Adivinhas. Qual é coisa, qual é ela? Vê lá se és capaz…

adivinhas

Perguntas que são enigmas, que fazem pensar e são divertidas. Tanto faz jogar sozinho como em equipa. Há sempre respostas, umas evidentes, outras nem tanto. São puzzles, são armadilhas, às vezes são quadras, outras trava-línguas, mas põem sempre a imaginação a trabalhar. Ninguém sabe quem as inventou. Fazem parte da tradição oral. Quer dizer que chegaram intactas até aos dias de hoje porque os mais velhos contaram aos mais novos e os mais novos não as deixaram morrer.

Aqui ficam algumas adivinhas para despertar o bichinho da curiosidade.  Passa com o cursor do rato nos quadrados coloridos para leres as perguntas e carrega no botão de cada um deles para descobrir as respostas. Para passar ao jogo seguinte, carrega na seta [>] que aparece na lateral do painel. 

Atenção: esta apresentação só resulta em pleno no desktop, tablet ou portátil. No telemóvel, alguns textos podem aparecer cortados.

Recuperar a arte de ler os sinais da Natureza

O melhor das férias de verão é o tempo para reparar nas coisas curiosas sem a pressão do relógio a mandar na nossa vida. Aproveita, por isso, para prestar atenção aos sinais da Natureza. Plantas, animais, ventos ou correntes de água estão sempre a dar-nos pistas sobre a hora, o local ou a temperatura do nosso planeta.

O voo de um pássaro indica o tempo que está para vir, as raízes de uma árvore mostram a direção do Sol, uma duna de areia revela o vento predominante e uma flor a desabrochar aponta para o Sul. Se estiveres atento ou atenta aos sinais da Natureza, ela guiar-te-á tão bem ou melhor do que a bússola ou o GPS que guardas no telemóvel. Esquece, por isso, as tecnologias e parte à descoberta.

Faz aquilo que, durante séculos, fizeram os agricultores, as tribos de índios ou os pescadores, que nunca precisaram destas engenhocas para sobreviver nos campos, nas florestas ou nos mares. Muita dessa sabedoria usada para se orientarem ou preverem o tempo transformou-se em provérbios. A maioria é divertida, mas sem base científica. Uma boa parte desse conhecimento, contudo, foi ao longo dos anos sendo confirmada pelos investigadores.

Na direção das árvores

 Se olharmos com muita atenção para uma árvore, ela mostra-nos onde está o Sul. 

Há um livro espetacular de um explorador britânico, que ensina uma série de truques para nos orientarmos pelo Sol, pelas estrelas, pela lua, pelas plantas ou pelos animais. Tristan Gooley é o autor de «The Lost Art of Reading Nature’s Signs» (A Arte Perdida de Ler os Sinais da Natueza). A obra, infelizmente, não está traduzida para português, mas tem mais de 800 pistas.

Tristan ensina, por exemplo, a usar as árvores para distinguir o Norte do Sul. As suas copas têm geralmente um lado mais frondoso e pesado do que outro. Essa é a parte que recebe mais luz solar e essa é a forma de encontrar o Sul. A razão é que, estando nós no Hemisfério Norte, o Sol passa a maior parte do dia no lado Sul do céu.

A descoberta, em alguns casos, pode não ser imediata e um dos cuidados a ter é dar umas quantas voltas e observar a árvore sob vários ângulos para que nos revele os seus segredos. Nas florestas, pode ser mais complicado, uma vez que todas elas estão em competição por um bocadinho de claridade. Mas os galhos das árvores também são bons indicadores, revela Tristan. Os que estão na parte sul tendem a subir em busca do Sol, enquanto os que apanham mais sombra são propensos a crescer na vertical.

Alinhados com o campo magnético

 O alinhamento do corpo com o eixo magnético da Terra já foi encontrado em muitos animais. 

Outras formas de descodificar os sinais da Natureza é observar o comportamento dos animais. Os investigadores já descobriram que as vacas gostam muito de posicionar o corpo na direção norte-sul. Não acontece sempre, mas é o mais comum. Tal como os cães usam também o mesmo eixo norte-sul para largar os cocós que fazem ao ar livre – não é piada, é mesmo um facto comprovado pela ciência.

Há uma razão para isso e é a mesma que leva também as aves marítimas, como patos ou gaivotas, a escolher o Norte para aterrarem sobre as águas. É o alinhamento com o eixo magnético da Terra, que já foi encontrado em muitos animais, desde abelhas, moscas da fruta, morcegos, alguns roedores ou raposas.

Prever o tempo é bem mais complicado. Pois se até os meteorologistas, por vezes, se enganam…

Agricultores, criadores de gado ou índios, no entanto, aprenderam a decifrar os comportamentos dos animais para tentar salvar as colheitas e protegerem-se das chuvas, secas ou invernos rigorosos. Neste capítulo, o «The Older Farmer’s Almanac» é, à semelhança do livro de Tristan Gooley, o guia a desvendar uma enormidade de sinais da Natureza.

A publicação americana editada desde 1792 tem, tal como a revista portuguesa «Borda d´Água», previsões meteorológicas, tabelas de marés ou gráficos sobre as melhores alturas para semear ou colher frutos, cereais ou tubérculos. Como também recupera a sabedoria popular para mostrar como os animais e as plantas sabem melhor do que os humanos antecipar os problemas que o tempo pode provocar nas suas vidas.

Prever o tempo com os animais

Jim Bendon | CC BY-SA 2.0

 Pássaros, gado ou cavalos têm um sentido especial para antecipar mudanças no clima. 

A gordura corporal, a espessura do pelo, onde escondem a comida ou os lugares onde estão os abrigos eram pistas a que os nativos americanos prestavam atenção.

Eles acreditavam, por exemplo, que quanto mais sólidos eram os diques construídos pelos castores, mais rigoroso seria o inverno. E, como tal, o melhor era porem-se a caminho do Sul.

Muitos outros sinais da Natureza podem ser encontrados neste almanaque. O Bicho Que Morde selecionou alguns:

☃ Invernos longos e rigorosos

  • Abelhas escolhem locais protegidos para fazer as colmeias (no interior de um armazém ou de um celeiro, por exemplo);
  • coelhos gordos em outubro e novembro;
  • Cascas de maçã duras ou cascas de cebolas grossas;
  • Uivos de lobos antecedem tempestades;
  • Silêncio na floresta é também sinal de tempestade a caminho.

🌈 Bom tempo

  • Morcegos a voar pela noite dentro, até quase de madrugada;
  • Pássaros a voar alto no céu (quando voam baixo, é de esperar mudança brusca no tempo);
  • Pássaros a cantar.

☔ Chuva

  1. Cavalos e gado esticam o pescoço e cheiram o ar;
  2. Gado deita-se no pasto;
  3. Porcos ficam inquietos;
  4. Andorinhas voam baixinho ou pousam nos beirais.

O termómetro da Natureza

 A cadência do cri-cri dos grilos é uma ciência exata para calcular a temperatura no exterior. 

Quem quiser saber qual a temperatura exata só tem de ouvir os grilos com atenção. O barulho que fazem ao roçarem as asas e as pernas nada mais é do que o truque dos machos para atrair as fémeas. Mas o ritmo do cri-cri é mais preciso do que um termómetro.

A descoberta foi feita por Amos Dolbear. Em 1897, o físico americano defendeu que a temperatura no exterior condiciona a cadência dos cri-cris dos grilos. A tese já foi cientificamente testada pela meteorologista americana Margaret (Peggy) LeMone, a mesma que também já calculou o peso de uma nuvem, como o Bichinho das Contas mostrou aqui.

