Como dar ordens aos animais em línguas diferentes?

Os animais entendem não só as palavras como as entoações que colocamos nessas palavras. É o hábito e o treino que fazem com que obedeçam às nossas ordens. E eles também usam as expressões faciais, a posição das orelhas, o movimento das patas ou as vocalizações para comunicar connosco e com os outros animais. Essa linguagem é universal, ao contrário da língua que nós utilizamos para falar com eles. Tal como um cavalinho sueco ficaria embasbacado ao ouvir um português a gritar upa, upa, também um cão português não entenderia patavina ao ouvir de um holandês a expressão kom kom (vem cá).

Depressa cavalinho!

Dinamarquês hyp-hyp

Holandês hort

Inglês giddy up

Finlandês hep!

Francês hu!

Alemão hueah/hüh

Grego hei-hei!

 

Hebraico hoysa

Húngaro gyi/rá-rá

Italiano vai

Português Arre! /Upa! / Hep! / Anda!

Russo poshlá

Espanhol Arre!

Turco deh!

Para cavalinho!

Dinamarquês prr-prr

Holandês ho!

Inglês whoa!

Finlandês ptruu

Francês ho!

Alemão brr

Grego sh-sh-sh

Húngaro hó!

Italiano piano

Japonês doh doh

Português xô/para/alto

Russo stoy

Espanhol sooo

Sueco prot

Turco brr

Psst-psst bichaninho… 

Dinamarquês kissar-kissar

Holandês poes poes/ps ps ps

Inglês here kitty kitty

Finlandês kis-kis

Francês bi biss

Alemão mietz mietz

Grego ps-ps-ps

Hebraico pss-pss

Húngaro cic-cic

Italiano vieni ricio

Japonês neko chan oide

Português vem cá bichaninho: pssst-psst

Russo ks-ks-ks

Espanhol misu misu/bishito bishito (Mexico)

Sueco kiss-kiss

Turco pissy-pissy

Senta!

Dinamarquês sit

Holandês zit

Inglês sit

Finlandês istu

Francês assis

Alemão sitz

Grego katse!!

Hebraico shev

Húngaro üi/ülj

Italiano siedi

Português senta!

Russo sidét

Espanhol sit/sientate

Sueco sitt

Turco otur

Apanha a bola!

Dinamarquês aport

Holandês raport

Inglês fetch/get

Finlandês hae

Francês va cherche

Alemão hol’s

Grego hup!/piasto!

Hebraico tfos

Húngaro hozd ide

Italiano prendi

Português apanha! Busca!

Russo apórt

Espanhol cogeb

Sueco apport

Turco tut/yeakall

Anda cá!

Dinamarquês kom

Holandês kom kom

Inglês here boy!

Alemão komm hier

Grego ela!

Húngaro hozzám/ide

Italiano qui

Japonês wan chan oide

Português anda cá! Aqui!

Russo syudá

Espanhol tiu

Sueco kom nit

Turco gel/kucu kucu (pron: kucher

Vem cá (galinha)

Alemão put-put

Russo tsip tsip

Vem cá (porco)

Inglês sooie

Húngaro ide

Sueco turre turre

Vem cá (vaca)

Dinamarquês buzo-buzo

Inglês booie

Húngaro ide

Espanhol vacaaa

Sueco kossera kossera kossera mi

Turco gel sari kiz

Xô-xô! |Espantar aves

Dinamarquês vak

Holandês kst

Húngaro hess

Italiano shó

Japonês shi shi

Português Xô! Xô!

Russo kysh

Espanhol ssk/shh/sio

Consulta a tabela original aqui

🐯Queres saber que alcunhas têm os animais em diferentes países? Clica aqui!

🦆Que tal conversar em húngaro com um porquinho ou em italiano com um patudo?

Por que são as conversas dos animais diferentes de país para país?

– O que faz o pato?
-Quá-quá!
– E o gato?
-Miau!
– E o leão, o que faz?
– Grrrr grrrrrr


É isso que aprendemos, ainda antes sequer de começar a soletrar as primeiras palavras. Mas, e se estivéssemos em França, na Rússia ou na Dinamarca, seria igual? Vamos lá separar as águas: os uivos, os latidos, os grunhidos, os balidos ou os zumbidos dos animais são iguais em qualquer parte do mundo, o que muda é a forma como os ouvimos e os reproduzimos.

As onomatopeias (imitação de ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, etc…) são resultados de regras gramaticais e ortográficas de cada país. Muitos termos são inventados para compensar a falta de palavras que descrevam o som.

Derek Abbott, investigador da Universidade de Adelaide, na Austrália, coordenou um inquérito internacional para descobrir como as pessoas imitam os sons que um mesmo animal faz consoante o lugar do planeta. Ao fim de muitas voltas ao planeta, fez imensas descobertas divertidas como estas que se seguem:

Zumbido da abelha

Dinamarquês bzzz

Inglês buzz/bzzz

Finlandês bzz

Francês bzzz

Alemão summ summ

Japonês boon boon

Português Zzzz

Russo zh-zh-zh

Espanhol bzzz

Sueco buzz buzz

Turco vizzz

Grego zoum zoum

Chilrear de passarinho

Inglês cheep cheep/ tweet

Finlandês tsirk/piip

Francês cui cui

Alemão tschiwitt

Grego tsiou tsiou

Húngaro csirip

Italiano chip

Português Piu

Espanhol pío pío

Sueco pip-pip

Turco juyk juyk

Miado de gato

Dinamarquês miav

Holandês miauw

Inglês meow

Francês miaou

Alemão miau

Grego miaou

Hebraico miyau

Húngaro miau

Italiano miau

Japonês nyan nyan/ nyaa nyaa

Português miau

Russo miyau

Sueco mjan mjan

Turco miyav

Cacarejar de galinha

Holandês tok tok

Inglês cluck cluck

Finlandês kot-kot

Francês cotcotcodet

Alemão tock tock

Grego ko ko ko/ka ka ka

Hebraico chuck-chuck

Húngaro kot kot

Italiano coccodé

Japonês ku-ku-ku-ku/ko-ko-ko-ko

Português cacaracacá

Espanhol ko-ko-ko

Sueco caca-racá/cocorocó

Turco ock-ock

Mugido da vaca

Holandês moe/boe

Inglês moo

Finlandês ammuu/möö (bezerro)

Francês meuh

Alemão mmuuh

Grego moo

Húngaro um

Italiano muu

 Japonês mau mau

Português muuuu

Russo mu-u-u

Espanhol muuu/meee

Sueco mu mu

Turco mooo

Zurrar do burro

Holandês i-a

Inglês hee haw/ eeyore

Francês hihan

Alemão iaah iaah

Grego iaa iaa

Hebraico yi-ah

Húngaro iá-iá

Italiano ioh ioh

Português ih hon

Russo ia-ia

Espanhol iha iha/ ji-jo

Turco a-iiii a-iiii

Latido de cão

Dinamarquês vov-vov

Holandês woef woef

Inglês woof woof/ruff ruff

Finlandês vuff

Francês ouah ouah

Alemão wau wau

Grego gav gav

Hebraico woof-woof

Húngaro vau vau

Italiano bau bau

Japonês wan wan

Português au au

Russo hav-hav/ gav-gav

Espanhol guav

Sueco vov-vov/ voff

Turco hauv hauv

 

Grasnar de pato

Dinamarquês rap-rap

Holandês kwak kwak

Inglês quack quack

Finlandês kvak

Francês coin coin

Alemão quack quack

Grego pa-pa-pa

Hebraico quak-quak

Húngaro háp-háp

Italiano qua qua

Japonês ga ga

Português Quá-Quá

Russo krya-krya

Espanhol cua cua

Sueco kvack-kvack

Turco vak va

Balido de ovelha

Dinamarquês mæh

Holandês mè mè

Inglês naa

Finlandês mää

Francês bêê

Alemão maehh maehh

Grego maehehe

Hebraico meh meh

Italiano bee

Japonês me-e me-e

Russo me-e-e

Espanhol beee

Sueco määk määk

Turco me-e-e me-e-e

Húngaro mek-mek

Rugido de leão

Holandês grrrr/grauuw

Inglês raa/grr/roar

Francês raoh

Alemão grr

Grego ah ah/gra gra

Italiano grr/roar

Japonês gaooooo

Russo r-r-r-r

Espanhol grr

Turco uagh

Crocitar do corvo

Dinamarquês kra-kra

Holandês kra-kra

Inglês kaak/caw

Finlandês kraa/vaak

Francês croa croa

Alemão kräh kräh

Grego kra-kra

Italiano cra cra

Japonês kar-kar

Russo kar-kar

Espanhol ah ah

Sueco kra kra

Turco gaak gaak

Hebraico krak-krak

Húngaro kár-kár

Cucar do cuco

Holandês koekoek

Inglês cuckoo

Finlandês kukkuu

Francês coucou

Alemão kuckuck

Hebraico cuckoo

Húngaro kakukk

 Italiano cucú

Japonês kakko-kakko/ tokkyo-kyoka-kyoku (cuco bebé)

Russo ku-ku

Espanhol cu-cu

Sueco ko-ko

Grunhido de porco

Dinamarquês øf-øf

Holandês knor kno

Inglês oink

Finlandês nöff

Francês groin groin

Alemão grunz

Húngaro röf-röf

Italiano oink

Japonês boo boo

Russo hrgu-hrgu

Espanhol oink/oinc

Sueco nöff-nöff

Guincho do rato

Holandês piep piep

Inglês eek

Alemão piep piep

Húngaro cin-cin (pron: tsin-tsin)

Italiano squit

Japonês chu-chu

Russo pi-pi-pi

Espanhol iiik

Sueco pip-pip

Turco viyk viyk

Arrulho do pombo

Inglês coo

Finlandês kurr

Francês rou rou

Alemão guru guru

Grego gru uu

Hebraico woo-woo

Húngaro burukk

Italiano hu hu

Russo guli-gul

Espanhol ruú-ruú/cucurrocu

Sueco oo ho oo ho

Turco gu gu gu guuk

Coaxar do sapo

Dinamarquês kvæk-kvæk

Holandês kwak kwak

Inglês croak/ribbit (EUA)

Finlandês kvaak

Francês croa croa

Alemão quaak quaak

Grego quak-quak

Húngaro bre-ke-ke/kuty kurutty/kurutty (pron: kurutch)

Italiano cra cra

Japonês kero kero

Português coach coach

Russo kva-kva

Espanhol croac croac

Sueco ko ack ack ack

Turco vrak vrak

Piar da coruja

Holandês oe hoe

Inglês twit twoo/hoo hoo/whit woo/terwit terwoo

Finlandês huhuu

Francês hou hou

Alemão uhu/huuh huuh

Húngaro hu

Italiano hu hu

Japonês hoh hoh

Português uuuh uhhh

Russo uh! uh! uh!

