Por que estão os pirilampos a desaparecer?

Se continuarmos a não prestar a devida atenção aos pirilampos, eles irão deixar de brilhar no escuro da noite. Depois, só mesmo nos contos de fadas poderemos voltar a vê-los. Não caiam no erro de pensar que é um exagero típico de gente que gosta de transformar tudo num drama. O aviso vem de cientistas de todo o mundo. O perigo de extinção é real e está próximo. As causas, essas, já as sabemos. São, mais uma vez, as criaturas humanas a estragar tudo em que tocam.

Os pirilampos estão a ficar sem lugares para viver. Eles não precisam de muito. Uma noite de verão, uma ribeira ou um charco por perto e sossego. Nada mais. O problema são os humanos. Por um motivo estúpido qualquer, a humanidade julga ser o centro do mundo. Constrói em qualquer lugar e não perde o irritante vício de acender a luz mal o sol se põe.

As ruas iluminadas aumentaram tanto no último século que as pobres das fêmeas nem conseguem mais distinguir o brilhozinho apaixonado dos machos. Sem isso, caros amigos e amigas, não há rituais de acasalamento nem filhotes para dar continuidade à espécie. Esta história de amor acaba aqui sem nunca ter começado.

Perda de habitat e poluição visual já seriam suficientes para ameaçar muitas das duas mil espécies a povoar os lugares temperados e tropicais do planeta. Mas outro grande problema são os pesticidas com que, mais uma vez, os humanos pulverizam os campos de cultivo, os jardins e até os quintais para combater as pragas. Os primeiros a sofrerem são os caracóis e as lesmas. Logo a seguir, vão-se as larvas que precisam deles para crescer, mudar a carapaça (exoesqueleto) umas seis a oito vezes e, ao fim de dois anos, transformarem-se em pirilampos cintilantes.

Uma recordação da infância

Perguntem aos papás pelos pirilampos. Vão ver como as noites quentes da infância voltam logo a cintilar.

Está assim completa a receita para o fim destes bichinhos. O problema tem-se agravado de ano para ano. Os teus pais, os teus tios ou os teus avós que o digam. Qualquer quarentão ou cinquentão é capaz de se lembrar como há uns bons anos era fácil vê-los no escuro. O verão sem eles seria o mesmo que calor sem praia, esplanada sem gelado, feira sem pipocas e por aí fora. Já perceberam a ideia, certo? Pois, há 15 ou 20 anos, não havia noite no campo ou no jardim sem pirilampos. Eles provocavam a criançada, que desatava na correria atrás dos piscas-piscas.

Não há adulto que não guarde boas lembranças dos pirilampos. Eles podem até ter crescido, podem usar gravata ou salto alto, refilar no trânsito e passar boa parte do dia no escritório. Muitos deles, é bem provável, arrumaram essas recordações na escuridão da memória. Mas experimentem só perguntarem-lhes pelos pirilampos. Vão ver como aquelas noites quentes da infância voltam logo a cintilar.

A quem acha que a humanidade passa perfeitamente sem eles, recomenda-se a leitura do artigo sobre os insetos em que o bichinho das contas lembra como cada um deles é essencial para a sobrevivência do planeta. Só isso é mais do que suficiente para não deixarmos os pirilampos desaparecerem. Mas há outra razão igualmente importante que é preciso destacar.

Luzinhas na palma da mão

Os pirilampos voam perto do nariz e pousam na palma da mão para mostrar que não estamos a sonhar.

Os pirilampos são a única ligação entre os humanos e os contos de fada. Eles andam entre cá e lá sem sequer se darem conta de que existe uma fronteira a separar os dois lados. Quem acha que agora é que o Bicho-Que-Morde endoidou de vez, é porque ainda não passou uma noite com eles e não conhece, portanto, os seus extraordinários poderes.

É verdade que há cometas, estrelas cadentes ou lusco-fuscos de fim de tarde para nos recordarem que a nossa vida tem muitos lugares encantados e não é só o corre-corre para a escola e o trabalho. Não lhes retirando a magia, todos esses momentos são muito bonitos, sim senhora, mas a triste realidade é que se perdem no horizonte sem que ninguém lhes consiga tocar.

E os pirilampos, esses, estão mesmo perto do nariz, surpreendem-nos por entre a vegetação ou pousam na palma da mão. E até se deixam envidraçar dentro dos frascos só para nos mostrar que não estamos a sonhar. Por isso – ou melhor, também por isso -, não deixem que as luzinhas dos pirilampos se apaguem.

6 perguntas para um pirilampo

1 – Como acendes as luzinhas?

Já respondi a essa pergunta no artigo sobre os insetos, mas não me importo de explicar outra vez.  Nós somos bioluminescentes, ou seja, seres capazes de emitir luz a partir de uma reação química. Temos uma substância, a luciferina, que, ao se combinar com o oxigénio e com uma enzima chamada luciferase, oxida e emite luz no final do nosso abdómen. Mas atenção, nem todas as espécies brilham, algumas lançam odores, como feromonas, para atrair as fêmeas ou comunicarem com os outros. Como também não somos os únicos com essas características. Há outros insetos, moluscos, microrganismos, animais marinhos e até certos tipos de cogumelos com o mesmo talento.

2 – Para que serve a luz?

As nossas luzinhas servem para tudo e mais alguma coisa, desde caçar, defendermo-nos dos predadores, comunicar com os outros pirilampos ou acasalar.

3 – Como sincronizam os piscas-piscas?

Seria impossível enumerar todas as formas como usamos as nossas luzinhas. Cada espécie têm um padrão próprio de sincronização do seu brilho. Alguns piscam em uníssono, como é o caso dos pirilampos que habitam o sudeste da Ásia. Eles têm o costume de se reunirem à noite nas copas das árvores para oferecer um verdadeiro espetáculo cintilante, ligando e desligando as suas luzinhas ao mesmo tempo. Outras espécies coordenam o seu brilho verde néon em vagas de luz a ondular pela floresta por intervalos curtos e intermitentes. A sincronização é o elemento chave para a harmonia dos espetáculos, daí a importância vital de cada um estar atento aos movimentos luminosos dos outros. O ritmo do nosso pisca-pisca é, por isso, muito diferente quando estamos sozinhos ou em grupo.

 

4 – Como distinguir um macho de uma fêmea?

Os machos são os que voam, enchendo de perlimpimpins as noites quentes de verão. As fêmeas gostam mais de ficar junto ao solo, embora dêem muitas vezes o ar da sua graça subindo ao topo dos ramos e das folhas dos arbustos para cintilar. Elas têm um padrão próprio para atrair os machos da sua espécie. E eles piscam para avisar que se vão aproximar. Após o acasalamento, as fêmeas deixam de piscar. Existem espécies que comunicam ao crepúsculo e outras durante a escuridão da noite.

5- Quando é possível assistir aos vossos shows?

No fim da primavera e durante o verão, mas só nos lugares mais húmidos e longe dos pesticidas. Se tens um quintal e gostarias de receber as nossas vistas noturnas, terá de ter algumas condições especiais. Desde logo, apagar as luzes exteriores e deixar a natureza selvagem ocupar boa parte do terreno. Isto é, nada de fertilizantes químicos e pesticidas. Precisamos de arvores baixas, os pinheiros, por exemplo, e também de matéria orgânica como folhas, galhos e relva um pouco mais crescida para criar um ambiente acolhedor. Por fim, uma lagoa ou um riacho para nos refrescarmos. Falem também com os vossos vizinhos para desligarem as luzes exteriores. Seguindo estas sugestões, pode ser que um dia tenham uma surpresa. Nunca se sabe…

6 – Quantas espécies há?

Que indelicadeza da minha parte, deveria ter começado logo pelas apresentações. Os pirilampos são insetos da ordem Coleoptera, pertencentes à família Lampyridae. Temos o nome científico Lampyris, que significa lanterna em latim. Ao todo, somos cerca de duas mil espécies, 65 das quais a viver na Europa e dez em Portugal. São eles o pirilampo-ibérico (Lampyris ibérica), o pirilampo-comum (Lampyris noctiluca), o Lampyris raymondi, o Nyctophila reichii, o Pelania mauritanica, Pirilampo-pequeno-de-lunetas (Lamprohiza mulsantii), o Pirilampo-grande-de-lunetas (Lamprohiza paulinoi), o Phosphaenopterus metzneri, o pirilampo-preto (Phosphaenus hemipterus) e o pirilampo-lusitânico (Luciola lusitânica).

Se a natureza é a tua cena, temos mais um bom tema para ti: A arte esquecida de ler os sinais da Natureza

Fontes consultadasPhys.org | Wilder.pt (1)| Wilder.pt (2) | Firefly.org | Viveraciencia.org

Créditos das imagens

2 – Coelhos e pirilampos: © Joyjit_as_JC/Pixabay | 3 – Pirilampos na floresta: © Sam WengCC BY-ND 2.0  | 4 – Texto colocado em cima da Imagem de © Terry PriestCC BY-SA 2.0 |

Cartilha Maternal. A revolução de João de Deus

Em 2020, comemoramos os 190 anos do nascimento de João de Deus. O dia de aniversário foi a 8 de março, mas a festa é para durar o ano inteiro. É bem merecido, tendo em conta que foi com a sua Cartilha Maternal que adultos, crianças, ricos e pobres puderam não só aprender como também ensinar a ler. Esta é a grande revolução do seu método: tão simples – mas muito exigente – que até as mamãs podiam mudar o futuro dos filhos. O Bicho Que Morde dedicou-lhe 10 cartilhas com o essencial de um modelo que até hoje, na era das tecnologias, é usado para ensinar os mais novos.


O ABEcedário aos pedacinhos

Quem não se lembra de debitar o alfabeto de cor e salteado antes sequer de começar a ler? O método ainda é usado, mas foi preciso a Cartilha Maternal de João de Deus chegar às escolas para baralhar as letras e as ideias dos professores e dos pedagogos. Com o novo sistema, não é preciso decorar sofregamente as 26 letras do abecedário. Elas são apresentadas aos poucos e sem pressas. Primeiro as vogais – a-e-i-o-u – e só depois as consoantes, começando pelo v, f e j. Cada uma com um desenho, um som e combinações muito particulares. Mas todas unidas para que as crianças entendam que as letras só ganham sentido quando ligadas aos significados das palavras.

A união de Preto&Cinza

A forma como as letras são apresentadas na cartilha é uma das maravilhosas inovações de João de Deus. Até hoje, é difícil encontrar um método tão eficaz. E tão simples. Preto e cinzento fazem a divisão das labas. Com estas duas cores, evita-se esfrangalhar as palavras com espacinhos ou travessõezinhos. Elas ficam inteiras sem perderem o significado. E as sílabas, essas, destacam-se à mesma, não precisando de brigar para conquistar a sua autonomia.