Uma das poucas fórmulas traduzidas para graus celsius está também no «The Older Farmer’s Almanac».

Para converter o som dos grilos em graus celsius, é preciso contar o número de cri-cris emitidos em 25 segundos. De seguida, dividir esse valor por três. E, por fim, somar o número quatro.

Exemplo: 48 cri-cris ÷ 3 + 4 = 20 °C.

Quem tiver ouvido e paciência para escutar os grilos nunca mais precisará de consultar a meteorologia no smartphone.

😜
Antes de partires, espreita este curioso artigo: Porque é a Natureza (quase) toda simétrica?
E, já agora, se quiseres descobrir os incríveis segredos das árvores e das plantas, lê também o artigo Porque é bom falar com as plantas?

Boas férias e desfruta a Natureza!! 🐝🐞

Por que quase nunca vemos o que está à frente do nariz?

Em qualquer cidade, há sempre grandes avenidas com muitos prédios – uns antigos, outros não tão antigos, alguns bonitos, outros feios e outros nem bonitos nem feios. Quem, no meio da correria do dia a dia, apanha o metro ou o autocarro, entra no escritório ou sai de casa não repara nessas diferenças.

As pessoas descem e sobem a rua todos os dias sem virar a cabeça para cima ou para os lados. Ninguém vê os prédios bonitos. A não ser que haja um ou mais turistas pelas redondezas. Eles não têm pressa, nem hora para almoçar, chegar a casa ou ir trabalhar. Passeiam pelas cidades com o nariz no ar, tiram fotos e acham piada a tudo porque tudo é diferente: os azulejos nas fachadas, as portas de madeira trabalhadas, as floreiras e os estendais na varanda, os gatos e as velhotas à janela.

E nós, que andamos todos os dias pelas nossas cidades, não reparamos no que está mesmo à frente (ou por cima) do nosso nariz. Por vezes, basta atravessar o passeio para descobrir uma nova perspetiva da rua que julgávamos conhecer de olhos fechados. Os lugares, os objetos, os sabores e até as pessoas quando se entranham nas nossas rotinas, tornam-se muitas vezes invisíveis. Entramos em modo automático e desligamos o sensor para aquelas coisas que sabemos estarem ali à mão todos os dias.

Quem se dá ao trabalho de sentir sabor da água da torneira? Seria preciso um paladar muito apurado para detetar o cálcio ou magnésio usados no seu tratamento, certo? Mas, quem diz a água, diz também o cheiro da roupa acabada de sair da máquina de lavar, os microtremores do metro a passar por debaixo da terra, os corredores de luz solar a atravessar a cozinha pela manhã, os arbustos floridos junto à estrada ou as janelas dos prédios iluminadas quando anoitece.

No dia a dia, essas pequenas coisas passam ao lado. Olhamos sempre para os mesmos sítios, repetimos mais ou menos os mesmos gestos, usamos as mesmas palavras e fazemos quase sempre os mesmos caminhos.

Há quem se levante da cama e a primeira coisa que faz é calçar as pantufas e correr para a casa de banho esvaziar a bexiga. Quem chegue a casa depois da escola e faça primeiro os TPC e depois vá lanchar. Quem beba um café em chávena escaldada depois do almoço. Ou quem leve o cão a passear sempre pelas mesmas ruas e sempre ao mesmo jardim (esperemos também que apanhe sempre os cocós que eles largam na rua).

É mesmo assim e nada de errado com isso. Há uma série de comportamentos programados no nosso cérebro para facilitar as decisões que precisamos tomar todos os dias. Que canseira seria todas as manhãs pensar se primeiro lavamos os dentes ou comemos o pequeno-almoço. Se tomamos banho de manhã ou à noite. Se calçamos as meias antes ou depois das cuecas. Ou ainda se vamos para a escola pelo caminho do jardim ou pelo caminho da padaria. Loucura, verdade? Agora imaginem como seria se tivéssemos de tomar estas pequeninas decisões do princípio ao fim do dia…

O nosso inconsciente usa os hábitos repetidos dia após dia para tomar esse tipo de decisões, libertando-nos para tarefas mais importantes como atravessar a estrada com cuidado, tomar atenção nas aulas, fintar um colega ou uma colega e marcar um golo, não chegar atrasado ou atrasada a um compromisso e tantas outras tarefas, que exigem tudo de nós.

A vida todos os dias

 

 As rotinas adormecem os sentidos e deixam escapar as boas coisas da vida. 

As rotinas são muito úteis. Em alguns aspetos, tão úteis como as secretárias e os secretários administrativos que organizam o dia-a-dia de escolas, de instituições ou de empresas. Só que é preciso cuidado para não deixar adormecer os sentidos por essas mesmas rotinas. Elas criam uma falsa sensação de monotonia, deixando escapar aqueles detalhes que, à primeira vista, parecem insignificantes.

E, depois, só damos por falta delas quando acabam ou são interrompidas. Imaginemos que, por absurdo, os nossos avós decidissem que já somos crescidos para nos lambuzarem com beijinhos sonoros e melosos? Ou que o Jacarandá da nossa rua adoecesse e tivesse de ser cortado? Ou que o café da Alzira, na esquina do bairro, fechasse para sempre.  Como diz Winnie the Pooh, esse grande sábio da literatura infantil, «as coisas pequenas são aquelas que ocupam mais espaço no nosso coração.»

Só que as coisas pequenas desaparecem num instante. Não lhes prestamos a devida atenção porque estão sempre a se repetir. Não escutamos os passarinhos pela manhã, não damos grande importância aos sorrisos de bom dia, de boa tarde e de boa noite que nos oferecem a torto e a direito, não perdemos tempo a olhar o céu estrelado ou não saboreamos demoradamente os ovos mexidos ao pequeno-almoço dos sábados.

Que importância têm essas miudezas? Muita, por acaso. Experimentem pensar em todas as boas miudezas que acontecem todos os dias ou quase todos os dias. Agora imaginem viver sem elas.

Podemos até programar o nosso cérebro para tomar decisões simples, mas não somos robôs. Sabemos que a vida é feita de momentos grandes, mas principalmente de infinitos momentos pequeninos. É preciso, por isso, estar atento: nunca se sabe quando o melhor momento das nossas vidas está mesmo diante do nosso nariz.

Já que estamos a falar de nariz, mete o bedelho também nestes dois artigos:

 🌼Por que cheiram tão bem os livros?

🥶Por que dão os esquimós beijinhos com o nariz?

Quanto pesam as palavras?

O Bichinho das Contas, acostumado a ver números em todo o lado, inventou várias fórmulas para calcular o peso das palavras.

 

Exercício 1

a) Separar uma palavra comprida e outra curta

b) Pesar cada uma delas

Oftalmotorrinolaringologista (28 letras) | Pé (2 letras)

 

Exercício 2

a) Arranjar uma palavra com mais consoantes e outra com mais vogais

b) Ver qual a mais pesada

Presunçoso (5 consoantes + 3 vogais) | Fogueira (5 vogais + 3 consoantes)

 

Exercício 3

a) Aumentar e diminuir o grau dos substantivos

b) Verificar se ganharam ou perderam peso

Papelão e papelinho | rapagão e rapazote | cabeçorra e cabecinha

 

Há ainda outras pesagens que podem ser feitas entre as palavras esdrúxulas, graves e agudas ou entre as palavras monossilábicas (1 sílaba), dissilábicas (2 sílabas) ou polissilábicas (3 ou mais sílabas). E, já agora, verificar também se os acentos e as cedilhas contribuem ou não para o peso oscilar.