Espanhol uhh uhh

Sueco ho-ho

Turco uuu uuu

Sibilar da cobra

Dinamarquês sss

Holandês sss

Inglês sss

Finlandês hiss

Francês sss

Alemão sss

Grego sss

Hebraico psss

Húngaro sz-sz

Italiano hshs

Russo ssss

Espanhol sss

Sueco sss

Turco sss

Uivo do lobo

Dinamarquês oou

Holandês ahoo/hoeea

Inglês owooooo

Finlandês uhuu

Francês ooouh

Alemão huh

Hebraico oou

Italiano huu

Russo uuu

Espanhol auuuh

Sueco oooahh

Turco ooo

Relinchar do cavalo

Holandês hi hi

Inglês wehee

Finlandês iha-haa

Francês hiiiii

Alemão wihiie

Húngaro nyihaha

Italiano hiii

Japonês hihiiiiin

Português Iihhh

Espanhol ihiii

Turco he-he-he-he

2 sugestões do Bicho-que-Morde

Os sons dos animais

Boa parte das espécies de animais emitem sons para comunicar com outros animais da mesma espécie. Por vezes é por causa de disputas territoriais ou por quererem proteger as crias. Mas também há sons usados para acasalar, para assustar os predadores ou avisar os outros que há um perigo por perto. Cada espécie têm a sua linguagem sem a qual não conseguiriam sobreviver. Ouve neste vídeo os sons de animais selvagens como elefantes, lobos, macacos ou animais aquáticos como baleias ou patos.

A biblioteca ruidosa

Queres ouvir os sons que animais de qualquer parte do mundo fazem? Consulta o site da Macaulay Library.

O acervo desta biblioteca americana reúne não só vídeos e fotos como áudios de mais 150 mil sons de animais, que demoraram décadas a recolher. São 8 mil horas de gravações em que é possível ouvir, por exemplo, o som que um polvo emite debaixo de água, o barulho que um filhote de avestruz faz ainda dentro do ovo, bufas de baleias, bramidos de elefantes, chilrear de variadas espécies de pássaros e muitos outros bichos.

O projeto da Universidade Cornell, Estados Unidos, abrange mais de nove mil espécies e é considerado o mais completo arquivo de registos sobre a biodiversidade do planeta. O único desafio é a pesquisa dos nomes dos animais ter de ser feita em inglês, mas com a ajuda de um dicionário, da internet ou dos teus pais, isso não será um problema, pois não?

🐄Não sabes comunicar com uma vaca em finlandês ou com um cavalo em grego? Aprende aqui!

🦆Gostavas de dar ao teu bichinho uma alcunha internacional? Vê aqui os nomes que os diferentes países dão aos animais domésticos.

Raoni. Um guardião da floresta nunca dorme

Raoni

São muitos os perigos a ameaçar a Amazónia e os indígenas, começando na destruição das florestas e acabando na exploração das minas. Raoni tem de viajar pelo mundo à procura de aliados entre os líderes políticos e estrelas da música e do cinema. É assim que ele consegue que os territórios indígenas sejam oficialmente reconhecidos. Mas isso só não chega. A floresta continua em risco e o chefe do povo kayapó sabe que são as crianças que vão salvar a Amazónia.

Raoni Metuktire já não é uma criança. Não é que não possa continuar a correr pela floresta, trepar as árvores ou mergulhar nas cachoeiras da Amazónia, no Brasil. Pode fazer isso tudo e muito mais. Mas, agora que fez 15 anos, passou também a ter obrigações como qualquer outro kayapó adulto.

O momento é tão importante que todos os índios da aldeia Kapôt se juntam para participar na cerimónia. Motibau, o irmão mais velho, entrega-lhe o seu labre, um disco de madeira que terá de usar sobre o lábio inferior. Significa que é um guerreiro. Terá de proteger a floresta de todos os perigos e estar preparado para morrer pela sua terra se preciso for.

_Sabes o que tens a fazer de agora em diante? – Pergunta o irmão.

_Sim, sou um guardião da floresta e do cerrado. Terei de cuidar das tartarugas tracajá, das araras, dos morcegos, dos macacos-aranha, dos macacos zog-zog, dos jacarés-paguá, dos bem-te-vi, dos ipês, do cacau, do açaí, dos…

_ Pronto! É isso mesmo! – Interrompe Motibau, temendo que o irmão caçula ficasse até ao cair da noite a enumerar todos os bichos e plantas que vivem junto das margens do rio Xingu, no coração do Mato Grosso.

E ele seria bem capaz de continuar a lengalenga. Não é por maldade que o irmão o interrompe. No dia seguinte têm todos de acordar muito cedo, arrumar a trouxa e partir rumo a outros lugares do Vale Xingu.

O futuro líder dos kayapó

Raoni
Agência Brasil Fotografias, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

Raoni aprendeu os segredos da natureza a caçar e a viajar pela Amazónia.

Os kayapó são um povo nómada. Ou mais ou menos nómada. Apesar de passarem boa parte do tempo num único lugar, costumam, durante os meses de seca, sair das suas aldeias à procura de alimento nas florestas da Amazónia.

É disso que Raoni mais gosta: caminhar pela floresta de olhos e ouvidos bem abertos, aprendendo a caçar com os mais velhos e descobrindo os segredos da natureza. Ele é um rapazito esperto, já sabe os melhores truques para caçar veados mateiros e antas, pescar pirapitingas e abotoados, recolher mel das abelhas ou apanhar os babaçus pendurados nas palmeiras silvestres.

Tanta sabedoria juntou que, anos mais tarde, foi eleito líder da aldeia. Raoni faz de tudo para o seu povo continuar com as suas vidas, mantendo os hábitos e as tradições herdadas dos antepassados.

A tarefa nem sempre é fácil. Volta e meia, os kayapó ouvem falar de ataques dos kuben, ou seja, dos brancos como são chamados na língua deles. Se antigamente, durante o século XIX, os «civilizados» capturavam os indígenas para vendê-los como escravos, no século seguinte ocuparam as suas terras trazendo muitas vezes doenças e epidemias mortais.

Os índios da aldeia Kapôt estão, por isso, sempre em vigilância máxima, apesar de, até meados dos anos 1950, nunca se terem cruzado com nenhum branco. Desgraçado daquele que se aproximar deles, mesmo os bem-intencionados como Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas.

Os primeiros aliados do povo kayapó

Raoni

Leonardo, Orlando e Cláudio tiveram de penar bastante antes de conquistar a confiança dos índios.

Os três irmãos de São Paulo já andam há uns bons anos por aquelas bandas a chefiar uma expedição lançada pelo presidente do Brasil Getúlio Vargas. O objetivo da campanha, conhecida como Roncador-Xingu, é conquistar novos territórios, desbravando florestas, ocupando terras e construindo cidades e vilas em lugares que nem sequer estão marcados no mapa.

Assim que os kayapó os veem a rondar a aldeia, cercam-nos. Apontam as flechas e mostram caras feias para os assustar. Orlando, Cláudio e Leonardo já desconfiavam que não seriam bem-recebidos, tal era a má fama dos brancos entre os povos indígenas.

Tiram das mochilas alguns presentes, esperando apaziguar a ira dos índios, mas cometem um terrível erro. As ofertas são só para os homens e os kayapó acham de um tremendo mau gosto não se terem lembrado das suas mulheres.

Levados para a aldeia ficam vários dias presos, mas a pouco e pouco conquistam a confiança de Raoni. Os Villas-Bôas não são como uma boa parte dos «civilizados». Não se acham superiores só por serem brancos ou por viverem nas grandes cidades. Ao contrário, estão convencidos de que ninguém tem o direito de expulsar os indígenas das suas terras e muito menos impingir diferentes modos de vida.

Se esta expedição não se transforma numa campanha militar violenta muito se deve a eles. Até aos dias de hoje, são vistos como os principais líderes de uma das mais importantes missões para defender a diversidade dos povos indígenas. O trabalho deles mostrou também a boa parte do mundo que os índios, afinal, não são um bando de selvagens, mas gente com culturas e organizações sociais próprias.

Foi com eles, aliás, que durante mais de um ano Raoni aprendeu a falar a língua portuguesa e a descobrir o que havia para lá da sua aldeia. Cedo, o chefe dos kayapó percebeu que os brancos não iam desaparecer num estalar de dedos. Conhecê-los seria, portanto, a melhor arma para proteger o seu povo. E os Villas-Bôas os seus melhores aliados, pensou ele. Pensou bem.

Os três irmãos não só são responsáveis por conduzir a fundação de dezenas de cidades e vilas no norte do Mato Grosso, como também por criar o Parque Nacional do Xingu, a primeira terra indígena oficial do Brasil.

