Quanto pesa a saudade?

A saudade tem o peso de um fio a trespassar paredes, atravessar ruas, subir elevadores, entrar pela cozinha, contornar o sofá da sala e, por fim, ligar quem, nesta quarentena, vive na outra ponta. E, se continuarem a ler, irão perceber também que há muitos fios, entrelaçados, com diferentes texturas e tamanhos, ligando todos e tudo o que mais amamos.

Estes dias, trancados em casa, de tudo se faz para esquecer que em casa se está trancado. Viajar nos livros, brincar ao faz-de-conta, conversar nos chats ou espreitar à janela. E rir também, é verdade, mas, aqui e acolá, uma tristeza infiltra-se pela fresta da porta, lembrando os beijinhos dos avós, as risadas entre amigos, os passeios de bicicleta e até os ralhetes dos professores… Quem diria!

O que vem a ser este vazio a ocupar mais e mais espaço dentro de nós? Não vale a pena chamar o médico, muito menos correr para as urgências. A esta altura da quarentena, toda a gente sabe que é a SAUDADE a crescer como uma trepadeira dentro do peito. Como toda a gente já sabe também que a pergunta que o Bichinho das Contas fez no início deste artigo é, no mínimo, parva. Por maior que seja a saudade, não é possível pesá-la. Não dá para desacorrentá-la do corpo, enrolá-la num novelo e colocá-la na balança.

Se nem conseguimos dizer de que é que ela é feita…

Há quem, erradamente, diga tratar-se de um afeto genuinamente português. Não façamos confusão. Lá fora, por todo o mundo, uns quantos milhões esperam, como nós, pelo fim da pandemia para desempacotar abraços e beijinhos e sair porta fora matando a saudade. O sentimento é, portanto, universal. A palavra saudade é que, por mais que se procure, não tem uma tradução direta para outras línguas. E, já agora, nem sequer uma definição única.

Mil e um sentidos da palavra

 Saudade 

 Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos magoa,
é não ver o futuro que nos convida. 

Pablo Neruda

Se cada um a sente à sua maneira, também cada um saberá melhor do que ninguém o que é que ela significa. O problema é explicar aos outros. A sorte é que não faltam poetas, escritores e compositores para extraí-la com pinças do nosso tórax para transformá-la em coisas concretas. Cada qual com uma versão muito própria. Mas essa é a riqueza da saudade. Tem tantos significados e aplica-se a tantas situações que podemos escolher aquela que melhor nos convém em cada momento.

Para quem a sente agora como um passo arrastado, que pesa em todos os lugares da casa e do corpo, poderá talvez identificar-se com este curto excerto da Menina do Mar:

_Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
_Isso é por causa da saudade, disse o rapaz.
_Mas o que é saudade? -, perguntou a Menina do Mar.
_A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
Sophia de Mello Breyner Andresen, A Menina do Mar 

Para os outros que até se apegaram a ela e no íntimo têm um certo gosto em remoê-la, aqui fica um excerto provavelmente bem adequado:

«Linda palavra galega que parece que canta, que palpita, que estremece e que chora.»
 Júlio Dantas – Abelhas Doiradas 

Como há sempre quem, além de uma moinha desgostosa, também sinta um motim interior, mais uma citação escolhida a dedo:

«Tenho uma saudade tão braba da ilha onde já não moro»
 Vitorino Nemésio – Tenho Uma Saudade Tão Braba.

Os ainda muitos que nem sabem bem do que mais sentem a falta podem vir a gostar desta.

Toda saudade é a presença da ausência de alguém ou de algum lugar. De algo enfim.
Gilberto Gil – Toda a Saudade.

E porque esta é também uma palavra destinada aos lugares e aos momentos que guardamos do passado:

«A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar»
Rubem Alves

Seja isso, aquilo ou aqueloutro, será sempre – e para resumir – a:

«Expressão do excesso de amor em relação a tudo o que merece ser amado».
Eduardo Lourenço – Portugal como Destino Seguido de Mitologia da Saudade

A primeira saudade

Giovana Milanezi

 Ó sino da minha aldeia  

 Ó sino da minha aldeia,
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto. 

Fernando Pessoa

A saudade é tudo isso e mais ainda que estes e tantos outros já escreveram, cantaram ou declamaram. O espantoso, no meio deste turbilhão de significados, é que a palavra faz parte do nosso vocabulário desde, pelo menos, a Idade Média. Júlio Dantas, que, além de escritor e dramaturgo, foi também historiador, conta no livro «Abelhas Doiradas» (1925) que ela aparece pela primeira vez nas cantigas de um trovador da corte de D. Afonso III (5º rei de Portugal, entre 1248 e 1279). Fernão Fernandes Cogominho é o nome dele e, num suspiro dirigido a um amor não correspondido, soltou num português arcaico:

«Non queredes viver migo, e moiro de soydade».

Como é que a palavra se formou é outro grande mistério. Boa parte dos investigadores acredita ser um desvio do latim solitate (solidão), que mais tarde se misturou com a palavra saudar (cumprimentar), originando a sua forma atual. Outros estudiosos julgam que se trata de uma derivação da palavra árabe sawda – à letra quer dizer «a negra», mas no sentido mais amplo significa algo sombrio ou melancólico.

É um debate com muitas incertezas, mas também sem muita utilidade, se estivermos mais interessados nos significados que a saudade foi ganhando até chegar ao início do século 20. Foi pouco depois da implantação da República, em 1910, que o Saudosismo – movimento literário e filosófico – propagou essa ideia de que a saudade é uma parte inseparável da identidade portuguesa.

Desde aí, filósofos, psicólogos, ensaístas e grande variedade de outros pensadores lhe dedicaram dezenas – ou mesmo centenas – de teses, estudos ou ensaios. É assunto com pano para mangas. A saudade dos marinheiros e dos pescadores que ficaram no mar, a saudade da infância que se deixou lá para trás, a saudade de um amor que se perdeu, a saudade que os emigrantes levam na bagagem ou até mesmo saudade de um futuro luminoso pelo qual se espera.

É tudo saudade que aperta, lateja, consome, doi, pesa, chora e quase mata. Mas também nos faz sentir vivos.

«A saudade sempre é vida. Por mais que doa na gente, recordar um Bem, querida, é vivê-lo novamente».
José Lourenço – Mil trovas de Amor e Saudade

E, de um modo muito particular, é igualmente felicidade:

«Choras sem compreenderes que a saudade é um bem maior que a felicidade. Porque é felicidade que ficou!»
Manuel Bandeira – À maneira de Olegário Mariano.

A Saudade é, só para complicar um pouco mais:

«…tecida de fios complexos, emaranhados, repetitivos e variações do mesmo bordado.»
Ivone Gerbara

Fios inquebráveis

 Vivo Noutra Terra  

 Aqui em terra distante
Vivo mal e bem
Sinto saudades imensas
De quem me quer bem
Tenho um salário melhor
Não há que duvidar
Mas era na minha terra
Que eu queria estar
E ganhar
P’ra viver
E não ter
Que emigrar 

Sérgio Godinho

Será, por fim, esta a definição que, se calhar, melhor se cola a todas as saudades que os poetas, escritores, músicos e pensadores já inventaram. São muitos fios, com muitas cores, entrelaçados, com diferentes texturas e tamanhos a ligar pessoas, lugares, memórias, cheiros, sentimentos ou emoções.

A saudade é a forma mais profunda de estarmos ligados a todos e tudo o que amamos.

São esses tais «fios complexos» que trespassam paredes, atravessam ruas, sobem elevadores, entram pela cozinha, contornam o sofá da sala e ligam quem agora, neste isolamento, vive na outra ponta.

Esta quarentena pode ser uma bruxa da pior espécie. Disso não tenhamos dúvidas. Mas nunca será forte o suficiente para partir este fio que nos liga ao que mais amamos. Só cada um de nós tem o poder de quebrá-lo com um abraço, uma gargalhada, um beijinho. Chama-se a isso matar a saudade. E já estivemos mais longe disso.

😢 Aproveita este ambiente um bocado nostálgico para ler também este artigo: «Por que choramos?»

Crédito das ilustrações

Por que choramos?

Porque estamos tristes é uma boa resposta. Mas medo, ansiedade e raiva são argumentos igualmente válidos. Porque a saudade quase mata, temos de a incluir nesta lista. E o coração que, tantas vezes, quase rebenta de alegria? Mais um, bem visto, sim senhora. Como os nossos tecidos não são sintéticos, choramos também quando cortamos o polegar, partimos um osso ou levamos com um soco no estômago. É tudo? Calma…  Faltará, pelo menos, acrescentar que choramos a rir, agarrados à barriga e implorando por uma pausa só para respirar.

Causas há muitas. Muitas mesmo! Mas o motivo é só um. Os humanos são os únicos à face da Terra capazes de chorar. Chorar – entenda-se – é ter os olhos embaciados, as lágrimas a escorrem pela cara e o nariz mergulhado em lenços de papel. É a definição que importa aqui analisar.

A imagem é um bocadinho repulsiva, há que reconhecer, mas absolutamente necessária para nos distinguirmos dos chimpanzés. Os primatas também gritam de dor, de raiva ou de angústias. As únicas lágrimas que soltam, no entanto, são para limpar e lubrificar os olhos.

E nós choramos porque as emoções são próprias da natureza humana. Não nos é possível construir paredes de tijolo para bloquear os sentimentos. Nem guardamos no armário um colete à prova de choro para usar em casos de emergência. Ou sequer conseguimos encher a garganta de calhaus para impedir as lágrimas de escaparem.

Somos piegas, temos de aceitar o nosso destino. Ou melhor, a nossa condição de humanos.

Choramos ao ver que o melhor amigo de um velho cão é um gato vadio que o visita todos os dias. Choramos, nestes dias, porque queríamos estar com os nossos avós e com os nossos amigos e o raio do novo coronavírus não nos deixa sair à rua. Choramos quando ouvimos uma música bem lamechas. Choramos quando nos surpreendem com uma festa surpresa. Ou choramos quando um herói sem capa nem máscara (ou, melhor, agora com máscara cirúrgica) ajuda um estranho no meio de uma aflição. São tudo bons gatilhos para libertar, pelo menos, uma lagrimazita, certo?

Um sopro de alívio

@Rui Barros
 
Diamantina chorava tão bem que as pessoas vinham de longe e lhe pediam: ― Chore por mim, Diamantina.Mia Couto - As Lágrimas de Diamantina
 

Não há que ter vergonha. Dizem que rir é o melhor remédio para todo o tipo de males, o que também é verdade. Mas chorar é bom para libertar substâncias que reduzem o stress e a ansiedade, explicam os cientistas. É praticamente o mesmo que inspirar uma boa golfada de ar, desembaciar a vista, ganhar fôlego e recarregar as baterias. Além de, obviamente, manter os olhos lubrificados e limpos de partículas nocivas.

Mas isso pouco interessa aos psicólogos e antropólogos evolucionistas. Estes senhores e senhoras não estão muito interessados nos benefícios que o choro tem para cada um de nós. Não lhes levem a mal. A perspetiva deles é diferente da nossa.  Estão sempre à procura das funções que as emoções e os comportamentos desempenham para a humanidade e esquecem-se das necessidades individuais.

Por exemplo, se para nós o medo é, muitas vezes, provocado pelas nossas inseguranças, para os evolucionistas é uma reação para ajudar a proteger dos perigos que ameaçam a espécie humana. São assim estes investigadores, em vez de estudarem os motivos, estão sobretudo focados nas respostas que ajudam a humanidade a sobreviver.

Só que, mesmo neste capítulo, eles percebem muito pouco à cerca do choro.

Os processos fisiológicos ou as funções que as lágrimas desempenham para a continuidade da espécie são um quebra-cabeças difícil de desmontar.

O que nós sabemos, à custa de muitas lágrimas, é muito mais do que os investigadores descobriram sobre este mecanismo de sobrevivência, acreditem. O que há, por enquanto, é só uma mão-cheia de teorias.

