Nestas últimas semanas, as notícias têm mostrado como os líderes dos EUA e do Irão estão com vontade de começar uma guerra. Não é a primeira vez. Há muitos anos que os dois países são como arqui-inimigos a tentar provar que um é mais poderoso do que outro. O Médio Oriente, aliás, é um caldeirão de velhos ressentimentos. Volta e meia, reabrem-se feridas antigas, com os Estados Unidos e a Rússia a tomarem partido de um dos lados – Israel contra Palestina, Irão contra Israel, Líbano contra Israel, Turquia contra curdos ou sunitas contra xiitas no Iraque ou na Síria.
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Até parece que estes povos nunca se irão entender. Mas, nesta região, como em qualquer outra região, os ataques e as ameaças são tudo o que estes povos não querem. Tudo o que querem, na verdade, é sair de casa, ir buscar os filhos à escola ou visitar os amigos sem medo que do céu caia um míssil ou uma bomba. É só isso que pedem para eles e para todos os habitantes deste planeta.
Foi o que Ronny Edry, um designer gráfico a viver em Israel, tentou mostrar quando, em março de 2012, publicou um cartaz nas redes sociais com uma curta mensagem de paz para os iranianos. O que se seguiu foi um movimento gigante de um lado e do outro com milhares de respostas e de partilhas que deram início não só a muitas amizades entre israelitas e iranianos, como também a uma série de campanhas pela paz no Médio Oriente.
Ronny é hoje o fundador da Peace Factory, a organização de designers que desenha cartazes com o propósito de promover encontros entre países rivais e unir todos os povos do Médio Oriente. Tudo começou numa noite em que publicou um cartaz no Facebook, horas depois de Israel e Irão terem trocado mais ameaças. A imagem mostra Ronny com a filha a segurar a bandeira de Israel e uma mensagem: «Iranianos, nunca bombardearemos o vosso país. Nós amamo-vos.»
Logo a seguir, foi dormir, julgando que ninguém se importaria com o que ele pensa. Mais tarde, naquela mesma noite, acordou para ir à casa de banho. De regresso e, antes de voltar para cama, espreitou o computador.
_ Hei! O que aconteceu? – perguntou ele incrédulo ao ver muitas dezenas de notificações no Facebook.
Muitas pessoas queriam conversar com ele, algo que nunca tinha acontecido. Mais extraordinário ainda: boa parte delas eram iranianas. Ronny ficou assustado. É preciso perceber uma coisa. Em Israel, ninguém fala com iranianos. Em Israel, aliás, ninguém conhece iranianos. Só que, no Facebook, havia muitos a querer saber quem era ele.
Ronny começou a conversar com uma rapariga iraniana que lhe contou ter chamado a família inteira para ver o cartaz dele – o pai, a mãe, os avós, os tios e os primos. Estavam todos sentados na sala a olhar para o computador a chorar.
_ Michal acorda! Anda cá! Tens de ver uma coisa incrível! – gritou ele para a mulher.
Ela levantou-se ainda estremunhada e, assim que leu as mensagens, também começou a chorar.
Agora estavam todos – iranianos e israelitas – a chorar. Cada qual na sua sala.
Na manhã seguinte aquele cartaz ficou famoso com dezenas de milhares de partilhas que chegaram a muitas cidades iranianas e israelitas.
_ É incrível! – Soltou Michal – também quero um cartaz como o teu, por favor.
E foi assim que ele fez este segundo poster com a mulher e o filho ainda de pijama:
Ronny depressa percebeu que o poster se tornou viral não por ser ele, mas porque muitos israelitas e iranianos queriam dizer o mesmo que ele. Logo nesse dia, desatou a perguntar a todos os amigos, conhecidos e desconhecidos, se queriam enviar a mesma mensagem aos vizinhos do Irão.
Centenas disseram que sim. Em poucos dias, surgiram outras centenas a pedir o mesmo. Eram tantas que Ronny teve de chamar mais colegas para ajudá-lo, transformando a sala de estar num confuso e atarefado ateliê de fotografia e de design gráfico.
Do outro lado, chegaram mensagens e comentários de iranianos que Ronny e os colegas transformaram em posters também partilhados milhares de vezes nas redes sociais.
Estes são alguns deles:
Nos dias seguintes, os iranianos começaram também a publicar os seus próprios cartazes. Muito tímidos, escondendo o rosto para não sofrer represálias do regime, mas querendo responder aos israelitas. De repente, os dois lados estavam a conversar, passando esta história agora a ser escrita a duas mãos. Pela primeira vez, dois povos – supostamente inimigos e à beira de uma guerra – trocavam mensagens de paz.
Tantas mensagens trocaram que, sem surpresa, acabaram por despertar a curiosidade dos jornalistas. Os movimentos Israel-loves Irão e Irão-loves-Israel chegaram aos jornais, revistas e televisões não só dos países do Médio Oriente, mas também aos media dos Estados Unidos, da Europa ou da Ásia.
A amizade entre estes dois povos deu a volta ao mundo. E por cada volta dada algo de ainda mais extraordinário aconteceu. Sempre que a imprensa falava sobre eles, aparecia uma página no Facebook com o mesmos logotipo, cartazes e mensagens semelhantes dirigidos ao Irão e a Israel, mas também a outros povos rivais.
Israel❤ Iran e Iran ❤ Israel; Iran ❤Israel&Palestine; Palestine❤Israel; USA❤Iran; Lebanon ❤ Israel; Israel❤ Lebanon; Israel ❤Syria e Syria ❤ Israel; Europe❤Israel, Iran, Syria and Africa, too; USA❤ Israel/Iran/Syria; Kurdistan ❤Israel; Turkey ❤Iran
Há uma lista de páginas de Facebook interminável dedicadas à amizade entre os povos e com pessoas a enviar mensagens umas às outras. O que fica por saber é se essas amizades virtuais viraram amizades reais. Pode ser que sim, nunca saberemos.
O que sabemos é que Ronny e a mulher Michal já viajaram, entretanto, pela Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália, França, Alemanha, Holanda e muitos outros países. Encontraram-se com iranianos, libaneses, palestinianos ou americanos. Sentaram-se à mesma mesa, falaram de basquetebol, de comidas típicas, da escola dos filhos e de outros assuntos que geralmente são temas de conversas entre amigos de longa data.
Será o suficiente para acabar com as guerras? Provavelmente não, como demonstram agora os ataques entre Estados Unidos e Irão ou vice-versa. Mas, é sempre bom lembrar que, para lá de uma guerra, qualquer guerra, há um só lado que importa – o dos judeus, sunitas, xiitas, cristão, budistas, hindus, enfim… Uma imensidão de gente como eu e tu, que só quer viver em paz com todos.
Esta é a história de outro rapaz que mudou a vida de muita gente. KAMKWAMBA. O feiticeiro que mudou a direção dos ventos.
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Fontes consultadas: TedTalks | Peace Factory |