A reVOluçÃo das letras

Como tudo o que rompe com a tradição, a Cartilha Maternal também provocou uma onda de protestos, que encheram as páginas dos jornais. O principal crítico era o escritor e pedagogo António Feliciano Castilho, apesar de também ele ser contra os métodos de repetição e de soletração. A sua revolta, no entanto, era compreensível, tendo em conta que era o autor da cartilha mais usada nas escolas. Nem todos arrasaram a obra de João de Deus. Os especialistas ficaram divididos. A Professora Carolina Michaelis esteve entre as principais defensoras do novo método.

«[…] com a Cartilha do Senhor João de Deus entramos num mundo novo; tudo mudou de aspecto, tudo se tornou simples, lúdico, transparente. O novo pedagogo vai guiando o discípulo passo a passo; não o mete num labirinto (…). Dá a conhecer as letras uma por uma, assim como a sua aplicação e só no fim constitui a cadeia do alfabeto, ligando estes seus elos; não desmembra as palavras em sílabas, as sílabas em letras, apresenta à criança a flor intactaCarolina Michaelis in jornal do Colégio Portuense O Ensino (1877)

Acabar com o analfabetismo

O analfabetismo em Portugal, em finais do século 19, era uma tragédia. Em 1878, por exemplo, quase 80% da população não sabia ler nem escrever. Esta foi a razão que levou João de Deus a publicar a sua cartilha. O método era tão simples que qualquer pessoa, com o mínimo de instrução, poderia assumir o papel de professor. E daí também o nome de Cartilha Maternal: o ensino poderia até ser feito em casa pelas mamãs que sonhavam com um futuro melhor para os filhos.

O coro dos desafinados

Quem viu filmes de época já sabe como se ensinava antigamente nas escolas. O professor, muito carrancudo, anda para trás e para adiante com as mãos cruzadas nas costas, enquanto os alunos vão rezando em voz alta a tabuada ou o texto do livro de leitura. Era tudo o que João de Deus detestava. O método dele era feito para grupos de três ou quatro crianças, misturando os extrovertidos com os tímidos, para que uns puxassem pelos outros. Cada um falava na sua vez, mas todos estavam concentrados na mesma tarefa. Cada grupo tinha uma curta lição por dia, exigindo ao professor/educador uma boa gestão do tempo.

A brincadeira como método

Aprender não é marrar a cabeça contra o manual da escola. Aprender é usar o que se aprendeu em todo o lado, até nas brincadeiras. Mas, no século 19, ninguém se preocupava com isso. Ninguém, ponto e virgula; João de Deus era um grande adepto das brincadeiras. O seu método de iniciação à leitura incluía muita galhofa. Rasgar papel, formar conjuntos de palavras, sublinhar ou desenhar as letras, usando diferentes técnicas e materiais, como giz molhado no leite, lápis ou tintas caseiras.

Ou carradas de jogos que punham as crianças a procurar o M, o T ou B em labirintos de papel, recortar jornais e revistas ou encher as letras de arroz ou massinha. E ainda escrever frases curtas a partir de uma palavra dada, usar cantigas e gestos, histórias e muitas outras atividades que puxam pela criatividade do professor/educador e pela imaginação dos alunos.

Ninguém fica para trás

Além das 25 lições (+ um Hino de Amor), a Cartilha Maternal incluía ainda um Guia Prático para o professor, com muitas propostas de atividades para a turma, mas também com um gráfico para cada criança, onde, todos os dias, eram registados o nível de aprendizagem, as dificuldades e as necessidades individuais. Cada aluno seguia assim a cartilha ao seu próprio ritmo, estivesse ele em sintonia ou não com o ritmo da turma.

Dez anos para acabar a cartilha

Em 1865, a editora Rolland desafiou João de Deus a criar um método de leitura. Ao fim de dez anos, ele acabou finalmente a obra, mas, entretanto, a editora faliu. O autor não demorou muito a encontrar quem lhe publicasse a sua cartilha. Em 1876, a Livraria Universal de Magalhães & Moniz lança a primeira edição. Doze anos mais tarde, as Cortes (parlamento) adotam a «Cartilha Maternal ou Arte da Leitura» como o método oficial. E, a partir de 1911, apesar de o seu ensino se ter tornado facultativo, a Primeira República continuou a promover a cartilha nas escolas primárias.

cartilha maternal 10

Uma cartilha na era das tecnologias

Ainda hoje, o sistema pedagógico criado com a Cartilha Maternal é usado para ensinar as crianças a ler. João de Deus fundou o seu próprio espaço de ensino, que, em 1922, passou a chamar-se Associação de Jardins-Escolas João de Deus. Atualmente, são 43 os jardins-escola espalhados pelo país, a ensinar quase 9 mil alunos a ler.

O poeta, o escritor, o jornalista e o deputado

João de Deus ficou conhecido como um dos maiores pedagogos portugueses, mas foi muito mais do que isso. Foi também jornalista, tradutor de obras literárias francesas e ainda deputado sem filiação partidária. Mas é com a poesia que se torna conhecido, usando-a, muitas vezes, para denunciar os grandes problemas sociais – a pobreza, a falta de habitação e de cuidados de saúde e, claro, o analfabetismo. Entre as muitas citações que lhe são atribuídas, a mais popular é esta:

«Ser homem é saber ler. E nada mais importante, nada mais essencial que essa modesta e humilde coisa chamada – primeiras letras.»

Ficha biográfica
Nome completo: João de Deus de Nogueira Ramos
Nasceu em: São Bartolomeu de Messines (Silves, Algarve), a 8 de março de 1830
Morreu em: Lisboa a 11 de janeiro de 1896.
Casou-se com: Guilhermina Battaglia
Filhos: Maria Isabel, José, João de Deus Júnior e Clotilde Rafaela.
Obras mais conhecidas: Cartilha Maternal, Flores do Campo, Folhas Soltas, Campo de Flores.
Cargo vitalício: A 2 de Agosto de 1888, foi nomeado Comissário Geral do Método de Leitura Cartilha Maternal, com o vencimento anual de 900 reis (uma pequena fortuna para a época!). Tinha como funções ministrar cursos aos professores das escolas públicas de instrução primária e visitar as escolas para verificar se o método estava a ser bem aplicado.

Lê também, se quiseres: Camões. Como quase nada sabemos sobre o maior poeta português.


Fontes consultadas: João de Deus: Método de Leitura com Sentido, Universidade de Braga (2006), de Isabel Ruivo. |
A Cartilha Maternal ou Arte de Ler de João de Deus (1876): invenções tipográficas e alfabetização popular em Portugal,  de Justino Magalhães, Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

A República que o povo tomou nas ruas

Há 110 anos, no dia 5 de outubro, o povo agarrou nas armas, enfrentou as tropas monárquicas e proclamou a República. Talvez por isso, este seja o feriado preferido dos Bichos no Sótão, que hoje desenterram as memórias das últimas horas antes do novo regime. Mas, não se assustem, não se trata de uma enfadonha aula de História. Esta revolução tem tudo para ser a melhor aventura de sempre: conspirações, batalhas navais, assaltos a quartéis, heróis e heroínas e tiroteios nas ruas de Lisboa.


Meia centena republicanos está secretamente reunida, na Rua da Esperança, em Lisboa, para decidir se avança ou não com a revolução. A morte de Miguel Bombarda, há poucas horas, é um duro revés. O médico é um dos principais estrategas, mas foi assassinado à queima-roupa. Aparício Santos estava internado no Hospital Psiquiátrico de Rilhafoles com sintomas de perseguição e comportamentos violentos. Naquela manhã de 3 de outubro de 1910, assim que entra no consultório do psiquiatra, saca da pistola e dispara até as balas acabarem. Bombarda morreu seis horas depois no Hospital de São José, mas não sem antes conseguir queimar os papéis que detalham os planos para instaurar a República.

_ Há muita coisa em jogo, não podemos desistir agora – avisa José Relvas, um dos membros da comissão eleita, no ano anterior, com o objetivo de preparar a revolta contra a Monarquia.

São oito da noite, os militares e civis estão a postos, o Almirante Cândido dos Reis, que lidera as operações, nem admite recuar. Quase todos concordam que já não é possível travar o movimento.

_ É agora ou nunca! – Decide Relvas, ordenando que a revolução comece à uma da madrugada do dia seguinte.

Quatro horas depois, o comissário naval António Machado Santos sai de casa, trajado a rigor, e apanha o elétrico, como se fosse um dia normal. Desce em Campo de Ourique e junta-se aos cabos, sargentos e a umas boas dezenas de civis, que, sob o comando dele, assaltam o quartel da Infantaria 16.

Nesse mesmo momento, em Alcântara, está o tenente Ladislau Parreira a liderar o assalto ao quartel do corpo de marinheiros. À espera deles estão as tropas fiéis à monarquia que lançam um contra-ataque violento. Vale a intervenção do povo que, das janelas, das varandas e dos telhados, lança bombas aos pés dos cavalos, permitindo aos revoltosos aguentarem-se sem dar parte fraca.

A missão mais complicada, porém, está a decorrer nas águas do Tejo. Os navios Adamastor e São Rafael são tomados pelos marinheiros revoltosos, mas a embarcação D. Carlos mantém-se no comando dos monárquicos. O plano dos republicanos não corre exatamente como o esperado.

Os marinheiros, assim que tivessem tomado os navios, deveriam disparar duas salvas de canhão. Ao ouvir o sinal no Cais do Gás, onde hoje está o Museu da Eletricidade, o almirante Cândido dos Reis deveria embarcar para assumir o comando militar da revolução a bordo do D. Carlos.

Mas não se ouvem nem salvas nem tiros. O rio está tão quieto e mudo como a noite.

_ O que fazemos agora, meu almirante? – Pergunta um dos oficiais. – Ouvi dizer, mas a informação não está confirmada, que as outras unidades também fracassaram.

O almirante Reis olha desesperado para o Tejo e balbucia entre dentes:

_ A revolução está perdida!

_ O que fazemos agora, meu almirante? – Insiste o oficial, mas ele já nem o ouve. Afasta-se do cais com o passo cambaleante e deambula pela cidade.

_ A revolução está perdida – vai repetindo o almirante para si próprio.

Ele julgara que a vitória, à terceira tentativa, seria certa. Antes, já duas revoluções tinham falhado. A de 31 de janeiro de 1891, no Porto, com os revoltosos condenados ao degredo em África. E a de 28 de janeiro de 1908, que, ainda assim, não eliminando todos os focos de dissidentes, terminaria com o regicídio de D. Carlos, substituído depois por D. Manuel II.

Os reveses da revolução


Ao chegar a notícia da morte do Almirante Reis, um dia após o assassinato de Bombarda, o desânimo toma conta dos revoltosos.

Cândido dos Reis não se imagina a viver num país que não republicano. Foi por isso que prometeu dar tudo por tudo, até a vida, se necessário. Agora sente-se desorientado. Vagueia até parar numas azinhagas à volta do que hoje é a Praça do Chile, puxa da arma e aponta-a à cabeça.