O Bichinho da Contas ficou só pela teoria. É preciso ser muito esdrúxulo para julgar que se pode agarrar nas palavras e pesá-las numa balança. Elas não são coisas que se enfiam nos bolsos para usar quando se tem frio ou comer quando se tem fome.

Mas, então, porque se diz para pesar ou medir bem as palavras?

O peso ou a medida, no caso das palavras, tem a ver com a forma e tom como são ditas. E também com o conjunto de palavras que se escolhe para construir uma frase. É o que se diz, por que se diz e como se diz, portanto, que carregam uma ou várias palavras de significados que confortam, alegram, afrontam, alertam ou até assustam.

Uma banana , por exemplo, é só uma banana. Quando ganha vida, porém, passa a ofensa. Ninguém gosta de ser uma banana ou um banana, sem vontade própria e enganado por qualquer um.

 

As palavras, por isso, pesam e têm de ser medidas. Mas não se chega a lado nenhum usando uma balança ou uma fita métrica. O peso das palavras está no impacto que provocam em quem as ouve. Não é possível tocálas, muito menos agarrá-las. Mas são elas que dão forma às nossas ideias, moldam e expulsam os pensamentos que, de outra maneira, ficariam solitários na nossa cabeça.

As palavras, no sentido literal, não são quadradas ou redondas, não escorregam, nem arranham, não são leves nem pesadas. Muito embora, umas sejam mais difíceis de pronunciar do que outras. A facilidade com que se diz «folha» ou «lençol» não é a mesma para palavras como «caramelizado» ou «atrofiado». Aquelas com mais consoantes são as que, por regra, dão mais trabalho às nossas cordas vocais, precisando ultrapassar uma maior quantidade de obstáculos até saírem pela boca e, muitas vezes, também pelo nariz.

Ao contrário das vogais – que se formam com uma simples vibração do ar –, as consoantes precisam dos lábios, dentes, língua, céu da boca e ainda do sininho da garganta (úvula) para saírem perfeitinhas.

Fáceis ou difíceis de pronunciar, se convivermos algum tempo com elas, são capazes de surpreender e mostrar formas, texturas, tamanhos, temperaturas e muitas outras características atribuídas a objetos e pessoas.

São os escritores, os compositores e os poetas em particular que melhor tiram partido destes atributos. Brincam com a gramática, jogam com as palavras, tiram-nas do seu contexto, carregam ou trocam os seus significados e, ainda assim, elas continuam a fazer sentido.

 

 

É preciso talento, inspiração e trabalho para escrever como um poeta, mas não é preciso ser poeta para sentir o peso das palavras. Não só o peso, mas tudo no que elas se transformam quando lhes damos a devida atenção.

Frustrado com os primeiros exercícios, o Bichinho das Contas decidiu emendar o erro, inventando outras formas de avaliar os atributos das palavras. E não é que, desta vez, até faz algum sentido?

O que te vem à cabeça quando pensas em…?

 

Usa as setas na lateral para passar ao painel seguinte.

 

👂 E, por falar em palavras, já leste o artigo «Ninguém resiste a uma frase orelhuda»?

Quantas notas soltam os pássaros num segundo?

pássaros

Um segundo é suficiente para os pássaros soltarem 45 notas (sílabas vocais) de uma assentada. Algumas espécies até conseguem esticar o canto por mais de 7 segundos antes de iniciar um novo pio. E isso nem é o mais espetacular. Há os que são capazes de, em plena atuação, subir e descer as notas musicais (frequências de som) em simultâneo, além de emitir dois tons distintos ao mesmo tempo. Se isso não é uma dádiva da Natureza, o que será?

Se fossem cantores profissionais, os tenores, os sopranos ou os barítonos teriam na passarada uma séria concorrência. Uma concorrência desleal, é preciso que se diga. O talento dos pássaros esconde-se na siringe, algo que nós não temos e sem o qual eles piavam baixinho. Trata-se de um aparelho vocal localizado no fim da traqueia, ramificado em dois canais controlados de forma independente. É o que basta para permitir todas estas proezas que, na voz dos humanos, fariam maravilhas.

Há contudo uma coisa que humanos e pássaros têm em comum: as mesmas escalas musicais. Ou seja, os passarinhos também aplicam a matemática para compor as suas melodias. A descoberta, feita em 2014 por biólogos da Universidade de Viena, não será tão surpreendente assim. Afinal, os conceitos baseados em princípios matemáticos (como a álgebra ou a lógica) estão sempre presentes na natureza.

Dueto homem-pássaro

Pássaros e humanos não só
partilham a mesma escala
musical como usam as mesmas
 zonas do cérebro para o canto
 e para a fala.

Outra investigação, também feita em 2014, descobriu que o canto das aves tem algumas relações de parentesco com a nossa fala, apesar de a nossa linguagem ser muito mais complicada. O estudo, da Universidade Duke, nos EUA, conclui que pássaros e humanos usam partes do cérebro semelhantes para comunicarem entre si e ainda que há dezenas de genes comuns por detrás dessa habilidade. É por isso que vários investigadores estudam o canto dos pássaros especificamente para entender como os humanos aprendem a falar e como corrigir algumas deficiências da fala causadas por doenças.

Outros aspetos sobre o canto das aves já são há muito conhecidos pelos ornitólogos, especialistas em desvendar a vida secreta dos pássaros. Além de exprimir medo perante um perigo, o canto das aves serve sobretudo para dizer aos rivais que aquele lugar é território dele e não querem intrusos a rondarem a zona. É por isso que são mais os machos que as fêmeas a usar os seus dotes artísticos.

Não é a única utilidade do canto, o cortejo desempenha um papel muito importante. Quanto mais habilidosos forem os machos, mais hipóteses têm de arranjar uma companheira. São elas que escolhem com quem vão acasalar, mas do que uma gosta a outra pode não gostar. Tal como em todas as artes, também os cantos dos pássaros não tocam o coração de todos (de todas, neste caso) de igual maneira. E há sempre espécies mais picuinhas do que outras. As pardalitas dos Estados Unidos, por exemplo, são muito exigentes com os machos, escolhendo os parceiros que menos erros cometem durante o canto, como demonstrou o estudo da Universidade do Porto, conduzido por Gonçalo Cardoso.

É que não basta usar apenas os dotes que a natureza deu. Cantos há muitos, do mais elementar ao mais elaborado. O pardal Zonotrichia leucophrys canta uma melodia muito simples, com uma ou duas sílabas que repete sem se cansar. As corruíras têm centenas de repertórios e o Toxostoma rufum (espécie de tordo norte-americano) tem mais de dois mil cantos. Mas não é por usarem todas as notas da pauta que os machos aumentam as chances de arranjar uma parceira.

Muitas vezes, como demonstrou outro estudo do investigador português, os malabarismos vocais de pouco servem. O que elas apreciam mesmo é a forma como cantam, a interpretação ou, como diriam alguns, a alma que eles colocam na sua atuação. Se uma ave canora não tem um grande repertório de sílabas para apresentar, poderá sempre apostar na criatividade, combinando a repetição com mudanças rápidas de frequência de som para conquistar a fêmea. Quando estão a namorar, contudo, ele e ela são capazes de interpretar em dueto as mais românticas melodias misturando sons e tons que vão do simples ao mais complicado.