A reserva é criada em 1961 para proteger a cultura de mais de seis mil índios de várias etnias e impedir que os forasteiros avancem para as suas terras. Objetivo esse que, com o passar dos anos, vai ficando mais e mais difícil de cumprir.

O parque natural na Amazónia reconhece o território dos índios, mas as terras são demasiado ricas para manter afastados os intrusos, atraídos pela quantidade de madeira preciosa e pelas minas ricas em minérios. Nas décadas seguintes, os índios bem tentam travar a invasão, mas perdem terreno a cada dia que passa.

Raoni e o seu povo sentem-se sozinhos a lutar contra o resto do mundo. As terras dos kayapó estão na mira dos garimpeiros e nem os irmãos Villas-Bôas conseguem impedir as guerras das armas de fogo contra as flechas.

Nariz de faca ou segundo cúmplice de Raoni

Raoni
Comité Europeu das Regiões, CC BY-NC-SA 2.0, via Wikimedia Commons

O cineasta belga Jean Pierre Dutilleux leva para o cinema a causa do povo kayapó.

Tudo o que os índios precisam agora é de um outro cúmplice com poder de mostrar ao mundo o que está a acontecer com os povos indígenas da Amazónia. Quem sabe se esse alguém não é Jean Pierre Dutilleux?

A princípio, o líder dos kayapó desconfia quando o cineasta belga aparece do nada na aldeia Kapôt. Mas depois, quando o «nariz de faca» – alcunha que Raoni lhe deu – propõe fazer um filme documentário sobre ele, percebe que aquela seria a melhor hipótese para conter o avanço dos madeireiros e garimpeiros.

“Raoni: A Luta pela Amazónia” é um sucesso ao ser apresentado no festival de Cannes em 1977, mas torna-se um êxito ainda maior depois de Jean Pierre convidar Marlon Brando, um dos atores mais populares nessa altura, para narrar a versão inglesa do filme.

A angústia dos indígenas da América do Sul corre mundo e Raoni é agora um índio famoso. O governo do Brasil já não pode fingir que ele não existe, tal é a pressão dos outros países para devolver a terra dos indígenas aos indígenas.

É preciso aproveitar a fama para continuar a luta. Raoni já tem o Jean Pierre ao seu lado, mas o documentário chama também a atenção de um outro amigo ainda mais famoso do que ele. Sting, que nos finais dos anos 90, é uma daquelas estrelas britânicas da pop com milhares de fãs em todo o mundo, junta-se aos dois numa tournée pela Europa e alguns países da Ásia.

E só faltava uma estrela pop…

Gert-Peter Bruch, CC BY-SA 3.0

Sting junta-se a Raoni numa tournée pelo mundo para denunciar a destruição na Amazónia.

O índio Raoni deixa a selva e vai viajar pelo Japão, França, Noruega ou Suíça, regressando a casa com uma mão cheia de triunfos. Oito países doam alguns milhões para ele lutar pela demarcação das terras indígenas. O reconhecimento chega em 1993 num bocado de papel, ampliando o Parque Nacional Xingu de 12 mil km2 para 180 mil km2, o que corresponde mais ou menos a um terço do território de França.

Nos anos seguintes, o chefe dos kayapó consegue ainda fundos para criar o Instituto Raoni com a missão de proteger o seu povo e a sua cultura. E obtém ainda o apoio do G7 – grupo dos sete países mais ricos do mundo – para demarcar outras reservas indígenas no Brasil.

Muitos são os que agora se juntam a ele e à causa dos índios, desde o presidente francês François Miterand e, mais tarde o seu sucessor, Jacques Chirac, até ao rei de Espanha, Juan Carlos, passando pelo príncipe de Gales, Charles, ou ainda pelo Papa João Paulo II.

Ainda assim não chegam para acabar com todas as ameaças. A central hidroelétrica de Belo Monte, no estado do Pará, é o perigo mais antigo e mais persistente que volta e meia regressa para desassossegar a vida dos indígenas no Brasil. Desde meados dos anos 1970 que o governo brasileiro tenta construir a terceira maior barragem do mundo no rio Xingu.

Nos planos iniciais, mais de 40 mil hectares de floresta seriam inundados. Os ambientalistas dizem que a construção da barragem irá provocar estragos irreparáveis na natureza e obrigar pelo menos 20 mil pessoas a sair das suas terras.

O governo brasileiro, por outro lado, diz que esta é uma das obras mais importantes para a economia do país que irá fornecer energia a milhões e milhões de habitantes.

Os projetos entretanto já foram interrompidos e remodelados várias vezes depois de protestos dos índios, críticas de organizações internacionais como o Banco Mundial e as Nações Unidas ou tomadas de posição públicas de estrelas de Hollywood como o realizador James Cameron ou os atores Sigourney Weaver e Joel David Moore.

Apesar de tanta a discórdia, uma parte da hidroelétrica de Belo Monte é inaugurada em maio de 2016 e o seu funcionamento em pleno aconteceu em 2019. A área ocupada pela central tem agora menos 60% do que a prevista no projeto original para assegurar que nenhuma aldeia indígena fosse inundada.

A mudança de planos do governo deveria tranquilizar Raoni, mas ele está longe de se sentir sossegado. Talvez porque passou tantos anos a tentar ser ouvido pelos governantes e, muitas vezes, foi ignorado. Ou talvez porque o desmatamento, a exploração das minas e das madeiras continuam ainda a pôr em perigo a vida das comunidades indígenas e a sobrevivência da floresta amazónica.

Por tudo isso, ele não desiste, embora saiba que a sua missão irá continuar na geração seguinte.

Raoni tem oitenta e muitos anos – nunca soube a data certa em que nasceu – e entregou a liderança do seu povo a Megaron Txucarramãe. Hoje, ele está mais empenhado do que nunca em ensinar as crianças da aldeia a serem guerreiras.

_ Vocês sabem o que significa a vossa missão? – Pergunta ele aos miúdos.

_ Sim – respondem as crianças num coro bem afinado – temos de proteger as plantinhas, os peixinhos, os frutos, as abelhas, os sucuris, as pererecas, a onça-pintada, os tucanos, as araras…

_ Isso mesmo!  – Interrompe Raoni – Essa é a missão dos kayapó!

🐢A propósito de guardiães da Natureza, aqui fica mais uma sugestão de leitura imperdível! 

Fontes Consultadas: Povos Indígenas no Brasil |raoni.com | Wikipédia (1) | Wikipédia (2) |The Guardian | Indígenas do Brasil |Indigenous Leaders Wiki |

Karl von Firsch ensinou-nos a dança das abelhas

Todos os anos há novas experiências a demostrar as espantosas habilidades das abelhas. Mas nada supera a descoberta que Karl von Firsch fez no início da década de 1940. O zoólogo austro-alemão mostrou-nos o que esconde a dança frenética destes grandes polinizadores. Preparem-se para ficarem boquiabertos. Por detrás da sua coreografia a indicar onde se esconde a comida, há fórmulas matemáticas e princípios de astronomia que os cientistas julgavam ser capacidades exclusivas dos humanos.

Uma manhã com sol e poucas nuvens é um dia perfeito para Karl von Firsch iniciar a sua grande investigação. Ele colocou uma tigela de vidro cheia de água açucarada sobre a mesa do jardim. E esperou até surgir a primeira abelha gulosa, que, de imediato, levou com uma pincelada de guache vermelho junto à cabeça. Lá foi ela saciada e a zumbir de alegria por entre a vegetação. Horas depois, vieram as suas companheiras cheias de apetite, mergulhando as patinhas na piscina adocicada.

Como Firsch sabia que o olfato das abelhas só deteta o néctar das flores, logo concluiu que a amiga pintalgada partilhou com elas o segredo. Mas como conseguiram adivinhar sozinhas o caminho? Para encontrar a resposta era preciso tornar a tarefa delas um pouco mais difícil.

Todos os dias, o zoólogo afastou a tigela com a água açucarada mais e mais, chegando a colocá-la a quase três quilómetros de distância da colmeia.

🌹 E não é que, mesmo assim, as abelhas acabavam sempre por descobrir onde estava a guloseima?

_ A resposta só pode estar dentro da colmeia – pensou ele, levantando um dos tabuleiros para coscuvilhar as conversas entre elas.

A abelha pintalgada deu logo nas vistas. Era ela que se destacava do enxame, exibindo uma dança circular em sucessões de oitos, que as restantes companheiras seguiam com muita atenção. Karl sacou do bloco de notas para desenhar todos os seus movimentos, com ajuda de setinhas, retas e tracejados. E voltou várias vezes, ao longo dos meses seguintes, até descodificar, finalmente, que mensagem estava a sua abelha a transmitir às companheiras.

Karl von Firsch

O que ele descobriu, no início da década de 1940, deixou o mundo estupefacto. A dança das abelhas é uma equação matemática orientada por princípios da astronomia. Os movimentos, combinados com noções precisas de tempo e distância, fornecem à comunidade das abelhas informações sobre onde estão os alimentos. A abelha com a pintinha vermelha usou o ângulo do sol, não só indicando a localização da tigela, como mostrando também o caminho exato para lá chegar.

 🐝Quando ela dançava para cima, significa que deveriam voar em direção do sol.

🐝 Os movimentos para baixo queriam dizer para se afastarem do sol.

O percurso era sempre circular e feito aos ziguezagues à volta de um ponto inicial. Também isso tem uma explicação. A inclinação do dorso da abelha da esquerda para a direita mostra as coordenadas exatas da comida, por vezes, com indicação dos quilómetros a percorrer e o tempo necessário, tendo até em conta a velocidade do vento. E quanto mais rápido for o movimento do corpo, mais distante está a comida.

Uma vez que as colmeias têm dezenas de milhares de abelhas, a mensagem só passa quando as operárias imitam esse movimento, transmitindo a informação para a restante comunidade.