Morreu na hora, sem desconfiar que a revolução dele continua em marcha, agora com os revoltosos a saírem dos quartéis em Alcântara e Campo de Ourique rumo ao Palácio das Necessidades onde está o rei D. Manuel II.

Só que pelo caminho são intercetados pela Guarda Municipal. Começa a troca de tiros nas esquinas das ruas em Campo de Ourique. Os revolucionários ainda conseguem descer e chegar ao Largo do Rato. Tentam avançar para o quartel do Carmo, mas todos os caminhos estão bloqueados. A única fuga é a rotunda da Avenida, que hoje é do Marquês de Pombal, mas nessa altura sem a estátua.

Barricam-se todos ali e montam o contra-ataque. Já o Sol desponta quando chega a notícia da morte do Almirante Reis. O desânimo toma de assalto as tropas revoltosas. Também elas acham que a revolução está por um fio. Como ter esperança na vitória sem o almirante nem ninguém ao comando?

A maioria abandona a rotunda, uns atrás dos outros, até que Machado Santos sobe para o local mais alto que encontra e tenta travar a debandada:

_ A vitória ainda é possível. Estamos no melhor local para ripostar! – Grita ele, apontando para a vista panorâmica sobre os principais pontos de Lisboa.

E tem razão! Assim que chega à rotunda, Machado Santos percebe que aquele é um lugar estratégico. Fica no alto como um castelo erguido no cimo da cidade. Ninguém poderia chegar perto dela sem antes passar pela fúria dos republicanos.

_ Não veem como aqui estamos protegidos? Vamos lutar até ao fim! Quem está comigo?

Os oficiais vão-se embora e levam com eles uma boa parte dos revoltosos. Ficam os sargentos, os cabos, os marinheiros e o povo.

Não são muitos. Chegaram a ser mais do que 500 e, agora, bem perto das 7 da manhã, sobram cerca de 100 soldados e meia centena de civis com 5 canhões e umas poucas dezenas de espingardas.

As tropas monárquicas estacionam no Rossio, comandadas por Paiva Couceiro e procuram o melhor sítio para ripostar. Não demoram muito a encontrar, no Torel, uma colina acima da rotunda, o local mais estratégico para atirar sobre os revoltosos, que retaliam com as poucas armas e munições que sobraram.

Entre a derrota e a vitória

Os republicanos barricam-se na Rotunda, local estratégico para ver os principais pontos da cidade. As tropas monárquicas estacionam no Rossio.

A situação complica para os lados dos republicanos. Até que a reviravolta surge quando já ninguém a esperava. Do Tejo, os marinheiros nos navios Adamastor e São Rafael bombardeiam o Palácio das Necessidades, obrigando o rei a fugir para o Palácio de Mafra.

O ânimo dos revoltosos volta a subir, mais reforços, civis e militares vão chegando à rotunda, levando armas e munições. São cada vez mais e, ao fim da tarde, já ultrapassam os 1500 resistentes a fazer pontaria contra as tropas monárquicas.

Desta vez, são os militares fiéis à coroa que estão a perder terreno. Pedem reforços aos regimentos da província, mas os acessos à cidade foram destruídos. Ninguém entra e ninguém sai. Ao longo da madrugada, os membros da Carbonária trataram de isolar Lisboa. Dinamitaram pontes, estradas e linhas férreas.

A Carbonária é uma organização secreta, que se infiltrou nos bairros mais castiços de Lisboa, como Xabregas, Beato ou Alcântara, e recrutou algumas dezenas de milhares de operários.

É sobretudo o povo que, descontente com o desemprego, os impostos e a inflação, se junta a este movimento e é decisivo para a derrota dos monárquicos.

Na Margem Sul, aliás, a Carbonária toma o poder sem dificuldade logo no dia 4 de outubro. Em Lisboa, o tiroteio prolonga-se durante toda a noite e madrugada do dia 5. De um lado e do outro da barricada, as ordens são para resistir, mas, inesperadamente, um homem franzino surge no meio da confusão a agitar uma bandeira branca. Ambas as partes estão confusas.

O engano que precipita o fim

O embaixador alemão pede tréguas para os estrangeiros e os monárquicos julgam que é a rendição. Os revoltosos saem das trincheiras para festejar. 

_ Quem é o sujeito a pedir tréguas?  – Perguntam os soldados, suspendendo momentaneamente o fogo cruzado.

As tropas monárquicas, aquelas que se sentem agora mais acossadas, são as primeiras a largar as armas, julgando estar perante a rendição da coroa. Logo a seguir, são os revoltosos que saem das suas trincheiras para festejar.

Só que não se trata, afinal, de uma rendição. O misterioso homem é o embaixador da Alemanha, que apenas pede uma trégua para os residentes estrangeiros abandonarem a cidade em segurança.

O engano acelera o fim do conflito. O povo sai à rua para celebrar a vitória. Em Mafra, D. Manuel II e a família real correm até à praia da Ericeira e embarcam no iate D. Amélia rumo a Gibraltar para pedir exílio aos ingleses.

Há festa por toda cidade, marinheiros, vendedores, comerciantes, varinas, estivadores, advogados, médicos ou militares abraçam-se, pulam de alegria e dirigem-se à Praça do Município para assistir aos discursos oficiais de vitória.

Às 9 da manhã, os dirigentes do Partido Republicano sobem à varanda da Câmara Municipal de Lisboa e proclamam a República.

_ Unidos todos numa mesma aspiração ideal, o Povo, o Exército e a Armada acabaram de, em Portugal, proclamar a República -, grita José Relvas, dado início ao novo regime.

A população aplaude eufórica e, logo de seguida, é nomeado o governo provisório chefiado por Teófilo Braga. Naquela manhã, toda a gente acredita na mudança.

_Viva a República!

_ Vivaaaaaa! 

As figuras da revolução

MIGUEL BOMBARDA (1851-1910). Foi apenas dois anos antes da revolução de 5 de outubro que Miguel Bombarda entra na vida política, mas já tem um longo percurso na carreira médica, especializando-se em doenças do sistema nervoso. Dirigiu o Hospital Rilhafoles e foi também médico no Hospital de São José, além de presidir a Academia Real das Ciências Médicas de Lisboa. Morreu nas vésperas da implantação da República, tal como o Almirante Reis. O povo prestou-lhes homenagem, enchendo as ruas da cidade durante as cerimónias fúnebres que aconteceram a 16 de outubro de 1910.

MACHADO SANTOS (1875-1921) – Sempre disse que era um conspirador incorrigível este comissário naval que, após o 5 de outubro, foi aclamado o herói da Rotunda e pai da República. Já tinha, de facto, conspirado na revolta de 28 de janeiro de 1908 e voltara a salvar a República em 1919 quando derrota os monárquicos acampados na Serra do Monsanto. É também dos primeiros a criticar o rumo da República, participando no golpe de 1917 que coloca Sidónio Pais no poder. Funda o Partido da Federação Republicana e, pouco depois de se retirar da vida política, é assassinado na revolta radical de marinheiros e arsenalistas, conhecida como a Noite Sangrenta de 19 de outubro de 1921 

JOSÉ RELVAS (1858-1929) era ainda um jovem a estudar no Curso Superior de Letras quando se deixou seduzir pelos ideais da República. Mas só perto dos 50 anos é que se filia no Partido Republicano Português. É uma das principais figuras que encabeçou o diretório responsável por preparar a revolução. Foi ministro das Finanças do governo provisório e, mais tarde, embaixador de Portugal em Espanha.

TEÓFILO BRAGA (1843-1924). Tinha fama de pouco amistoso, mas Teófilo teve desde cedo de lutar pelo que queria. Ainda adolescente, começou a trabalhar na tipografia do jornal açoriano «A Ilha» para se libertar da madrasta. Foi depois para Coimbra estudar Direito e pagou o curso fazendo traduções, escrevendo poemas ou dando explicações. Concorre a alguns cargos académicos que, contudo, são-lhe negados por causa dos seus ideais republicanos. É autor de uma tão vasta obra, que é quase impossível enumerar. Assume, a 5 de outubro de 1910, a presidência do governo provisório, até ser substituído por Manuel de Arriaga.

CÂNDIDO DOS REIS. Aos 17 anos ofereceu-se como voluntário na Marinha e é também por volta dessa idade que se torna republicano. O almirante Reis esteve bastante envolvido no fracassado golpe de 28 de janeiro de 1908, caindo em desânimo, mas recuperando forças para voltar a organizar as operações militares da revolta de 5 de outubro.

AMÉLIA SANTOS «Para empunhar uma arma, tanto serve um homem como uma mulher», pensou Amélia antes de agarrar na carabina e juntar-se aos revoltosos na Rotunda da Avenida. Muito antes da revolução já ela era republicana, embora guardasse segredo por haver quem achasse «ridículo que as mulheres tenham ideias avançadas», contou ela ao jornal A Capital. Ficou conhecida como a heroína da República nos postais comemorativos.

Se também tens um fraquinho por intrigas palacianas, vais gostar deste artigo: D. Teresa. O 1º rei de Portugal foi, afinal, uma rainha.

Fontes consultadas:

Jornal i (edição em papel de 2 de janeiro de 2010), Entrevista a Fernando Rosas. | O Correio do Minho | Cem anos da República | Hemeroteca de LisboaHistória de Portugal, de António H. Oliveira Marques, vol. III, 3ª edição, Palas Editores, 1986 (Lisboa)

Por que anda o tempo depressa ou devagar?

Até parece que o tempo faz de propósito. Quando queremos que corra, arrasta-se como um condenado a riscar os dias no calendário. Esperamos pelas férias e elas nunca mais chegam, por um amigo, 10 minutos atrasado, mas mais parece meia-hora. Vinte minutos na cadeira do dentista é uma eternidade. O mesmo no sentido contrário. Damos tudo para o tempo parar, mas ele escapa sem que o consigamos agarrar. A festa acabou e soube a pouco, uma manhã de praia que voou ou pipocas e algodão doce na feira dos livros que se evaporaram.


As horas, os minutos e os segundos são elásticos e têm várias velocidades. Uma coisa é o tiquetaque que nunca para e outra é como sentimos o tempo a passar. Por quais destes relógios devemos então acertar os nossos ponteiros? Bom, não podemos esquecer que as horas são para respeitar: o toque de entrada na escola (e do recreio!), a pausa para almoço e jantar, a hora de ir para a cama e por aí fora.

🕒 Mas, quem julga que o tempo é um ditadorzinho a impor onde devemos estar, com quem e o que fazer, está enganado. Sem nós, ele não é nada.

O tempo é sobretudo algo que acontece na nossa cabeça. Parece um disparate? Pois, mas é isso mesmo que diz Carlo Rovelli, o físico italiano que anda nas bocas do mundo com o seu best-seller «A Ordem do Tempo».

