Desenha um círculo numa folha de papel e recorta-o com uma tesoura. Agora dobra essa rodela ao meio e repara como uma parte é igual à outra. Isso é simetria e está presente em quase tudo: num tomate, numa borboleta, num floco de neve, nas nossas duas narinas ou numa minúscula molécula de ADN. Ensinaram-nos que a simetria é perfeição, mas esqueceram de dizer que, sem as imperfeições, o mundo não avança para um futuro melhor.

 

 

A simetria acontece quando um corpo ou um objeto é igual ao seu reflexo e é uma das leis fundamentais da natureza. É ela que ajuda a encontrar regras para explicar como nascem, crescem e funcionam os ritmos, os organismos e os fenómenos do mundo e do Universo.

Ela tem essa coisa extraordinária de criar cópias que ajudam a saber o que vai acontecer a seguir. As ciências exatas, a matemática, a física ou a biologia, estudam essas repetições para compreender os mistérios da natureza e organizar o nosso mundo até mesmo quando ele parece caótico. Sabendo, à partida, como algo se vai comportar, fica mais fácil fazer previsões, formular teorias e leis que regulam o Universo.

Talvez por isso, tanta gente se sinta atraída pelas formas simétricas. O fascínio vem já da Grécia Antiga, que nela encontrou a harmonia, o equilíbrio e a proporção. Três elementos, que para grandes filósofos como Platão (427 a.C.-347 a.C.) ou Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), são muito importantes para reconhecer a beleza, seja num humano, num animal, numa paisagem ou numa simples flor.

Atraídos pela simetria

 Somos atraídos pelas simetrias porque são bonitas, mas também porque tornam a vida menos confusa. 

Esse encantamento dos gregos pela simetria acontece, mais uma vez, porque também eles precisavam encontrar uma lógica por detrás de tudo. Até da beleza, que nem sempre é uma avaliação racional. Ainda hoje, ela aparece ligada àquilo que vemos como belo com vários estudos a sugerir, por exemplo, que quanto mais simétrico é o rosto de uma pessoa, mais atraente ela se torna aos olhos dos outros.

E, portanto, os cientistas, os artistas, os filósofos, os arquitetos, os programadores, os designers, no fundo, quase todos procuram-na através dos telescópios, da arte, da arquitetura e dos objetos banais do dia-a-dia.

Mas nem tudo no Universo é simétrico. Este mundo também foi feito para casos raros como a solha, um peixe achatado, com os dois olhos na mesma face e a boca torta.

A natureza tem muitas imperfeições, isto é, formas e comportamentos que fogem ao padrão. Muitas vezes, são coisas tão pequenas que parecem não interferir com a mecânica da natureza ou com as rotinas do quotidiano. A terra mantém a sua órbita à volta do Sol, apesar de uma ou outra oscilação quase impercetível, os rios correm em direção ao mar, embora haja correntes contrárias ou vamos trabalhar ou para a escola todos os dias de carro, de bicicleta, de metro ou de autocarro, apesar de acidentes, greves ou outras pequenas perturbações.

Até a perceção sobre a simetria do nosso corpo não é afetada pelas pequenas diferenças. Se repararmos bem na nossa cara, verificamos que, afinal, não somos assim tão simétricos. Haverá sempre qualquer coisa num dos lados que não é 100% igual ao outro. Uma maçã do rosto mais levantada, uma sobrancelha ligeiramente mais subida ou um canto da boca mais descaído.

Estamos rodeados de assimetrias, mas, regra geral, são tão pequeninas, que não causam grandes consequências. E, como tal, não lhes damos muita importância para ser possível simplificar não só o nosso dia-a-dia como também o trabalho de um matemático ou de um físico que precisa de se concentrar mais no aspeto geral do que nas particularidades para avançar nas suas investigações.

 

A utilidade das imperfeições

 As mudanças acontecem quando algo foge ao padrão e interrompe a monotonia. 

Desprezar essas minúsculas imperfeições, porém, é passar ao lado de tudo o que elas podem trazer de novo para as nossas vidas. A nossa existência torna-se muito aborrecida se apenas nos focarmos no que é igual: tudo sempre na mesma não é lá muito interessante.

E as mudanças acontecem quando surge um desequilíbrio. As pessoas arranjam novos empregos quando se sentem insatisfeitas, vão viajar para não ficarem sempre nos mesmos lugares. Aprendem coisas novas sempre que se cruzam com gentes de culturas diferentes.

Tudo isso são assimetrias, isto é, comportamentos que fogem ao normal e têm um papel importantíssimo. São elas que criam a novidade, provocam transformações e determinam como vão evoluir os átomos, os planetas, as estrelas ou as galáxias.

Para se ter uma ideia de como essas mudanças acontecem é preciso primeiro explicar que o Universo é composto por matéria e antimatéria. A antimatéria não é nada do outro mundo. Ela é composta por partículas, tal como a matéria, só que as suas propriedades (massa e rotação) estão invertidas e a carga elétrica é contrária.

Uma é o reflexo da outra, ou seja, simetria perfeita. Mas, mal entram em contacto, desintegram-se e aniquilam-se mutuamente sem qualquer hipótese. Significa isto que, se o Universo tivesse as mesmas quantidades de matéria e de antimatéria, nada poderia existir, nem vida terrestre, nem os corpos celestes.

 

Quebra na simetria

 Uma minúscula partícula diferente foi o suficiente para permitir a formação de planetas, estrelas ou galáxias. 

Há alguns anos, os físicos estavam convencidos de que tudo no Universo obedecia a regras de simetria. Mas, se isso fosse verdade, as quantidades iguais de matéria e antimatéria geradas no Big Bang, há 14 mil milhões de anos, teriam destruído tudo, restando apenas a radiação. Só que não foi isso que aconteceu. Caso contrário, não sobraria nada nem ninguém para contar esta história, certo?

O que aconteceu foi que, em cada 10 mil milhões de partículas antimatéria, houve uma que fugiu à regra. O fenómeno é conhecido entre os cientistas como quebra de simetria e possibilitou o surgimento de planetas, de galáxias e de tudo o que é feito o Universo.

As simetrias têm o seu papel, mas nunca existiriam sem as assimetrias e o mesmo vale também no sentido oposto. Uma conduz-nos à ordem, às leis e à disciplina e a outra mostra-nos a liberdade, o prazer e a criatividade. É exatamente o que acontece com o nosso quotidiano. Aos dias de semana, temos horas para levantar, trabalhar, estudar, comer e dormir. Aos sábados e domingos, quebramos o ritmo, esquecemos o tique-taque do relógio e gozamos a vida para recomeçar mais uma semana frescos e cheios de ideias novas.

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Fontes consultadas: Revista Galileu | Revista Super Interessante | Diário de Notícias