Lágrimas no laboratório

@Rui Barros

 
O choro vem perto dos olhos para que a dor transborde e caia. O choro vem quase chorando como a onda que toca na praia.Cecília Meireles - Viagem
 

A tese de Oren Hasson é a que, até agora, reúne o maior consenso entre os seus colegas. O estudo do psicólogo evolucionista da Universidade de Tel Aviv, em Israel, sugere que o choro é um «comportamento evoluído» nosso para baixar a guarda. Ao mostrar o seu lado humano, quem chora dá um sinal aos outros de que precisa de ajuda. Muitas vezes, um abraço apertado é o suficiente. Outras vezes, será necessário paciência e doses sucessivas de miminhos até o mau bocado passar.

É caso para perguntar: foi preciso um estudo para chegar a esta conclusão? Pelos vistos, sim. Mas, a principal descoberta desta investigação está, mais uma vez, na função que este pedido de socorro desempenha na sobrevivência da espécie humana. A outra caraterística única do choro humano é a possibilidade de partilhar as lágrimas e o sofrimento com os outros. E é justamente isso que permite unir um grupo de amigos ou uma comunidade inteira, fortalecendo a coesão social – que é, ao fim e ao cabo, o que garante a nossa sobrevivência.

E, depois disto, dá mesmo vontade de voltar a perguntar: é preciso uma investigação para validar algo tão óbvio? Pelos vistos, sim, mas não vem mal nenhum ao mundo confirmar o que nós já desconfiávamos: chorar não é capricho dos mariquinhas. É o que, afinal, nos torna mais fortes. 😉

5 (in)certezas sobre o choro

Os animais também pedem ajuda

Apesar de não verterem lágrimas, os animais também pedem ajuda quando estão tristes ou ansiosos através de gemidos ou sons aflitivos. Estas vocalizações já foram observadas em chimpanzés, cães e até nos filhotes de passarinhos.

Rir também faz chorar

Os cientistas ainda não percebem muito bem porque isso acontece. O que se sabe é que, a mesma parte do cérebro que controla o choro é também responsável pelo riso. Uma das explicações é que as lágrimas são resultado de fortes movimentos, como é o caso das gargalhadas. São as chamadas lágrimas reflexivas, que resultam de fatores externos e não das emoções.

O gás por detrás do choro da cebola

A resposta para este tipo de choro está no sulfóxido de tiopropanal (também chamado de sin-propanetiol-S-óxido), um gás que a cebola solta quando é cortada e que, em contacto com os olhos, se transforma num ácido. Embora fraquinho, este gás provoca um ardor forte o suficiente para soltar as lágrimas. O que só piora a situação: quanto mais líquido há, mais ativo se torna o sulfóxido de tiopropanal. Uma dica para fugir a estas lágrimas é usar uns óculos de mergulhador. É uma triste figura, é certo, mas bem melhor do que chorar por causa de uma cebola.

O choro dos portugueses

O inquérito que o psicólogo Armindo Freitas-Magalhães publicou no seu livro «A Psicofisiologia do Choro: O Efeito das Lágrimas na Experiência Emocional» mostra que os portugueses choram, em média, duas a três vezes por semana.

As mulheres choram mais do que os homens

O estudo do holandês Ad Vingerhoets, publicado no livro «Why Only Humans Weep: Unravelling the Mysteries of Tears», sugere que as mulheres choram 30 a 64 vezes por ano, enquanto os homens choram 6 a 17 vezes por ano (pelo menos, é o que eles dizem). Uma das principais razões para esta diferença é o peso cultural que, ao longo dos séculos, transmite essa ideia parva de que «homem que é homem não chora».

Vingerhoets também estudou a duração média do choro através de um inquérito feito a 5 mil pessoas a viver em cerca de 30 países. E, mais uma vez, são as mulheres que ganham este campeonato: elas dizem que choram mais ou menos durante seis minutos e eles garantem que nunca demoram mais do que 2 ou 3 minutos. Será?

Se estás preparado/a para mais emoções fortes, experimenta ler também este artigo: «Quantos amigos conseguimos ter?»

Fontes consultadas: Live Science | Global Oup |

Por que é que certas palavras não têm tradução?

Palavras não são apenas ditas da boca para fora. Têm significados, transportam culturas, feitios e expressões de cada povo. E é por isso que, com quase sete mil línguas que povoam este planeta, é impossível traduzir tudo à letra e, muito menos, numa única palavra.

Falar a língua materna é como pertencer a uma tribo ou a um clube. Cada país ou região tem formas de comunicar tão próprias, que um estrangeiro se vê aflito para perceber certas palavras e expressões, mesmo que tenha aprendido essa língua.

Boa parte das vezes, as palavras traduzem sentimentos que nem sabíamos que podiam existir. Quantas vezes transformam uma sensação estranha num sentimento concreto? A falar é que a gente se entende, diz a expressão popular, mas é mais do que isso.

As palavras ajudam-nos a entender os outros e a nós próprios.

O Bicho-Que-Morde reuniu na Enciclopédia dos Porquês 132 palavras, de 58 línguas ou dialetos, impossíveis de traduzir numa única palavra. Comecemos, então, pelo que nos é mais próximo e avencemos até os confins deste planeta.

SaudadeMisto de melancolia e nostalgia por uma pessoa querida que partiu, por um lugar onde se quer voltar ou por uma recordação. Descreve, por vezes, um sentimento de solidão e de vazio, uma parte de nós que está em falta.

Embora seja uma das palavras mais difíceis de se traduzir, é possível encontrar termos semelhantes em outras línguas como o alemão (sehnsucht é um anseio ou desejo profundo, mas tem de ser acompanhado por outras palavras para ser entendido) ou o polaco (tesknota, que se aplica principalmente aos apaixonados).

Desenrascanço Capacidade para improvisar com intuito de ultrapassar rapidamente e sem grandes recursos os problemas e os obstáculos que surgem repentinamente.

Desbundar Divertir-se sem inibições; festejar euforicamente.

Sobremesa Momentos de conversa à mesa depois das refeições, que podem ser acompanhados de café, chá ou digestivos.

Dudende (duende) Alguém que através da sua arte comove profundamente uma ou várias pessoas.

 

Região: País Basco | Língua: basco

Txotx Significa palito, mas é usado também para anunciar que o barril de cidra foi aberto e toda a gente pode encher os copos.

Culaccino É a marca redonda de um copo na mesa, mas também pode ser a parte final do salame ou o resíduo de uma bebida no fundo de um copo.

Abbiocco  É uma mistura de fraqueza e de preguiça após uma refeição.

Boh Interjeição para exprimir, por exemplo, desconhecimento, dúvida ou indiferença. Em alguns casos, poderia ser traduzida por «sei lá», «tanto faz», ou «não sei, nem quero saber».

Gattara Mulher que se dedica a cuidar de gatos de rua.

Attaccabottoni Aquele ou aquela que nos apanha ao virar da esquina e não nos larga com a sua interminável história.

Meraki Fazer algo com amor e criatividade, entregar-se de corpo e alma a uma atividade.

VerschlimmbessernOs portugueses têm uma expressão para dizer o mesmo: “Pior a emenda que o soneto”. Ou seja, procurar resolver um problema e criar outro ainda maior.

Torschlusspanik Medo ao perceber que já não há muitas oportunidades para fazer algo que se queria, ou que o prazo para acabar um trabalho está quase no fim. À letra, significa o pânico ao ver o portão a fechar.

Schadenfreude Sentir satisfação com o infortúnio dos outros.

Backpfeifengesicht Ter uma cara tão pateta que dá vontade de bater.

Ferneweh Saudade de um lugar onde nunca se esteve.

Depaysement Sentimento que surge quando se está num país estrangeiro ou num lugar estranho. Sentir-se como um peixe fora de água, um forasteiro.

Esprit d’Escalier Quem nunca sentiu que só depois de uma discussão é que se lembrou daquele argumento imbatível para desarmar o adversário? Dá vontade de voltar atrás, mas seria ridículo até porque já se está a descer as escadas a caminho de casa. Essa frustração é traduzida em francês como esprit d’escalier (espírito das escadas).

Déjà vu Sensação estranha de já ter vivido o momento que acabou de acontecer.

Kaukokaipuu Saudade de um lugar no qual nunca se esteve. Um sentimento de pertencer a um país ou uma cidade apesar de nunca ter lá estado. Por vezes, essa ligação é explicada por ter sido a terra dos antepassados.

Lieko Galho de árvore que submergiu até ao fundo do lago.

Tokka Um grande rebanho de renas.

Hyggelig Descontrair com amigos ou família, geralmente, à volta de uma mesa farta em comida. Resume várias sensações associadas ao conforto e segurança: aconchego, afeto e total ausência de preocupações.

Bagstiv Acordar de manhã ainda embriagado da noite anterior.

Olfrygt Medo de a cerveja acabar (dinamarquês arcaico, do tempo dos vikings).

Utepils Sentar-se ao ar livre num dia soalheiro e beber uma cerveja.

Palegg Tudo e mais alguma coisa (alimentos) que se pode enfiar numa sanduíche.

Aerekjær Estupidamente orgulhoso e sem razão para tal.

Mangata Corredor de luz provocado pelo reflexo da Lua sobre a água do mar. Os turcos também têm uma palavra semelhante (ver mais abaixo).

Lagom Medida certa.

Tidsoptimist Uma pessoa que se atrasa sempre porque pensa ter mais tempo do que realmente tem.

Njuta Apreciar algo com uma alegria profunda; experiência intensa de reconhecimento e gratidão.

Gökotta Acordar muito cedo para ouvir os pássaros lá fora.

Plimpplamppletteren Atirar uma pedra ao lago e fazer com que ela faça ricochete o maior número de vezes possível.

Gezellig Sensação agradável de estar próximo de quem se gosta, por exemplo, num bar com amigos ou ao pequeno-almoço com a família.

Voorpret Entusiasmo ou excitação antes de ir a uma festa ou outro evento.

Epibreren Fingir que se está a fazer algo muito importante para disfarçar a preguiça de não querer fazer nada.

Struisvogelpolitiek Não enfrentar os problemas e agir como se nada de anormal tivesse acontecido.

Tartle Aquele momento constrangedor em que se cumprimenta ou se apresenta alguém que não se vê há muito tempo e se esquece do seu nome.

Sgriob Comichão no lábio superior logo após beber uma dose de uísque.

Giomlaireachd Hábito de aparecer na casa dos outros à hora das refeições.

Região: País de Gales | Língua: galês

 Cwtch Um abraço que nos faz sentir seguros.

Cúbóg Conjunto de ovos de Páscoa.

Yakamoz Reflexo da Lua na água. Os turcos têm ainda outra palavra para descrever o mesmo – gümüşservi(luar brilhando nas águas) -, mas que não é usada no quotidiano.

Shempmedjamo Continuar a enfardar mesmo não tendo fome, porque a comida é maravilhosa.

Pochemuchka Pessoas que estão sempre a fazer perguntas sobre qualquer assunto.

Tocka É muitas vezes usada para descrever vários estados de alma como melancolia, angústia, tédio, desejo ou nostalgia sem uma causa específica.

Nivroku Tem vários significados, consoante o contexto: não é tão mau assim/ a melhor maneira/ mais do que suficiente. Pode ainda ser usada para desejar boa sorte a alguém ou como expressão de encorajamento (continua assim, que vais bem; não desanimes).

Zaida Estrangeiro, forasteiro, invasor

Dolilyts Deitar-se com a cara virada para a areia/chão. E, por oposição, horilyts é deitar-se com a cara virada para o céu).

Vedriti Abrigar-se e esperar a chuva passar para continuar o caminho.

Litost Imaginar a sua própria miséria no futuro e ficar angustiado com a possibilidade.