Ao ler o livro dele, o Bicho-que-Morde descobriu que, afinal, não são as leis da física que regulam o ritmo do tempo. É sim o cérebro com a sua capacidade de criar memórias e expetativas em relação ao futuro.

O tempo nem sequer está ligado à realidade. Pelo menos à realidade que acontece longe da Terra. Na vastidão do Universo, as suas regras não se aplicam porque tudo está em permanente transformação, acontecendo a uma velocidade que não conseguimos registar e nem sequer temos consciência.

O tempo não tem sentido no Universo

Charles Robinson (1896)

 O tempo ajuda a organizar o mundo, mas longe da Terra, não há passado ou futuro. 

Ninguém consegue acompanhar a transformação de uma pedra, de um meteorito ou de um planeta, desde que é poeira até à sua formação grão a grão, camada por camada. É um processo que demora milhares de anos, mas na lógica do Universo o tempo não tem sentido. Uma pedra, um meteoro ou um planeta é apenas uma pedra, um meteoro ou um planeta em mutação contínua e a caminho de alguma outra forma.

Se o tempo para nós parece uma sequência ordenada de acontecimentos é unicamente porque vivemos neste planeta, explica Rovelli. A Terra gira à volta do Sol, fixando os dias e as noites numa sucessão que parece caminhar do passado ao presente.

O Universo, contudo, é muito mais complicado do que uma simples linha cronológica. Basta contemplar uma noite estrelada para entender que não há distinção entre presente, passado e futuro.

🌟 Quantas estrelas vemos a cintilar no céu? Destas, quantas, já nem sequer existem, embora o brilho delas continue a chegar ao nosso planeta?

A luz que se vê da Terra quando se olha para uma estrela que já não existe é um acontecimento do passado que acontece no nosso presente, transmitindo algo a uma distância de 100, 200 ou mais anos-luz.

Bizarro, não é? Mas, com as devidas distâncias, é mais ou menos isso que acontece também quando, por exemplo, a televisão transmite «em direto» a noite dos óscares de Hollywood.

Em Los Angeles, na Califórnia, a cerimónia começa às 6 horas da tarde, mas, neste lado do mundo, já é uma da madrugada. Significa que, para nós, a entrega dos prémios no Dolby Theatre tem início 7 horas mais tarde.

E isso sem contar com o tempo necessário para as câmaras captarem as imagens, transmitirem-nas por cabo (ou por satélite) até serem capturadas pelo nosso ecrã de televisão, processadas no nosso cérebro e chegarem por fim aos nossos olhos.

Sim, é verdade, tudo isso é super-rápido, cerca de um milissegundo de diferença. Ainda assim, demora o seu tempo e o «agora» que os espectadores em Portugal veem «em direto» pela TV já não é o «agora» transmitido em direto de Hollywood.

O tempo nas montanhas

Arthur Hughes (1893)

 O relógio acelera se estiver no alto e abranda se estiver em baixo. 

É só um ínfimo exemplo que nos faz pensar como o tempo é relativo. E, acreditem, há lugares onde ele passa mais depressa e lugares onde demora a passar.

Albert Einstein chegou a essa conclusão há 100 anos. Não tendo instrumentos para comprovar a teoria, ele usou a imaginação para presumir que, tal como o nosso corpo dentro de uma piscina desloca e retarda o movimento da água em seu redor, também o Sol e a Terra ao movimentarem-se modificam o espaço e desaceleram tempo à sua volta.

Da mesma forma, Einstein estimou que, quanto mais próximo se está da Terra, mais o tempo custa a passar. E quanto mais longe, mais depressa se move o tempo. Foi preciso esperar quase um século para essa teoria ficar finalmente comprovada em laboratório.

Em 2010, os físicos do Instituto Nacional de Tecnologia em Boulder, no Colorado (Estados Unidos), usaram relógios atómicos para confirmar que os ponteiros correm a velocidades diferentes quando estamos parados ou em movimento. E até quando o nosso apartamento fica no primeiro ou último piso do prédio.

Os ponteiros rodam mais depressa se estiverem no alto e abrandam se estiverem em baixo e mais próximos da Terra, onde a gravidade é mais intensa e maior é a tração que exerce à sua volta.

🗻 Um relógio no chão corre mais devagar do que outro em cima de uma mesa. Em baixo, aliás, tudo é mais lento do que em cima. 🏝

O tempo passa mais rápido nos picos das montanhas do que ao nível do mar. E, como tal, quem o vive na Serra do Marão envelhece mais depressa do quem vive nas planícies do Alentejo. O mesmo se aplica a quem mora no rés-do-chão e no último andar de um edifício.

As velocidades do tempo

John Tenniel (1865)

 O tempo na cabeça corre mais depressa do que aos nossos pés. 

Até as diferentes partes do nosso corpo envelhecem a ritmos diferentes, consoante a distância que estão do chão. O tempo nas nossas cabeças corre mais solto do que aos nossos pés. O efeito é mínimo e só é percetível quando os físicos usam relógios atómicos para fazer os cálculos. A diferença a um metro de altura em 100 anos seria cerca de 100 nanossegundos, ou seja, cem bilionésimos de segundo.

Seriam precisos, por exemplo, um milhão de anos a viver numa torre de 800 metros para ficarmos apenas alguns segundos mais velhos do que os que vivem numa casa à beira-mar. São quantidades muito pequenas, é certo, mas é o suficiente para se concluir que o tempo, afinal, não é tão certinho como um relógio suíço. Quem diria! 😲

***

John Tenniel (1865)

_Quanto tempo é para sempre?” – Pergunta Alice.
_Às vezes, apenas um segundo – responde o Coelho Branco

«As Aventuras de Alice no País das Maravilhas» (1865), Lewis Carroll

Segue a espiral do tempo e carrega com o cursor no sinal [+] para ler a legenda de cada época. Usa as duas setas no canto inferior direito, se quiseres ampliar o painel.

Atenção: esta apresentação só resulta em pleno no desktop, portátil e tablet. Em alguns smartphones, os textos podem aparecer cortados.

A arte esquecida de ler os sinais da Natureza

Estamos em contagem final para entrar em agosto. É o mês clássico das férias, aquele em que o ritmo desacelera. O melhor do verão é o tempo para reparar nas coisas curiosas sem a pressão do relógio a mandar na nossa vida. Aproveita, por isso, para prestar atenção aos sinais da Natureza. Plantas, animais, ventos ou correntes de água estão sempre a dar-nos pistas sobre a hora, o local ou a temperatura do nosso planeta.



O voo de um pássaro indica o tempo que está para vir, as raízes de uma árvore mostram a direção do sol, uma duna de areia revela o vento predominante e uma flor a desabrochar aponta para o sul. Se estiveres atento ou atenta aos sinais da Natureza, ela guiar-te-á tão bem ou melhor do que a bússola ou o GPS que guardas no telemóvel. Por isso, esquece as tecnologias e parte à descoberta.

Faz exatamente aquilo que, durante séculos, fizeram os agricultores, as tribos de índios ou os pescadores, que nunca precisaram destas engenhocas para sobreviver nos campos, nas florestas ou nos mares. Muita dessa sabedoria para se orientarem ou preverem o tempo transformou-se em provérbios. A maioria é divertida, mas sem base científica. Uma boa parte desse conhecimento, contudo, foi ao longo dos anos sendo confirmado pelos investigadores.

Na direção das árvores

 Se olharmos com muita atenção para uma árvore, ela mostra-nos onde está o sul. 

Há um livro espetacular de um escritor e explorador britânico, que ensina uma série de truques para nos orientarmos pelo sol, pelas estrelas, pela lua, pelas plantas ou pelos animais. Tristan Gooley é o autor de «The Lost Art of Reading Nature’s Signs» (A Arte Perdida de Ler os Sinais da Natueza), que infelizmente não está traduzido para português, mas que dá mais de 800 pistas.

Tristan ensina, por exemplo, a usar as árvores para distinguir o norte do sul. As suas copas têm geralmente um lado mais frondoso e pesado do que outro. Essa é a parte que recebe mais luz solar e essa é a forma de encontrar o sul. A razão é que, estando nós no Hemisfério Norte, o Sol passa a maior parte do dia no lado sul do céu.

A descoberta, em alguns casos, pode não ser imediata e um dos cuidados a ter é dar umas quantas voltas e observar a árvore sob vários ângulos para que nos revele os seus degredos. Nas florestas, pode ser mais complicado, uma vez que todas elas estão em permanente competição por um bocadinho de luz. Mas os galhos das árvores também são bons indicadores, revela Tristan. Os que estão na parte sul tendem a subir em busca do sol, enquanto os que apanham mais sombra são propensos a crescer na vertical.

Alinhados com o campo magnético

 O alinhamento do corpo com o eixo magnético da Terra já foi encontrado em muitos animais. 

Outras formas de descodificar os sinais da Natureza é observar o comportamento dos animais. Os investigadores já descobriram que as vacas gostam muito de posicionar o corpo na direção norte-sul. Não acontece sempre, mas é o mais comum. Tal como os cães, que usam também o mesmo eixo norte-sul para largar os cocós que fazem ao ar livre – não é piada, é mesmo um facto comprovado pela ciência.

Há uma razão para isso e é a mesma que leva também as aves marítimas, como patos ou gaivotas, a escolher o norte para aterrarem sobre as águas. É o alinhamento com o eixo magnético da Terra, que já foi encontrado em muitos animais, desde abelhas, moscas da fruta, morcegos, alguns roedores ou raposas.

Prever o tempo é bem mais complicado. Pois se até os meteorologistas, por vezes, se enganam…. Agricultores, criadores de gado ou índios, no entanto, aprenderam a decifrar os comportamentos dos animais para tentar salvar as colheitas e protegerem-se das chuvas, secas ou invernos rigorosos. Neste capítulo, o «The Older Farmer’s Almanac» é, à semelhança do livro de Tristan Gooley, o guia que revela uma enormidade de sinais da Natureza.

A publicação americana, editada desde 1792, tem tal como a revista portuguesa «Borda d´Água», previsões meteorológicas, tabelas de marés ou gráficos sobre as melhores alturas para semear ou colher frutos, cereais ou tubérculos. Como também recupera a sabedoria popular para mostrar como os animais e as plantas sabem melhor do que os humanos antecipar os problemas que o tempo pode provocar nas suas vidas.

Prever o tempo com os animais

Jim Bendon | CC BY-SA 2.0

 Pássaros, gado, castores ou cavalos têm um sentido especial para antecipar mudanças no clima. 

A quantidade de gordura corporal, a espessura do pelo, onde escondem a comida ou os lugares onde estão os esconderijos eram alguns dos indicadores a que os nativos americanos prestavam atenção. Eles acreditavam, por exemplo, que quanto mais sólidos eram os diques construídos pelos castores, mais rigoroso seria o inverno. E, como tal, o melhor era porem-se a caminho do sul.

