No início dos anos 80, a rapaziada estava dividida em dois tipos. Os que, em segundos, resolviam o enigma do cubo mágico e os que andavam às turras com o quebra-cabeças do húngaro Ernö Rubik. Entre estas duas espécies, uma coisa em comum: estava tudo doido, em Portugal e no mundo inteiro.

Jogava-se na escola, no quarto, no Passeio dos Alegres, do Júlio Isidro, debaixo de água ou a saltar de paraquedas. Havia porta-chaves, relógios de cabeceira, insufláveis de praia, t-shirts e uma canção da Lara Li que tocava a toda a hora na rádio. Havia adultos, adolescentes e crianças a quebrar recordes todos os dias e havia, por fim, os que, sem paciência para vencer o puzzle, se renderam à batota dos autocolantes coloridos vendidos à parte.

O cubo de Rubik foi um dos principais ícones da década de 80. Desde essa altura, venderam-se 350 milhões de exemplares, sendo até hoje o brinquedo mais vendido no mundo. E isso sem contar as cópias piratas, o que certamente multiplicaria umas quantas vezes este número.

Até hoje, o cubo mágico continua a juntar fãs que disputam campeonatos pelo mundo inteiro. O sucesso, conta Rubik no seu site, deve-se à simplicidade do objeto e à complexidade do jogo. Resolver o cubo mágico parece fácil, mas é só aparência.

A engenhoca com que um quinto da população do mundo já brincou tem 43 252 003 274 489 856 000 de possíveis combinações e uma única solução. Até Rubik demorou várias semanas para conseguir completá-lo. Mas essa é que é a piada do brinquedo. A melhor parte de um quebra-cabeças é o processo e não a solução, diz o inventor. Pode até ser verdade para uns, mas haverá sempre quem acabe com uma carga de nervos a desmembrar o cubo mágico.

A história do cubo mágico em 8 tópicos

O Criador

Ernö Rubik andava a matutar numa maneira divertida de ensinar geometria tridimensional aos seus alunos de design da Escola de Artes Aplicadas de Budapeste. E foi ao observar o movimento da água do rio Danúbio em torno dos seixos que teve a ideia de construir um cubo giratório. O primeiro protótipo foi feito de madeira, elásticos, clips e adesivos com cores. Assim que viu a sua obra acabada, soube que tinha inventado um objeto revolucionário.

A história do cubo mágico começou na Primavera de 1974, mas só três anos depois é que Rubik venceu a burocracia e conseguiu comercializar o brinquedo. Em menos de cinco anos, os húngaros, que nessa altura eram 10 milhões, compraram dois milhões de cubos. Em 1980, só na Alemanha foram vendidos mais de 4 milhões. Os cubos rapidamente viraram objetos de culto na Europa e nas Américas. O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (Moma) adquiriu um exemplar em 1981. Nesse ano, também o Museu de Artes Aplicadas de Budapeste fez o mesmo.

Visita o site oficial do cubo mágico.

A mecânica

A engenhoca de Rubik tem várias versões, sendo a 3x3x3 a mais popular, composta por 6 faces de 6 cores diferentes. Outras versões menos conhecidas são a 2x2x2, 4x4x4 e a 5x5x5.

 

Os métodos

Ainda hoje, o cubo mágico intriga investigadores de todo o mundo, que tentam descobrir as melhores estratégias para resolver o quebra-cabeças no mais curto espaço de tempo. Em 2007, dois cientistas da Universidade de Northeastern, nos Estados Unidos, chegaram a um algoritmo capaz de resolver qualquer combinação do cubo mágico em 26 movimentos. O feito foi ultrapassado três anos mais tarde por um grupo coordenado por Morley Davidson, da Universidade de Kent (EUA). Os investigadores descobriram o “número de Deus”, permitindo resolver o puzzle em 20 movimentos ou menos.

Recordes humanos

O primeiro recorde – 22,95 segundos – foi declarado em 1982. A partir daí, foi uma montanha russa, com os cromos do cubo a serem cada vez mais rápidos. As estratégias foram-se aperfeiçoando e os computadores trouxeram uma grande ajuda. O australiano Feliks Zemdegs é atualmente o detentor da melhor média mundial (5,53 segundos) e também do recorde único (4,22).

Consulta aqui a lista oficial dos 100 jogadores mais rápidos.

 

 

Recordes das máquinas

Por mais rápidos que sejam os dedos humanos, não chegam ainda para vencer as máquinas. O robô Cubestormer 3, feito com peças da Lego resolve um cubo mágico em 3,253 segundos, o que já é impressionante. Mas robô mais rápido de todos é o «Sub1 Reloaded», com um tempo de 0,637 segundos, construído por Albert Beer (Alemanha).

 

Os campeonatos

O primeiro campeonato aconteceu, em 1982, em Budapeste, na Hungria, terra do Cubo Mágico. Desde aí, a competição já passou por várias cidades como Toronto, no Canadá, Boston, nos Estados Unidos, Banguecoque, na Tailândia, ou São Paulo, no Brasil.

Os acrobatas

O americano Dan Knights completou o cubo em 32 segundos durante um salto de paraquedas que demorou 45 segundos a aterrar no chão. E o polaco Jakub Kipa conseguiu resolvê-lo em 20,57 segundos usando apenas os pés. O chinês Que Jianya demorou mais tempo – 5 minutos, 6 segundos e 61 centésimos de segundo -, mas completou três cubos enquanto fazia malabarismos.

 

Comunidade Pt

Em Portugal, os campeonatos oficiais são promovidos pela Comunidade do Cubo Mágico, que já organizou várias competições nacionais ou regionais.

Visita o site aqui

As combinações

O cubo mágico tem 43.252.003.274.856.000 combinações. Significa isto que, se alguém for rápido o suficiente para fazer uma jogada por segundo, só daqui a 1400 triliões de anos é que completará todos os movimentos possíveis.