O cérebro controla o que pensamos, o que dizemos e o que fazemos. É o nosso aliado para resolver problemas, decifrar imagens, controlar as batidas do coração ou a respiração. Se não é tudo, é quase tudo o que somos. Mas, o que se sabe sobre ele não chega ainda para enumerar todas as acrobacias que consegue fazer. Este não é somente o órgão mais secreto do corpo humano. É também um dos grandes mistérios do Universo.

Neste preciso momento, há umas quantas centenas de investigadores em todo o mundo a trabalhar numa teoria geral do cérebro para perceber como ele funciona. Quando esse feito for alcançado, será provavelmente a maior conquista científica da Humanidade. Mais importante até do que a famosa teoria do Big Bang, que oferece uma explicação possível para o cosmos, ajudando a avançar no conhecimento do Universo.

Uma teoria do cérebro também poderia abrir caminho para entender a sua mecânica, orientando os neurocientistas nas suas pesquisas sobre lesões, doenças e até no desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial.

Porque é que o cérebro, estando tão próximo de nós – leia-se entranhado na nossa cabeça – ainda é um enigma tão grande? A resposta não satisfaz os mais curiosos, mas é a única, até à data, possível:

esta é a estrutura biológica conhecida mais complexa do Universo.

Convém, no entanto, esclarecer que, se ele se tornou assim tão inteligente, muito se deve a um talento humano pouco valorizado: a culinária. Sim, leram bem, a boa comidinha na mesa é, para muitos investigadores, a melhor invenção de todas.

Esqueçam os aviões, a eletricidade ou a roda. Sem a gastronomia, estaríamos até hoje mais de metade do dia a procurar, a recolher e a armazenar os alimentos que a Natureza oferece para alimentar os caprichos do cérebro. É isso que nos distingue dos primatas – os nossos primos afastados com menos 16 mil milhões de neurónios no córtex do que nós.

Com mais calorias disponíveis na dispensa e no frigorífico, o cérebro foi crescendo livre e com tempo para se dedicar às coisas boas da vida e, sobretudo, investir na educação e interessar-se pela ciência e tecnologia.

Foi a partir desse momento que nasceram as civilizações e as culturas que fizeram com que a existência humana ultrapassasse a barreira da biologia. A grande aventura do cérebro, no entanto, está na capacidade para se conectar a outros cérebros para partilhar os sonhos e as esperanças que fazem o mundo andar para frente.

Está agora na hora de conhecer os seus malabarismos:

424 km/h Velocidade dos impulsos nervosos.

É um foguete ou é o Super-Homem?

Numa competição de rali, as velocidades atingidas pelos impulsos nervosos, a viajar de e para o cérebro, eliminariam qualquer carapau-de-corrida. Na autoestrada, porém, a carta de condução seria a primeira a voar.

No sistema nervoso central, o cérebro é o piloto no comando, a medula espinhal é a pista e os neurónios são os estafetas a enviar mensagens ao corpo. 

Zero recetores de dor

Sem tempo para choramingar

«No paine no gain» é uma frase feita dos anglo-saxónicos para mostrar que nada se consegue sem esforço, suor e sofrimento. Mas, no caso do cérebro, não há terminações nervosas para captar dor. 

A dor de cabeça, para quem já está a perguntar, não é no cérebro, mas nas estruturas ao seu redor. 

10-23 watts de energia libertada em repouso

Sem férias nem fins-de-semana

O cérebro é tão viciado em trabalho que, mesmo a dormir, continua agarrado aos papéis, faz balanços da semana, envia emails e planifica os dias seguintes. 

A energia produzida pelo cérebro é suficiente para acender uma lâmpada de um candeeiro de cabeceira e muito útil se for preciso ir à casa de banho durante a noite. 

60% de gordura

Um gordinho alimentado a pão com manteiga

É, de longe, o órgão mais seboso do corpo humano, tendo uma consistência parecida com uma barra de manteiga. Mas também é o mais hidratado, já que 75% da sua composição é água. 

Uma alimentação hipercalórica, contudo, é do pior para o cérebro (para não falar do resto do corpo). As primeiras células a serem atingidas são os macrófagos – justamente os que ocupam a linha da frente na defesa do organismo. 

2% do peso do corpo

Leve como uma pluma e esbanjador como uma diva

Embora represente somente 2% do peso no corpo humano, o cérebro consome 20% de energia necessária para manter o organismo ativo e saudável

Por dia, o cérebro consome cerca de 350 calorias, o equivalente a 30 minutos de passo apressado em cima do tapete no ginásio.

4-6 minutos sem oxigénio

Ninguém vive sem ar puro, mas…

O cérebro consegue aguentar entre 4-5 minutos sem oxigénio, começando a fraquejar a partir daí.

Se estiver asfixiado durante 5-10 minutos é que a coisa complica. E muito!

60 mil km de vasos sanguíneos

A maior autoestrada do mundo

Se tivéssemos paciência para desembaraçar os vasos sanguíneos que percorrem o cérebro, as suas ramificações atingiriam os 60 mil quilómetros de comprimento – o que equivale a uma volta e meia ao nosso planeta.

A rede de vasos sanguíneos em todo o corpo atinge os 160 mil quilómetros, podendo dar quatro voltas à Terra. A cada batimento cardíaco, as artérias do corpo humano transportam entre 20 e 25 por cento do sangue para o cérebro.