🌻 E é assim que todas elas têm direito ao seu quinhão de felicidade.

Karl von Firsch observou que o ritual se repete em qualquer altura do ano e é usado por abelhas-europeias (Apis mellifera) em todos os continentes. Desde a sua experiência, muitas outras descobertas espantosas já foram feitas. O seu discípulo, Martin Lindauer, descobriu, por exemplo, que as decisões das abelhas sobre para onde imigrar no inverno são tomadas em assembleias-gerais. E que os enxames são capazes até de aquecer ou refrescar as colmeias coordenando o batimento das asas.

Karl von Firsch

Mais recentemente, cientistas brasileiros e australianos ensinaram as abelhas a associar informação sobre a localização de alimentos a símbolos e cores – habilidade que até há pouco tempo se acreditava ser exclusiva de humanos, macacos e outras espécies com grandes cérebros. Mas o cérebro da abelha, esse, tem o tamanho de uma semente de sésamo com menos de um milhão de neurónios (o humano tem 86 mil milhões).

Tudo o que se tem vindo a descobrir sobre as abelhas é impressionante, ninguém poderá dizer o contrário. Mas, até agora, nada supera a descoberta feita por Karl von Firsch. Além de cruciais para a sobrevivência do planeta, quem diria que elas são também grandes cromos da Matemática?! 

Karl von Firsch

FICHA BIOGRÁFICA

Nome completo: Karl Ritter von Frisch

Nasceu em: Viena (Áustria) a 20 de novembro de 1886.

Morreu em: Munique (Alemanha) a 12 de junho de 1982.

Outras descobertas importantes: os seus estudos permitiram perceber como as abelhas-rainhas usam feromonas para atrair os zangões apenas quando estão ao ar livre. Dentro das colmeias, os machos não são afetados pelo odor delas para não destabilizar uma ordem social muito complexa. Firsch também demonstrou que os peixes distinguem variações de brilho e de cor, provando igualmente que a sua audição é mais aguçada do que a dos humanos.

Prémios: ganhou o Nobel de Fisiologia, em 1973, partilhado com Konrad Lorenz e Tinbergen Nikolaas.

Descobre mais sobre o mundo dos insetos aqui e/ou aqui.

Fontes consultadas: CULTURE & SOCIETY – History of Science | El Pais | Pesquisa FAPESP

Por que é o inútil, afinal, útil?

Inútil

Velho, estragado, esquecido, feio, insignificante ou inútil são etiquetas coladas em coisas, conceitos, animais, plantas e até mesmo em pessoas. Mas quem se agarra aos rótulos não vê mais além. Muito daquilo que, à primeira vista, não serve para nada, acaba mais tarde ou mais cedo por se revelar precioso. Tantos são os exemplos do dia a dia, que o Bicho-Que-Morde fez um dicionário para a Enciclopédia dos Porquês, mostrando como é um desperdício não dar importância ao que parece não ter importância.

O DICIONÁRIO DAS COISAS (IN) ÚTEIS

inútil

Aa

Arte
Desarruma a ordem das coisas para mostrar as infinitas possibilidades de ver o mundo. Cubos são caras, orelhas são esconderijos e lagartixas cheiram a areia. Não precisa de porquê nem tão pouco de para quê.

Bb

BOLOTA
É boa para fazer bolachas, café, licores e muitas mais iguarias, mas ainda há quem julgue que só serve para alimentar os porcos. A bolota matou muita fome na Primeira Guerra Mundial, mas ficou ligada aos tempos de miséria e ninguém mais se lembrou dela. Até se descobrir – muito recentemente – que ela tem poder antioxidante capaz de atrasar o envelhecimento das células e proteger-nos de doenças. E ainda uma gordura tão boa como a do azeite.

Cc

CHULÉ
Se a ideia é afastar toda a gente, deixar um pé malcheiroso fazer o seu trabalho é infalível. Essa é uma função, mas não a mais importante. Alertar para cuidar melhor da higiene dos pés é a principal utilidade. Secar bem entre os dedos após o banho, evitar meias de tecido sintético ou deixar os sapatos em lugares ventilados são algumas regras básicas. O mau cheiro acontece porque fungos e bactérias têm nos pés as condições ideais para serem felizes. Calor, humidade e escuridão é a combinação perfeita para libertar um pivete que ninguém aguenta.

Dd

DANIFICADO
Um pneu roto transforma-se numa sola de sapato, uma roda de bicicleta torta num candeeiro de teto e uma panela furada num vaso de jardim. A reciclagem é a segunda oportunidade dos objetos danificados. Ganham vidas atrás de vidas, como os gatos que aprendem a fintar a morte.

Ee

Erro
Com a professora e a turma inteira à espera da resposta certa, qual é o aluno que não tem medo de errar? Tanta é a vergonha e tanto é o receio que o difícil é lembrar qual a utilidade do erro. E é tão simples: serve para aprender e, melhor ainda, para acertar numa próxima vez.

Inútil

Ff

FERRUGEM
Limão, lubrificantes, lixa ou verniz, há dezenas de truques para remover a ferrugem. Qual é então a sua função se toda agente quer se livrar dela? Os japoneses têm uma resposta. Sabi, a palavra que eles usam para designar ferrugem, também significa a beleza das marcas deixadas nos objetos pela passagem do tempo. Os vestígios têm diferentes formas nas coisas, nos lugares e nas pessoas: fissuras nas paredes, ervas entre as pedras, ferrugem nas dobradiças ou rugas na pele são histórias à espera que alguém as descubra.

Gg

GASTO
Gastou-se de tanto usar…

Hh

HORROR
Casas assombradas, bruxas e monstros metem tanto medo e ainda assim queremos saber mais sobre eles. Mesmo que depois falte a coragem para desligar a luz a meio da noite. O fascínio pelo horror é tão intrigante que os psicólogos procuraram saber para que serve. Descobriram, então, que é um treino para reagir a situações que nunca conseguiríamos enfrentar. E serve ainda para deitar cá para fora os nossos temores. Não há coisa pior do que deixar o medo crescer dentro de nós.

Ii

INVISÍVEL
Ao desmontar um relógio, descobre-se a mecânica que faz girar os ponteiros. Engrenagens, rodas dentadas, molas e parafusos são tão minúsculos que só os relojoeiros com uma lupa no olho conseguem observar. Procurar o que faz funcionar as máquinas, as luzes ou os botões é ver que, sem as peças invisíveis, nada funciona.

Jj

Jumento

Não é elegante como o cavalo ou rápido como um camião de carga. Só por isso, quase o condenaram à extinção. Como se não tivesse lugar neste mundo sem paciência para ver que o jumento respeita os ritmos de todos. Tanto assim é que foi ele que inventou a melhor terapia  que se conhece. A asinoterapia ajuda crianças com deficiência ou velhotes de bengala a serem mais ágeis ou a descobrirem o poder dos afetos. De burro ou de asno, o jumento nada tem.

 Inútil
Ll

LENTO
Uma tartaruga precisa de 10 minutos para percorrer 50 metros, uma perna de borrego só fica bem assada ao fim de duas horas no forno, os botões de rosa levam até cinco dias a desabrocharem e Fernando Pessoa demorou vinte anos a escrever «O Livro do Desassossego» e, ainda assim, ficou incompleto. Velocidades há aos milhares e cada uma delas faz avançar o mundo.

Mm

MOSCA
Ninguém pede para se gostar de criaturas irritantes, causadoras de doenças e repulsivas. Apenas para reconhecer o mérito, quando for caso disso. Há milhares de espécies, todas com uma função. As polinizadoras, por exemplo, são tão úteis como as abelhas, as moscas-da-fruta são velhas aliadas na investigação dos cientistas sobre os nossos genes. E as varejeiras são autênticos detetives ao revelarem, através do que comem, a hora, o lugar e como uma vítima morreu.

Nn

NADA
Construir a partir do nada.

Oo

ÓCIO
Nada para fazer é liberdade para fazer tudo o que se quiser.

Pp

PARASITA
Cães e pulgas, trigo e joio, crianças e lombrigas estão sempre às turras. O parasita suga a energia do hospedeiro e, por isso, não podem ser amigos. Quando um é derrotado, o outro arranja maneira de dar volta para atacar ou defender-se. Ora ganha um ora ganha outro. No fim, vence o hospedeiro que, à conta do parasita, vai ficando cada vez mais forte.

INÚTIL
Qq

Queimado
Há sempre alguém que gosta do bocado que ficou esturricado. Não é de propósito. Aconteceu porque o tempo foi mal calculado e para a próxima já será diferente. Ou então porque o cozinheiro se distraiu à conversa, na leitura de um livro ou a contar as estrelas. Tempo bem passado, portanto.

Rr

Ruínas
Abandonado há tanto tempo que agora é um abrigo de gatinhos.

Ss

Supérfluo
O que é supérfluo pode ser dispensado? Tentem dizer isso a um colecionador de pedrinhas coloridas. O que é insignificante para uns é essencial para outros.

Tt

Tolos
Nikola Tesla descobriu coisas espantosas, mas, durante muitos anos, quase ninguém o levou a sério. Não só por acreditar em vida extraterrestre como por invejas ou por ter algumas manias esquisitas. Hoje é um dos maiores inventores da nossa História, embora muita gente nunca tenha ouvido falar dele. Inventou desde a corrente alternada até bobinas, velas de ignição ou raios violetas. Foi ainda o precursor das redes sem fio e o primeiro a investigar maneiras de tirar partido da energia do sol e do mar. É bom lembrar os grandes nomes da história sempre que alguém disser que este ou aquele é um tolinho que não vai a lugar nenhum.