Talento não é tudo

O canto não é um dom
inato. Os filhotes nascem
com algumas noções
básicas, mas tudo o resto
aprendem com os adultos

Este como qualquer outro talento requer trabalho, treino e esforço, não é uma dádiva da Natureza. Quando um passarinho nasce, já tem no seu código genético as instruções para soltarem os pios mais básicos, que servem para chamar a atenção quando têm fome ou estão em perigo. Mas não são mais do que gritos de socorro (ou choros de bebé) sem nenhuma sensibilidade artística. Tudo o resto, ou seja, os sons melodiosos são aprendidos com os mais velhos.

Cada espécie tem a sua própria linguagem, mas por vezes, dentro da mesma família há variações e dialetos usados por pássaros separados por longas distâncias. É preciso ter em conta que há 18 mil espécies de aves conhecidas a sobrevoarem o nosso planeta, cada qual com os seus caprichos de artista. Um melro-preto português, por exemplo, pode não entender patavina do que diz o seu primo neozelandês.

Esse mesmo melro, aliás, pode ter um pio mais ou menos estridente se estiver no parapeito de um prédio no centro de Coimbra ou num sobreiro de uma planície alentejana. Os passarinhos da cidade têm de ter um pio muito mais agudo para se sobrepor aos ruídos urbanos e conseguir conversar com os outros passarinhos. Por tudo isso e muito mais, já deu para perceber que, o canto das aves é belo, mas de simples tem muito pouco.

Um segundo basta para um pássaro soltar 45 notas. Algumas espécies conseguem esticar o canto por mais de 7 segundos antes de um novo pio.

___________________________

🐦Sugestões para manhãs e fins tarde soalheiros

  • ▫▪▫ No website birdsongs é possível ouvir o canto de várias espécies de aves. Espreita aqui o canto das espécies que habitam o território português.
  • ▪▫▪ No WikiAves, website brasileiro para amantes dos pássaros, há gravações partilhadas com vários exemplos de canto de aves.
  • ▫▪▫ No website Aves de Portugal há dezenas de propostas sobre locais para observar aves.

O Principezinho faz 80 anos e esta é a história por detrás do clássico

O Principezinho

Tão cativante como o livro, é o que está por detrás do livro. Não se trata apenas da história de um Principezinho ansioso por descobrir outros mundos e encantado pelas coisas simples e belas da vida. É também um itenerário pelas melhores aventuras de Antoine Saint-Exupéry. E é, sobretudo, um testemunho da amizade entre o autor e Léon Werth. Separados pela Segunda Guerra Mundial, ambos permanecem juntos nesta obra que, 80 anos após a primeira edição, continua a viajar pelo planeta.

Algumas horas antes de partir para mais uma missão no norte de África, Antoine bateu à porta da casa de Sylvia Hamilton.

_ Olá! – cumprimentou ela, surpreendida – Não devias estar a voar?

_ Queria oferecer-te algo esplêndido antes de me ir embora, mas isto é tudo o que tenho – respondeu ele, atirando para a mesa do hall um envelope amarfanhado.

Dentro do embrulho está o manuscrito do seu mais recente livro – O Principezinho. São folhas e mais folhas preenchidas com diálogos, esboços e desenhos, que hoje estão no The Morgan Library & Museum, em Nova Iorque. Guardadas como se fosse um tesouro. Porque é disso mesmo que se trata.

Publicado nos Estados Unidos a 6 de abril de 1943 – e três anos mais tarde em França –, O Principezinho é um dos clássicos da literatura infantil mais importantes de sempre. O livro que Antoine Saint-Exupéry entregou à sua editora e amiga tornar-se-ia em pouco tempo num sucesso à escala mundial. Calcula-se que sejam à volta de 145 milhões de exemplares vendidose e que tenha sido traduzido para cerca 500 línguas e dialetos, incluíndo para o nosso mirandês, com o título de «L Princepico».

Um tesouro guardado no museu

O Principezinho

 

 O manuscrito está no The Morgan Library & Museum, em Nova Iorque. Guardado como se fosse um tesouro. 

As aventuras de um rapazito que sai do Asteroide B612 para viajar pelo Universo já deu milhares voltas ao planeta, entrando em culturas tão distantes como a da república russa de Altai, na Sibéria, a dos povos magrebinos, a dos índios guarani, na América do sul, a dos letões, na Letónia, a dos hútus e tutsis, no Burundi e no Ruanda, e a de tantas outras centenas de países e regiões que, se quiseres, podes consultar aqui.

Mas tão cativante como o livro é o que está por detrás do livro. Não se trata apenas da história de um Principezinho ansioso por descobrir outros mundos e encantado pelas coisas simples e belas da vida. É também uma viagem pela vida do autor. Ou melhor, é o resultado das melhores aventuras de Antoine Saint-Exupéry.

O Principezinho

Se esta obra começa com o narrador a lamentar o facto de nenhum adulto ter compreendido os seus anseios de artista, tal não acontece por acaso. Antoine, quando criança, adorava desenhar, mas, à volta dele, todos o avisavam para se dedicar a uma profissão mais séria. Deve haver algo que seja sério e ao mesmo tempo não me obrigue a passar os dias encafuado num escritório, pensa ele.

A escola naval seria uma boa solução, não tivesse reprovado nos testes. E é assim que ele se vira para a aviação. Em 1926 é admitido na Aéropostale, onde começa a carreira de piloto, voando entre Toulouse, Casablanca e Dacar. Enquanto aviador, ajuda a implantar rotas de correio aéreo em África, na América do Sul e no Atlântico Sul, além de inaugurar os voos Paris – Saigão e Nova Iorque – Terra do Fogo.

Um acidente no deserto

O Principezinho

 

 Antoine foi salvo pelos berberes quando o avião caiu no deserto da Líbia. Esse é o episódio que marca o início do livro. 

Numa dessas viagens de Saigão para Paris, Antoine é obrigado a fazer uma aterragem de emergência no deserto da Líbia. Sem mapas nem comunicações, ele e o mecânico andam perdidos entre as dunas somente com alguns mantimentos – um cacho de uvas, duas laranjas, um termo de café, uma tablete de chocolate e um pacote de bolachas. Ao fim do segundo dia, já nada sobra dessa comida. Ao quarto dia, estão tão desidratados que não avançam nem mais um passo. É quando uma caravana de berberes passa por eles. Saint-Exupéry e o seu mecânico são como uma aparição caída do céu para os nómadas, que lhes dão de beber e de comer, salvando-lhes a vida.

Esse é o episódio, passado em finais de 1935, que lhe dá a ideia para a história de O Principezinho. No livro, o narrador é um aviador que cai no deserto e ao acordar, depois do acidente, dá de caras com um rapaz de cabelos de ouro e um cachecol amarelo, que lhe pede para desenhar uma ovelha.

Esse rapaz que, antes de chegar à Terra, já passara por vários outros planetas, é uma lembrança que lhe fica da viagem de comboio entre Paris e Moscovo, em maio de 1935. Nas últimas carruagens, onde dormem os operários polacos, ele encontra uma criança com cara de anjo e com «uma bela promessa de vida», que ocupará o lugar de Principezinho na sua obra.

O «Principezinho» poderia também ser Léon Werth, um homem sonhador, generoso, justo e o melhor amigo de Antoine. Mas isso já são devaneios do Bicho-Que-Morde sem qualquer sustentação, a não ser a dedicatória no livro que começa assim:

Léon Werth (1878-1955)

Para Léon Werth.