Prozvonit São aqueles ou aquelas que ligam para o telemóvel de um amigo e desligam logo para que lhe liguem de volta.

Nedovtipa Alguém incapaz de perceber uma indireta.

Tumiwisizm Tem a sua raiz na expressão «Wisi mi para» (estou-me nas tintas). Descreve uma atitude de arrogância e de falta de solidariedade para com os outros.

Zalatwic Fazer algo a troco de dinheiro, mas também usar o suborno, o charme e ainda influência de amigos para conseguir que determinado trabalho seja feito.

Klloshar Um perdedor que não aprende a lição.

Besa Promessa que, custe o que custar, será cumprida, como um juramento.

 

Merak O gozo dos simples prazeres da vida que nos faz sentir próximos do Universo.

Promaja Corrente de ar provocada por duas janelas ou portas abertas, associada a mal-estar e doenças.

Hay kulu Nada, tudo ou qualquer coisa.

Ubuntu Palavra com muitos significados. Os mais comuns são «humanidade para os outros» e «sou o que sou pelo que nós somos». Nelson Mandela, que era do grupo étnico xhosa, acrescentou uma definição mais longa: «O Ubuntu não significa que uma pessoa não se preocupe com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso pessoal está ao serviço do progresso da minha comunidade? Isso é o mais importante na vida».

Hanyauku Andar em bicos de pés sobre areia quente.

Ilunga Perdoar uma ofensa ou mau trato da primeira vez, tolerar uma segunda vez, mas nunca uma terceira.

mbuki-mvuki Vontade irresistível de se despir enquanto se dança.

Bilita mpash Sonho maravilhoso, oposto ao pesadelo.

Cafuné Festinhas carinhosas no cabelo, que tanto podem vir da mãe como do namorado ou namorada.

UmjayanipxitütuwaResume numa única palavra a expressão “eles é que me obrigaram”, traduzindo uma desculpa esfarrapada para justificar um mau comportamento sem assumir a responsabilidade.

MaluVergonha, inferioridade, insegurança ou desconforto perante o chefe que apareceu do nada.

JayusUma piada, que é tão mal contada, que toda a gente se ri.

Ngarong Uma visão ou um guia espiritual que aparece num sonho e oferece, por exemplo, uma solução para um problema.

Gigil  Tentação de apertar ou beliscar um animal ou um bebé por serem tão fofos.

su_note note_color=”#fcfeec” text_color=”#000001″ radius=”20″]Língua: Tagalog[/su_note] Balikwas  Salto repentino provocado por um susto ou por uma boa surpresa.

Nakakahinayang  Arrependimento por não ter agarrado uma oportunidade.

Harikoa  Alegre, eufórico e encantado ao mesmo tempo.

Aroha  Sentir amor, preocupação, empatia ou compaixão por alguém.

ManaakitangaHospitalidade, bondade, generosidade, respeito e atenção pelos outros.

Regiões: Papua Nova Guiné e Ilhas Trobriand Kiriwina | Dialeto: kivila

MokitaÉ a verdade que todos sabem, mas concordam em não falar sobre ela.

Greng jai Resistência em aceitar ajuda por não querer incomodar.

 

Países: Malásia, Brunei e Singapura | Língua: malaio

KertekBarulho que se ouve ao pisar um chão coberto de folhas e galhos secos.

su_label type=”important”]Manja[/su_label]Mimos entre casais tão exagerados que se tornam enjoativos.

Teguk  Dar grandes goles de uma garrafa.

Kontal-kontil Movimento dos brincos nas orelhas ou o agitar do vestido provocados pelo andar da mulher.

AwumbukSensação de vazio quando os amigos partem após um longo período hospedados em nossa casa. É um sentimento de estranheza por subitamente voltarmos à nossa rotina, deixando para trás uma casa cheia e animada. A palavra nasceu com a tribo Baining, mas popularizou-se na cultura da Papua Nova Guiné.

Região: Ilha da Páscoa (província do Chike) | Língua: rapanui

Tingo  Pedir emprestado ao vizinho vários objetos, ao longo do tempo, sem nunca os devolver. O comportamento implica ficar gradualmente com todos os pertences da casa do vizinho, até não sobrar nada.

Região: Polinésia (Oceania) | Língua: maori

Akapu’aki’akiarrotar sem parar.

Povo: pintupi (deserto da Austrália Ocidental) | Língua: pintupi

NginyiwarrarringuSobressalto provocado por um ruído que nos faz levantar e olhar ao redor para saber o que aconteceu. É uma das 15 palavras que os pintupi – povo do deserto da Austrália Ocidental – usam para descrever vários tipos de medo. O Ngulué o medo de vir a ser vítima de uma vingança. Kanarunvyjué um medo dos espíritos malignos que impede de dormir e kamarrarringué a sensação de que alguém está atrás.

 

Região: Havai (estado dos EUA) | Língua: havaiano

Pana Po’o Coçar a cabeça para ajudar a lembrar de algo.

Kapau’u Bater na água com um galho, assustando peixes para aprisioná-los numa rede de pesca.

Guanxi  Troca de favores que beneficia ambas as partes ou então uma pessoa que gosta de dar presentes.

Laotong Amizade fraterna entre duas raparigas que dura toda a vida.

Yuánfèn Força que une duas pessoas seja entre família, casais ou nas relações de trabalho.

Regiões: província de Cantão, sudeste da região autónoma Zhuang de Guangxi e partes da província de Ainão, Hong Kong e Macau | Língua: cantonês
Gagung homens com poucas hipóteses de se casarem porque vivem em regiões com muito poucas mulheres.

Viraha Perceber que se gosta profundamente de uma pessoa durante a sua ausência. Pode também significar a dor causada pela separação da pessoa que se ama.

Região: Estado indiano de Karnataka | Língua: Canará

SankochaConstrangimento por receber um presente desproporcional ou demasiado extravagante e que dificilmente se poderá retribuir.

Região: estado indiano de Andhra Pradesh | Língua: telugo

SitoshnaFrio e quente.

Goya É o instante em que se acredita piamente numa história que estamos a ler ou que nos é contada. O momento é passageiro, mas a palavra serve para reter essa pausa em que a realidade é suspensa e a fantasia toma conta do real.

NazOrgulho que sentimos por sermos amados.

Linti  Mandrião que passa o dia debaixo de uma árvore sem fazer nada.

NakhurCamela que não dá leite enquanto não lhe fizerem cócegas.

Selathirupavar Aluno que deixou de aparecer na escola.

KomorebiEfeitos de sombras e brechas de luz criados pelos raios de sol filtrados pelas folhas das árvores.

Bakku-Shan Mulher que só é bonita se vista de trás.

Kyoiku-mama Mãe que exige constantemente aos filhos um bom desempenho nos estudos.

Tsundoku Ter pilhas de livros que comprou e nunca leu.

Won Alguém que teima em acreditar numa mentira.

Han Misto de tristeza e esperança de que as coisas melhorem.

Nunchi Capacidade de ler o estado emocional de outras pessoas, isto é, perceber pelo comportamento e feições delas quando estão, por exemplo, tristes, alegres, ansiosas ou confusas.

Eomchina Alguém bem-sucedido na carreira ou nos estudos, um exemplo a seguir. A palavra resume a expressão “o filho do amigo da mãe”, muito usada na competitiva sociedade coreana para descrever o hábito das mães em comparar o desempenho dos filhos dos outros para motivar os seus a fazer melhor.

Firgun Pressentir que algo bom aconteceu com outra pessoa e ficar feliz com isso.

Povo: judeu da Europa Central e Oriental | Língua: iídiche

ShilmazlUm azarado sem cura.

Nakhes Orgulho que os pais sentem das conquistas dos filhos, por mais insignificantes que sejam.

Taarradhin Quando se encontra uma solução para um problema que agrada a todas as partes.

Gufra Porção de água que cabe numa mão.

Riq Estômago vazio.

Iktsuarpok Sensação de que alguém está a chegar, provocando um impulso constante de espreitar pela porta.

Espreita também este artigo sobre o significado das palavras: «Quanto pesam as palavras?»

Créditos das imagens: PortugalPedro Ribeiro Simões /CC BY-SA 2.0  | Espanha – Anoldent /CC BY-SA 2.0 | Alemanha – JasonParis /CC BY-SA 2.0 | Paquistão – Khalid Mahmood / CC BY-SA  | Inuítes – Trailsandrrors  /CC BY-SA 2.0. | Brasil – Rafael Barreto / CC BY-SA 4.0 

Fontes consultadas: 

  • The Book of Human Emotions – An Encyclopedia of Feeling from Anger to Wanderlust, de Tiffany Watt Smith, Profille Books (2016).
  • The Meaning of Tingo: and Other Extraordinary Words from Around the World, de Adam Jacot de Boined, Penguin Pockets (2006).
  • Positive Lexicography Project, de Tim Lomas, da Universidade de Londres.
  • Found In Translation, de Anjana Iyer, série “100 Days Project” (Nova Zelândia).

Oxford Dictionaries | Buzzfeed | Matador Network | Better Than English |

A vida sem telemóvel não foi assim há tanto tempo

 

Hoje e, principalmente agora que estamos fechados em casa, é impensável passar um único dia sem WhatsApp, Skype, Zoom ou FaceTime. Mas houve um tempo – não tão distante -, em que só existia um telefone ligado à tomada da sala. Era preciso ficar especado em casa, à espera daquele telefonema superimportante para combinar uma ida ao cinema ou a uma festa de aniversário. Nem sempre foi fácil, mas toda a gente sobreviveu. Espreitem como era complicada a vida do adolescente dos anos 1980. 😉


Até meados da década de 1990, o telefone lá em casa só fazia triiiimtriiim! Não havia toques com sons divertidos, assobios ou passarinhos a chilrear. Não havia centenas de toques com batidas latinas, ritmos do hip-hop, do reggae ou do pop rock. Muito menos mensagens, emojis 😁😜😒 ou chats do Facebook, do WhatsApp ou do Hangouts. Só triiiimtriiim! Nada mais.

Era como uma campainha de bicicleta, mas 10 ou 20 vezes mais alto. Tão alto que se ouvia no apartamento ao lado e, se calhar, no prédio inteiro. E tão barulhento que, não raras vezes, saltávamos do sofá com o coração aos pulos ao ouvir o triiiimtriiim que disparava no silêncio da sala. Não dava para ignorar: quando o telefone tocava, tínhamos de atender. Quem fala? Era um mistério e fazia todo o sentido fazer a pergunta.

O som do telefone (o tal triiiimtriiiim!)

O telefone fixo não tinha ecrã e a chamada não identificava o número ou tinha sequer os nomes gravados na nossa lista de contactos.  Tínhamos de decorar os números mais importantes, o de casa, os dos nossos melhores amigos, do trabalho dos pais, dos avós, dos vizinhos e de quem mais fosse preciso.

Tantas vezes marcávamos os números, que acabavam por ficar gravados na nossa memória.

Os outros contactos iam para a nossa agenda de papel, escrita à mão, com caligrafia bonita e organizada por ordem alfabética. Havia agendas grandes, guardadas ao pé do telefone, ou pequeninas, para levar na mala ou no bolso. Com o uso continuado, ficavam todas gastas e rabiscadas com mais nomes e mais números encavalitados por falta de espaço.

A nossa agenda era a única coisa verdadeiramente portátil. Estava sempre connosco, não fosse preciso ligar de um café ou de uma cabine telefónica na rua.

Toda a gente saía para o trabalho ou para a escola…deixando o telefone em casa.

Hoje, fica tudo aflito, se se esquecer do telemóvel. E agora, se alguém ligar? O que é que eu vou fazer?  Dá vontade rir quando olhamos para trás e percebemos que, antes, isso acontecia todos os dias e ninguém ficava em angústias.

