em 1926, a personagem Winnie The Pooh. Quem não conhece ou, pelo menos, não ouviu falar das aventuras de um urso doido por mel e capaz de tudo pelos amigos?
Mas, ainda antes de Winnie chegar aos livros de Milne e também aos filmes da Disney, na década de 1960, muita coisa se passou. O urso foi, entretanto, parar ao Regimento de Cavalaria Fort Guerry, onde o seu dono tratava dos cavalos que iam para as frentes das batalhas da Primeira Guerra Mundial.
Para evitar que fosse para as trincheiras, o dono de Winnie entregou-o ao zoo de Londres.
Winnie tornou-se na mascote dos militares, dormindo debaixo da cama de Harry, brincando e pousando para as fotos com os soldados. Com o avançar da guerra, Harry teve também de ir para as trincheiras. Sabendo que não era lugar para ninguém, deixou Winnie ao cuidado do zoológico de Londres.
_ Assim que esta loucura acabar, venho buscar-te e vais viver comigo no Canadá – prometeu-lhe.
Ao fim de praticamente quatro anos, Harry regressou para cumprir a promessa. Assim que o viu, porém, desistiu dos planos. Winnie tornou-se na atração principal do zoo. Era tão alegre e mansinho que os treinadores deixavam as crianças entrarem no poço dos ursos para andarem nas cavalitas dele e alimentarem-no com maçãs e leite açucarado.
_ Winnie, esta é que é afinal a tua casa – disse Harry despedindo-se do urso com um beijinho no focinho.
Que feliz ficou a criançada com a decisão do veterinário. Christopher foi um desses rapazes que deu pulos de alegria. Todos os fins-de-semana implorava ao pai para o levar ao zoo. Era tão doido pelo urso que até deu o seu nome ao peluche preferido, acrescentando-lhe o apelido Pooh.
No quarto de Christopher estavam aliás muitos outros peluches que também entram nas aventuras inventadas pelo pai – o Piglet, o Tigger, o Kanga, o Roo, o Rabbit ou o Eeyore.
Para quem pergunta porque são os livros de Alan Milne e de Ernest Howard Shepard tão populares, boa parte da resposta está no momento em que foram publicados. Com a guerra, uma profunda tristeza tomou conta da Europa. E foi então que Winnie apareceu, usando o humor e a ingenuidade para mostrar que tudo pode ser destruído, menos o amor e a amizade. Dito assim pode até parecer piroso, mas esses foram os valores que ficaram nos diálogos até hoje repetidos nos livros e na internet como se fossem máximas de grandes filósofos.
Percorre a galeria para ler algumas das frases retiradas das aventuras de Winnie. Usa as setas nas laterais do painel para avançar ou recuar:
Se gostas de clássicos infantis, tens de espreitar este artigo: As crianças de Vasco Granja.
Fontes consultadas: The Telegraph | History | Encyclopaedia Britannica |