Uu

Urtigas
Pica e queima assim que lhes pomos a mão em cima e, talvez por isso, a tenham maltratado, dizendo que são uma praga dos campos. Felizmente, houve quem nunca desistisse delas. Ultrapassada a resistência inicial, elas dão tudo o que têm: sementes, raízes, caule, folhas e flores são aproveitados para tratar artrite, infeções urinárias, asma, acne, problemas digestivos, dores, caspa ou queda de cabelo. Têm vitaminas e minerais com fartura e os primeiros a descobrir a sua riqueza foram os escoceses, que adoram cozinhá-las. 

inúteis
Vv

Verruga
Uma verruga no nariz de uma bruxa não é lá muito bonita de se ver, mas então e o famoso sinalzinho da Marlin Monroe? Madonna, dizem as más-línguas, tem uma pinta falsa só porque é sexy. O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem uma verdadeira, junto ao nariz.

Xx

Xixi
Aprendemos na escola que, ao fazer xixi, eliminamos tudo o que faz mal ao organismo. O que agora estamos a descobrir também é que não será boa ideia desperdiçá-lo pela sanita abaixo. Há uns anos, por exemplo, os investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro concluíram que o uso de urina de vaca na fertilização dos solos agrícolas é rico em nutrientes e tem um efeito inseticida e fungicida. Mas já os romanos, na Antiguidade, usavam o xixi para obter romãs gigantes e sumarentas. 

Zz

Zarolho
Quem fica sem um olho, vê a dobrar pelo outro. Quem não tem a vista, vê com o ouvido. Quem perde um dos sentidos, ganha outro a seguir.

🤥 Queres saber por que, muitas vezes, deixamos escapar o que o está à frente do nariz? Clica aqui, por favor.

Quanto tempo demora o silêncio a ficar incómodo?

Incómodo

Não é preciso um cronómetro para medir a duração das falas e das pausas trocadas entre amigos ou colegas. Mas, quando esses intervalos são prolongados, ficamos irrequietos, sem saber muito bem porquê. Quanto tempo dura o silêncio antes de se tornar incómodo? A pergunta tem muitas respostas, tantas como as culturas.

Para um espanhol, bastam um ou dois segundos, concluiu Michael Handford, professor de Linguística na Universidade de Tóquio. Os anglo-saxónicos aguentam entre três e quatro segundos e os japoneses conseguem ficar 5 a 6 segundos sem dizer uma palavra.

Haru Yamada, professora de Linguística na Universidade de Westminster, em Londres, acrescenta que, em conversas e reuniões de negócios, os japoneses chegam a ficar 8,2 segundos sem falar, o que é praticamente o dobro dos americanos. Outras experiências conduzidas na Universidade de Groningen, Holanda, mostraram ainda que, entre os falantes de inglês e de holandês, o silêncio, quando dura mais do que 4 segundos, deixa as pessoas inquietas.

Oriente versus Ocidente

silêncio incómodo

As pausas, para os orientais, são mais importantes do que as palavras. Os ocidentais preferem conversas aceleradas e silêncios curtos.

São estudos suficientes para começar a perceber que os povos têm vários entendimentos sobre este assunto. Isso tem muito a ver com a forma como cada cultura lida com o silêncio. As diferenças são mais acentuadas à medida que as distâncias cultural e geográfica aumentam.

Nas sociedades orientais, as pausas importam mais do que as palavras, conta Adam Jaworski, no livro «O Poder do Silêncio». Justamente o contrário do que acontece nas culturas ocidentais, em que as pessoas se sentem confortáveis quando as conversas decorrem num ritmo acelerado e as pausas são curtas, explica o sociolinguista da Universidade de Hong Kong.

No Japão, por exemplo, haregei é o conceito usado para reconhecer que a melhor forma de comunicar é estar calado.

A cultura japonesa entende que as palavras só são necessárias quando tudo o resto falha e é urgente resolver um problema de comunicação. O silêncio para os orientais é encarado como positivo, enquanto os ocidentais o associam a atitudes negativas. Não será por acaso que os habitantes deste lado do mundo vêem os habitantes do outro lado do mundo como reservados e tristonhos.

Mas isso também acontece entre povos do mesmo continente. As pessoas do Norte da Europa são geralmente vistas pelos países do Sul como frias e caladas. Em contrapartida, há aquela ideia de que as gentes do Sul – italianos, espanhóis ou gregos -, são alegres e barulhentas, falando alto, interrompendo-se uns aos outros ou conversando sem quase dar espaço ao silêncio.

Esses preconceitos têm afinal raízes no silêncio, explica Maria Sifianou no seu livro «Cortesias Linguísticas através das Fronteiras». O cliché atribuído aos povos do Mediterrâneo tem muito a ver com a sua pouca disposição para aguentar o silêncio, diz a professora de Linguística na Universidade de Atenas.

No sentido oposto, o silêncio e o respeito pela privacidade dos outros são caraterísticas vincadas entre os finlandeses, explica Michael Berry, investigador na Universidade de Turku, na Finlândia. Os habitantes da Finlândia não gostam de conversas velozes e encaram as pausas como uma parte importante da comunicação.

Viver no extremo Norte do continente europeu explica, em parte, esse seu feitio fechado, muitas vezes refletido nos ditados populares:

«Ouve muito e fala pouco» ou «Uma palavra é o suficiente para provocar muitos estragos».

Este é o povo menos falador da Europa, dizem os investigadores finlandeses Jaakko Lehtonen e Kari Sajavaara no artigo «O Silêncio Finlandês Revisitado». Mas não é o caso mais extremo entre os ocidentais. Werner Enninger, autor do livro «Silêncio(s) através das Culturas», descobriu que o povo Amish da Velha Ordem tem uma capacidade extraordinária para lidar com o silêncio. Numa conversa de 60 minutos entre os membros desta comunidade, o investigador da Universidade de Essen contou 85 pausas entre as frases, que variaram entre 5 e 55 segundos.

As grandes diferenças entre os tempos mostram que eles não têm propriamente regras sobre o uso e a duração dos silêncios numa conversa. Depende das circunstâncias e da vontade de cada um e não de uma norma implícita como acontece em outras culturas.

A viver nos Estados Unidos e também no Canadá, este grupo religioso não podia ser mais diferente dos restantes americanos, que estão entre os povos que menos tempo consegue ficar de boca fechada. Eles gostam de falar, de interromper e, regra geral, sempre que suspeitam que vem aí uma quebra na conversa, desatam a fazer perguntas para não dar sequer espaço àquele incómodo que surge por já não haver mais assunto.

Meio segundo para estragar uma amizade

silêncio incómodo

Tudo pode correr mal entre um americano e um habitante do interior do Alasca. O primeiro fala pelos cotovelos e o segundo conversa com calma.

Essa ânsia de falar dos americanos poderia causar muitos estragos se estivessem a conversar com um japonês ou um coreano, que tanto prezam o silêncio. Mas nem é preciso ir tão longe. Basta colocá-lo na mesma sala com um atabascano, um nativo do interior do Alasca, para o encontro resultar num desastre, avisa Wegner Enninger. Só porque um está habituado a conversar pausadamente e o outro fala que se desunha.

Se o americano for o primeiro a iniciar a conversa, ficará à espera que o atabascano tome a palavra assim que fizer a primeira pausa. Em vez disso, o atabascano não reage logo e o outro retoma a conversa, pensando que ele não quer falar. O atabascano por delicadeza não interrompe, mas ambos estão irritados.

_ «Este só se importa em impor o seu ponto de vista», pensa o atabascano.

_ «A conversa não lhe interessa ou ele não é capaz de entender o que eu digo?», – pensa, por sua vez, o americano.

E vão os dois para casa, cada um estendendo essa má impressão a todo o povo que os representa.

Se for o atabascano a iniciar a conversa, o desfecho não é muito diferente.

A primeira pausa, que serve apenas ele para ganhar balanço antes de prosseguir, é entendida pelo americano como uma oportunidade para falar, deixando o outro abespinhado por ter sido interrompido.

No final, o americano acaba o encontro com a sensação de que o atabascano não consegue articular duas frases seguidas e o atabascano fica frustrado por ter sido interrompido. Mais uma vez, está o caldo entornado, quando apenas bastaria ao americano esperar ou então ao atabascano antecipar pouco mais de meio segundo entre as pausas da conversa para ficarem bons amigos.

Tempo para ouvir, pensar e falar

silêncio incómodo

O silêncio faz a ligação entre as conversas, dando tempo para refletir. Falar sem pensar só aumenta a probabilidade de dizer disparates.

Embora as características culturais façam muita diferença, o certo é que, mesmo entre os povos mais calados, o silêncio, mais cedo ou mais tarde, incomoda. As conversas quando têm troca de palavras constantes criam uma sensação de conforto, concluiu o estudo da universidade holandesa.

As pessoas sentem que os outros o compreendem, que são aceites e em muitos casos até concordam com elas. O silêncio, ao perturbar o ritmo da conversa, desperta sentimentos de rejeição. O mesmo já não acontece tanto entre amigos muito próximos ou entre família, pois já sabemos que eles gostam de nós e sentimo-nos como em casa.

Essa insegurança, no entanto, nada tem a ver com falta de carinho na infância ou outros problemas graves de autoestima. Somos assim há muito tempo, avisam os investigadores, e esse receio de sermos rejeitados é uma resposta evolutiva que surgiu nos primórdios da existência humana, quando a sobrevivência dependia de pertencer ou não a um grupo.

Essa desconfiança é um vestígio do passado, mas não é um grande drama.

Até porque o silêncio é, afinal, o que permite fazer a ligação entre as conversas e, principalmente, dar tempo para pensar no que os outros dizem e no que vamos dizer a seguir. Falar sem pensar, aliás, só aumenta a probabilidade de dizer disparates.

