Vale uma fortuna, se tivermos em conta que a pintura foi avaliada, na década de 1960, em cerca de 100 milhões de dólares. Não é de estranhar, por isso, que esteja também no Livro do Guiness como o objeto mais valioso do mundo. Cinco séculos depois de Leonardo Da Vinci pintar a Mona Lisa (1503-1507), o retrato, protegido por um vidro à prova de bala, continua a atrair todos os dias milhares de visitantes ao Museu do Louvre, em Paris. Vêm de todos os cantos do planeta e aguentam filas intermináveis para, por fim, vislumbrarem ao longe a figura de uma mulher, aparentemente comum, com vestes tristes, sem joias, mas com um sorriso de valor incalculável.
Ainda hoje, há muita gente a tentar explicar o que tornou tão popular esta obra do Renascentismo. Mas, como em quase todos os grandes fenómenos, não há um único motivo. Há muitos. A fama de Mona Lisa é o resultado de histórias, mitos, crimes, mistérios e, claro, também do talento e da técnica de Da Vinci. O Bicho-Que-Morde selecionou sete causas que explicam a sua popularidade. Haverá muitas mais, mas comecemos por estas.
O SORRISO
Da Vinci usou luz e sombras para criar uma misteriosa ilusão. Os olhos captam imediatamente a nossa atenção, enquanto os lábios caem na visão periférica. O pintor – que era também cientista, matemático, engenheiro, escultor, anatomista ou botânico – recorreu a uma série de disciplinas como as artes, as ciências e ótica para criar uma impressão de movimento, de ambiguidade e de emoção.
Para conseguir esse efeito, ele dissecou rostos humanos à procura dos músculos que fazem mover os lábios, combinando esse conhecimento com a forma como a retina humana capta e processa as imagens. Giorgio Vasari, pintor e historiador de arte do século 16, conta que, para manter o sorriso da sua modelo sempre vivo, Leonardo contratou músicos e comediantes que a entretiveram durante as sessões de pintura.
A TÉCNICA SFUMATO
O hábil manuseio de sfumato por Leonardo é outra das razões apontadas pelos especialistas. A técnica artística tem origem na palavra italiana «sfumare», que significa evaporar e é conseguida passando o dedo sobre a tinta, o pastel ou o carvão, de forma a criar gradientes e tonalidades suaves e subtis.
Leonardo da Vinci descreveu o sfumato como algo que não apresenta «linhas ou fronteiras» e neste quadro é praticamente impossível perceber as pinceladas no rosto, no véu ou no rendilhado dos tecidos que Da Vinci pintou com muita paciência.
O MUSEU DO LOUVRE
Ter como casa o museu mais famoso do mundo contribuiu, certamente, para aumentar a fama do quadro. Mona Lisa chegou ao Louvre, em Paris, no fim século 18, tendo depois passado uma boa temporada no quarto de Napoleão. Muito antes, estivera também na corte de Francisco I, rei de França, onde Da Vinci passou os últimos anos de vida. A obra esteve a maior parte do tempo no Palácio de Versailles, até a Revolução Francesa reivindicar a coleção real como propriedade do povo e levá-la, já em 1797, para o Louvre.
A IDENTIDADE
Uma das grandes discussões no meio artístico é sobre quem é a figura representada no quadro. Muitos historiadores acreditam que se trata da mulher de Francesco del Giocondo, um comerciante de seda de Florença. Outros estão convencidos de que é Isabel de Aragão, Duquesa de Milão, para quem Da Vinci trabalhou durante alguns anos. Lillian Schwartz, artista e investigadora americana, foi ainda mais ousada ao ter usado estudos computacionais para defender que Mona Lisa é um autorretrato de Leonardo da Vinci.
O certo é que, não havendo registos sobre a identidade desta mulher, também não há forma de a identificar de uma maneira conclusiva. E esse é um excelente motivo para cada um imaginar o que quiser sobre a musa de Leonardo.
A INVENÇÃO DE UM GÉNIO
Não se pode descartar o imaginário criado à volta de Da Vinci se quisermos perceber porque Mona Lisa é a obra mais conhecida do planeta. Foi sobretudo no século 19, com o interesse crescente pelo Renascimento, que ele foi reconhecido como um génio não só na pintura, como na ciência, na arquitetura ou na engenharia. Embora boa parte dos seus estudos tenham sido desmentidos mais tarde, o mito à sua volta continuou e continua ainda hoje bem vivo, tornando-o numa das figuras mais populares de todos os tempos.
O ROUBO
No dia 22 de agosto de 1911, o Louvre anuncia que a Mona Lisa despareceu. Logo de seguida, toda a gente corre para o museu. Visitantes, jornalistas, gente das artes, da política ou do cinema, todos ficam alarmados ao se depararem com espaço vazio onde o quadro estava pendurado. O diretor, claro, não esperou nem mais um dia para apresentar a demissão. A lista de suspeitos aumentou a cada hora e nem o pintor espanhol Picasso ou o poeta francês Guillaume Apollinaire escaparam às suspeitas. Acabaram mesmo presos, interrogados e libertados alguns meses mais tarde.
Acreditou-se, nessa altura, que Mona Lisa estaria perdida para sempre, mas, dois anos mais tarde, ela foi encontrada em Itália. Um negociante de arte alertou a polícia que um homem o contactara para tentar vender o quadro. Vincenzo Peruggia, um imigrante italiano em França, trabalhara por um breve período no museu. Com a ajuda de dois colegas, tirou o retrato da parede e escondeu-o num armário, fugindo com ele na manhã seguinte. Os três foram condenados e o mundo festejou o regresso de Mona Lisa ao museu.
A MONA LISA DE DUCHAMP
L.H.O.O.Q., o objet trouvé («objeto encontrado») é um postal que reproduz a obra da Mona Lisa na qual Marcel Duchamp desenhou um bigode e uma barba bem aparada. A irreverência, em 1919, provocou um pequeno escândalo, mas também lhe trouxe mais notoriedade. Nas décadas seguintes, vários foram os artistas que se inspiraram nessa sua obra. Andy Warhol é o o mais conhecido, mas até hoje a figura de Mona Lisa continua a ser manipulada, distorcida, rabiscada, pixelizada ou escortinhada por publicitários, cartunistas, grafiters ou designers, reproduzindo e transformando a imagem num ícone da cultura popular.