13 milissegundos para processar imagens

Na cabeça, o filme é sempre mais rápido

O cérebro é capaz de decifrar (interpretar) uma imagem com a mesma rapidez dos computadores mais velozes.

O rápido processamento das imagens ajuda no direcionamento dos olhos, que chegam a mudar de posição até três vezes por segundo.

100 conexões por neurónio

A perfeita tempestade de faíscas

Estudos mais recentes sugerem que há mais conexões na nossa cabeça do que em todas as redes físicas do mundo, ou seja, cabos, portais ou routers que permitem o fluxo de dados.

Cada um dos cerca de 120 mil milhões de neurónios (contagem mais recente) é capaz de produzir, em média, 100 conexões.

Seria muito ingrato não referir aqui o papel das células gliais. Elas não geram impulsos nem formam sinapses, mas são quem fornece alimento, proteção e estrutura aos neurónios. Antes, acreditava-se que eram dez vezes mais numerosas que os neurónios, mas as investigações recentes sugerem que, para cada neurónio, há pelo menos 25 células gliais a orbitar à volta dele.

400 mil km de neurónios

Uma viagem até à Lua

Basta extrair um a um os neurónios do nosso cérebro e montar uma escada com eles. É o suficiente para subir 400 mil km, tocar na Lua e descer.

Dizem os investigadores que os nossos neurónios são tantos como a metade das estrelas da Via Láctea.

A referência à Via Láctea, já agora, vem mesmo a propósito para lembrar que cada átomo do nosso cérebro (e do nosso corpo) resulta do pó das estrelas que já explodiram. Como é que essa poeira estelar foi depois capaz de se juntar de maneira a formar um corpo humano e um cérebro com habilidades tão espantosas é que é um dos grandes mistérios de todos os tempos.

1,3 – 1,4 kg de peso

Não é o tamanho que conta, é o que tem lá dentro

O cérebro de um adulto humano pesa entre 1.300 e 1,400 gramas. Não sendo dos maiores – o do cachalote pesa 7.800 gramas e o do elefante 4.783 gramas – também não é dos mais pequenos – o do rato pesa dois gramas e o de um peixinho dourado 0.097 gramas.

Peso e tamanho, contudo, são o que menos importa, os neurónios é que fazem a diferença. Quanto maior for o seu número no córtex, mais elástica é a capacidade do cérebro para aprender. Neste capítulo, a grande mais-valia do cérebro humano é a capacidade para economizar espaço e ganhar eficiência no armazenamento dos neurónios. A desvantagem é o tempo que a espécie humana demora a sair da infância e entrar na vida adulta, característica também ligada ao número de neurónios.

Por razões ainda desconhecidas, quanto maior é a quantidade de neurónios, maior é também a esperança de vida.

6 Exercícios para estimular o cérebro

Agora que conhecemos um pouquinho melhor o cérebro, que tal cuidar melhor dele? Experimenta alguns exercícios – durante 4-5 minutos por dia – para melhorar a concentração, as capacidades linguísticas, o cálculo matemático e o relaxamento. As primeiras tentativas podem custar um bocado, mas com algum treino é possível que te venhas a tornar num campeão ou uma campeã de ginástica cerebral.

 

1 – Do cotovelo ao joelho

Ficar em pé e tocar o joelho esquerdo com o cotovelo direito. Fazer, depois, o mesmo movimento, tocando o joelho direito com o cotovelo esquerdo. Os movimentos devem ser repetidos alternadamente.

  • O exercício permite os dois hemisférios cerebrais trabalharem juntos.

 

2 – Simetrias espelhadas

Desenhar uma figura – uma casa, uma cara, um carro ou uma flor, por exemplo -, com as duas mãos, ao mesmo tempo.

  • Desenvolve habilidades linguísticas escritas, cálculo matemático e pensamento simbólico.

 

3 – Uma rodela numa mão e um quadrado na outra

Desenhar com a mão direita um quadrado, no ar ou numa folha. Na mesma superfície e ao mesmo tempo, desenhar um círculo, com a mão esquerda. Repetir os movimentos até as duas mãos conseguirem desenhar as figuras autonomamente.

  • É um exercício de desagregação que ajuda a potencializar o cérebro.

 

4 – Círculos na barriga e batidas na cabeça

Uma das mãos no abdómen faz movimentos circulares enquanto a outra dá leves batidas na cabeça.

  • O exercício estimula as duas metades do cérebro.

 

5 – Do mindinho ao indicador

Com o punho direito fechado, levantar o dedo mindinho. Ao mesmo tempo, com o punho esquerdo fechado, levantar o dedo indicador. De seguida, mudar o movimento: na mão direita, o indicador e, na esquerda, o mindinho.

  • Melhora a concentração e desenvolve a coordenação motora fina.

 

6 – Pescoço giratório

Respirar profundamente, fechar os olhos, relaxar os ombros e deixar a cabeça descair para trás. De seguida, fazer pequenos círculos com a cabeça.

  • Melhora a respiração, permitindo levar mais oxigénio até ao cérebro.

 

 

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Fontes consultadas: US National Library of Medicine | ZAP | Wings for Life | Neuroeletrics | The Conversation | Revista Galileu |