A impressão digital entrou na investigação criminal há 130 anos e, desde então, nunca mais a dispensamos. As técnicas forenses podem ter evoluído enormemente, com amostras de ADN, análises laboratoriais sofisticadas, infravermelhos ou perícias balísticas. Mas as dedadas deixadas na cena do crime continuam uma pista tão atual como em 1892, quando Juan Vucetich, um inspetor da polícia argentina criou o primeiro método para registar e catalogar as impressões digitais.

Somos 7,8 mil milhões de pessoas a viver neste planeta e todos diferentes, já sabemos. Mas, entre tudo o que nos distingue, encontramos sempre algo a mostrar de onde viemos e de que somos feitos. Um nariz arrebitado a fazer lembrar o bisavô, um feitio doce (ou tramado) da nossa tia ou um talento herdado da mamã ou do papá. A única característica que não se repete é a impressão digital. Por isso mesmo, esta é a ciência forense mais segura e precisa, conhecida por papiloscopia.

Podes ver, nas séries policiais da televisão, muita tecnologia a ser usada para nos impressionar: imagens 3D do corpo humano projetadas em ecrãs transparentes, amostras de sangue ou de ADN a rodopiar em centrifugadoras de laboratório, partículas minúsculas aumentadas por lentes ulrapotentes e sabe-se lá mais o quê. Mas, ao fim de mais de um século, se não pudéssemos contar com a velha e boa impressão digital, a investigação criminal estaria ainda na Idade da Pedra.

Muito antes da polícia usar este método para caçar os criminosos, já os egípcios, os gregos ou chineses usavam a impressão digital na Antiguidade para assinar contratos ou autenticar empréstimos. Mas só a partir dos finais do século 17 é que ela começou a ser estudada.

O Bicho-que-Morde construiu uma linha do tempo com os principais momentos da história da impressão digital. Entra com ele nesta viagem e descobre como a evolução desta ciência já tramou a vida de muitos burlões e de criminosos violentos.

Os pioneiros a decifrar a impressão digital

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👉1684   O médico e botânico britânico Nehemiah Grew é o primeiro europeu a descrever a impressão digital, com desenhos precisos de padrões de cristas de dedo. No ano seguinte, o alemão Govard Bidloo apresentou o seu atlas da anatomia com observações que se tornaram a base da identificação forense das impressões digitais.

👉1686/87   Usando o microscópio para observar as marcas de dedos e mãos, Marcello Malpighi, professor de anatomia da Universidade de Bolonha (Itália), identificou cristas, espirais e laços em impressões digitais deixadas em superfícies.

👉1788   O anatomista alemão Johann Christoph Andreas Mayer foi o primeiro europeu a reconhecer que as impressões digitais eram exclusivas de cada indivíduo.

Os primeiros crimes desvendados

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👉1823   O checo Jan Evangelista Purkyně identificou nove padrões de impressão digital, entre os quais o arco em forma de tenda.

👉1840   Após o assassinato do político Lord William Russell, o médico inglês Robert Blake Overton recomenda à Scotland Yard que verifique a existência de impressões digitais no local do crime. Mas a polícia inglesa ignora o conselho por achar que um médico de província não devia meter o bedelho em assuntos policiais. Se lhe tivessem dado ouvidos, poderiam não só ter descoberto o autor deste homicídio, como de outros serial killers, como é o caso de Jack, o estripador.

👉1877   O anatomista alemão Georg von Meissner introduziu a impressão digital em todos os contratos com os aposentados do Estado, a fim de evitar a falsificação de assinaturas por parte dos familiares.

👉1858   Cansado de ser enganado, William James Herschel registou as impressões digitais de todos os funcionários da administração britânica na Índia e acabou com o problema dos burlões que, todas as semanas, apareciam, mais do que uma vez, para receber o salário. Quanto mais impressões digitais ele recolhia, com mais certezas ficava de que se tratava de um tipo de identificação única.

👉1880   O médico escocês Henry Faulds descobriu que ao raspar as impressões digitais dos dedos, elas voltam a crescer exatamente iguais às anteriores. Entusiasmado com a descoberta, correu a contar à Polícia Metropolitana de Londres, que simplesmente o ignorou. Onde é que já ouvimos esta história???

👉1892   O antropólogo e matemático inglês Francis Galton definiu alguns pontos e características entre as quais poderiam caracterizar-se as diversas impressões digitais. Os estudos de Galton são a base da ciência de identificação por impressão digital.

👉1892    Juan Vucetich, um antropólogo e oficial de polícia argentino, criou o primeiro método científico para registar as impressões digitais. Nesse mesmo ano, Francisca Rojas acusou o vizinho ter assassinado os seus dois filhos. A polícia, no entanto, descobriu uma dedada ensanguentada que correspondia ao polegar direito de Francisca. Este foi o primeiro crime conhecido a ser resolvido com recurso a impressões digitais. A partir daí, a polícia argentina adotou o método de Juan Vucetich, que foi sendo progressivamente usado pelas forças policiais de todo o mundo.

Como é que a polícia fazia antes?

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As polícias usavam o método denominado de antropometria, criado em 1879, pelo criminologista francês Alphonse Bertillion. A técnica identificava um suspeito através da medição do antebraço, da coxa, da circunferência do crânio, da distância entre os dois olhos, entre outros 243 critérios. Mas o método acabou por ser definitivamente abandonado em 1970, passando as polícias do mundo inteiro a usar a impressão digital para identificar os suspeitos.

 Uma ciência nova

Impressão digital

👉1901    O cientista francês Paul-Jean Coulier desenvolveu um método para transferir para papel a impressão digital deixada em superfícies, usando vapor de iodo. A técnica permitiu que a London Scotland Yard começasse a recolher as impressões digitais encontradas nos locais de crime.

👉1902     França é o primeiro país europeu a condenar um homicida com base em evidências de impressão digital.

👉1903    As impressões digitais começaram a ser recolhidas em grande escala para se construir uma base de dados em Nova Iorque. Em 1946, o FBI já tinha mais de 100 milhões de impressões digitais manualmente registadas em cartões de identificação

👉1910  Edmond Locard criou o primeiro laboratório forense, em França, onde recolhia as impressões digitais deixadas nas luvas que os criminosos abandonavam na cena do crime.

👉1980  As autoridades japonesas criam, na década de 1980, o Sistema de Identificação Digital Automatizado (AFIS), usado para comparar uma impressão digital com as previamente arquivadas num banco de dados. A tecnologia melhorou muito, no final do século XX, quando os processadores e as memórias dos computadores se tornaram mais eficientes, permitindo solucionar crimes ocorridos há muitas décadas.

E assim chegamos aos dias de hoje

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👉2004    O Departamento de Defesa dos Estados Unidos desenvolve o primeiro Sistema de Identificação Biométrica (ABIS). Além da impressão digital, o método utiliza diversos dados para a identificação, como voz, íris, retina ou formato do rosto. Para evitar o roubo de identidade, os dados biométricos são criptografados.

Atualmente, o sistema encontra-se totalmente automatizado, permitido encontrar uma correspondência exata entre uma amostra e vários modelos biométricos armazenados. Na investigação criminal é até possível comparar imagens de videovigilância com as fotos dos arquivos policiais. As suas aplicações vão muito além da segurança pública, podendo, inclusive, ser usado para desbloquear um smartphone através do reconhecimento facial.

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