Peço às crianças que me perdoem por dedicar este livro a um adulto. Tenho uma boa desculpa: este adulto é o melhor amigo que eu tenho no mundo. Tenho outra desculpa: este adulto pode entender tudo, até livros para crianças. Tenho uma terceira desculpa: ele vive em França, onde tem fome e frio. Precisa de consolo. Se todas essas desculpas não são suficientes, então quero dedicar este livro à criança que este adulto já foi. Todos os adultos já foram crianças (mas poucos se lembram.) Então eu corrijo a minha dedicatória:

Para Léon Werth,
Quando ele era criança.

 

Se «O Principezinho» também fala de coisas sombrias como solidão, vaidade de poderes ou obediência cega à autoridade, é porque Antoine Saint-Exupéry está profundamente amargurado com o triunfo do regime nazi na Europa. Quando as tropas de Hitler chegam a Paris, durante a Segunda Guerra Mundial, ele decide exilar-se nos Estados Unidos, desembarcando em Nova Iorque no mesmo transatlântico que o cineasta Jean Renoir, em finais de dezembro de 1940. Para trás fica Léon, um homem judeu, adepto dos ideais anarquistas e 22 anos mais velho do que ele.

Léon Werth passa os anos da guerra escondido em Saint-Amour, uma aldeia montanhosa junto à fronteira com a Suíça. Antoine ainda o visitará algumas vezes, mas nunca voltará a França, onde nasceu em junho de 1900. O exílio, aliás, é a razão por que «O Principezinho» é primeiro publicado em Nova Iorque e só depois em Paris.

É a partir dos EUA que Antoine luta contra a ocupação nazi. Tem 43 anos e ultrapassa em oito anos o limite permitido para continuar a voar. Pior ainda, os ferimentos sofridos em acidentes anteriores causam-lhe muitas dores, não conseguindo sequer virar a cabeça para a esquerda para verificar se havia aviões inimigos. Ainda assim insiste até ao fim em participar nas missões militares.

Antoine Saint-Exupéry (1900-1944)

Em abril de 1943, Saint-Exupéry parte com um comboio militar americano para Argel para voar com a Força Aérea Francesa e lutar com os aliados num esquadrão do Mediterrâneo. A 31 de julho do ano seguinte levanta voo num P-38 com o objetivo de fazer o reconhecimento de uma base aérea na Córsega. E desaparece sem deixar rasto.

Presume-se que o avião tenha sido intercetado pelos alemães. Os destroços só são recuperados 60 anos mais tarde, em 2003, e entregues no ano seguinte ao Museu do Ar e Espaço em Le Bourget, Paris. Léon Werth sabe da morte do amigo ao ouvir as notícias na rádio. Por essa altura, os aliados estão prestes a vencer a guerra, mas a tristeza impede-o de festejar. «Paz sem Tonio (era como chamava a Antoine) não é totalmente a paz», desabafa ele à imprensa. No final de 1944, a editora americana envia-lhe um exemplar e ele lê  finalmente a dedicatória do amigo.

«O Principezinho» é uma obra universal porque fala sobre tudo o que é importante para a existência humana. A amizade, naturalmente, também está lá. E a amizade entre Léon e Antoine é o que, 80 anos depois da primeira edição do livro, continua a viajar pelo planeta.

 

O Principezinho – Os desenhos de Exupéry

26d
candeeiro_st_exupery_le_petit_prince
CHAPITRE XIII
hroznys
jiboia engole elefante
lepetitprince
passaros-st_exupery_le_petit_prince
pozorovatelHvezdy
estudos preliminares
ovelha_st_exupery_le_petit_prince
capa
littleprince

Já leste a história por detrás de outro grande clássico infaltil: Winnie, o filósofo que faz tudo por uma colher de mel.

Por que usam e abusam os portugueses dos diminutivos?

diminutivos

Não se percebe a razão para os sociólogos, os antropólogos ou os filósofos ainda não se terem debruçado seriamente sobre este assunto da maior importância: por que gostam tanto os portugueses dos diminutivos, como os inhos ou os zitos? Seja um convite para um cafezinho, um obrigadinho/a para agradecer, um coitadinho para lamentar ou um beijinho na despedida. ❤️

Em cada dúzia de palavras trocadas numa conversa, há um ou dois diminutivos para reduzir ou suavizar o tamanho das coisas, das pessoas, dos lugares ou de sentimentos. Nada a ver com o «poquito», o «despacito» ou sequer com os restantes quatro sufixosillo/azuelo – ín/ina e ecito/a – dos hispânicos. Nem com as cinco diferentes terminações do holandêsjetjeetjepje e –kje.

Nenhum deles bate as cerca de três dezenas de sufixos na pontinha da língua portuguesa. O inglês também tem os seus casos curiosos como o «daddy», o «sweetie» ou o «tinny».

Mas, não são como os nossos diminutivos, em que basta colar três ou quatro letrinhas no finalzinho da palavra – geralmente um «INHO» ou um «ZITO» -, e já está! Um rapazinho, por exemplo, será sempre um «little/small boy» entre os anglo-saxónicos. E, já agora, um petit garçon entre os francófonos ou um kleiner junge para os alemães.

Há muitas línguas por este mundo fora a usar o diminutivo.

Exceção, talvez, para os nórdicos, como os dinamarqueses ou os suecos, que não perdem tempo com essas pieguices.

O português, esse, usa e abusa deles. Os sufixos podem ser colados aos pronomes (euzinha ou aquelazinha, populares entre os brasileiros), aos substantivos (peixinho, solzinho, friozinho), aos adjetivos (quentinho, bonzinho, gordinho) e até aos advérbios (devagarinho, pertinho, direitinho).

🌦 Chuvisco de sufixos

A variedade põe a cabeça a andar à roda. Não é só o INHO(A) e o ZINHO(A). Há ainda a SITA(O)/ZITA(O) para casita ou rapazito, por exemplo. O ISCAR para mordiscar ou chuviscar. Ou ISCO para marisco (pequeno animal do mar) e para asterisco que, na sua origem, é um astro mínimo na vastidão do universo.

Há também CULA(O) para película, cutícula (pele) ou gotícula, diminutivo de gota – que, por sinal, já é minúscula, mas alguém julgou não ser suficiente. Querem mais? EBRE para casebre, EJO para lugarejo, ECO para jornaleco, OCA para engenhoca, OTE para frangote, ITO para canito, ETE para murete, ILA para moçoila, ELHO para fedelho, ILHA para cartilha, INO para pequenino, UCHO para gorducho, USCO para chamusco, IM para pasquim e ICHO para rabicho.

E, agora, já chega? Só mais um porque tem mesmo piada (ou piadinha para não destoar): ELA para costela (costa), goela (do latim gulella, diminutivo de gula, garganta), ou tabela (do latim tabella, diminutivo de tabula, tábua).

Serve este último exemplo para introduzir peso do latim nos sufixos da nossa língua. Muitos diminutivos, aliás, deixaram de o ser há muito tempo, assumindo-se hoje como palavras de corpo inteiro.

Só mergulhando na sua raiz latina é que se descobre que, antes de serem mais, já foram menos.

O músculo, do latim musculu, é composto pela palavra mus (rato) + culo, que é a sua terminação diminutiva. Do mus saiu o mouse em inglês (ratinho em português). E por que está este roedor dos laboratórios associado ao músculo? A resposta está nos seus rápidos movimentos de contração e relaxamento.