Tinha os seus inconvenientes, é claro. Secas monumentais à espera de um amigo que vinha de autocarro e ficou empatado no trânsito, sem poder avisar do atraso. Aguardar por ele, sem saber sequer se iria aparecer, não era tão fácil como hoje, em que basta agarrar no smartphone para o tempo passar a correr.

Naquela altura, as pessoas tinham de inventar para não se aborrecerem de morte. Folhear o jornal que transportavam debaixo do braço, ler um livro, ouvir as conversas do lado, contar telhas ou azulejos, observar tudo o que se passava à volta ou olhar para o relógio de dois em dois minutos.

Um telefone para toda a família

No tempo do telefone fixo, e quando estávamos fora, tínhamos de ligar para a nossa casa para perguntar se alguém havia ligado para nós. Ou, então, ao chegar a casa e, ainda antes de tirar a mochila das costas, perguntar:

_ Mãe, alguém ligou p’ra mim?
_ Ligou, sim, filho.
_Quem?
_ Um tal de Frederico. Não! Espera, acho que era Fernando. Ou seria Francisco?
_Mãe!
_ Filho, tem lá paciência, não me lembro, era um deles.

Ou quando um miúdo queria falar com uma miúda para combinar uma ida ao cinema ou uma tarde no jardim. Ligava para a casa dela e, por azar, atendia o pai.

_ Tou sim? A Raquel está?
_ Quem fala?
_ É o Paulo, da turma dela.
_ O que quer com a minha filha?
_ Precisamos combinar um trabalho de grupo.
_ Ai, sim? Um trabalho de grupo?
_ Sim, um trabalho para a escola.
_ Certo, eu dou o recado.

O problema do telefone é que só havia um, o de casa. O mesmo telefone para o pai, para a mãe, para o mano e para a mana. Ainda por cima preso por um fio ligado a uma tomada. Para o transportar da sala para o quarto, por exemplo, eram precisos uns 5-6 metros de fio. Era o mais longe que um telefone conseguia ir.

Linhas cruzadas

 As chamadas tinham muitas interferências por causa dos fios condutores misturados ou descascados. 

Vistos a esta distância, os telefones parecem hoje objetos estranhos. Ainda antes dos botões, tinham um disco que girava, uma roleta com 10 buraquinhos, um para cada algarismo, de 0 a 9. Além de servir para falarmos com a nossa família, amigos ou colegas, os telefones de então tinham outras funcionalidades muito modernas para a época.

Havia um número para onde ligávamos para saber se ia chover ou fazer sol no dia seguinte, outro para pedir que nos acordassem à hora certa, outro ainda para perguntar por contatos de restaurantes, empresas ou pessoas.

Funções que hoje a internet veio tornar perfeitamente inúteis. Mas, tinha também cenas de arrepiar, como as “linhas cruzadas”. Estávamos nós no meio de uma confidência com um amigo e, de repente, ouvíamos a voz de mais alguém na linha. Das duas, uma: ou o intruso pedia desculpa e desligava ou armava-se em parvo e intrometia-se na conversa.

As “linhas cruzadas” sempre foram um mistério, mas, sabendo como funcionava um telefone fixo, não é difícil perceber o que acontecia.

A voz é transformada num sinal elétrico que viaja numa onda até ao outro lado da linha. Assim que chega ao destino, converte-se outra vez em voz. Essa viagem, contudo, pode ser atribulada e cheia de interferências. Basta os fios condutores estarem muito próximos ou descascados para as ondas de uma ligação se misturarem com ondas de outras ligações e provocarem linhas cruzadas. Isso era quando a rede telefónica era analógica e não digital, como agora.

Era o que o telefone tinha de mais imprevisível. De resto, não havia grandes variações, quase sempre era preto, existiam outras cores como verde, vermelho, branco ou bege, mas tinha-se de pagar uma taxa extra aos TLP ou aos CTT, as empresas fornecedoras do serviço.

Só mais tarde é que apareceram os pagers, aparelhos muito populares na década de 1990. Tinham o tamanho de uma caixa de fósforos e usavam-se à cintura, emitindo um «bip» sempre que alguém precisava falar connosco.

Apesar de pouco usuais, os primeiros telemóveis chegaram nos anos 1990. Eram tão grandes e pesados que ficaram conhecidos como tijolos. Custavam uma fortuna e, ainda por cima, não funcionavam lá muito bem na maior parte das vezes. Um luxo, tal como o telefone fixo também foi no princípio.

O sucessor do telégrafo

Quando começou a ser vendido, na década de 1870, o telefone fixo era apenas usado por médicos, advogados, homens de negócios e pouco mais. Toda a gente achava que era pouco prático e nunca seria tão popular como o telégrafo. Mas, em menos de nada, entrou nas casas das famílias, nos escritórios e em todas as lojas.

Instalação de cabos de telefone no bairro de Alvalade (Lisboa)/FPC

Em Portugal, o primeiro serviço de telefone automático foi inaugurado em 1930.

No ano seguinte, chegaram as primeiras cabines públicas de telefone, instaladas no Rossio, em Lisboa. Sete anos mais tarde, a operadora de telefones, conhecida nessa altura por APT, inaugurou uma estação automática no bairro da Estrela, em Lisboa.

Muito antes disso, os primeiros telefones estavam ligados a uma central manual. Para fazer uma ligação, era preciso rodar duas vezes a manivela dos aparelhos – que eram pregados à parede -, originando um toque para a telefonista, que solicitava o número para o qual deveria ligar.

Ela conectava depois os fios aos respectivos terminais e pedia ao cliente para girar a manivela para frente. Era o gesto que permitia, finalmente, falar com a pessoa. Desligar o telefone também tinha a sua ciência: de um lado e do outro, ambos tinham de girar a manivela uma vez para trás. Depois disso é que vieram as centrais automáticas.

E pronto. Chega de rodar a manivela para trás. Quem quiser saber mais sobre como era a vida antes do telemóvel, tem muita gente a quem perguntar, pais, avós, tios ou amigos de família. Parece que foi há uma eternidade, mas, acreditem, não foi assim há tanto tempo.


3 perguntas sobre a história do telefone

1 – Quem inventou o telefone?

Atribuir a autoria de uma invenção nem sempre é tarefa fácil e, no caso do telefone, mais difícil é. Ainda hoje, é comum dizer-se que Alexander Graham Bell é o pai do telefone, o que não é incorreto, considerando que o protótipo do seu telefone foi o primeiro a ser registado, em Nova Iorque, a 14 de fevereiro de 1876. Só que ele não foi o primeiro, nem o único, a ter a mesma ideia.

Cerca de 20 anos antes, Antonio Meucci, imigrante italiano, começou a desenvolver o modelo de um telégrafo falante depois de descobrir que a voz podia ser transmitida à distância através de um fio de cobre. Mas Meucci atravessava muitas dificuldades financeiras e só conseguiu pagar a patente provisória da sua invenção. Os obstáculos foram aumentando e ele acabou não conseguir registar a patente.

Anos mais tarde, Meucci envolve-se numa longa batalha judicial contra Bell para recuperar a sua ideia, mas acaba por morrer antes da decisão judicial, em 1889. O julgamento não avança e Bell continua a ser reconhecido como o autor do telefone e continuando também a aperfeiçoar o aparelho.

Só 113 anos depois da morte de Meucci, é que o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução, a 11 de junho de 2002, reconhecendo o seu contributo para a invenção do telefone.

E para tornar esta história ainda mais intrigante, alguns investigadores estão convencidos de que Elisha Gray, engenheiro eletrotécnico, solicitou a patente do telefone no mesmo dia que Bell, mas apenas com algumas horas de atraso. Os dois também andaram engalfinhados em processos judiciais, com um a acusar o outro de roubar as suas ideias. Em causa estava um transmissor líquido e também um recetor eletromagnético que foram usados por Bell no seu telefone, mas que teriam sido desenvolvidos por Gray.

2 – Como funciona o telefone fixo?

O telefone fixo está ligado a uma tomada especial que faz a ligação a uma linha telefónica. Os fios que passam por essa tomada estão, por sua vez, ligados a uma central que, através de outros fios, se conecta a outras centrais. Ao fazermos uma chamada, a central identifica o número para o qual queremos ligar e estabelece as ligações necessárias, até chegar ao seu destino. Este processo acabou por passar a ser feito por computadores, mas, no início, era uma tarefa desempenhada por telefonistas.

3 – E, já agora, quem inventou o telemóvel?

Martin Cooper, engenheiro eletrotécnico, inspirou-se na famosa série de ficção científica da década de 1960, Star Trek (O Caminho das Estrelas), para inventar o primeiro telemóvel. Foi ao ver o capitão Kirk a usar um aparelho portátil para comunicar com a sua tripulação, que o inventor americano teve a ideia de como desenvolver um protótipo. Em 1973, quase 100 anos depois da invenção do telefone, a marca Motorola mostrou em Nova Iorque o primeiro telefone móvel, o DynaTAC (DYNamic Adaptive Total Area Coverage).

Em plena Sexta Avenida, e ainda antes de entrar para a conferência de imprensa no Hotel Hilton, Cooper fez a primeira chamada num aparelho que pesava quase um quilo, tinha uma bateria com autonomia para 20 minutos e demorava 10 horas a carregar. Para estrear o telemóvel, Cooper escolheu como destinatário da chamada o seu maior rival, Joe Engel, engenheiro que trabalhava para a concorrente Bell Labs.

«Olá Joe! Sabes de onde estou a ligar? Da rua e queria saber se me consegues ouvir bem desse lado».

Esta foi a primeira conversa tida num telemóvel e que, certamente, deixou Engel muito maldisposto. Nos anos seguintes, o aparelho conquistou pouco mais de 5 mil clientes em todo o mundo. Uma insignificância perante os 4.700 milhões que hoje usam o aparelho, ou seja, quase dois terços da população mundial.

Tal como o telefone, também a máquina de escrever tem uma história que vale a pena descobrir: «A barulhenta revolução das máquinas de escrever».


Crédito foto Martin Cooper: Rico ShenCC-BY-SA-3.0 

Fontes consultadas: Ordem dos Engenheiros | restosdecoleccao.blogspot.pt | Destination innovation | Ciência Viva | The Guardian | Fundação Portuguesa das Comunicações |

A cuidar de todos somos mais fortes

Em Portugal e, por todo o mundo, costureiras, cozinheiros, médicos, taxistas, estudantes, engenheiros, físicos, artistas, padeiros ou bombeiros juntaram-se durante esta quarentena para ajudar quem mais precisa. Eles são só parte desta energia gigante que atravessa o planeta e que nos faz acreditar que vamos todos ficar bem. E quando tudo isto passar – sim, porque vai passar – continuemos a alimentar esta corrente para sairmos do nosso isolamento mais unidos, fortes e generosos.

Iraque

Haitham e Mumin são dois irmãos proprietários do restaurante Grand House, na cidade de Mossul, no Iraque. Ambos continuam a trabalhar todos dias para fornecer refeições gratuitas aos funcionários, médicos e enfermeiros do Hospital al-Batool.

Rússia

Aleksandra Krylenkova, ativista dos direitos humanos a viver na cidade russa de São Petersburgo, criou o #covidarnost. O movimento juntou inicialmente advogados, médicos, psicólogos, programadores, ambientalistas, entre outros, que construíram uma base de dados com centenas de grupos de ajuda comunitária espalhados pela Rússia.

Para todos foram enviados folhetos com informação sobre as melhores práticas para ajudar em segurança idosos e população vulnerável. Hoje, o #covidarnost envolve largos milhares de voluntários ligados pelas plataformas do Telegram e do VKontakte – redes sociais semelhantes ao WhatsApp e ao Facebook –, que fornecem durante a quarentena serviços como compras de supermercado e de farmácia, mas também aconselhamento psicológico.

Estados Unidos

Jenn Yates é advogada e presidente da associação Real Food for Kids e David Guas é um chef de cozinha que nasceu em Nova Orleães. Ambos são amigos e agora estão todos os dias juntos, fornecendo refeições gratuitas a crianças e famílias carenciadas em Arlington, Virgínia, Estados Unidos, enquanto as escolas estão fechadas.