Muitos outros sinais da Natureza podem ser encontrados neste almanaque. O Bicho Que Morde selecionou alguns:

Invernos longos e rigorosos

  • Abelhas escolhem locais protegidos para fazer as colmeias (no interior de um armazém ou de um celeiro, por exemplo);
  • coelhos gordos em outubro e novembro;
  • Cascas de maçã duras ou cascas de cebolas grossas;
  • Uivos de lobos antecedem tempestades;
  • Silêncio na floresta é também sinal de tempestade a caminho.

Bom tempo

  • Morcegos a voar pela noite dentro, até quase de madrugada;
  • Pássaros a voar alto no céu (quando voam baixo, é de esperar mudança brusca no tempo);
  • Pássaros a cantar.

Chuva

  1. Cavalos e gado esticam o pescoço e cheiram o ar;
  2. Gado deita-se no pasto;
  3. Porcos ficam inquietos;
  4. Andorinhas voam baixinho ou pousam nos beirais.

O termómetro da Natureza

 A cadência do cricri dos grilos é uma ciência exata para calcular a temperatura no exterior. 

Quem, no entanto, quiser saber qual a temperatura exata só tem de ouvir os grilos com muita atenção. O barulho que eles fazem ao roçarem as asas e as pernas nada mais é do que o canto dos machos, atraindo as fémeas para o acasalamento. Mas o ritmo do cri-cri é mais preciso do que um termómetro.

Quem fez essa descoberta foi Amos Dolbear. Em 1897, o físico americano defendeu a teoria de que a temperatura no exterior condiciona a cadência dos cri-cris dos grilos. A tese já foi cientificamente testada pela meteorologista americana Margaret (Peggy) LeMone, a mesma que também já calculou o peso de uma nuvem, como o Bichinho das Contas mostrou aqui. Uma das poucas fórmulas traduzidas para graus celsius está também no «The Older Farmer’s Almanac».

Para converter o som dos grilos em graus celsius, é preciso contar o número de sons emitidos em 25 segundos. De seguida, dividir esse valor por três. E, por fim, adicionar o número quatro.

Exemplo: 48 cricris ÷ 3 + 4 = 20 °C.

Quem tiver ouvido e paciência para escutar os grilos nunca mais precisará de consultar a meteorologia no smartphone.

😜

Antes de partires, espreita este curioso artigo: Porque é a Natureza (quase) toda simétrica?
E, já agora, se quiseres descobrir os incríveis segredos das árvores e das plantas, lê também o artigo Porque é bom falar com as plantas?


Nove sinfonias para os 250 anos de Beethoven

Este é o ano em que o mundo e a Europa, em particular, assinalam os 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven. Pouca sorte a dele que, com a pandemia, viu a maioria dos concertos adiados ou transferidos para a internet. Não é por isso que será esquecido. Nem tal seria possível. Depois de Beethoven, a música não voltou a ser a mesma. O Bicho que Morde também quis participar da festa. Dedicou-lhe nove sinfonias para lembrar que, apesar do temperamento difícil, ele é um génio da música que merece viver para sempre.


Sinfonia #1

O menino prodígio sem infância

Beethoven tinha cinco anos quando o pai reparou no seu talento invulgar para a música. Pensando que poderia lucrar com isso, decidiu ser ele próprio a dar-lhe as primeiras lições de composição e piano. O filho era obrigado a estudar muitas horas seguidas, todos os dias, acabando o seu esforço por dar rápidos resultados.

Aos 7 anos, deu o primeiro concerto, aos 12 já compunha peças com títulos estranhos como «Canção para um bebé de peito» ou «Elegia pela morte de um poodle». Aos 13 era violoncelista na orquestra da corte e, pouco tempo depois, assumia o cargo de organista-assistente da capela de Bona, cidade do reino da Prússia, que hoje fica na Alemanha. Beethoven era ainda adolescente quando o pai, incapaz pelo alcoolismo, deixou de trabalhar, passando ele a dar aulas de viola para sustentar a família.

Sinfonia #2

No silêncio da surdez

Aos 26 anos, quando fazia a primeira digressão por Berlim, Dresden e Budapeste, Beethoven sentiu os primeiros sintomas da surdez. Aos 48, já não ouvia nada. A perda da audição levou-o a abandonar os palcos, mas continuou a compor, recorrendo à sua extraordinária capacidade para executar mentalmente as notas musicais.

Beethoven fez de tudo para curar a doença, mas os médicos e a medicina, nessa altura, não sabiam como ajudá-lo. Há uma carta dele, datada de 21 de junho de 1801, e endereçada ao amigo e médico Franz Gerhard Wegeler, que relata bem os esforços para recuperar a audição e a angústia por nada resultar.

Os meus ouvidos nos últimos três anos estão cada vez mais fracos. Frank, o diretor do Hospital de Viena, procurou tonificá-los com óleo de amêndoas doces, mas a surdez ficou ainda pior. Depois disso, um asno de um médico aconselhou banhos frios, o que me levou a ter dores fortes. Outro médico aconselhou banhos rápidos no Danúbio, todavia os ouvidos continuam a rosnar e a estalar dia e noite. O doutor Vering disse que certamente meu ouvido melhorará. Se isso não vier a acontecer, tenho momentos em que penso ser a mais infeliz criatura de Deus. Ludwig van Beethoven (1801)

Sinfonia #3

Um feitio do pior

A fama de briguento, mal-humorado e antissocial persegue-o até aos dias de hoje. Muito do mau feitio deve-se à tristeza que sentia por estar a perder a audição, mas não explica nem justifica tudo. Segundo os relatos da época, Beethoven costumava resmungar sozinho pelas ruas e tinha inesperados acessos de fúria. Chegou a atirar ovos ao cozinheiro por não gostar da comida e, tantas vezes se desentendeu com os senhorios, que estava sempre a mudar de casa.

A história mais conhecida, no entanto, é a batalha judicial que travou com a cunhada para ficar com a guarda do sobrinho. Karl, com apenas 10 anos, foi morar com o tio, sendo obrigado a aprender piano contra a vontade e ainda impedido de ver a mãe.

Sinfonia #4

O revolucionário incompreendido

Quase todos os géneros musicais nunca mais foram os mesmos depois de Beethoven. As primeiras obras seguiram uma linha convencional, mas ele depressa levou a música para territórios nunca explorados. As suas composições marcaram a fronteira entre as épocas clássica e romântica, acelerando a transição de uma para a outra. Antes dele, por exemplo, nenhum concerto para piano havia começado com o solo de piano.

Um dos atos mais rebeldes foi incluir também solistas vocais e um coro no movimento final da Nona sinfonia, um género até então unicamente instrumental. Mas nem sempre as suas inovações foram compreendidas. O famoso tchan-tchan-tchan-tchaaaan que abre a 5ª Sinfonia foi até motivo de risota, chegando a ser classificado pelos críticos como «ruído sem arte nenhuma».

Sinfonia #5

Em busca da liberdade

Antes de Beethoven, os compositores trabalhavam para a Igreja, para a realeza ou para senhores nobres e ricos, compondo por encomenda. É o caso de muitos como Bach, Mozart ou Haydn, que, nem por isso, deixaram de produzir magníficas obras de arte. Beethoven, no entanto, ansiava por total liberdade criativa. Razão que o leva a deixar a corte, na cidade de Bona, e a mudar-se para Viena. Com 22 anos, torna-se o primeiro músico não assalariado a viver apenas da sua arte.

Sinfonia #6

Um republicano furioso com Napoleão

Entusiasmado pelos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa, Beethoven chegou a dedicar a Terceira sinfonia, opus 55, a Napoleão, que via como a figura mais capaz de acabar com o regime monárquico e instaurar a república. Quando, em 1804, o líder militar se fez coroar imperador da França, Beethoven ficou tão furioso que riscou com a ponta de uma faca o nome dele da folha de rosto partitura, passando a chamar a sinfonia de Eroica.

Sinfonia #7

O legado para a ciência

Quase dois séculos depois da sua morte, os investigadores da Universidade Complutense de Madrid usaram a obra de Beethoven para descobrir como o cérebro cria conceitos abstratos, tais como uma árvore, uma mesa ou uma nota musical. Para observar o processo, os cientistas construíram uma rede neuronal que foi testada ao som da Nona Sinfonia. Os resultados, divulgados no início deste mês, mostraram que o mecanismo é bem mais simples do que se julgava e que, afinal, só um número muito reduzido de neurónios participa nesta orquestra cerebral.

Também no início deste ano, um outro estudo feito por investigadores americanos concluiu que parte do segredo da arte de Beethoven estava dentro do seu próprio coração. Explicando um pouco melhor: médicos e musicólogos estão convencidos de que ele sofria de arritmia cardíaca. E esta foi a condição de saúde que terá influenciado muito do seu trabalho.

Ao analisarem as partituras, os cientistas demonstraram que as alterações dos ritmos das músicas coincidem, muitas vezes, com as batidas irregulares de um coração que sofre desta doença. A conclusão nem causa assim tanto espanto. Com a surdez a piorar, Beethoven foi prestando cada vez mais atenção às pulsações do seu coração para regular os compassos das suas obras.

Sinfonia #8

O cortejo fúnebre

Por causa da surdez, Beethoven viveu os últimos anos isolado e esquecido pelo grande público até ao dia em que morreu, a 26 de março de 1827, possivelmente de cirrose hepática. O funeral, contudo, foi memorável, com a capital da Áustria paralisada para lhe prestar as honras negadas em vida.

No dia 29 de março, as escolas fecharam, a multidão saiu à rua e o cortejo atravessou as principais artérias de Viena antes de entrar na Igreja da rua Alserstrasse, onde 9 sacerdotes realizaram a cerimónia.

“A sua morte suscitou uma emoção da qual não se tem lembrança… De vinte a trinta mil pessoas acompanharam o funeral. Os compositores mais ilustres, entre os quais Franz Schubert, estavam ao lado da sua urna”, contou dias mais tarde Nikolaus Zmeskal, o fiel amigo de Beethoven, numa carta endereçada a uma outra amiga do compositor, Therese von Brunsvik.

Sinfonia #9

A maldição da Nona

Beethoven deixou ao todo 240 obras, entre as quais 9 sinfonias. É um número pequeno diante das cerca de 60 de Mozart ou de mais de uma centena de Joseph Haydn. Nenhuma grande orquestra, porém, passa sem elas na hora de apresentar o repertório da temporada. A influência das sinfonias de Beethoven não só marcou, como intimidou as gerações seguintes.

Johannes Brahms, por exemplo, já tinha 40 anos, quando ganhou coragem para fazer a primeira tentativa no género musical. O próprio número 9 ganhou uma grande mística depois de Beethoven. Sinfonistas como Anton Bruckner e Gustav Mahler passaram os últimos anos obcecados pela impossibilidade de concluir uma 10º sinfonia, temendo as consequências de uma terrível maldição.

