Se é bom falar com as plantas, não é certamente por causa delas, que não têm ouvidos, olhos nem nariz para ouvir, ver ou cheirar. Nós é que, regra geral, gostamos de atribuir características humanas não só aos bichos como também aos vegetais. É provavelmente uma maneira de nos sentimos mais próximos deles. Mas nada disso é preciso para tornar o reino das plantas mais interessante. Elas são organismos vivos, complexos e cheios de mistérios, que vamos agora descobrir.

Nos últimos anos, houve inúmeras descobertas científicas sobre as incríveis habilidades das plantas, provando que estão longe de serem criaturas aborrecidas e passivas. É certo que não têm cérebro, não podendo sentir dor ou todo o amor que lhes damos ao regar e falar com elas. Mas, além de compartilharem muito do DNA dos humanos e animais, têm respostas e órgãos em abundância a imitar muito bem as nossas capacidades para reagir ao ambiente e comunicar com os outros.

Dos jacarandás, aos catos, passando pelas algas ou pelas urtigas, as plantas têm entradas sensoriais intrincadas e variadas, que lhes permitem lançar e detetar substâncias químicas não apenas para captar as cores, como coordenar ataques, combinar estratégias de defesa, sincronizar os tempos para amadurecer ou pedir socorro às suas companheiras.

Da raiz até à folha, a planta está conectada entre si e geneticamente programada para adaptar-se ao meio onde tem as suas raízes enterradas.

Começando logo pela capacidade de proprioceção que é o que lhes permite perceber onde estão localizadas as várias partes do seu corpo sem ter de usar a visão ou o toque. É uma característica comum nos humanos e nos animais, ajudando no equilíbrio e coordenação dos movimentos.

No interior de um vegetal

 Apesar de não terem cérebro, as células das plantas comunicam entre si, ajudando-as a crescer e a criar defesas contra doenças. 

Se pudéssemos, aliás, espreitar o interior de uma planta, iríamos descobrir que, apesar de não terem sistema nervoso, as suas células são capazes de comunicar entre si, usando aquilo que os investigadores chamam de recetores de glutamato.

Trata-se de uma proteína que, nos animais, auxilia na transmissão dos sinais nervosos de um neurónio para outro, facilitando a aprendizagem e a memória. No reino vegetal, desempenham um papel importante no seu crescimento ou na defesa contra doenças e pragas.

Como quase todas as plantas têm mais tipos de recetores de glutamato que todo o nosso sistema nervoso, é provável que sejam importantes para muitas outras funções que os investigadores procuram ainda compreender.

E há também estudos a sugerir que têm a capacidade de comunicar entre elas, além de métodos sofisticados para responderem a estímulos do exterior. Quando muito próximas umas das outras, as plantas libertam substâncias químicas no solo, avisando as suas companheiras para acelerarem, por exemplo, o crescimento.

O comportamento é uma estratégia de defesa para não ficarem na sombra de outras plantas e privadas da luz solar.

Os canais subterrâneos servem para falar com as vizinhas sobre tudo o que as inquieta, desde ataques de pulgões, instruções para se preparem para dias de seca ou até para perceber se os novos moradores do bairro são da família ou intrusos. Mas não é única via de comunicação de que dispõem, já que os mesmos sinais químicos podem ser também lançados e captados pelo ar.

A solidariedade e as decisões coletivas

 O solo ou as vias aéreas são os canais que plantas e árvores usam para alertar sobre os perigos ou tomar decisões em conjunto. 

É o caso dos salgueiros, por exemplo, que, quando atacados por lagartas, atiram feromonas para a atmosfera, avisando os salgueiros da vizinhança de que há invasores a rondar a sua tribo. Esses sinais gasosos são rapidamente detetados pelos companheiros, que desatam a fabricar essa substância em quantidades industriais, tornando as suas folhas desagradáveis e tóxicas para as lagartas.

Também os frutos são capazes de tomar decisões em conjunto sem precisar de convocar reuniões ou assembleias de condóminos.

Basta expelirem para o ambiente o etileno, hormona vegetal, responsável pelo seu amadurecimento. É assim que as laranjas, as maçãs ou as ameixas informam as suas parceiras de que estão prontas para entrar na vida adulta. E assim também que os pomares e bosques inteiros decidem em conjunto estar na hora de os seus frutos caírem maduros das árvores.

A rede que liga a floresta

 As árvores comunicam-se através de uma teia de raízes e de fungos, que transportam informações e nutrientes para toda a floresta. 

Se todas essas habilidades já nos deixam boquiabertos, o que dizer então da rede de comunicação criadas pelas florestas para manter o equilíbrio do ecossistema? Há uns anos, os investigadores observaram em laboratório que as raízes de pinheiros poderiam transferir carbono para outras raízes de pinheiro.

Ficaram tão espantados com a proeza que decidiram analisar o solo das florestas. E o que descobriram deixou-os pasmados. As árvores comunicam-se através do micélio – uma emaranhada teia subterrânea de raízes e de fungos a ligar toda a floresta. É uma espécie de internet vegetal que ajuda a passar não só as mensagens como também os nutrientes.

As árvores usam o micélio para enviar sinais químicos e conseguir saber quais é que estão mais necessitadas de carbono, nitrogénio, fósforo e carbono e quais estão em condições de enviar esses elementos.

Os sinais andam para trás e para diante, levando e trazendo informação e substâncias essenciais para a floresta encontrar o seu equilíbrio. A rede de micélio permite também que as mais velhas cuidem das mais novas. Uma única árvore adulta pode fornecer, através da rede, alimento para centenas de árvores mais jovens.

A vida toda com as raízes no mesmo lugar

 Por estarem presas ao solo, as plantas desenvolveram mecanismos incrivelmente sensíveis, para se protegerem dos perigos ou encontrar comida. 

Há muitos mais mistérios que os cientistas não conseguiram ainda descodificar, tal é a riqueza da biologia vegetal. Tudo o que as plantas e as árvores são capazes de fazer é o resultado deste enorme constrangimento de não poderem soltar as suas raízes e saírem por aí de mochilas às costas em busca de comida, de um companheiro ou simplesmente de um lugar mais tranquilo para viver.

Se as andorinhas viajam de norte para sul, fugindo ao inverno, os leopardos correm atrás das presas e as formigas armazenam alimentos para os tempos mais difíceis, as plantas desenvolveram mecanismos incrivelmente sensíveis.

Só assim conseguem ver onde está a comida, avaliar as condições climatéricas e sentir o perigo que se aproxima, sobrevivendo em ambientes sempre em mudança. Elas são capazes de quase tudo como nós. Só não conseguem ouvir quando conversamos com elas. Mas, a verdade é que não precisam dos ouvidos para nada.

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