Outro exemplo é caneta, um tubinho (ou cana) com uma ponta na extremidade. Cana veio do latim canna que, quando é pequena, é uma simples caneta, mas quando cresce vira um canhão.

O diminutivo até deu origem a novas espécies no reino dos insetos, sabiam? A mosca, se for da fruta, passa a mosquinha. Toda a gente sabe disso, mas, e o mosquito? Ah, pois… não é possível reduzi-lo mais ainda porque ele, coitadinho, já tem a sua raiz na palavra mosca + diminutivo ITO.

😵Enganadores e com muitos significados

Os diminutivos estão de tal forma enrolados na nossa língua que nem os nomes próprios escapam – Marianinha, Joãozinho, Fatinha ou Nandinho. Há quem ache ser um sinal de fraqueza. Deve ser por isso que, muitos deles, não têm permissão para sair de casa: Jojó é só para os amigos e família, e o mesmo para Sãozinha ou Nelito. Mas nem no caso dos nomes, nem noutro qualquer, será fraqueza. Quando muito intimidade.

Para quem não está familiarizado com a língua portuguesa, os diminutivos são muito enganadores. Só aqui, entre nós, sabemos a diferença entre dar um jeito e um «jeitinho». E que esperar um minuto não é o mesmo que «esperar um minutinho» (geralmente é sempre mais, há que reconhecer).

No capítulo do tempo, aliás, os sufixos conseguem ser tão precisos como um relógio suíço. Noitinha é noite que está prestes a começar, cedinho são as primeiras horas da manhã e tardinha não é muito tarde, mas também já não é cedo.

É preciso conhecer bem esta língua para perceber que, apesar dos seus minúsculos tamanhos, eles podem ser carinhosos, ofensivos ou depreciativos. Tudo depende daquela entoaçãozinha que se coloca na voz.

Exemplos, vamos a isso:

«Não há nada como a comidinha da mamã!» A comidinha aqui é o amor a transbordar pela panela. Mas quando «está na hora de ter uma conversinha», já sabemos que esse amor está suspenso e vem aí um ralhete.

Quando ouvimos «vidinha de sempre», desconfiamos que esse alguém está entediado com os seus dias. Mas, se nos responderem «é só uma constipaçãozinha», já sabemos que o mal-estar tem pouca importância.

Os sufixos são também muito eficientes para demonstrar irritação: «Não aguento mais o fedelho mimado!», desprezo: “Homenzinho insuportável!”, mas também um pouquinho de compaixão: «Coitadinho…».

E até para mostrar que algo é insuficiente: “Foi só uma semanita de férias, passou a correr.».

Por fim, os multifacetados diminutivos servem para a missão mais literal de todas. Sublinhar simplesmente a pequenez de algo: «Os duendes da floresta vivem escondidos na casota debaixo de um pinheiro.»

Antes da despedida, não queres ler: «Mentirinhas e traições da língua portuguesa»?

Agora é que é: adeusinho! 😘

Quantas cores conseguem os animais ver?

visão dos animais

A visão dos animais adaptou-se de muitas maneiras para assegurar a sobrevivência. E, como tal, os olhos de diferentes espécies têm também características diferentes. Gatos e cães veem o mundo em tons de azul e amarelo, peixes e moscas até conseguem detetar a luz ultravioleta, as vacas distinguem sobretudo as cores quentes e os tubarões só se orientam por luz e sombra. Mas, para entender melhor a visão tanto de bichos como de humanos, será preciso ver como é que ela funciona por dentro. Vamos a isso?

Na visão dos animais ou de humanos, o olho tem sempre dois tipos de células sensíveis à luz: os cones e os bastonetes, cada um especializado em captar um aspeto distinto da luz. Os bastonetes reagem à intensidade luminosa, baixa ou alta, que ajuda a ver de noite ou em condições com pouca visibilidade. Os cones fazem a leitura das cores, isto é, das frequências da luz.

Os humanos, por exemplo, possuem três tipos diferentes de cones na retina, correspondendo a três frequências diferentes, a luz azul, a luz verde e a luz vermelha. Os cães e os gatos, por outro lado, têm apenas dois tipos de cones, conseguindo ver unicamente o azul e o amarelo ou os resultados da mistura destas duas cores. Em contrapartida, a quantidade de bastonetes é superior, o que faz com que tenham uma visão noturna superior, vendo 4 a 5 vezes melhor do que nós na escuridão.

Há outros animais que distinguem muito mais cores do que os humanos. Exemplos há muitos, como a tartaruga que, dependendo da espécie, chega a ter até seis tipos de cones, aumentado a capacidade para discernir e comparar tonalidades de cores de uma forma muita mais nítida e aumentada.

No extremo oposto, existem animais, que além de bastonetes, só têm um tipo de cone, como algumas espécies de tubarões, focas, baleias ou polvos. E para distinguir cores são precisos, no mínimo, dois cones. É por isso que estas criaturas aquáticas vivem num mundo de sombras, umas mais claras (com mais luz) e outras mais escuras (com menos luz).

E ainda há animais com células sensíveis a frequências que escapam ao espectro eletromagnético dos humanos. É essa particularidade que, por exemplo, permite às abelhas ver a luz ultravioleta, detetando padrões de pétalas de flores que mostram onde se esconde o néctar.

Agora que já sabemos algumas coisas importantes sobre a visão dos animais e dos humanos, o Bichinho das Contas tem o prazer de apresentar algumas das cores no reino dos animais.

🐶🐱Cães e gatos

O mundo para cães e gatos é dominado por tons azuis e amarelos, podendo ainda ver tonalidades de azul e de vermelho. O verde é que não existe. Em contrapartida, conseguem distinguir vários matizes de cinzentos, tendo ainda visão noturna que os torna bons caçadores em ambientes mal iluminados.

Os cães e os gatos escondem, por baixo da retina, uma camada refletora (Tapete lucidum) que intensifica a visão em condições de pouca luz. Essa é aliás a explicação para os seus olhos brilharem quando, durante a noite, alguém aponta uma lanterna, um farol do carro ou um flash de uma máquina fotográfica.

🐠Peixes

Além das cores, os peixes veem a luz ultravioleta. Essas cores, contudo, vão desbotando quanto mais fundo estiverem no mar. As cores quentes, como o vermelho e o laranja, são as primeiras a desaparecer e logo a seguir é o amarelo. À medida que a profundidade aumenta e a luz diminui, mais reduzida é a palete de cores, o azul e o verde são as últimas cores a desaparecer.

Moscas

Têm olhos compostos, como se tivessem milhares de olhinhos a formar uma imagem e são até capazes de ver os objetos que surgem pelas costas. Detetam também a luz ultravioleta e, para elas, o tempo é muito mais lento, parecendo que tudo se move em câmara lenta. Por isso, quando achamos que somos ultrarrápidos a apanhá-las, aos olhos das moscas, somos tão lentos como os caracóis.

 🐍Cobras

As cobras têm muita dificuldade em ver durante o dia, reagindo sobretudo aos movimentos das presas. É à noite que a visão dela se torna mais apurada, podendo ver a radiação térmica dos animais e humanos 10 vezes melhor do que os dispositivos infravermelhos mais sofisticados.

🐭Ratos

Cada olho mexe separadamente, permitindo ao rato ver duas imagens ao mesmo tempo. Ele apena distingue duas cores básicas: verde a azul-ultravioleta. Para o rato, o mundo é desfocado, vagaroso e em tons de azul.