Quando escreveu a Nona e última sinfonia, Beethoven já estava completamente surdo. Ainda assim, decidiu, ao fim de 12 anos de ausência, regressar aos palcos para, no dia 7 de maio de 1824, dirigir, juntamente com Michael Umlauf, a orquestra. O Kärntnertortheater esteve nesse dia lotado, mas o compositor não conseguiu ouvir os músicos nem a grande ovação da plateia no final.

A Nova sinfonia é especialmente famosa pelo seu último movimento, que junta solistas e um coro para interpretar os versos da Ode à Alegria de Friedrich Schiller. Por representar os valores do humanismo, a sua versão instrumental é, desde 1985, o hino oficial da União Europeia.

Ode à Alegria

A maldição da Nona Sinfonia vem mesmo a calhar para sugerir mais uma leitura: Paganini. A maldição de um talentoso violinista.


Quanto calor faz no lugar mais quente da Terra?

Bem-vindos ao sítio mais seco dos Estados Unidos da América e mais quente do mundo. No Vale da Morte, localizado ao norte do Deserto de Mojave, o termómetro já subiu até aos 56,7°C no dia 10 de julho de 1913. O recorde, contudo, só foi oficialmente reconhecido em setembro de 2014, pela Organização Meteorológica Mundial.


São poucos os que conseguem viver nesta zona árida da Califórnia feita de vales fundos, picos rochosos e falésias vermelhas. Tirando os cerca de 300 índios da tribo Timbisha, que no verão sobem até às montanhas e no inverno fixam-se nos vales, mais ninguém se atreve a desafiar o Vale da Morte. Os restantes só aguentam uns tempos e depois vão-se embora, como os turistas.

A maioria dos hotéis e resorts fecha assim que a temperatura atinge 51,7°C.

Nos séculos XIX e XX foram também construídas algumas vilas para os garimpeiros. Foram eles, aliás, os primeiros exploradores a darem o nome a este vale durante a Grande Corrida do Ouro da Califórnia, em 1849. Um grupo de americanos de origem europeia andou perdido neste vale, ao tentar encontrar um atalho para as minas de ouro e prata. Durante a penosa travessia, um deles acabou por morrer e, desde aí, o lugar ganhou este nome e esta maldição.

E, já agora, quanto calor faz no lugar mais quente de Portugal?

 Na Amareleja vivem 2500 habitantes e é o lugar mais quente em Portugal. 

Fica quase 10ºC abaixo do recorde mundial, mas também impõe respeito. A Amareleja, vila alentejana do concelho de Moura, já atingiu os 47,4ºC, no dia 1 de agosto de 2003. E este povoado alentejano não é como o Vale da Morte, nos Estados Unidos da América. Aqui há muito mais gente! São 2500 habitantes, que aprenderam a viver neste forno.

A cal branca ajuda a refrescar as casas no verão, as portas e as janelas ficam fechadas durante as horas de maior calor e o dia começa bem cedo para quem trabalha ao ar livre, como é o caso dos calceteiros, jardineiros ou dos agricultores que, contudo, já não são assim tantos. Às seis da manhã, já estão todos com uma grande genica. Fazem uma pausa para almoçar e depois tiram uma longa soneca, tal como os espanhóis, que também não dispensam a “siesta” nos períodos mais quentes do dia.

Diário do Alentejo

Com tanto calor não é de estranhar que ali esteja uma das maiores centrais de energia solar da Europa. A funcionar desde 2013, produz qualquer coisa como 93 Gigawatts/hora, por ano, o equivalente ao consumo de 30 mil famílias. Além de evitar a emissão de 89,383 toneladas de CO(dióxido de carbono), a central fotovoltaica da Amareleja inclui ainda uma fábrica de painéis que dá trabalho a uma centena de trabalhadores.

No lugar mais quente do universo…

 Quando a estrela WR-104 implodir, vai atingir os 3 mil milhões de graus celsius. 

Quem julga que o sol bate todos os recordes, está redondamente enganado. Os 15 milhões °C que atinge o seu núcleo não se comparam, nem de longe, com o calor que faz no centro da estrela WR-104. Este astro, localizado na constelação Sagitário, fica a quase 8 mil anos-luz da Terra, tem uma massa 25 vezes maior que a do sol e, quando explodir e originar uma supernova, irá atingir 3 mil milhões °C. Ou seja, irá emitir uma energia maior do que a do sol durante toda a sua existência.

 Ufa! Agora só apetece um lugar fresco e 10 sugestões para fugir ao calor.

1 – Borrifos gelados

Um borrifador com água gelada por perto é uma boa técnica para diminuir a sensação de calor. Uns salpicos de água na cara e, nem que seja por breves momentos, a frescura está de volta.

2 – Pontos estratégicos

Os joelhos, a parte interior dos cotovelos, os pulsos, o pescoço e a testa são as zonas que mais calores retêm. São, portanto, pontos estratégicos para diminuir a temperatura, bastando para isso colocar panos húmidos nessas partes do corpo.

3 – O método egípcio

Já nos tempos dos faraós havia técnicas bem criativas para fugir ao calor. Os egípcios usavam duas toalhas para dormir, uma seca e outra húmida (molhada e torcida para não ficar encharcada). A seca ficava sobre o chão e a molhada servia para cobrir o corpo. Com o calor, a humidade evapora-se lentamente, o que permite adormecer nas noites mais quentes. Hoje, há um método mais fácil: colocar os lençóis secos num saco de plástico dentro de uma arca frigorífica ou do congelador durante uns quatro ou cinco minutos. E depois gozar uma noite fresquinha no pico do verão.

4 – O ar que sobe e desce

As lições de física ensinam que o ar frio tem tendência a descer e o quente a subir. Não é por acaso que os aparelhos de ar condicionado ficam no cimo das paredes. A mesma lógica pode ser aplicada na hora de dormir. Colocar o colchão no chão é uma ótima maneira de aproveitar o ar mais frio.

5 – Desligar na tomada

Deixar os aparelhos em stand by é não só um desperdício de energia como contribui para aumentar a temperatura. Computadores, televisores, vídeos, leitores de CD e outros gadgets libertam calor até quando não estão a funcionar. Desligar todos os aparelhos que não são necessários ajuda a aliviar a sensação de ar abafado. E desligar é desligar mesmo! Ou seja, tirar a ficha da tomada.

6 – Duches curtos

Um banho rápido pode ajudar a aliviar a sensação de calor. Deixar a janela da casa de banho entreaberta evita a acumulação de vapores. Ao início, a água não deve ser totalmente fria para não provocar choques térmicos. Atenção aos banhos demorados, a água é um bem escasso que não se deve desperdiçar.

7 – Portas e janelas fechadas

Janelas fechadas e persianas corridas durante o dia vedam a luz, mas impedem também o calor de se espalhar pela casa. Essa sugestão, contudo, só é válida para as casas e apartamentos localizados em zonas onde não corre uma brisa fresca e constante.

8 – Leve e fresco

Roupas de tons claros, tecidos leves como algodão e linho são as melhores opções para enfrentar o calor. Em contrapartida, os tecidos sintéticos e as peças muito justas ao corpo têm o efeito contrário.

9 – Água, muita água!

Beber água durante o dia evita a desidratação, repõe os minerais do corpo e ajuda a regular a sua temperatura. Muitas vezes, as dores de cabeça e as tonturas são sintomas de desidratação.

10 – Saladas de tudo e com tudo

Saladas de vegetais, de hortaliças, de frutas, combinadas com atum, salmão, aves, massas e até com leguminosas. No verão, o mais importante é fugir do calor do fogão e usar a imaginação para criar receitas leves. E há tanto por onde inventar que é possível fazer um prato diferente todos os dias.

🌨❄☃Este tópico só fica completo com a leitura de: Quanto frio faz no lugar mais frio?

Mezinhas. Remédios de salsa e água fresca

Houve um tempo em que ir ao médico era privilégio de poucos e comprar medicamentos, mais difícil ainda. Nas aldeias, lugares onde o progresso demora sempre a chegar, era mais fácil confiar na sabedoria popular do que contar com a ajuda de um médico. Dores de dentes ou de cabeça, ferroadas de abelha, cólicas, constipações ou febres eram curadas com mezinhas caseiras feitas de alfazema ou flor de laranjeira, de banha de porco ou cera de abelhas, de cal ou de sal marinho.


Desde a Antiguidade e ainda antes sequer de existirem médicos, que as mezinhas e crenças nas benzeduras, orações e ladainhas foram passando de boca em boca e de geração em geração. Aproveitava-se tudo o que a natureza oferecia para fazer chás e infusões, xaropes e pomadas, unguentos e emplastros que se acreditava terem um poder para curar dores do corpo e na alma.

Deixamos aqui algumas receitas que vários investigadores recolheram e publicaram em livros ou teses. Começamos com «Mezinhas Populares do Algarve», de Maria da Encarnação Raminhos. Continuamos por aí acima com remédios caseiros outrora usados no Alentejo e publicados por Ana Eleonora Borges e Victor Valente de Almeida, na revista científica «Silva Lusitana». E terminamos esta viagem no norte do país, entre Montalegre e Boticas, com a «Medicina Popular Barrosã», de António Fontes e João Gomes Sanches (ver bibliografia no fim da página).

Aviso importante à criançada: apesar de aparentemente inofensivas, as mezinhas devem ser levadas a cabo apenas por gente que sabe o que faz. Isto é, por ervanários e velhotes das aldeias que, ao longo de anos, acumularam a sabedoria para conhecer as doses certas para cada maleita. Além disso, xarope de toucinho com mel e agriões, centeio às colheradas ou chazinhos de casca de bolota não devem saber lá muito bem.


Algarve

Aftas

Repetir três vezes sem se enganar: «em cima deste sapo, outro, nem este nem outro». Era a ladainha antigamente recomendada, mas não existem quaisquer provas de resultados garantidos. Mais eficaz era uma ou várias lambidelas numa parede caiada, remédio santo para curar estas feridas na boca, que entre as gentes mais antigas do Algarve ganharam o nome de sapos. «O pobre diabo deve estar cozido de sapos», comentavam antigamente as comadres e compadres em algumas terras algarvias ao ver alguém de língua colada nas paredes caiadas.

Inflamação das goelas

Gargarejos, várias vezes ao dia, com salva e chás de malvaísco, de raiz-doce (alcaçuz) ou de cachapeiro (também conhecido por verbasco-ondeado).


Cabelo fraco

Para fortalecer e dar brilho ao cabelo, a receita da mezinha é uma pasta caseira feita com salsa fresca esmigalhada e água. Cobrir todo o cabelo com o preparado e deixar atuar durante cerca de meia hora. Lavar a cabeça com água tépida até retirar todos os vestígios.