E é também muito importante não esquecer que cada um tem uma forma especial de comunicar. Uns são mais  extrovertidos, fazendo pausas curtas e outros mais tímidos, prolongando os silêncios. Uns gostam mais de ouvir e outros gostam mais de falar. Ao percebermos como somos e como são os outros, conseguimos entender e respeitar melhor uns aos outros. Parece simples, não é? Mas falar é fácil…

 🤫Se é de silêncio que estás a precisar, este artigo é para ti: Quanto barulho há no silêncio?

 

Grigori Perelman. O rezingão descobriu a fórmula do Universo

Grigori Perelman

Há sete enigmas da Matemática que ninguém consegue decifrar. Ninguém; ponto e vírgula! A conjetura de Poincaré é, até agora, o único que foi resolvido pelo russo Grigori Perelman. Vale a pena, por isso, conhecer este génio da matemática. Mas cuidado com as expetativas. Despenteado, rezingão e maltrapilho, ele recusou prémios milionários, cargos, honras e sumiu do mapa. Para perceber a razão do seu mau feitio é só seguir o rasto dele até São Petersburgo, na Rússia.

Encafuado em casa, Grigori Perelman está tão concentrado a testar as teorias dele, que até se esquece de tomar banho, cortar a barba, as unhas e o cabelo. Pior ainda, passa dias a fio sem comer uma única refeição de jeito. Muitas vezes, quando o estômago ronca, despacha uma sandes de queijo, bebe um copo de leite e já está. Nem fruta, nem sopa, nada.

A criatura só tem cabeça para uma única pergunta: qual é a solução para o enigma que Jules Henri Poincaré [1] lançou há 100 anos? O matemático francês que anda a tirar o sono ao matemático russo estimou, em 1902, que qualquer superfície sem furos e com três dimensões pode ser transformada numa esfera. Os cientistas que vieram depois concordam com ele, mas ainda ninguém conseguiu demonstrar que estava certo.

Na Matemática, as coisas funcionam mesmo assim: pode-se ter muita certeza do que se está a dizer, mas se não se conseguir provar, nada feito. O máximo que pode acontecer é classificarem a teoria de «conjetura», se ela for demonstrável pela lógica, e usar  outros «teoremas» para, por fim, prová-la como verdadeira.

Grigori Perelman acredita que pode vir fazer isso, tal como muito outros matamáticos a trabalhar em várias partes do mundo. Ele não é o único nem tão pouco o primeiro a tentar. Muitos passam também noites e dias a rabiscar fórmulas, cálculos e equações sem chegarem a lado nenhum. O desafio é tão complicado que a Conjetura de Poincaré [2] é um dos sete problemas matemáticos mais difíceis de sempre [3]. Até há uma fundação privada em Cambridge, o Instituto de Matemática Clay, disposta a oferecer um prémio de 1 milhão de dólares ao génio que conseguir resolver algum deles.

Grigori Perelman leva sete anos a desvendar o mistério, mas, em vez de publicar o resultado numa revista científica, como fazem os ilustres cientistas, despeja todo o trabalho num site criado especialmente para os especialistas da matéria avaliarem o trabalho de outros colegas. Nas grandes universidades da Europa, da Ásia e dos Estados Unidos, uma parte dos investigadores acha estranho e comenta o caso nos corredores:

– O Perelman devia ter seguido os procedimentos normais –, criticam os académicos –, afinal, ele já é um cromo da Matemática [4] e aquele site é apenas para os que estão em início de carreira. Grigori está-se nas tintas para esse tipo de cerimónias. O que ele quer é que qualquer colega, novato ou experiente, examine o trabalho e tente encontrar erros, falhas ou esquecimentos. E, se nada encontrarem, então que deixem as formalidades de lado e anunciem o fim do mistério.

Foram precisos quatro anos para chegar o primeiro reconhecimento.

Em 2006, é-lhe atribuída Medalha Fields, considerado o Nobel da Matemática. Só que ele recusa. Sem qualquer explicação. É o primeiro a rejeitar o prémio desde que a distinção foi criada em 1935. Toda a gente fica boquiaberta, mas mais pasmada fica quando, quatro anos mais tarde, Grigori, com 43 anos, não aceita também o prémio de 1 milhão de dólares do Instituto de Matemática Clay.

Querem todos saber o que se passa com o homem. Para quê tanto esforço em descodificar um dos maiores desafios da matemática moderna e depois não ligar nenhuma à proeza? Jornalistas das televisões, dos jornais e das rádios fazem esperas à porta da casa dele, tentam contactá-lo por telefone, por email e nem um pio dele se ouve. Grigori Perelman não sai do apartamento, a não ser em escapadelas solitárias para apanhar cogumelos nos bosques, um velho hábito que nunca largou. Se calhar, são esquisitices de génios, de tão brilhantes que são, acabam cheios de manias.

A armadura do matemático

Grigori Perelman

O matemático russo pouco ou nada liga aos comentários. Eles que falem até a poeira assentar. Parece que Grigori Perelman não precisa de ninguém. Se calhar, julga-se melhor do que os outros. Engano puro. Debaixo da carapaça de rezingão, está um homem desencantado, um cientista que gostaria que as pessoas ligassem mais ao trabalho dele do que ao seu feitio de bicho-do-mato.

Um dia, um jornalista de um diário russo faz um choradinho à mãe dele e consegue uma entrevista em exclusivo. Grigori Perelman não desmonta logo a armadura. Ainda refila contra tudo e todos nos primeiros minutos da conversa. Arma-se ao pingarelho.  «Se sei como controlar o Universo, porque hei-de correr atrás de um milhão, diga-me?», responde quando lhe perguntam a razão para recusar o prémio atribuído em março de 2010. Mas, aos poucos, vai mostrando como está desiludido com as pessoas em geral e com os jornalistas em particular.

Toda a gente só quer saber por que não quis o dinheiro, por que não corta o cabelo, por que tem o casaco coçado ou a camisola com borbotos, se toma banho e outras coisas da vida privada que nada têm a ver com a ciência. E a ciência é o único motivo pelo qual está disposto a falar.

Perelman recebeu, nos anos seguintes, uma chuva de ofertas – prémios, cargos, honras, convites para conferências e promessas de fundos milionários para desenvolver novas pesquisas. Recusou tudo, retirou-se da vida pública e despareceu do mapa. Há mais de uma década que ninguém ouve falar dele.

«A fama e o dinheiro não me interessam – disse ele – só me distraem das coisas importantes.»

Importantes como o quê? – Gostávamos nós de saber. Por que anda um homem tantos anos obcecado à procura de uma resposta que nem sabemos muito bem para que serve? Explicar a utilidade desta descoberta para quem não é perito é tarefa bem complicada. Mas, para os especialistas, a demonstração da conjetura de Poincaré, além de muito concisa e elegante, facilita futuras investigações de processos físicos da natureza altamente complexos.

Não é à toa que é também conhecida como a Fórmula do Universo. Vivemos num mundo a três dimensões [5] e, como tal, a conjetura de Poincaré também dá a resposta à pergunta sobre a forma e a criação do Universo e quantas formas pode ele assumir. Haverá mistério maior e mais importante do que esse? 


Notas de rodapé

[1] Grigori PerelmanJules Henri Poincaré era um daqueles cromos da ciência com talento para quase tudo. Além de especialista em muitas áreas da Matemática, formou-se em Engenharia e deixou contribuições em várias disciplinas como a Física, a Astronomia ou a Filosofia. No campo da mecânica fez trabalhos sobre as teorias da luz e as ondas eletromagnéticas. Poincaré viveu entre 1854 e 1912 e, com 48 anos, lançou um dos maiores enigmas da Matemática, que nem ele próprio conseguiu demonstrar. Também escreveu diversas obras de divulgação científica que foram bastante populares, como Ciência e Hipótese (1902), O valor da Ciência (1904) e Ciência e Método (1908).

[2] Grigori PerelmanA conjetura de Poincaré tem a ver com um ramo da Matemática a que se dá o nome de topologia – estudo das características que certos objetos conservam mesmo depois de serem deformados. Por exemplo, uma bola de futebol ou uma casca de laranja, mesmo que espalmados, esticados ou retorcidos, nunca deixam de ser esferas (superfícies com todos os pontos à mesma distância do centro).

Ou seja, ambos os objetos podem retomar a forma arredondada desde que não tenham sido rasgados ou furados. No caso da bola, seria preciso enchê-la com ar para recuperar a sua forma; à laranja bastaria reconstruír a casca até à sua forma original. Nem todos os objetos têm essa característica, como aqueles com um buraco no centro  – o caso de um pneu ou de uma argola de cortina. O significado do teorema demonstrado por Grigori Perelman é que, para qualquer corpo a três dimensões sem furos, há uma transformação que lhe permite sem cortes, colagens ou remendos, transformar-se numa bola.

[3] Os 7 Problemas do Milénio são1 – P versus NP; 2 – A conjetura de Hodge; 3 – A conjetura de Poincaré (resolvido por Grigori Perelman); 4 – A hipótese de Riemann; 5 – A existência de Yang-Mills e a falha na massa; 6 – A existência e suavidade de Navier-Stokes; 7 – A conjectura de Birch e Swinnerton-Dyer.

O Instituto Clay de Matemáticas lançou, em 2000, sete desafios, selecionados por um comité de matemáticos, anunciando prémios de um milhão de dólares para quem encontrar a resolução. Grigori Perelman resolveu um deles e Michael Atiyah anunciou, em 2018, ter encontrado a fórmula que prevê o seguinte número primo dentro de uma série de algarismos – hipótese de Riemann. O trabalho de Atiyah está ainda a ser verificado por outros colegas, mas, entretanto, o matemático britânico morreu no ano seguinte com 89 anos.