Portugal

Jovens, bombeiros, associações e juntas de freguesia da cidade de Vila Real juntaram-se para criar um serviço diário de entrega de alimentos e medicamentos à população idosa.

Palestina

Na cidade palestina de Beit Jala, perto de Belém, os residentes organizaram-se para distribuir refeições aos turistas, a maioria americanos, que ficaram em quarentena no Angel Hotel. A hospitalidade dos palestinianos assumiu a forma de fotos de doces, sumos de frutas e pratos tradicionais, que foram partilhados pelos hóspedes nas redes sociais.

Polónia

Robert Wagner é um ativista dos direitos dos animais que, nestas semanas de quarentena, percorre as ruas de Wroclaw para distribuir café, refeições embaladas e bebidas energéticas aos médicos e enfermeiros espalhados pelos hospitais desta cidade polaca.

Portugal

Os motoristas da cooperativa Táxis da Albufeira, no Algarve, voluntariaram-se para visitar as casas dos idosos e doentes crónicos sinalizados pela ação social da autarquia, levando compras e medicamentos.

Canadá

“Caremongering” é uma palavra inventada à pressa em Toronto para estes tempos de quarentena. O movimento espalhou-se por todo o Canadá, juntando, em menos de 72 horas, 35 grupos do Facebook com mais de 30 mil membros para apoiar os bairros residenciais em várias cidades como Otava, Halifax ou Annapolis Royal. O primeiro grupo foi criado por Mita Hans com a ajuda de Valentina Harper, entre outros.

Índia

O Goonj é uma organização sem fins lucrativos, com sede em Deli, Índia, que arrancou com o programa Rahat Covid-19 para distribuir cabazes familiares de bens essenciais, incluindo ração seca para gado e produtos de higiene, às populações que estão a abandonar os centros urbanos e a dirigirem-se para as suas aldeias.

Give India é outra organização que também está no terreno com a campanha “India Combat Corona”. A finalidade é angariar fundos para fornecer sabonetes, desinfetantes e máscaras às populações mais pobres.

Guatemala

Emmanuel Chay é o proprietário da padaria Don Francisco, localizada em Retalhuleu, Guatemala. Enquanto a quarentena durar, ele promete entregar todos os dias aos vizinhos um saco com pão, ovos e açúcar.

As encomendas são colocadas numa mesa à entrada da padaria com um bilhete onde escreveu a seguinte mensagem: «Juntos, chegaremos longe. Se não tem o que comer, leve, por favor, o que precisa».

Itália

Sparwasser é uma associação cultural com sede em Roma, Itália, que em meados de março desafiou os residentes mais jovens – entre os 25 e 30 anos – a apoiar à população idosa. Em apenas três dias, surgiram 200 voluntários e, logo depois, muitos outras cidades seguiram o exemplo. Cada voluntário cuida de um idoso a viver o mais próximo possível da sua área de residência.

Portugal

São 40 artistas portugueses de várias áreas – ilustradores, arquitetos, escritores ou street artists – que se juntaram e criaram a Sebenta da Quarentena. Trata-se de uma plataforma online onde é possível descarregar e imprimir dezenas de passatempos como palavras cruzadas, sopas de letras, ilustrações para colorir ou pontos para unir, labirintos, histórias ou quebra-cabeças.

A ideia é que, agora, outras instituições, associações e juntas de freguesia se juntem para que possam imprimir e distribuir gratuitamente os passatempos pela população mais velha.

Zimbabué e Nigéria

No Zimbabué ou na Nigéria, o inglês é a língua oficial, mas a maioria da população só se comunica através de dezenas de outros idiomas. Foi por isso que jornalistas, cineastas ou designers gráficos estão a desenhar cartazes, a traduzir panfletos ou a produzir vídeos em várias línguas e dialetos com informação sobre o coronavírus, focando-se nas medidas de higiene e distanciamento social.

Reino Unido

Cariy Asiyah e Jawad Javed, proprietários de uma loja de conveniência em Edimburgo, Escócia, retiraram das suas economias cerca de duas mil libras (2200 euros) para comprar 500 kits com máscaras, desinfetantes e toalhetes que distribuíram aos idosos da sua cidade.

Portugal

No dia 11 de março, João Nacimento, estudante de Harvard, publicou no Twitter o seguinte apelo: «Estamos a trabalhar em ventiladores ´open source´ para alcançar uma solução rápida e fácil que possa ser reproduzida e montada no local, em todo o mundo. Se tem competências que possam ajudar, junte-se a nós no projectopenair.org».

Em apenas dois dias, mais de 800 académicos, engenheiros, médicos ou físicos de várias partes do planeta inscreveram-se na plataforma. O protótipo já foi, entretanto, criado e a patente está registada em nome da Humanidade para que nenhuma entidade retire proveitos económicos desta inovação, que pretende servir os doentes com dificuldades respiratórias. Já há também uma empresa em Guimarães, que trabalha em módulos de plástico e impressão 3D, disponível para os produzir.

Itália

Cristian Fracassi e Alessandro Romaioli, da starup Isinnova, usaram sua impressora 3D para criar cópias não oficiais de uma válvula patenteada usada nos ventiladores, em falta nos hospitais italianos, que ajudam os doentes severos de covid19 a respirarem.

Itália

Marco Ranieri é especialista em reanimação no Hospital Sant’Orsola, em Bolonha, Itália, e desenhou um protótipo capaz de fornecer oxigénio a dois doentes em simultâneo a partir de um só ventilador.

Canadá

Alain Gauthier trabalha no Hospital Distrital de Perth e Smiths Falls, uma unidade de saúde em Ontário, no Canadá, e modificou um ventilador de forma a ser possível estender o seu uso por vários doentes ao mesmo tempo. Para construir o aparelho, ele seguiu os tutoriais no Youtube criados por dois médicos de Detroit, nos Estados Unidos.

Irão

Milhares de voluntários transformaram as mesquitas fechadas por todo o Irão em espaços improvisados para costurar máscaras cirúrgicas e preparar cabazes de alimentos e refeições para a população carenciada, mas também para profissionais de saúde e pacientes infetados com o coronavírus.

Portugal

Antónia Nascimento e Cecília Candeias preparavam-se para costurar os trajes e os adereços das marchas populares de Setúbal quando a pandemia obrigou ao isolamento social. Em poucos dias, transformaram o ateliê de costura numa fábrica de máscaras e proteções para botas, que entregam aos profissionais de saúde do Hospital de São Bernardo, em Setúbal.

Estados Unidos

Jessica Johnson vive em Biddeford (Estados Unidos) e recrutou dezenas de costureiras voluntárias para ajudá-la a fazer máscaras impermeáveis, laváveis ​​e reutilizáveis, que são doadas às instituições de saúde do Estado de Maine.

Portugal

O clube de costura solidária My Moyo está a produzir máscaras de proteção para doar a instituições e organizações de Torres Vedras. São cerca de 30 voluntárias a trabalhar a partir de casa, contando com o apoio da associação Oceanos sem Plásticos e ainda com donativos da população do concelho.

Brasil

Clarissa Autler é uma aluna de pós-graduação em moda, a viver em Porto Alegre, que juntou designers e costureiras por todo o Brasil. O objetivo é confecionar máscaras de proteção individual entregues a quem for buscá-las à porta dos prédios onde vivem.

Lê também a história deste polaco que salvou uma cidade inteira na Segunda Guerra Mundial: «O médico Lazowski derrotou os nazis com a ciência».

O design português que fica na memória

Estão nas ruas, nos supermercados, nas montras das lojas, nas salas de estar ou nas cozinhas. Mas, por serem utensílios do dia a dia, são também dos mais esquecidos. Nem reparamos nas suas formas, cores ou tamanhos. O Bicho-Que-Morde selecionou 14 peças do design português que povoam o nosso quotidiano. Bom…Uma delas não é propriamente portuguesa. Mas é como se fosse. Descubram qual é.


Bola de vento para microfone

O nariz que capta sons

Uma bolinha de espuma a fazer lembrar um focinho de cão – ou um nariz de palhaço, no caso de ser vermelha – é o objeto de design português mais mediático de todos os tempos. Quem o inventou foi um engenheiro português, que durante muitos anos foi funcionário da RTP. O seu nome é Jaime Filipe (1922-1992) e, além da bola de vento para microfones, foi o autor de outras invenções, bem mais complicadas, como a bengala eletrónica para cegos, o elevador de cadeira de rodas, a orquestrola (leitor de textos para cegos) ou o eletrovisor, sistema de visão táctil para cegos.

Sombrinha da Regina

A felicidade é um chapéu de chuva

Houve um tempo, algures entre as décadas de 1970 e 1980, em que era fácil fazer uma criança feliz. Bastava dar-lhe uma moeda e ela corria doida a comprar uma sombrinha de chocolate da Regina. Com um pauzinho colorido para colecionar no fim, a guloseima tinha ainda a grande vantagem de durar horas, se o guloso ou a gulosa gerisse com parcimónia as lambidelas. Fundada em 1928, a Regina atravessou, no final de 1980, tempos difíceis, interrompendo a produção na década seguinte. Em 2000, foi adquirida pela Imperial, que reeditou, logo nesse ano, os seus chocolates mais tradicionais, como é o caso da sombrinha.

Papel higiénico preto da Renova

De banal a objeto de culto

Foi ao ver os trapezistas do Circo du Solei, lá no alto, a rodopiarem como peões, em faixas pretas, que o presidente da Renova teve, há 20 anos, a ideia de lançar o papel higiénico preto. Demorou ainda alguns meses para Paulo Pereira da Silva quebrar a resistência do conselho de administração, mas, assim que o produto chegou aos supermercados, foi um acontecimento. Seguiram-se rolos azuis, laranjas, vermelhos ou verde-lima. Foi, porém, com o preto que o papel higiénico ganhou projeção mundial e estatuto de objeto de culto.

Cadeira Gonçalo

A arte de entortar o tubo

O protótipo foi criado pelo mestre serralheiro Gonçalo Rodrigues dos Santos, nos anos 1940, mas só viria a ser registado na década seguinte, com a designação de cadeira “modelo 7”. É evidente que nunca seria esse o nome a ficar. Desde o primeiro dia que a cadeira pertenceu ao seu criador. Foi ele quem a desenhou e a moldou, aperfeiçoando a técnica de dobrar o tubo em curvas perfeitas e com o mínimo de pontos de soldadura. Ainda hoje, o processo continua a ser feito à mão pelos artesãos da casa Arcalo. A cadeira Gonçalo, um dos ícones do design português, ainda hoje domina as esplanadas e os terraços portugueses, mas também lá fora, sobretudo no norte da Europa, nos Estados Unidos ou na Austrália.

 

Couves e andorinhas das Faianças das Caldas

Hortas à mesa e primavera na varanda

A história das andorinhas e das couves em cerâmica começou em 1884, quando Raphael Bordallo Pinheiro passou a dirigir o departamento técnico da Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha. Mais do que perícia, o artista plástico – que foi também jornalista e professor – usou o humor das suas famosas caricaturas para decorar a loiça e retratar o espírito português. A fórmula foi tão bem-sucedida que as suas criações continuam a ser reproduzidas em pratos, terrinas, tijelas, chávenas e outros serviços de loiça que povoaram, durante décadas, as mesas portuguesas de lagostas, galos e repolhos, sem esquecer, obviamente, as andorinhas suspensas nas varandas e paredes.