Calos

Diz o povo algarvio que vinagre e água quente é a melhor mezinha para extrair um calo por inteiro. Para o sucesso da operação é necessário seguir três passos. O primeiro é colocar numa bacia uma boa dose de vinagre e duas doses iguais de água quente. Deixar os pés de molho nesta solução durante um quarto de hora e, por fim, retirar os calos com os dedos, que deverão sair facilmente. Se ainda assim custar a sair, repetir a operação.


Flatulência (puns)

Uma chávena de água a ferver com camomila, hortelã e acro. Convém deixar o chá respirar por umas horas. Tomar entre três a quatro chávenas por dia.

Irrequietude

Para curar o bicho-carpinteiro, há quatro tipos de chás recomendados: erva-dos-gatos, alfazema, flor de S. João e erva-cidreira.

Alentejo

Dores de garganta

Comer rodelas de limão assadas com açúcar.

Prisão de ventre

Beber sumo de um limão com uma colher de chá de açúcar.

Dores de dentes

Aplicar alecrim cozido e sal no dente dorido.

Cólicas

Massajar a barriga com azeite morno.

Queimaduras

Em terras alentejanas, são conhecidas duas mezinhas para aliviar queimaduras, ambas muito simples. A primeira é uma compressa feita de folha de couve com azeite colocada em cima da queimadura e renovada quando seca. A segunda é fazer o mesmo, mas substituir a couve pela folha da faveira e o azeite pela banha.

Má digestão

Comer hortelã-pimenta com um pedaço de casca de limão.

Tosse

Envolver rodelas grossas de cenoura no açúcar, deixar umas horas até obter um xarope. Há mais uma receita que, em vez de cenouras, usa figos-da-índia e açúcar. Mais trabalhosa é a mezinha que mistura poejos, figos passados, casca e miolo de amêndoa e açúcar amarelo. Ou então, chá de poejo com figos passados, grãos de aveia e mel.

Gripes e constipações

As passas de figo fervidas são muito usadas no Alentejo para aliviar os sintomas de gripes e constipações. Outra mezinha popular é xarope de poejo com uma folha de eucalipto (também usado como remédio para tosse). Ou, então, uma mistura usada só para gripes: nove figos, flor sabugueiro, sete cabeças de marcela, flor de laranjeira, meio litro de água e açúcar. Para rematar, mais três receitas que curam constipações. Poejo e casca de limão, casca de cebola com casca de bolota e limão e flor de malva com poejos.

Lombrigas

Beber um copo de leite e logo a seguir uma chávena de chá de hortelã ou, simplesmente, leite com hortelã.

Febre

Espalhar sobre a testa uma pasta feita de folha de parreira molhada e esmagada no vinagre.

Fraqueza

Ferver e bater bem toucinho velho, juntar agriões e mel. Tomar aos poucos.

Cicatrizar feridas

Aplicar uma pomada feita com flor de murta, alecrim, esteva fervida, azeite e cera virgem.

Região Barrosã (Montalegre e Boticas)

Calvície

Ferver folhas de nogueira e usá-las para lavar a cabeça.

Catarro

Comer sopa de frango e legumes cozinhada em água onde antes se cozeram muitas cebolas.

Diarreia

Comer umas boas colheradas de um destes três cereais: farelo, trigo seco ou centeio. Ou então beber chá de marmeleiro.

Dores de dentes

Lavar a zona da raiz dos dentes com a água benta da igreja.

Febre

Tomar banhos de água fria.

Gretas nas mãos

Passar sabão ou cera de abelha nas zonas afetadas.

Mordedura de vespa ou de abelha

Colocar uma lâmina de aço em cima da ferroada para aliviar a dor e impedir o inchaço.

Queimaduras

Aplicar água de cal misturada com água gelada (com cubos de gelo ou neve). Assim que a dor acalmar, aplicar um emplastro de sabão, açúcar e azeite na zona afetada.

Terçolho

Lavar os olhos com água das pias das galinhas e esfregar com alho.


Bibliografia
  • Compendio dos Segredos Medicinaes, ou Remedios Curvianos, de João Curvo Semedo (1783), disponível na Biblioteca Nacional, em Lisboa.
  • As plantas medicinais e condimentares. Análise das potencialidades de uma região alentejana – concelhos de Reguengos de Monsaraz, Mourão, Moura, Serpa, Barrancos, Alandroal e Mértola, de Ana Eleonora Lopes Borges, Victor Carlos Valente de Almeida (1996), revista Silva Lusitana nº4.
  • Cultura de Plantas Aromáticas e Medicinais, de Giambattista M Ferretti (2005), Publicações Europa-América.
  • Medicina Popular BarrosãEnsaio de Antropologia Médica, de António Fontes e João Gomes Sanches (2005), Lisboa, Editorial Notícias.
  • Mezinhas Populares do Algarve, de Maria da Encarnação Raminhos (2006), Contra Margem.
  • Curas Caseiras e Chás Milagrosos, de Paulo Francisco, Lagos, Colecção Naturália, N.º 12, (2006).
  • Léxico das Plantas Medicinais, de Iris Schmidt (2007), Dinalivro.
  • Ervas, Usos e Saberes – Plantas Medicinais no Alentejo e Outros Produtos Naturais, de José Salgueiro (2010) edições Colibri.
  • Segredos Guardados no Tempo – Plantas, rezas e mezinhas do concelho de Serpa, de Inês Cachola, Isabel Barradas, Margarida Camões, Maria Caeiro e Marina Elisiário (2011), Câmara Municipal de Serpa.
  • Ervas & Mezinhas na Cozinha e na Saúde, de M. Margarida Pereira-Müller (2012), Colares Editora.

Antes de ires embora, espreita só este artigo mesmo a propósito: Doces histórias preparadas na cozinha portuguesa.


Por que são os cães os melhores amigos?

A pergunta é do mais banal que se pode fazer, mas as respostas podem surpreender. Apesar das horas seguidas de brincadeiras, cumplicidade e camaradagem, será que conheces mesmo o teu companheiro de quatro patas? Cada vez mais investigadores dedicam o seu tempo a estudar o comportamento dos cães, usando ressonâncias magnéticas ao cérebro e testes de laboratório. Põe também à prova os teus conhecimentos neste quiz que o Bicho que Morde preparou para ti.

O que deixa o teu cão mais feliz?

1 – Comida.
2 – O teu cheiro.
3 – Correr ao ar livre atrás da bola.

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As respostas 1 e 2 são as corretas.

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O estudo conduzido, em 2014, na Universidade de Emory, nos Estados Unidos, concluiu que o cheiro dos donos ativa o centro de recompensa nos cérebros dos cães. Tal não acontece nem sequer com o cheiro de outros da sua própria espécie. A única coisa capaz de competir com o dono é um belo prato de comida.

Qual destas três opções é a melhor para combater o stress antes dos exames da escola?

1 – Prestar atenção nas aulas, estudar todos os dias um bocadinho e não apenas na véspera.
2 – Boas noites de sono e alimentação saudável.
3 – Uma hora de brincadeira por semana com o teu cão ou o cão de mais alguém.

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Respostas 1 e 2, obviamente, e ainda a 3.

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Patricia Pendry, da Universidade Estadual de Washington, sujeitou 300 estudantes universitários a sessões semanais de uma hora com cães. Após a experiência, feita no verão do ano passado, a investigadora concluiu que os alunos baixaram drasticamente os níveis de ansiedade. Ao se sentirem relaxados, eles relataram também que melhoraram a concentração, a aprendizagem e a memória.

Abóbora, livro ou cão de peluche, qual destes objetos desperta os ciúmes do teu cão?

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Cão de peluche.

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Os testes feitos na Universidade da Califórnia mostraram que o cão não quis saber se o dono se entretinha com um livro ou com uma abóbora. O problema surgiu quando brincou com um cão de peluche que latia e abanava a cauda. Os resultados do estudo revelaram que os animais expressaram uma forte angústia quando o rival ameaçou roubar o afeto do seu dono.

A adolescência é uma fase mais «complicada» para:

1 – Humanos.
2 – Cães.

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Ambos.

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Os cães, tal como os humanos, atravessam grandes mudanças emocionais na puberdade segundo o estudo da Universidade de Newcastle, na Inglaterra. Os resultados dos testes com 82 cães de cinco meses e de 80 cães com oito meses revelaram que a obediência nos mais velhos é inconstante e tem fases altas e baixas.

Qual destes sons põe o cães mais em alerta?

1 – Latidos de outros cães.
2 – Buzinas dos carros.
3 – Voz do dono.

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Latidos de cães.

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Os investigadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, expuseram os cães a mais de 200 sons diferentes, desde o ruído do trânsito, de motores, de outras máquinas, de objetos a cair, barulhos da natureza ou de sons sem palavras emitidos pelos humanos.

Latidos de outros cães foram os sons que mais reações provocaram nestes animais, mas a voz do dono também deixou os cérebros caninos muito ativos. Não foi, contudo, só a voz que contou, mas também a entoação já que, ao escutar os sons positivos, a atividade cerebral deles ficou mais intensa do que ao ouvir sons negativos. 

Qual destas habilidades é o cão capaz de fazer?

1 – Processar números.
2 – Detetar mentiras.
3 – Ler letreiros quando viajam de carro.

Carrega aqui para saber a resposta.
2 – Processar números.

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O estudo da Universidade Emory, nos EUA, sugere que, embora os cães não tenham a capacidade de contar números exatamente como os humanos, eles percebem quando os donos colocam menos ração nas tigelas ou os recompensam com mais comida. Significa isto que eles podem entender quantidades, usando a mesma parte do cérebro que os humanos para fazer cálculos simples.

Qual destas três máximas é o principal lema do cão?

1 – Cheirar primeiro e perguntar depois.
2 – Amigos dos meus amigos, meus amigos são.
3 – Diz-me com quem andas e dir-te-ei que és.

Carrega aqui para saber a resposta.
As respostas 1 e 2 estão corretas.

Carrega aqui para saber uma das explicações.
1 – O olfato é, dos 5 sentidos, o mais desenvolvido e o mais importante para o cão entender o mundo. Com cada narina a funcionar de forma independente, eles percebem, por exemplo, se o cheiro vem do lado esquerdo ou direito. É mais ou menos como o nosso ouvido, só que muito melhor, já que, a cada snifada, detetam mais elementos.

Carrega aqui para conhecer a outra explicação.
2 – A máxima «Amigos dos meus amigos, meus amigos são» também foi válida para os 56 cães que participaram no estudo conduzido pela Universidade de Kyoto, no Japão. Os donos pediram ajuda a quatro pessoas para abrir um frasco, mas uma delas virou-lhes as costas. Logo a seguir, as quatro pessoas envolvidas no teste ofereceram comida ao animal. Os cães aceitaram a oferta de todos, exceto do que se recusara a ajudar o dono. Quiseram, portanto, distância desse imprestável, mas trataram de igual modo os restantes.