[4] Grigori PerelmanMuito antes de encontrar a resposta para a conjetura de Poincaré, Perelman já era bastante conhecido entre os colegas. Logo após terminar os estudos, começou a trabalhar no conceituado Leningrad Department of Steklov Institute of Mathematics da Academia de Ciências da então União Soviética. Até ao início dos anos 1990 do século passado, ocupou cargos de investigação em várias universidades dos Estados Unidos. Em 1991, Grigori Perelman ganhou o Young Mathematician Prize da Sociedade Matemática de São Petersburgo. Em 1992, foi convidado para trabalhar no Instituto Courant de Ciências Matemáticas e na Universidade de Nova Iorque. Em 1995, voltou para o Instituto de Steklov, em São Petersburgo, para se dedicar ao enigma de Poincaré.

Grigori Yakovlevich Perelman nasceu em Leninegrado, na União Soviética (agora São Petersburgo, Rússia), a 13 de junho de 1966 e o seu talento para a Matemática evidenciou-se cedo. Aos 10 anos, a mãe decidiu matricula-o no programa de formação Matemática de Sergei Rukshin. A sua educação continuou na Escola Secundária de Leningrado, especializada em programas avançados de Matemática e Física. Grigori destacou-se em todas as disciplinas, excepto a educação física.

Em 1982, como membro da equipa soviética na Olimpíada Internacional de Matemática, ganhou uma medalha de ouro, conseguindo pontuação máxima. No final dos anos 1980, recebeu o título “Candidate of Sciences” na Escola de Matemática e Mecânica da Universidade de Leningrado, uma das principais academias da antiga União Soviética.

5 Grigori PerelmanAs formas tridimensionais têm comprimento (ou profundidade), largura e altura e estão por todo o lado, dentro de casa ou ao ar livre, podemos encontrar objetos a três dimensões onde quer que olhemos (almofadas, armários, automóveis, frutas, entre outros). Há outras classificações, como as formas unidimensionais, ou seja, possuem uma única dimensão, como será o caso, por exemplo, de uma estrada. E também as formas bidimensionais, com comprimento e largura (um campo de futebol, por exemplo).

Aproveita para conheceres as grandes invenções de um outro génio… da ficção cientifica: Júlio Verne é que tinha razão!

Mécia, a rainha que é uma carta fora do baralho

Quantas rainhas teve Portugal, alguém sabe dizer ao certo? Não são assim tantas que não se consiga contar. A questão é que há quem defenda serem 35 e quem contraponha com mais uma. Mécia Lopes de Haro é a carta fora do baralho e ainda hoje contestada porque o seu casamento com D. Sancho II, em 1242 (?), foi anulado pelo Papa Inocêncio IV. Só mesmo para ser do contra, é ela a protagonista da nossa história.


Mécia não é uma bruxa malvada como o povo, o clero e a nobreza pintaram na Idade Média. Também não é uma santinha, já que ninguém dominava como ela os joguinhos nos bastidores da corte. Goste-se ou não dela, foi rainha de Portugal e, ao contrário dos casamentos reais da época, o dela foi por amor. O amor, a bem da verdade, pendia mais para os lados do rei. Há investigadores muito desconfiados de que, no final desta história, ela acabará por atraiçoá-lo para salvar a própria pele.

Mas deixemos as intrigas para mais tarde e vamos ao que interessa. Quem foi, afinal, esta rainha renegada da História de Portugal e como caiu nas graças do senhor nosso rei? Na verdade, não há muito mistério à volta dos primeiros encontros entre o casal. D. Sancho II conheceu-a numa das suas regulares visitas à corte de Castela, onde ela era uma das muitas damas de companhia.

Desconhece-se o que terá ele visto nela, mas, conhecendo alguma coisa do seu feitio, dá para ter uma ideia.

🧙‍♂️ Mécia, neta bastarda do rei D. Afonso IX de Leão, distingue-se das mulheres dóceis e obedientes da Idade Média.

Tem um certo ar altivo, um nariz empinado e uns modos meio pedantes, apesar de não possuir um único título da nobreza. O monarca português terá, certamente, ficado perturbado só com a sua presença, mas muito mais impressionado ficou com o passado dela. Viúva de D. Álvaro Peres de Castro, Mécia ganhara fama ao evitar, por volta da década de 1230, uma sangrenta invasão dos mouros ao Forte de Martos, em Córdoba, onde hoje fica a região espanhola de Andaluzia.

O marido, nessa ocasião, foi forçado a deixá-la sozinha para pedir ajuda a Fernando III, rei de Castela e Leão, contra as guerras, as doenças e a fome que devastavam as suas terras. Foi a oportunidade que Aben Alhamar, rei de Arjona, viu para atacar a fortaleza. Só não contou com a astúcia de Mécia. Prevendo o assalto dos mouros, ela vestiu todas as criadas com armaduras e armas de cavaleiro, exibindo-as nos pontos mais destacados do castelo para afugentar o inimigo.

O estratagema surtiu efeito, com os invasores a abrandar a caminhada em direção ao forte para reforçarem o contingente militar. Foi o suficiente para dar tempo ao sobrinho Telo de chegar com um esquadrão e pronto para combater os mouros. D. Álvaro Peres de Castro, entretanto, sabe da notícia e sai espavorido em socorro da sua dama. Mas, por qualquer maleita que os historiadores nunca esclareceram, adoece gravemente, morrendo antes de regressar às suas terras.

Casamento amaldiçoado

Mécia

A nova rainha nem desconfiava que se casara com o rei mais detestado de Portugal.

Mécia fica sozinha e volta para a corte de Castela até ao dia em que Sancho II casa com ela, levando-a para o reino de Portugal. Não foi lá um bom acordo, diga-se de passagem. Mal sabia ela que se casara com um dos reis mais detestados da História. Sancho tinha apenas 13 anos quando herdou o trono do pai Afonso II. O jovem monarca foi pouco hábil a governar. Esteve mais preocupado em combater os mouros do que a gerir o seu reinado, causando o descontentamento geral entre o povo e as classes abastadas.

Mécia Lopes de Haro caiu de paraquedas neste desgoverno. Foi logo atacada por não ter nenhum título de nobreza ou qualquer tipo de influência para lutar pelos interesses da coroa. Ela também se pôs a jeito, criando inimizades ao rodear-se de aias e criados castelhanos, o que muito irritou os cortesãos portugueses impedidos de, através dela, influenciarem as decisões do rei.

🤹‍♂️Povo e nobreza soltavam sem qualquer discrição, nas ruas, nos mercados ou na corte, a sua aversão pela rainha.

Achavam que D. Sancho II só podia estar cego de amor e «enfeitiçado» pelas artimanhas de Mécia. Mas o rei borrifava-se para as más-línguas, enchendo-a de riquezas e fazendo-a dona e senhora de vastas terras, como Torres Vedras, Sintra, Ourém, Abrantes, Penela, Lanhoso, Aguiar de Sousa, Celorico de Basto, Linhares, Vila Nova de Cerveira e Vermoim.

Enquanto isso, o reino sucumbia em conflitos internos e externos e com toda a gente a querer se ver livre do monarca. A Justiça estava num caos, roubos, assaltos, homicídios, fome e doenças eram constantes. Nem o clero estava contente, correndo para junto do Papa a fazer queixinhas do monarca.

Ralhete papal

Mécia

Perante a indiferença de Sancho II, o papa declara o rei «inútil» e incapaz de governar.

Inocêncio IV tratou logo de avisar Sancho II que tomasse as rédeas do reino, pois não iria tolerar por muito tempo os seus desgovernos. O rei encolheu os ombros, como se nada fosse com ele, obrigando o papa a mudar de estratégia. Excomungá-lo da Igreja e retirar-lhe o trono era a conspiração que, entretanto, se cozinhava nos bastidores, com o irmão D. Afonso a ser chamado de emergência de França para Portugal para destronar o monarca.

O papa parte sem demora para o ataque, declarando o rei «inútil» e anulando o seu casamento, com a desculpa esfarrapada de que Sancho II e Mécia eram primos em quarto grau. A consanguinidade, no entanto, era bastante comum e aceitável na época, tendo em conta os frequentes arranjinhos matrimoniais entre as famílias da realeza ou da nobreza. O monarca, mais uma vez, desprezou a advertência papal, fazendo ver a todos que não desistiria de Mécia por nada deste mundo.

A traição de Mécia

Mécia

Vendo que o marido não tem hipótese de virar o jogo, a mulher junta-se aos inimigos.

Clero e nobreza ficaram apavorados, teriam de agir sem demora e antes que o casal tivesse um herdeiro e assim impossibilitasse D. Afonso de reclamar a coroa. A 24 de julho de 1245, é publicada a bula a decretar a deposição do rei. Imaginem só a quem foi D. Sancho II pedir ajuda quando se sentiu acossado…. Justamente ao irmão, que fazia parte do complô. Por essa mesma altura, o fidalgo Raimundo Viegas e Portocarreiro entrou com uma comitiva de cavaleiros no paço real de Coimbra e arrancou a rainha do leito, levando-a a cavalo até ao paço real em Vila Nova de Ourém.

Sancho ficou louco de fúria e correu sozinho atrás dela. Ordenou que lhe abrissem as portas do castelo, pois era o rei de Portugal e merecedor de respeito e vassalagem. Mas em troca, foi recebido com pedras e hortaliças estragadas. Regressou a casa desesperado, sem nunca suspeitar que o rapto da mulher foi planeado com o consentimento da própria. Essa é, pelo menos, a teoria entre os historiadores. Mécia, vendo o marido sem qualquer hipótese de virar o jogo, passou-se para o outro lado da barricada.

A Dama-pé-de-Cabra

Mécia

Não houve mais notícias de Mécia, mas ela continuou no imaginário popular.