O coração de Viana

Rendilhados de amor

Quando D. João VI nasceu, a 13 de maio de 1767, D. Maria I ficou tão aliviada por ter um filho varão que mandou de imediato fazer uma joia em ouro como símbolo da sua gratidão ao Sagrado Coração de Jesus. O tempo tratou depois de popularizar este ícone da arte filigrana portuguesa. O coração de Viana foi largamente reproduzido, não só na joalharia, como também nos lenços, toalhas de mesa e muitos outros tipos de têxteis. Embora seja sobretudo reivindicado pelas gentes de Viana do Castelo, o coração rendilhado de cornucópias é uma tradição de toda a região do Minho, com grande expressão nas oficinas artesanais de Gondomar ou da Póvoa do Lanhoso.

Poltrona Shell

Aninhar numa conchinha de bétula

Marco Sousa Santos apresentou, em 2009, a sua Poltrona Shell na bienal experimentadesign, em Lisboa e, logo ali, causou sensação. Pouco tempo depois, a cadeira, inspirada no formato de uma concha, viria a ser considerada pela revista holandesa «Frame» como uma das 59 peças-ícones do design contemporâneo. Feita de madeira de bétula finlandesa de contraplacado altamente resistente, a peça é montada à mão por carpinteiros de uma pequena fábrica de Sintra e é sobretudo procurada no estrangeiro – Espanha, França, Alemanha, Suíça, Holanda, Áustria, Austrália, Estados Unidos, Porto Rico, Coreia do Sul e Brasil.

Lápis Viarco

A tabuada na ponta dos dedos

Seis milhões e meio de lápis saem, todos os anos, da Viarco, em São João da Madeira. É muito lápis, mas uns destacam-se mais do que outros. É o caso do lápis da tabuada, que a tantas gerações de alunos aflitos já acudiu. Mas também de O Carpinteiro, do Olímpico bicolor, do Pastel ou do Cópia Violeta, usados no comércio e na indústria. E, claro, das caixas de lápis de cor, que tantas páginas, cadernos e desenhos infantis continuam a colorir. A Viarco nasceu em 1936, depois de Manoel Vieira Araújo adquirir a Portugália – Fábrica Portuguesa de Lápis, em Vila do Conde. O grafite é a principal matéria-prima, mas a combinação entre a argila e a madeira de cedro é que tornam este objeto tão distinto de todos os outros.

Famel

Mosquitos a zumbir na estrada

Não há um português, acima dos 50-60 anos, que não tenha tido uma motorizada Famel. É um exagero, há que reconhecer, mas foram mesmo muitos os que já tiveram uma moto da fábrica hoje abandonada em Águeda. Cheia de cromados, em vermelho e preto ou em outras cores vivas, elas circularam entre os anos 1960 e 1980, zumbindo como mosquitos nas estradas e anunciando a sua presença a dezenas de metros de distância. Muitos modelos ficaram na memória – o Foguete, o Foguetão, o Tri-carro, a Famel de Competição e, a mais lendária de todas, a Famel Xf17, com motor de 5 velocidades e muito cobiçada pelas oficinas de restauro.

O azulejo

Azul e branco sempre na moda

Os primeiros azulejos a chegar a Portugal vieram das oficinas de Sevilha, em 1498, diretamente para o Palácio Nacional de Sintra. D. Manuel I ficou deslumbrado com o brilho desta peça, mas é apenas no fim do século 18 que a primeira fábrica abre em Lisboa. Por essa altura, já o azul e branco estavam na moda, cobrindo fachadas de edifícios ou interiores de igrejas e casarões da nobreza. A combinação de cores é ela própria uma mistura da influência holandesa e da porcelana oriental. A partir do século 18, o azulejo deixa de ser privilégio dos ricos e entra nas casas da burguesia, substituindo os quadros e as tapeçarias. Mas só no século seguinte, a mecanização permite reduzir o custo e espalhar o seu uso pelas paisagens urbanas e rurais de Portugal.

Mules KOS de Luís Onofre

Luxo em saltos altos

Dos botins ao salto stiletto, até às sandálias Mules KOS em cetim vermelho ou preto, qualquer que seja, o calçado criado por Luís Onofre será sempre uma peça de design cobiçada pelas mulheres. Só que não é para todas as carteiras. Alguns pares oscilam entre os 200 e os 300 euros, mas o preço não é impedimento para as celebridades como Penélope Cruz, Naomi Watts, Paris Hilton, a rainha Letizia de Espanha ou a antiga primeira-dama americana Michelle Obama. Todas elas têm em casa vários pares de sapatos deste designer de Oliveira de Azeméis. A fábrica, também ali localizada, é uma herança da avó, que ele agarrou e pôs a laborar para mulheres – e homens também – de lugares distantes como China, Mongólia, Nigéria, Dubai, Canadá, EUA, Brasil ou Rússia.

Garrafa de vinho Mateus Rosé

A frescura num cantil

Diz-se que foi a frescura que levou Mateus Rosé para todos os cantos deste planeta. Mas a garrafa, inspirada no cantil dos soldados da I Guerra Mundial, teve certamente o seu peso. Não há como negar – na hora de escolher o vinho nas prateleiras do supermercado, toda a gente repara no balão achatado de vidro e acha piada ao objeto. Desde 1942, data em que Fernando van Zeller Guedes criou a marca, a garrafa passou por duas mudanças. A primeira, em 2016, alterou a cor de verde escuro para transparente. No ano passado, houve outra alteração para torná-la mais alta, elegante e com as curvas ainda mais ondulantes.

Desodorizante Lander

Frasquinho de vidro como um perfume

Até parecia que, nos anos 1970-1980, não havia outro desodorizante.  Haver, havia, mas nenhum era tão original na embalagem como a Lander. Um frasco de vidro canelado, uma tampa metálica e uma barra de desodorizante que se empurrava na base à medida que se gastava. Era esse o kit completo que toda a gente tinha em casa e as mulheres também na mala. Musk, Clorofila e Bouquet foram os perfumes mais populares. A Sagilda, fundada em 1955, nas Caldas da Rainha, é a empresa que, além de sabonetes líquidos e de glicerina, ainda hoje produz o desodorizante, usando a mesmíssima embalagem.

Salazar

Ir ao fundo do tacho

A espátula de cozinha não é uma criação portuguesa. A sua origem também não é muito clara, sendo atribuída a três homens. O primeiro é um médico romano, de nome Galen, que, no século 2, forjou um utensílio para misturar preparados medicinais. O segundo é o húngaro Horace Spatula que, em 1798, construiu o mata-moscas. E o terceiro é John Spatula, radicado nos EUA, que, na década de 1890, terá criado o utensílio por ter uma mão aleijada. Quem quer que seja, pouco importa. Foi em Portugal que a espátula de cozinha ganhou status ao ser batizada de Salazar. O motivo é óbvio. Este é o único utensílio que rapa o fundo dos tachos e das tijelas sem desperdiçar um niquinho sequer. Tal como Oliveira Salazar, o lendário avarento que governou o país por 40 anos, apregoando as virtudes da humildade, da poupança e da modéstia.

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Crédito (motorizada Famel): Cjp24 – CC BY-SA 4.0

Por que há feitios tão diferentes?

Agora que estamos quase todo o tempo em casa, é bem provável que os feitios de cada um saltem mais à vista. Ou é um que está sempre a suspirar ou outro que não se cansa de refilar. Há quem raramente perca a compostura e quem já acorde de cara feia. Ou quem ache que tudo vai correr bem e quem julgue que alguma coisa pode correr mal.

Sejam estas ou outras particularidades, haverá sempre alguém com um temperamento mais *especial (*tradução: nuns casos tramado, noutros, justamente o contrário). OK, isso pode até ter um fundo de verdade, mas porque raio há feitios tão diferentes? – perguntarão os tais com o feitio mais especial. A resposta é tão simples que muitos ficarão desiludidos: os humanos não são robôs programados para agir e reagir sempre da mesma maneira.

Cada um é uma mistura única dos genes que vieram da família e das histórias que viveu em casa, na escola, com os amigos e em todos os lugares por onde passou. Não há, portanto, duas pessoas iguais. Tal como não há também dois flocos de neve iguais.

Somos diferentes não só no feitio como também nos humores, que mudam, por vezes, sem percebermos porquê. Temos todos dias bons, dias maus e dias assim-assim. Mas todos – todos mesmo – gostam de rir – uns mais e outros menos -, todos gostam de comer coisas boas – uns mais e outros menos.

E todos, todos mesmo, gostam que alguém goste de nós – uns mais e outros mais ainda.

Nestes tempos de isolamento, sejamos, por isso, mais pacientes com os feitios de cada um. Mas também mais esforçados para que o nosso feitio não vire uns contra os outros. Afinal, estamos agora todos juntos. Tal como estaremos juntos depois.

Descobre quem é teu companheiro neste isolamento.
😉

A popósito deste isolamento, será que já leste este artigo: «Quantos animais passeiam nas nossas cidades desertas?»

Dia das mentiras. As tretas em que ainda acreditamos

Há muitos enganos repetidos todos os dias como se fossem verdade. É tão estranho como uma ideia feita, por mais que desmentida com argumentos científicos, demora anos ou até décadas a ser desfeita. Neste dia das mentiras, o Bicho-Que-Morde decidiu investigar algumas das supostas verdades que, afinal, não passam de tretas.


1 – O Espaço

Há um lado escuro da lua

A Lua não tem um lado escuro, mas sim uma parte que nunca é vista da Terra. Vemos sempre a mesma face porque a força gravitacional exercida pelo nosso planeta faz com que 41% da superfície lunar fique escondida. Assim como a Terra, a Lua também gira em torno do próprio eixo. A superfície da Lua é iluminada pelo Sol nos ciclos diurnos e escurece nos períodos noturnos. A face visível é mais brilhante porque capta mais luz refletida da Terra.

A Grande Muralha da China pode ser vista do Espaço

Um dos grandes responsáveis por passar esta ideia foi Richard Halliburton. Em 1938, o explorador americano contou no seu livro «Second Book of Marvels» que a muralha poderia ser vista da Lua. O mito ganhou fôlego graças ao astronauta americano Eugene Cernan, que em 1972, após regressar da missão Apollo 17, disse ter visto a construção chinesa quando se encontrava em órbita a 320 km da Terra.

Foram precisos 65 anos para desfazer esse engano. Em 2003, Yang Liwei partiu na nave Shenzhou 5 e só regressou após 14 voltas à Terra. Em nenhuma dessas voltas avistou a muralha. Foi suficiente para o governo chinês retirar a informação dos manuais escolares.

Não há gravidade no Espaço

A Teoria da Relatividade, de Einstein, defende que a organização do Universo não é mais do que o resultado da gravidade que todos os corpos exercem uns sobre os outros. A sua intensidade é que varia consoante a distância, o volume e a massa do objeto ou corpo. As imagens dos astronautas a flutuarem no espaço são enganadoras. Não sentir o peso não significa ausência de gravidade. O que acontece é que, lá em cima, esta é tão reduzida que se transforma em microgravidade. Ao viajar no Espaço, a nave é atraída pela Terra, entrando na sua órbita e arrastando o astronauta para esse movimento.

Se a nave entrasse na órbita de outros planetas maiores que a Terra, a sensação de peso seria mais intensa. Um astronauta com 68 quilos teria, por exemplo, 168 quilos em Júpiter, o maior planeta do sitema solar, e pouco mais do que 4 quilos em Plutão, que é o planeta mais pequeno.

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar

Um raio pode cair centenas de vezes no mesmo lugar, como é o caso do Empire State Building, nos EUA, atingido em média 100 vezes por ano ou da Torre CN, no Canadá, 75 vezes todos os anos. Isto acontece porque são precisamente os sítios mais elevados que concentram maiores quantidades de eletricidade nas extremidades.

O recorde Guiness para o lugar com a maior concentração de relâmpagos não fica, contudo, num pico alto, mas sim no Lago de Maracaibo, na Venezuela, que em certas alturas do ano chega a ser atingido 28 vezes por minuto. O fenómeno ainda não é completamente conhecido, mas acredita-se que a explicação está na combinação entre as correntes de ar e a abundância do metano libertado pelas reservas de petróleo do subsolo.