Qual destas duplas de animais é capaz de olhar os humanos olhos nos olhos?

1 – Golfinhos e focas.
2 – Cães e primatas
3 – Gatos e leões.

Carrega aqui para saber a resposta.
Cães e primatas

Carrega aqui para saber a explicação.
Estudos desenvolvidos na última década mostraram que, além dos primatas, os cães são os únicos animais que procuram contato visual direto com humanos, apesar de não terem esse comportamento com os seus progenitores.

O olhar que os donos trocam com os seus cães liberta a oxitocina da mesma maneira que entre pais e filhos bebés. A oxitocina (popularmente conhecida como hormona do amor), contribui para criar vínculos afetivos e relações de confiança entre os humanos.

Segundo os investigadores da Universidade Azabu, no Japão, tal como acontece entre pais e filhos, esse mecanismo também ocorre entre humanos e cães através do contato visual frequente e inconsciente entre ambos, aumentando gradualmente os níveis de oxitocina de um e de outro.

Há alguma evidência científica de que cães amam os humanos?

1 – Sim!!!
2 – Não.

Carrega aqui para saber a resposta.
1 – Sim!!!

Carrega aqui para saber a explicação.
Até há pouco tempo, os investigadores que defendiam a primeira hipótese eram acusados de colocar a pieguice acima do rigor científico. Mas, nos últimos anos, os estudos apontam que humanos e cães têm vindo a adaptar-se geneticamente um ao outro.

Evidências de que eles gostam de nós (e nós gostamos deles) não faltam. Basta relembrar alguns dos estudos aqui referidos. Os cérebros deles ficam eufóricos quando sentem o cheiro do dono, conseguem interpretar as emoções nos rostos e nas vozes dos humanos ou enfeitiçar-nos com a oxitocina – a molécula que trocam no olhar com os donos e que ajuda também a aprofundar a ligação entre os humanos.

Se tudo isso não for suficiente, lembremos então as inúmeras histórias reais em que os cães são os protagonistas de salvamentos, de companheirismo, dedicação e lealdade. Com tantas provas dadas, é escusado negar as evidências. Ou será que precisam de ouvir dele: «A-MO-TE!»?

Em breve, dedicaremos um artigo especial aos gatos, mas, enquanto esperas, não queres saber porque os porcos são tão porcos?


Créditos das imagens: Infografias trabalhadas a partir de fotos do banco de imagens Pixabay

Quantas gotas de água podemos poupar num dia?

Não são gotas de água que se poupam. São 30 litros no fim do dia com uma única torneira que deixa de pingar. Ao tomar um duche de 15 minutos, são 180 litros que vão pelo ralo. E, de cada vez que se puxa o autoclismo, são mais 15 litros que descem  pela sanita. Uma gota desperdiçada a lavar a loiça, as mãos ou os dentes não é insignificante. Uma gota que se economiza no quintal, na casa de banho ou na cozinha faz a diferença. No final do ano, todos esses gestos do dia-a-dia enchem 60 mil garrafões de 5 litros. É o suficiente para fazer do futuro um lugar fresco e soalheiro.


É que nem há grande escolha: poupar todas as gotas de água é urgente. E Portugal, que usa mais de 40% dos recursos hídricos disponíveis, está entre os países europeus mais aflitos. Ainda assim, é dos que mais consome. Cada português gasta em casa cerca de 192 litros por dia. Na Europa – com apenas 8% da água doce do planeta –  o consumo por habitante é de 144 litros.

Em ambos os casos, é demasiado para as nossas necessidades e bem distante dos 80 litros/dia que a Agência Europeia para o Ambiente estabeleceu como suficiente para uma qualidade de vida e níveis sanitários equilibrados em comunidade. Com o crescimento populacional, no entanto, a tendência é para aumentar todos os anos.

Está na hora de mudar os hábitos, ou melhor, já passou da hora e vamos ter de acelerar. Os últimos 30 anos têm sido particularmente secos e o que se prevê para as décadas seguintes é mais preocupante ainda. Até ao fim do século, Lisboa poderá ter menos 35 dias de chuva e as regiões do Alentejo e Algarve podem vir a ter menos 80% de precipitação.

A boa notícia é que poupar não é um bicho-de-sete cabeças. São gestos simples, muitos deles pequeninos mas, multiplicados por todos, são gigantes. Este é o manual de poupança do Bichinho das Contas. Se ele for aplicado todos os dias, a tua família entrará nesta corrente que irá salvar a espécie humana. É isso que está em causa.

Cozinha

Lavar a loiça na máquina

A poupança = 97 litros por lavagem

Lavar a loiça com a torneira aberta durante 15 minutos gasta 117 litros. A máquina de lavar loiça cheia consome 20 litros.

Não fazer pré-lavagem

Poupança = 38 litros por lavagem

É a quantidade de água que se poupa quando não se passa a loiça por água antes de colocá-la na máquina. Naqueles casos em que as panelas, travessas ou as tijelas estão mesmo sujas, remover os restos de comida e passar um pano húmido pode ser uma boa opção.

Máquina de roupa na carga máxima

Poupança = 10 litros por lavagem

Fazer a lavagem da roupa só quando a máquina está cheia resulta numa poupança de mais de 10 litros. Uma máquina utiliza, no mínimo, 34 litros de água por carga, mas os consumos podem ir dos 60 aos 90 litros, dependendo da sua eficiência.

6 bons hábitos na cozinha
  1. Se a loiça for lavada à mão, encher o lava-loiças apenas com a água necessária. Não deixar a água a correr continuamente.
  2. Lavar as frutas e os legumes em alguidares e não em água a correr. Usar essa água na rega das plantas.
  3. Reduzir a água da cozedura dos alimentos e colocar uma tampa na panela. Além da poupança, o gesto permite conservar muitos dos nutrientes e vitaminas dos alimentos.
  4. Descongelar a comida ao natural ou no micro-ondas em vez de usar água corrente.
  5. Usar o mesmo copo para beber água durante o dia, evitando várias lavagens.
  6. No verão, ter uma garrafa de água sempre fresca no frigorífico evita abrir a torneira e esperar que a água fique fria de cada vez que tem sede.

Casa de Banho

Duche

Poupança = 120 litros por banho

Um duche de 15 minutos, com o chuveiro a correr, consome cerca de 180 litros. Se fechar a torneira enquanto se ensaboa e reduzir o tempo para 5 minutos, irá diminuir o consumo para 60 litros. Por cada 2 minutos debaixo chuveiro são cerca 40 litros que escorrem pelo ralo. Um chuveiro com sistema redutor de caudal pode economizar 80%.

3 bons hábitos no banho
  1. Fechar a torneira ao ensaboar o corpo e ao lavar o cabelo.
  2. Programar um temporizador para sair do banho.
  3. Usar um balde para aproveitar a água que sai do chuveiro enquanto não aquece, podendo depois usá-la na rega ou nas descargas do autoclismo.

Lavar os dentes

Poupança = 13,5 litros por lavagem

Lavar os dentes com a torneira semiaberta pode gastar à volta de 14 litros. Se usar um copo, pode diminuir para apenas menos de meio litro.

Fazer a Barba

Poupança = 40 litros/dia

Se colocar uma tampa no lavatório gasta dois litros em vez dos 40 litros de água desperdiçados quando abre e fecha a torneira constantemente.

Lavar as mãos

Poupança = 5-6 litros por lavagem

Ensaboar as mãos demora, no mínimo, 20 segundos. Se a torneira estiver aberta enquanto usa o sabão, são entre 5 e 6 litros desperdiçados.

Reparar fugas de água

Poupança = 30 litros/dia

Uma torneira a pingar de 5 em 5 segundos gasta 30 litros de água por dia e 10 mil litros ao ano.

Autoclismo

Poupança = 7,5 litros/descarga

Cada descarga gasta entre 10 e 15 litros, dependendo da eficiência do autoclismo. Se colocar uma garrafa de 1,5 litros cheia de areia dentro do depósito da água, pode diminuir para 8,5 litros por descarga. Um autoclismo com fugas de água pode chegar a gastar cerca de 379 litros de água por dia.

Garagem

Lavar o carro com balde e esponja

Poupança = 450 litros por lavagem

De cada vez que usa a mangueira para lavar o carro, gasta cerca de 500 litros. O balde e a esponja reduzem essa quantidade para 50 litros.

Piscina

Cobrir a piscina com impermeável

Poupança = 3800 litros/mês

Ao cobrir a piscina quando não está a ser utilizada, pode evitar a evaporação até 3800 litros por mês.

Horta e jardim

9 bons hábitos a jardinar

  1. Jardins e hortas devem ter as plantas e legumes organizados segundo as necessidades de água. Alecrim, alfazema ou oliveira são exemplos de culturas que necessitam menos água. Folhas pequenas, espessas e rijas resistem melhor ao calor e à falta de água. Folhas com espinhos e com pelos estão também melhor preparadas para as altas temperaturas.
  2. Vegetação rasteira, como o trevo vermelho ou a verbena, ajuda a proteger o solo contra a perda de água por evaporação.
  3. Conhecer as necessidades hídricas do solo (os argilosos precisam de menos água do que os arenosos).
  4. Optar por sistema de rega gota a gota, sobretudo nos meses mais quentes para evitar perdas de água.
  5. Colocar as plantas que exigem mais água em zonas de sombra para reduzir a perda de gotas de água por evaporação.
  6. Usar cercas ou outros paraventos para evitar que o vento impeça as gotículas de penetrar no solo.
  7. Cobrir o solo com agulhas de pinheiro, serragem, cascas de árvore ou restos de poda para reter a água e aumentar a humidade do solo.
  8. Regar de manhã cedo ou ao final da tarde. Não regar à noite e nem quando há vento.
  9. Armazenar a água da chuva em tanques ou bidons para usar na rega.

Família exemplar

Poupança = 300 mil litros/ano

Um casal com um filho/a, ao fazer de tudo para não desperdiçar uma gota em casa, poupa cerca de 300 mil litros de água por ano, o que equivale a 60 mil garrafões de 5 litros. É o suficiente para encher quase 7 piscinas de 4 metros de largura, 7 de comprimento e 1, 5 metros de altura.

Políticas e consumos sustentáveis

Poupança = 64 litros/dia

Uma combinação de medidas — políticas de preço para a poupança de água, redução de fugas, instalação de dispositivos de poupança de água e eletrodomésticos mais eficientes — poupariam até 50 % da água que se gasta em casa. O consumo, segundo a Agência Europeia do Ambiente, poderia ser reduzido de 144 litros para 80 litros/dia por pessoa em toda a Europa.

🌍 Este artigo só fica completo com a leitura de: Quanta água doce há na Terra?

Fontes consultadas: Agência Europeia do Ambiente (1) e (2) | GreenMe | Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos | Be The Story | Casa do BarlaventoAmerican Rivers | National Geographic | Mougadouro.pt | Expresso | fecheatorneira.pt |