🐄🐄Vacas

Tal como os cães e gatos, as vacas também têm no fundo dos olhos a tal camada refletora (Tapetum lucidum), que lhes permite ver bem quando a luz escasseia. Elas distinguem sobretudo as cores de comprimento de onda longa ou intermédia (laranja, vermelho, amarelo-verde e amarelo), mas têm muita dificuldade em ver as cores de comprimento de onda curta, como o azul, o cinzento, alguns verdes e, principalmente, o violeta.

Abelhas 🐝

Detetam as cores três vezes mais rápido que um humano, conseguindo ver ainda os raios ultravioleta. São essas habilidades que permitem às abelhas desviar-se de objetos, identificar orifícios e entradas minúsculos, como os favos das colmeias, e encontrarem ainda o néctar das flores.

🦜Aves

Têm quatro tipos de cones nos olhos, podendo distinguir as cores muito melhor do que os humanos. Essa capacidade é-lhes bastante útil para distinguir os seus ovos das outras espécies bem como para os proteger dos predadores.

🦎Camaleões

Conseguem mover cada olho separadamente, captar as cores, a luz ultravioleta e ainda ver tudo em 360 graus. Contudo, é a capacidade para mudar de cor de pele que torna estes repteis tão fascinantes. Além de ser uma camuflagem para se protegerem ou atacarem as presas, estudos recentes mostraram também que a mudança de cores é uma forma de comunicarem uns com os outros.

🦈Tubarões

A maioria das espécies tem apenas um tipo de cone na retina, não podendo, por isso, distinguir as cores. Para compensar, têm uma forte sensibilidade debaixo de água, distinguindo vários tipos de sombras e captando o mínimo movimento.

Este tema só fica completo com a leitura de: Quantas cores tem o mundo?

Fontes consultadasTerra | Visão Vet | Live Out Doors | Rato de casa | Entra na Ciência | Incrível.club

Por que celebramos o Natal a 25 de dezembro?

Terá Jesus nascido a 25 de dezembro? Nunca saberemos, mas, por coincidir com muitas festividades pagãs, a data acabou por ser a mais conveniente para o Império Romano e para a Igreja. Descobre aqui a origem da maior celebração cristã e… Feliz Natal 2023!

25 de dezembro

De cada vez que dezembro bate à porta, o espírito natalício invade as nossas cidades, iluminando ruas e montras para mostrar que entramos em contagem decrescente até ao Natal. A tradição já tem barbas, mais longas até que as do Pai Natal. Mas, sem uma certidão de nascimento – ou qualquer outro registo oficial – o dia 25 de dezembro, celebrado como a data em que Jesus nasceu, parece ser um dia escolhido com pouco rigor histórico.

Alguns estudiosos da Bíblia desconfiam, inclusive, que a data mais aproximada estará algures no início da primavera.

25 de dezembro

O que faz algum sentido, pois em que outra altura do ano haveria tantas ovelhinhas e pastores a rondar a manjedoura do Menino Jesus?

Certezas não há e, como os cristãos só começaram a festejar o Natal por volta do século 2 ou 3, fica ainda mais complicado saber.

O que há, em contrapartida, são muitas teorias, mas é o historiador cristão romano Sextus Julius Africanus, um dos primeiros responsáveis por que hoje celebramos o Natal a 25 de dezembro. Após fazer uns cálculos, baseados na data em que o Mundo teria sido criado, ele estimou que Maria terá ficado grávida a 25 de março e que, precisamente nove meses depois, nasceria Jesus.

O curioso é que a data escolhida por Sextus calha no mesmo dia das celebrações da divindade Sol Invictus – feriado que, no Império Romano do século 3, marca a chegada dos dias mais longos após o solstício de Inverno. Nem por acaso, a festividade tem algumas semelhanças com o nosso Natal, já que os romanos também trocavam presentes entre amigos e família.

Outra estranha coincidência é o aniversário da divindade indo-europeia Mithra, deus da luz e da lealdade, também acontecer a 25 de dezembro. E como não há duas sem três, os romanos festejavam ainda a Satrunália, festival em honra ao deus Saturno, que começava a 17 de dezembro, no Calendário juliano, e se estendia até 25 de dezembro.

25 de dezembro

Dezembro era por isso um mês frenético para os romanos, com festas, bebedeiras e muita folia concentrada sobretudo no dia 25.

O primeiro registo conhecido da celebração do Natal a 25 de dezembro é de 336, ano em que Constantino era o imperador de Roma. Convertido ao cristianismo e praticante devoto, ele já tinha sido responsável por emitir o Édito de Milão, que condenava qualquer tipo de perseguição aos cristãos.

Alguns estudiosos da Bíblia acreditam, por isso, que Constantino estava tremendamente empenhado em tornar o cristianismo na religião dominante de Roma. A escolha do dia 25 de dezembro para celebrar o Natal poderá, como tal, ter sido uma estratégia para enfraquecer as festas pagãs e atribuir maior importância às festividades natalícias.

O certo é que, no final do século 4, os bispos cristãos já celebravam a Missa de Natal por toda a Roma, e as festas pagãs estavam há muito fora de moda. Por que motivo a Igreja também adotou a data é uma incógnita, mas acredita-se que, por detrás desta escolha, esteve uma estratégia de marketing para angariar mais crentes. Dado que os romanos já estavam mais do que habituados a festejar o 25 de dezembro, a Igreja poderia ter tentado atrair mais seguidores para a sua religião.

A data, no entanto, só foi amplamente adotada no Império Romano do Ocidente, que tinha na cidade de Roma a sua capital. O Império Bizantino, com a capital em Constantinopla, optou por celebrar o aniversário de Jesus a 6 de janeiro. Mas, por volta do século 9, o Natal já era uma grande festa cristã em praticamente todo o mundo ocidental.

Se ficaste um bocadinho dececionada/o por não haver certezas sobre a data de aniversário de Jesus, lembra-te da velha máxima: O Natal é sempre que os homens [mulheres e crianças também!!!] quiserem. ☃️

Um feliz Natal para todos!

25 de dezembro

25 de dezembro
Aproveita a quadra para jogar ao quiz «Os segredos escondidos nos contos de Natal».
🤶
E, se sobrar tempo, descobre também por que festejamos o nosso aniversário?

Por que é tão fácil acreditar nas fake news?

Fake News

Se toda a gente partilha uma notícia é porque só pode ser verdade, certo? Não! Nem tudo o que aparece no Facebook, no Youtube, no Tik Tok ou no WhatsApp é de confiança. Saber como funcionam estas plataformas digitais é o primeiro passo para entender como uma fake news se transforma rapidamente numa praga. Vamos lá, então, desmontar a lógica das redes sociais para descobrir como as notícias podem ser distorcidas, espalhando o medo, a violência e a confusão.


Uma fake news é como um vírus que encontrou, no seu caminho, uma multidão para se reproduzir ininterruptamente. A comparação ajuda a compreender como uma notícia falsa se pode alastrar, destruindo o bom nome de pessoas, virando uns contra os outros, desacreditando a ciência ou pondo a nossa saúde em perigo.

A teoria dos  matemáticos da Universidade do Indiana, nos Estados Unidos, mostra justamente como as fake news seguem o mesmo percurso de um vírus,  infetando o máximo de pessoas até virar uma pandemia. Para a missão ser bem-sucedida, no entanto, há pelo menos três conspiradores que precisam de trabalhar juntos nas redes sociais.

👆 Passa com o dedo ou com o cursor em cima dos retângulos para conhecer quais são.