2 – Saúde e higiene

Micro-ondas destrói os nutrientes dos alimentos

Vamos lá então acabar com as dúvidas de uma vez por todas: aquecer ou cozinhar alimentos no micro-ondas não só é inofensivo como é, também, uma das melhores maneiras de manter os nutrientes quase intactos. O tempo em que os alimentos ficam a cozinhar no calor faz toda a diferença, bem como a quantidade de água usada. No caso do micro-ondas, o calor e a água necessários para cozinhar os alimentos são mais reduzidos do que no fogão. Ao encurtar o tempo de cozedura, o micro-ondas atenua a degradação das vitaminas ou dos minerais dos alimentos.

Devemos beber pelo menos dois litros e meio de água por dia

Já lá vão mais de 70 desde que a Comissão de Nutrição e Alimentos dos EUA (Food and Nutrition Board) recomendou aos adultos beber cerca 2,5 litros ao dia. A advertência foi largamente difundida pela imprensa e televisão, mas faltou um pormenor, que faz toda a diferença: boa parte dessa ingestão já é feita através dos alimentos que comemos.

Laranja com leite faz mal

Alimentos ácidos coalham o leite, daí o mito. Mas, por mais azedo que seja um fruto, não supera os ácidos gástricos que ajudam a fazer a digestão. Um estômago sem uma acidez equilibrada não consegue absorver, aliás, a quantidade de nutrientes que o nosso organismo precisa. Neste capítulo, a vitamina C contida na laranja facilita a absorção do cálcio do leite. A combinação não podia ser mais feliz.

O cérebro descansa durante o sono

O ritmo do cérebro não é sempre igual durante o período em estamos a dormir. Há momentos em que os processos mentais ficam mais lentos e momentos de grande agitação. Na fase dos sonhos, conhecida como REM (sigla em inglês para Rapid Eye Movement, ou seja, movimento rápidos dos olhos), o frenesim não podia ser maior. É nesta etapa do sono que os pensamentos e as memórias são organizados. Em suma, a criatividade está ao mais alto nível.

Escovas duras limpam melhor os dentes

Escovas com cerdas duras agridem os dentes e a gengiva. Logo, a mais indicada, segundo os dentistas, deve ser macia e com uma enorme quantidade de cerdas. Convém saber também que dois minutos é o tempo indicado para uma escovagem correta e o melhor momento para o fazer é meia-hora depois das refeições, dando assim tempo à saliva para neutralizar a acidez natural dos alimentos e das bebidas.

Por fim, e só para derrubar mais uma ideia feita, a pasta de dentes é o menos importante na lavagem, devendo ser usada em quantidades reduzidas para não desgastar o esmalte nem originar muita espuma na boca – uma gota do tamanho de uma ervilha é suficiente.

3- Animais

Os morcegos são cegos

A grande maioria dos morcegos vê o mundo a preto-e-branco e algumas espécies chegam a ter uma visão 10 vezes superior aos humanos. De onde surgiu, então, esta ideia de que são cegos? Provavelmente, por serem mamíferos equipados com uma espécie de sonda, que emite frequências para detectar obstáculos no caminho.

Estes sinais sonoros, que os humanos não ouvem, retornam depois ao ouvido do morcego, permitindo-o medir as distâncias, bem como várias características dos objectos ou dos animais, desde o tamanho à velocidade a que se deslocam.

Os camelos armazenam água nas bossas

Nas bossas podem acumular-se 35 quilos de gordura, quantidade suficiente de energia para alimentar um camelo durante três semanas. A capacidade para armazenar água, no entanto, está nos rins, nos intestinos e ainda na circulação sanguínea, que evita a desidratação através da forma oval dos glóbulos vermelhos (ao contrário dos redondos dos humanos, por exemplo).

Os camelos conseguem passar até 7 dias sem beber e perder até 40% do seu peso, antes sentirem qualquer efeito da desidratação. Ao mesmo tempo, são capazes de reabastecer-se de água bebendo mais de 200 litros de uma só vez.

Os gatos adoram leite

Apesar da televisão e do cinema terem ajudado a difundir a imagem do gatinho deliciado com uma tigela de leite, este é um dos alimentos mais indigestos para eles, podendo provocar vários problemas intestinais. O leite de vaca não é indicado para gatos, existem outros produtos lácteos destinados a eles nas lojas de animais.

Cão que abana o rabo está feliz

Pode estar contente da vida, mas também pode ser sinal de ansiedade, medo e até de irritação. Uma das formas de conseguir saber o que sentem, será avaliar o seu comportamento através de outros indícios, como a posição da cabeça e das orelhas e ainda se têm ou não os dentes arreganhados.

4 – Corpo humano

Usamos apenas 10% de nosso cérebro

A origem deste mito poderá estar numa série de trabalhos científicos que foram surgindo desde os finais do século XIX. O primeiro a lançar a semente terá sido o francês Jean Pierre Flourens, um dos fundadores da ciência experimental. Foi ele que qualificou grande parte da massa cinzenta como «córtex silencioso», influenciando outros cientistas a defenderem que essa zona não tinha quaisquer funções.

Na década de 1890, William James perguntou num ensaio se a maioria de nós usaria mais do que 10% dos recursos mentais, desperdiçando a maioria das capacidades. Essa suposição foi ganhando gradualmente um outro sentido, e os 10% da nossa capacidade intelectual transformaram-se em 10% do nosso cérebro.

Lowell Thomas, radialista americano, propagou essa ideia ao atribuí-la, em 1936, a William James, no prefácio da obra de Dale Carnegie «Como fazer amigos e influenciar pessoas». A crença foi repetida por todo o lado, na imprensa, nos livros de auto-ajuda e na publicidade.

Com o auxílio de novas técnicas, como o electro encefalograma ou a ressonância magnética funcional (MRI), foi possível confirmar que não há zonas cerebrais inativas. Descobriu-se, aliás, que até as tarefas mais simples do dia-a-dia envolvem áreas espalhadas por todo o cérebro. Não existe, portanto, nenhuma parte adormecida à espera de um beijo encantado para acordar e começar a ser útil.

Ler em movimento descola a retina

A não ser que se tenha sérios problemas de saúde, a retina do olho só se desloca após um impacto muito forte. O único perigo de ler num transporte em movimento é o enjoo. Mas essa má disposição nada tem a ver com o risco de a retina se descolar. O perigo está sim num acidente de viação, numa bola de futebol que atinge a nossa cara ou outros incidentes que podem provocar lesões e traumas nos olhos.

 

Se rapar a barba e os pêlos com uma lâmina, eles voltam a crescer mais fortes

Desde a década de 1920, vários estudos demonstraram precisamente o contrário. Ainda assim, muitos continuam a acreditar que raspar ou cortar os pêlos acelera o seu crescimento, tornando-os mais grossos e resistentes. Tudo não passa de pura ilusão. Para começar, ao irromper à superfície da pele, o cabelo deixa de ser um organismo vivo e, como tal, não sofre transformações na sua textura ou velocidade de crescimento. Se o novo cabelo parece mais escuro é porque ainda não foi exposto ao sol nem ao ambiente exterior.

Se ainda não leste, acho que também vais gostar de ler: «Erros, mentiras e traições do português».



Fontes consultadas: BBC (1) |BBC (2) | Mundo dos AnimaisPetMeg | EarthSkyUniverse Todayaskmem | Diário do Grande ABCGizmodo |É verdade ou Mentira?Alternet | Business Insider |

Edição eletrónica de “Os 50 mitos populares da psicologia”, de Scott O. Lilienfeld, Steven Jay Lynn, John Ruscio, Barry L. Beyerstein

Quantos animais passeiam nas nossas cidades desertas?

Pois… quem não gostaria de ser agora uma mosquinha para espreitar o que neste momento se passa na Avenida dos Aliados, no Porto, na Praça do Giraldo, em Évora, no Castelo de Beja ou no Terreiro do Paço em Lisboa? Com os moradores enfiados em casa, os turistas a regressar aos seus países, as lojas fechadas e os transportes públicos praticamente vazios, as ruas estão entregues ao silêncio. E ao mistério. Ninguém sabe, nem tão-pouco pode sair de bloco e caneta na mão, para contar os animais selvagens que agora passeiam por paisagens urbanas. Mas há relatos, confirmando-o, a chegar de várias cidades do planeta.


Sempre (ou quase sempre) que um humano sai para ir às compras ou passear o cão dá de caras com um visitante inesperado. Na cidade de Nara, Japão, são os veados que perderam a vergonha e atravessaram as ruas sem sequer respeitar os semáforos. Em Odivelas, Portugal, os gamos também saíram das serras circundantes e foram espreitar as zonas residenciais. Em Detroit ou em Oakland, nos Estados Unidos, os perus selvagens entraram nas estações de metro sem pagar bilhete. Em Barcelona, há javalis a chafurdarem nos canteiros e, no centro de Madrid, os pavões machos exibem os seus leques de penas às fêmeas que cirandam nas calçadas.

Gamos em Odivelas

Perus nos EUA

Não conseguimos adivinhar o que vai na cabeça destes animais, mas não será assim tão absurdo pensar que devem estar a achar piada a todo este sossego.

Com os carros agora estacionados, os cruzeiros atracados nos portos e as indústrias a meio gás, os níveis de poluição caíram para menos de metade em quase todo o planeta. O ar mais puro é também um convite para a bicharada sair das suas tocas e espreitar os bairros e os locais que normalmente não podem visitar.

Puma em Santiago do Chile

Nos canais de Veneza, em Itália, sem o tráfego marítimo nem hora de ponta, o lodo assentou no fundo e agora são os patos e os cisnes que aparecem sozinhos, aos pares ou com as suas crias. E nas praias de San Felipe, no Panamá, os guaxinins brincam à beira-mar e passeiam pelos bares e restaurantes fechados.

Patos em Veneza

Para quem está preocupado com a invasão dos animais, os especialistas avisam que não é motivo para alarme.

Eles não se preparam para tomar conta das nossas cidades. Quando os humanos retomarem os velhos hábitos, também a bicharada regressará aos seus esconderijos. Tudo ficará como antes. Ou talvez não…. Pode ser que estes tempos dentro de casa sirvam para nos lembrar que as cidades também são parte da natureza. E que os animais – mais ou menos afastados dos centros urbanos – sempre viveram connosco.

O que vês da tua janela?

Se não é possível assistir ao espetáculo que os animais estão a oferecer nos centros das cidades, podemos ao menos espreitar o que se passa lá fora, pela nossa janela. Será que já reparaste como nestes últimos dias os passarinhos andam mais barulhentos do que o costume? Não é só porque a primavera já chegou. É também porque, com menos carros e menos poluição, eles se aventuram agora em novas paragens.

Fica atento às aves a sobrevoarem a tua casa. Pode ser que consigas reconhecer algumas espécies. Para te ajudar nesta tarefa deixamos aqui algumas sugestões de apps que gravam os cantos e identificam o nome da passarada. Selecionamos também alguns dos pássaros que costumam visitar os jardins, as varandas, as janelas e os quintais das cidades. Boa sorte. 😉

Aplicações para observação de pássaros

Go Bird

É uma app para Android e iOS que mostra as espécies recentemente avistadas na tua zona. Além das imagens dos pássaros, apresenta ainda os seus cantos e um mapa com a sua distribuição pela tua área de residência.

Link: : https://play.google.com/store/apps/details?id=com.thenerdbirder.GoBird&hl=pt_PT

Bird Net

Só existe para Android e é uma aplicação que grava o canto, analisa-o e sugere o nome da espécie. A app indica também a probabilidade de a identificação estar certa, tendo em conta a qualidade da gravação, o ruído de fundo e os outros cantos de pássaros à volta.

Link:

https://play.google.com/store/apps/details?id=de.tu_chemnitz.mi.kahst.birdnet&hl=pt_PT

Twigle Birds para iOS

Identifica o nome dos pássaros através do canto. Para tal, tem de se acionar o aplicativo e apontá-lo para a ave. A app regista o som e procura na net pelo seu nome e imagens.