O destino de um e de outro está longe dos finais felizes dos contos de fada. O rei aceitou a derrota e exilou-se em Toledo, onde viria a morrer praticamente sozinho, a 3 de janeiro de 1248. Rezam as crónicas de Rui de Pina, cronista de D. Sancho II, que Mécia foi levada de Ourém para a Galiza e por lá ficou até regressar, alguns anos mais tarde, a Castela, onde foi sepultada no mosteiro de Santa Maria de Nájera, na antiga capital do reino de Navarra.

Diz-se que, no reino de Portugal, nunca mais houve notícias dela, mas Mécia tornou-se num mito a assombrar o imaginário popular durante muitas e muitas gerações. Uma das fantasias mais tenebrosas sobrevive ainda hoje na «Lenda da Dama Pé-de-Cabra». Já ouviram falar desta arrepiante história do diabo? Quem não for mariquinhas, pode ler as «Lendas e Narrativas», de Alexandre Herculano, que está lá tudo contando com grande mestria.

Gostas de histórias de reis e rainhas? Fica então com mais estas sugestões de leitura:

 👸Teresa de Portugal. O primeiro rei de Portugal foi, afinal, uma rainha
 👩‍🦰 Catarina de Bragança. A alentejana que ensinou boas maneiras aos ingleses

Quantos aventuras cabem em um minuto?

Um minuto

Quantas vezes ouviram ou perguntaram a alguém se tem um minuto que possa dispensar? Parece coisa pouca, uma ninharia, comparado com os 1440 minutos ou os 86 400 segundos que preenchem as 24 horas de um dia. Mas, se pensarmos nas tantas coisas que acontecem em apenas um minuto, chegamos à conclusão de que o melhor é aproveitar cada instante do princípio ao fim.

 

Dentro, perto ou longe de nós, são tantas as aventuras a acontecerem a cada minuto que nem conseguimos contar. Tentemos começar, então, pelo que está mais próximo e depois, aos poucos, afastar o olhar para o que ocorre à nossa volta para termos uma pequeníssima ideia do que um minuto representa na nossa vida. Preparados/as? 3-2-1…

Um minuto no corpo humano

Um minuto

Fica quieta (ou quieto) por um minuto. Não fales, respira normalmente e pousa a mão no lado esquerdo do teu peito. Sentes o coração a bater? Agora, imagina todos os corações humanos a pulsarem ao mesmo tempo. A cada minuto que passa, são mais de 7 mil milhões de corações a bater entre 60 e 100 vezes. Se pudéssemos ouvir e sentir as batidas de todos os corações, seria como um pequeno tremor de terra. Mais silencioso é o caminho que um único glóbulo vermelho faz para percorrer o sistema circulatório.

Um minuto é o que ele precisa para descer pelos vasos sanguíneos até à ponta dos dedos dos pés, subir ao cérebro e regressar ao coração, recomeçando mais uma viagem. E nesse mesmo um minuto que passou, o corpo humano produziu entre 120 e 180 milhões de glóbulos vermelhos.

São muitos milhões, verdade? Ainda assim, não se comparam nem de longe com os sinais elétricos que os neurónios transmitem por minuto. Os cálculos mais baixos atingem quantidades difíceis de imaginar: cerca de 86 mil milhões.

🌜É, seguramente, mil vezes maior do que um furacão de

pirilampos a piscar numa noite escura de verão. ⭐

E, nesse mesmo minuto em que o coração bateu entre 60 e 100 vezes, o glóbulo vermelho percorreu o sistema circulatório, o corpo produziu quase 200 milhões de glóbulos vermelhos e os neurónios dispararam pelo menos 86 mil milhões de sinais elétricos, nesse mesmo um minuto, a pele que cobre toda a superfície do corpo perdeu entre 30 mil e 50 mil células mortas.

Não te preocupes, porque são substituídas quase à mesma velocidade. E são tão pequeninas, essas células, que nem te dás conta quando se soltam da pele. Mas, se quiséssemos juntar todos os bocadinhos, nem um frasco de farmácia ou sequer um boião de gomas chegariam para guardar os cerca de 105 quilos de células mortas que perdemos durante toda a vida.

Tudo isso impressiona, certamente, mas o que deixará toda a gente boquiaberta é o que acontece dentro uma minúscula célula em apenas um minuto: 6 milhões de reações químicas. Agora é só multiplicar esses milhões pelos mais de 30 mil milhões de células que compõem o nosso organismo.

É para qualquer um ficar zonzo, mas mantém a calma e respira normalmente, como te foi pedido ao início. Se é isso mesmo que estás a fazer, fica então a saber que no minuto que passou respiraste entre 12 e 15 vezes. Só mais esta informação para terminar esta odisseia pelo corpo humano: os teus olhos piscaram entre 17 e 22 vezes no último minuto.

Um minuto na natureza

Um minuto

 Preparada/o para acompanhar o ritmo da natureza? Então, põe o cinto de segurança e cá vamos nós. Comecemos com a chita a correr cerca de 600 metros por minuto, podendo atingir 100 km/h em menos de três segundos, proeza que ultrapassa até os carros mais velozes do mundo.

Passemos para a baleia-azul, o maior animal na Terra e no mar, que num só minuto inala 56 724 litros de ar. E saltemos depressa para o beija-flor (ou colibri) com pouco mais de um grama e meio de peso a bater 5400 vezes as asas por minuto, ao mesmo tempo que dispara cerca de duas mil batidas cardíacas. Menos veloz é uma abelha, mas nem por isso menos atarefada à procura de pólen e néctar: dez flores por minuto recebem a visita dela, em média faz qualquer coisa como 40 voos diários, alcançando mais de 40 mil flores, segundo o Wikipedia.

Esse mesmo intervalo de tempo é o que basta para 0,15 espécies de planta ou de animal desaparecerem do planeta. Parece uma insignificância, mas, segundo o Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente, significa que mais de 200 espécies de plantas e de animais desaparecem todos os dias.

🌳 Mais acelerada ainda é a deflorestação na Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, que a cada minuto perde 2000 árvores.🌳

Nesse mesmo minuto, o rio Amazonas despeja 12,4 mil milhões de litros de água no mar, enquanto outros 960 milhões de toneladas de água se evaporam da superfície da Terra.

Do outro lado do planeta, 300 mil toneladas de gelo derretem-se a cada minuto na Antártica. Os glaciares desfazem-se a uma velocidade três vezes superior do que há dez anos. E para acabar com um estrondo, falta acrescentar que, a cada minuto, acontecem em média 5 sismos no planeta. Em todo o mundo, há cerca de 1400 terremotos a cada dia, ou seja, 500 mil por ano, embora só 275 possam ser sentidos.

Um minuto no Espaço

Um minuto

Deixemos, por agora, o nosso planeta e voemos para mais longe, muito mais longe. Usem o protetor solar, os fatos térmicos e liguem, por favor, os propulsores da vossa nave espacial. A primeira paragem fica muito próximo do Sol, que, a cada minuto, gera a mesma energia que 60 triliões de bombas de uma megatonelada! Num segundo, o Sol produz energia suficiente para satisfazer quase 500 mil anos das necessidades energéticas dos habitantes da Terra. É uma pena que tanta energia não possa ser guardada e usada mais tarde.

🪐Já que estão por aí a vaguear lentamente pelo Espaço,

não deixem de apreciar o céu estrelado da vossa janela. 🚀

São tantas as estrelas que não dá para contar e, a cada minuto, nascem mais ainda, 288 mil, para sermos minimamente rigorosos. Se assumirmos que todas as galáxias são semelhantes à Via Láctea, então podemos calcular que, por ano, nascem cerca de 150 mil milhões de estrelas no Universo. Ou seja, 400 milhões por dia ou 4800 por segundo.

E a cada minuto, em algum lugar do Universo, 1800 estrelas morrem. Mas até desaparecerem leva ainda algum tempo. Primeiro, explodem e transformam-se em supernovas, brilhando durante alguns dias mais do que uma galáxia inteira. Depois, o brilho vai-se desbotando, mas a sua luz continua a ser visível da Terra por muito, muito tempo. Se estiver a 100 anos-luz de distância, por exemplo, quer dizer que daqui a um século ainda estará a brilhar.

🌈🌞Informamos os senhores austronautas que

está na hora de
regressar a casa. 🌍

Mas ainda há tempo para observarem a rapidez com que a Terra se desloca à volta do Sol: 1738,2 km por minuto (ou 28,97 km por segundo). A velocidade que a Terra gira ao redor do Sol (translação) é cerca de 107 000 km/h e a velocidade do movimento em torno do seu próprio eixo (rotação) é de 1 700 /h na região do Equador, diminuindo à medida que se aproxima dos pólos.

Ficaram estafados ou ainda há energia para descobrir quantos malabarismos é o cérebro capaz de fazer? Clica aqui e boooora! 🤪

Fontes consultadas: Quora | bedtimemath | Go Globe | Earth quakes today | List25 | World Fact book (CIA) | NASA | Huffingtonpost | National Geographic | eHow Brasil | Exame Informática | Bostom.com | ucalgary.ca | Newscientist |

A mãe é que tem sempre razão!

Mãe

Se ela ralha, se obriga a fazer o que não queremos e se, ainda por cima, tem a última palavra… Por que raio gostamos tanto dela? Simples: o mundo pode dar muitas voltas, mas a mamã tem sempre razão. É assim desde os primórdios e, por isso, as suas frases são míticas, passado de geração em geração. Descobre nestes painéis as clássicas respostas que elas têm na ponta da língua para nos pôr a piar baixinho. Queres acrescentar mais alguma? Ou preferes só abraçá-la e desejar-lhe um  feliz Dia da Mãe?

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Quando a mãe se zanga…

mãe

 

Para pôr na ordem um sabichão ou uma sabichona.

mãe

Para calar os pedinchões e pedinchonas.

Mãe

O que é o almoço/jantar?

mãe

(E estas são as provas!)

mãe


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🎈 Lê também, se quiseres, o artigo: «Uma infância feliz dura toda a vida»