▪▫▪ abundantes quantidades de informação a circular;

▪▫▪ pouco tempo para prestar atenção a tudo e selecionar o que vale a pena partilhar;

▪▫▪ e, por fim, as partilhas intuitivas e impulsivas.

Estão, então, reunidas as condições para as piores notícias começarem a circular. Mas, antes de tudo, não se esqueçam que, para qualquer disparate se tornar viral, é preciso que alguém carregue num botão. No universo paralelo das redes sociais, cada pessoa é um pontinho ou um nó ligado a outros pontinhos que representam os amigos e seguidores. Tudo o que fazemos, por isso, terá sempre uma reação em cadeia.

Tal como acontece com uma gripe, ao estarmos expostos a uma notícia falsa, a probabilidade de sermos contagiados/as é grande. Mas, se no caso do vírus, basta uma espécie para originar uma pandemia, as variedades das fake news são múltiplas e a disparar para áreas tão distintas como saúde, educação, política, ambiente, cultura, desporto… tudo! Enquanto os virologistas têm de encontrar a vacina contra uma estirpe da gripe de cada vez, o número de disparates a circular nas redes sociais é assustadoramente espantoso.

Por detrás de cada fake news, está sempre alguém que montou uma fábrica de notícias falsas para atrair um maior número de pessoas ao seu website. O processo envolve várias etapas, como roubar conteúdos de outros sites, adulterá-los e fazê-los passar por verdadeiros. O intuito é tirar o máximo lucro com as receitas dos anúncios, mas também há quem queira influenciar as crenças e os ideais políticos. A estratégia só resulta usando as redes sociais, o trampolim para angariar o maior número de visitantes. Um dos truques muito comum é criar falsos perfis nas redes sociais e publicar os artigos, geralmente sensacionalistas, em grupos do Facebook, por exemplo.

Como um disparate se torna credível

fake news

As notícias falsas sobre o 5G e a pandemia geraram medo e protestos na rua por toda a Europa.

O que também é espantoso é a capacidade de uma mentira altamente improvável se tornar viral em menos de nada. A esse fenómeno, os especialistas chamam de «reforço social» e acontece quando o mesmo disparate é sucessivamente partilhado pelos vários pontinhos que constituem a nossa rede. Se, por exemplo, lermos nos nossos feeds «As antenas 5G transmitem a covid-19» ou «as vacinas contra o SARS-COV-2 contêm chips usados para controlar a população através de antenas 5G», o nosso primeiro instinto será pensar: «Isso é ridículo!».

Entretanto, vemos um segundo post a dizer o mesmo e, depois, outro e outro e outro. Às tantas, o que nos parecia ridículo torna-se possível, aumentando a probabilidade de virmos também a partilhar o disparate com os outros pontinhos da nossa rede. Essa é uma forma simples de explicar os mecanismos da mente. O processo, no entanto, é muito mais complexo e não está inteiramente decifrado.

Há vários investigadores que, neste momento, estão a explorar os intrincados artifícios mentais que levam a que uma determinada fake news seja partilhada em vez de outra qualquer. As notícias falsas sobre as redes 5G demonstraram, por exemplo, como muitas outras causas podem funcionar como uma caixa de ressonância. Os exemplos do 5G, retirados do Portal 5G da Anacom, não são fictícios. São casos reais de informações falsas que circularam nas redes sociais, provocando medo e até revoltas nas ruas em muitos países como Portugal, Inglaterra, Estados Unidos ou Austrália.

E o momento em que surgiram nas redes sociais foi decisivo para serem propagados a uma velocidade estonteante. A instalação das redes 5G coincidiu com o auge da pandemia. Confinados em casa e aterrorizados perante um vírus medonho e desconhecido, muita gente refugiou-se nas redes sociais para esquecer o isolamento. São, por isso, vários os botões que podem desencadear uma pandemia de notícias falsas.

A lei cega do algoritmo

Fake News

O algoritmo identifica padrões de comportamentos e determina o que vemos nas redes sociais.

O principal botão, aliás, está no uso das novas tecnologias que dão o impulso para as fake news acertarem em cheio nos seus alvos. Todos já ouvimos falar do famoso algoritmo e não é por acaso. Ele é um dos maiores responsáveis por acelerar a velocidade com que as notícias falsas se alastram como uma praga.

Noah Giansiracusa, professor de Matemática da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, explica no livro «Como os Algoritmos Criam e Previnem Notícias Falsas», que a inteligência artificial (IA) pode ajudar a combater as mentiras a circular nas redes sociais. Só que, por enquanto, estes softwares programados para pensar como humanos apenas têm contribuído para aumentar a loucura.

A sua investigação está sobretudo focada em algoritmos de aprendizagem profunda e inteligência artificial (DeepLearning.AI), programas especializados que permitem aos computadores identificar padrões entre diferentes conjuntos de dados. Sempre que estamos no Facebook, no YouTube ou no Tik Tok, por exemplo, deixamos um rasto de migalhas digitais. Juntando todas estas partículas, é possível ficar a saber do que gostamos, o que partilhamos, o que lemos ou vemos na Internet. Toda essa informação é processada por algoritmos de IA e usada para prever e influenciar o nosso comportamento da próxima vez que estivermos a navegar em websites ou redes sociais.

O objetivo do algoritmo não é contaminar toda a gente com notícias falsas, naturalmente. Ele está antes concentrado em identificar quais os anúncios que chamam a nossa atenção. Temos a tendência para encarar as redes sociais e os motores de busca como plataformas que ajudam a procurar e a filtrar a informação. O que é verdade, em parte, mas Noah Giansiracusa alerta para um detalhe que geralmente não damos muita importância. O Facebook, o Youtube ou o Google são, antes de qualquer outra coisa, empresas. A sua razão de existir, portanto, passa por captar a atenção do maior número de clientes e com isso maximizar os lucros.

Romper a bolha virtual

fake news

Perceber qual é a lógica por detrás de uma notícia falsa é meio caminho para travá-la.

 Mas os algoritmos de aprendizagem, concebidos para imitar a inteligência humana, não sabem distinguir o falso do verdadeiro, guiando-se cegamente pelo nosso padrão de comportamento. O que fazer então para lutar contra a obsessão do algoritmo?

Desmontar e perceber qual é o mecanismo que ele usa para nos cativar será o primeiro passo. O outro é, talvez, perceber que as redes sociais não são o único lugar onde procurar a informação e divertimento.

A Matemática, por exemplo, dá uma ajuda, mostrando como as estatísticas podem ser distorcidas. A História também dá lições sobre como ao longo do tempo foram vários os regimes a usar campanhas de propaganda para manipular a opinião pública. A Arte pode demonstrar como as imagens são facilmente modificadas. A verdade é que todas as disciplinas dão o seu contributo, tal como os bons livros que lês, o cinema, o teatro, os museus, os jornais – que estão a atravessar um mau bocado com a falta de leitores – ou as conversas sobre mil e um temas interessantes com os teus pais, amigos ou professores.

Ou seja, praticamente tudo pode servir para construir um pensamento crítico, que ajuda a saber verificar factos, interpretar e avaliar as notícias. As redes sociais, guiadas pelas leis do algoritmo, são bolhas virtuais. Se não tivermos cuidado, elas afastam-nos de tudo o que é real. E a vida, essa, só acontece quando damos o salto para fora delas.

👶Nem mesmo a propósito, lê também sobre a quantidade de enganos em que ainda acreditamos