Link: http://www.twigle.co/

Roteiro dos passarinhos citadinos

🥝🥥🍁 Descobre a seguir «Por que é a Natureza (quase) toda simétrica?»

Telescola. O professor da TV chegou à aldeia

Estar em casa a ver o professor, através de um ecrã, é agora o dia a dia de boa parte dos alunos, nestes tempos excecionais. Mas foi assim que mais de 500 mil crianças portuguesas frequentaram as aulas entre 1965 e 2004. Não era porque uma pandemia obrigava as pessoas a viver isoladas nas vilas e nas aldeias. Mas sim porque o país era ainda mais desigual, não só entre o campo e a cidade, como entre os que podiam pagar pela educação e os que largavam os estudos para ajudar os pais. Agora chega de conversa, que o professor da Telescola já chegou. Carrega no botão (sim, não há controlo remoto) e presta atenção.



O salão da paróquia parece-se em quase tudo com uma escola. Carteiras, uma ardósia preta, um crucifixo, a fotografia do chefe do governo, Oliveira Salazar, um mapa de Portugal e…uma televisão. Ao início da tarde, pouco depois da hora do almoço, chegam os alunos e sentam-se nos seus lugares.

O professor-monitor liga o televisor e a aula começa com uma lição de francês. «Quelle heure est il?» – pergunta o professor que aparece na TV . «Répondez-vous, s`il vous plaît». A turma olha para o relógio na parede e responde num coro afinado: «Il est trois dans l’après-midi.»

Nos lugares mais distantes das cidades, os rapazes e as raparigas aprendiam com uma televisão a preto e branco.

É a telescola, o programa que arrancou em outubro de 1965 e que, a partir dos estúdios da RTP no Monte da Virgem, no Porto, chegava, todas as tardes, de segunda a sábado, a escolas primárias, cooperativas agrícolas, associações ou edifícios recuperados pelas câmaras municipais. Durante praticamente quatro décadas, os professores da televisão levaram o 5.º e o 6.º anos a quase meio milhão de alunos que nunca pensaram poder ir além da 4ª classe.

Um ano antes da estreia do modelo, o Estado Novo – o regime político liderado pelo senhor da foto pendurada nas salas de aulas – alargou o ensino obrigatório de 4 para 6 anos. Poderia aumentar até mais anos que serviria de pouco. As escolas preparatórias estavam nas cidades e nas vilas, as estradas eram más ou não existiam e os professores poucos e a dar aulas nas sedes de concelho.

As crianças das aldeias

 Deixar a escola era o destino mais provável para as crianças da aldeia. 

A educação não era para todos. Quem ia estudar depois da primária eram os filhos de pais ricos e remediados. Ou, então, fugia-se à pobreza enfiando os miúdos nos seminários dos padres. A maioria arranjava trabalho ou ajudava os pais no campo. O destino estava traçado, até aparecer a Telescola. Ou melhor, a televisão, acabadinha de estrear poucos anos antes, em 1957.

O aparelho era tão raro nas casas das aldeias que todos queriam vê-lo de perto. Mesmo que as brincadeiras estivessem proibidas e mesmo que, durante uma tarde inteira, tivessem de seguir à risca as instruções dos professores da TV.

Eram exemplares os alunos da telescola. Ou quase exemplares.

Impossível estar sempre atento, quando no ecrã havia gente tão diferente do costume.

Penteados modernos e blusas às pintinhas das professoras, camisas engomadas e gravatas às riscas dos professores, nada a ver com as vestes tristes e cinzentas dos adultos das aldeias.

Nada a ver com nada, principalmente quando a Telescola pegava em turmas inteiras e viajava com elas até à Torre Eiffel, em Paris, ao Big Ben, de Londres, e ao Mosteiro dos Jerónimos, na capital. Ou então abria as portas para a Matemática Moderna, para as notas de música desenhadas nas pautas, para a poesia que a professora Manuela Melo trazia para as aulas de português, para a divisão das células ou para a composição da água.

Tudo ao vivo e em directo, fazendo com que a Telescola chegasse a qualquer ponto do país, incluindo às crianças da cidade, que também papavam as lições à espera dos desenhos animados. A grande diferença é que, em casa, não estavam acompanhadas por dois professores-monitores, um para as Letras e outro para as Ciências, que, no fim de cada aula, lançavam um questionário à turma e faziam exercícios para saber o que aprenderam com o professor da TV e o que ficou por aprender.

O progresso foi chegando devagarinho

 Entre os anos 80 e 90, quase 20% dos alunos do 2.º ciclo frequentava a Telescola. 

A Telescola arrancou com cerca de mil alunos, distribuídos por 80 postos de receção, isto é, escolas improvisadas em edifícios desocupados. Na década de 70 do século passado, quando a escolaridade obrigatória passou para oito anos, eram quase seis mil. Na década seguinte, o programa acompanhava 60 mil crianças e, entre os anos 1980 e 1990, a percentagem de alunos do 2º ciclo a frequentar a Telescola chegou quase aos 20% do total.

O progresso foi, entretanto, chegando aos bocadinhos. Em 1983, o transporte escolar dos alunos no ensino obrigatório passou a ser gratuito. Boa parte deixou o ciclo preparatório na TV e foi estudar numa escola à séria.

Pouco tempo depois, surgiram as primeiras vozes a perguntar se a Telescola ainda fazia sentido.

Os mais insistentes eram os senhores da RTP, preocupados com os custos avultados das emissões em directo e a quererem usar o tempo de antena para outros programas e outros públicos.

No ano letivo de 1988/89, as emissões em direto foram substituídas pelas videocassetes. As lições, agora a cores, passaram a ser gravadas no estúdio, reproduzidas em série e distribuídas nos postos de receção de todo o país.

Era o princípio de um fim que ainda se iria arrastar por mais uma década e meia. As vozes contra a Telescola foram subindo de volume, ao ponto de a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico – ser chamada a avaliar o modelo e decidir se estávamos ou não perante um ensino de segunda categoria.

Era justamente o contrário. Portugal – que andava numa correria esbaforida para encurtar a distância com os países mais desenvolvidos – tinha um dos melhores sistemas de ensino alternativo da Europa, concluía o relatório.

Só que a OCDE focava-se, sobretudo, no passado, quando a telescola era o único caminho para chegar às zonas rurais ou às periferias urbanas com escolas sobrelotadas. Um caminho – dizia-se – com taxas de sucesso na ordem dos 90%.

Agora, e segundo as correntes pedagógicas mais recentes, os professores da televisão já não são o melhor para as criancinhas. Elas precisam de adultos de carne e osso a ensinar e necessitam igualmente de brincar com colegas de todas as espécies e feitios para crescerem.

O princípio do fim 

 As crianças foram para as cidades. As aldeias ficaram para os velhos. 

O país também já não é o mesmo. As famílias mudaram-se para as cidades. As crianças desapareceram dos campos e as aldeias foram ficando para os velhos. Em 2002/2003, entre um total de 320 postos de recepção da Telescola, haveria uma centena com menos de 10 alunos inscritos e salas de aula com três ou quatro crianças apenas.

A fazer lembrar os tempos dos mega agrupamentos, o então ministro da Educação, David Justino, anunciou o fecho dos postos com menos de uma dezena de alunos.

O fim do 5.º ano aconteceu logo de seguida. No ano lectivo seguinte, em 2003/2004, acabou-se com o 6.º ano e deu-se o programa como encerrado. A Telescola tinha, nessa altura, pouco mais de 5 mil alunos e houve protestos de muitas associações de encarregados de educação.

O país tinha a ambição de pertencer à Europa dos ricos, mas faltava ainda um bom bocado.

Era a esse bocado que os encarregados de educação se agarravam. Os transportes urbanos falhavam demasiadas vezes e as crianças passavam quase tanto tempo num autocarro como na escola. Muitas vezes, os filhos faziam longas viagens para, num dia, terem apenas duas ou três aulas, por falta de professores.

Ainda assim, por mais que os pais teimassem, a Telescola já não aliciava os miúdos. A outra televisão tinha-lhes mostrado demasiado mundo para agora ficarem deslumbrados com professores bem vestidos e com aulas virtuais de educação física, mostrando meninos de calções brancos a praticarem desporto num estúdio da RTP. Ou aulas de música sem instrumentos para tocar e ainda manuais a preto branco impressos em papel baratucho, para diminuir os custos ao Estado.

A Telescola existiu até se concluir que não se precisava mais dela. Se era ou não verdade, essa não era mais a questão. Chegara o momento de avançar para o nível seguinte. Mas quem sabe se não voltará nos próximos tempos? Já se ouvem algumas vozes a defender o seu regresso à RTP durante o período de isolamento e como forma de diminuir as desigualdades entre os alunos com e sem acesso à internet. As voltas que esta vida dá…


Uma aula de História através da Telescola (1993)

Factos e números

Quem eram os monitores que orientavam os alunos?

Os monitores eram professores do ensino primário das aldeias. Era-lhes exigido o 3º ciclo do ensino liceal ou curso médio como habilitação mínima ou então diploma de professor de qualquer grau de ensino oficial. Em cada posto, deveria haver, no mínimo, um monitor por sala. Cabia-lhes a responsabilidade de tratar das matrículas dos alunos e assegurar os trabalhos após cada lição – esclarecimento de dúvidas, fichas com a revisão da matéria, exercícios, entre outras tarefas.

E quem eram os professores da TV?

Os professores da televisão eram recrutados entre os mais qualificados do ensino oficial, através de convite ou provas de seleção. Uma boa parte tinha ainda de frequentar um estágio no estrangeiro na área do ensino audiovisual. A Telescola tinha um diretor, nomeado pelo ministro da Educação Nacional. Cada curso tinha ainda um responsável pelos docentes da sua área.

Quem podia abrir uma telescola?

Paróquias, juntas de freguesia, câmaras municipais ou qualquer entidade pública ou privada estavam autorizados a abrir um posto de recepção. Para isso deveriam ter as condições mínimas – uma sala de aula para um grupo de 25 alunos e material didáctico aprovado pelo Instituto de Meios Audiovisuais de Educação. Cada aluno pagava 200 escudos (1 euro) por ano letivo, que serviam para pagar os salários dos monitores e despesas com a compra do televisor e de material diverso.

Qual era a percentagem de alunos a frequentar o ensino básico no tempo da Telescola?

A taxa de escolarização do 2.º ciclo do ensino básico, em 1965, era de 11,8%, segundo os dados do Pordata, nunca tendo atingido os 100% durante a existência da Telescola. Em 1970, apenas 22% da população tinha completado o 5.º e 6.º anos. Em 2003/2004, ano em que o programa terminou, a taxa atingia os 82,5%.

Quantos nomes teve a Telescola?

A Telescola começou como Curso Unificado da Telescola (CUT) e, mais tarde, passou a designar-se de ciclo preparatório TV (CPTV). A partir de 1988, muda para ensino básico mediatizado (EBM), coincidindo com o momento em que as lições passaram a ser gravadas e distribuídas pelos postos. Esta designação manteve-se até ao fim, mas a Telescola passaria por mais alterações. Nos anos 1990, passou a ser também uma alternativa para quem abandonava a escola e para os que já não estavam na idade escolar adequada.

Quais eram as disciplinas da Telescola?

No início, as disciplinas estavam organizadas por áreas de Letras e de Ciências. Os alunos tinham quatro aulas de Língua e História Pátria, quatro lições de Francês, três lições de Matemática e um número igual de aulas em Ciências Geográfico-Naturais. Desenho e Trabalhos Manuais com duas lições, Educação Física e Religião e Moral (uma lição) completavam a carga lectiva de segunda a sexta. Ao sábado, Canto Coral, Religião e Moral, Desenho e Educação Física.


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Fontes consultadas: