Por que são os burros tão casmurros?

O que se passa na cabeça de um burro quando empaca a meio do caminho? O dono bem pode puxar pela trela durante horas que o animal não se mexe nem um milímetro. E quem achar que resolve o assunto com umas palmadas ou um chicote, leva um coice tão grande que então é que não vai a mais lado nenhum.

É este feitio danado que fez com que o burro e a mula ganhassem fama de casmurros e de estúpidos. A má reputação vem de tão longe que se perdeu no tempo, mas continua bem viva nos ditados populares. Vozes de burro não chegam ao céu, burro velho não aprende línguas, andar de cavalo para burro ou dar com os burros na água. Nada disso é abonatório para este animal, que não merece ser destratado desta maneira.

Somos apressados a criticar o burro, sem parar para pensar que ele pode ter os seus motivos para se recusar a fazer tudo aquilo que o dono quer.

Essa teimosia, na verdade, não é mais do que uma tentativa para evitar o perigo. Os zoólogos dizem que o burro tem um sentido apurado de autopreservação. Se no caminho surge um obstáculo que eles julgam impossível ultrapassar, então não arredam o pé na sua estratégia de defesa.

Parece perfeitamente razoável, certo? Seria o mesmo que alguém nos dissesse para percorrer um caminho à beira de um penhasco, passar uma ponte periclitante ou atravessar um rio cheio de correntes traiçoeiras. Quem é o corajoso que avança sem hesitar? O burro até é capaz disso, mas primeiro precisa de confiar no seu dono. Com os humanos também não é diferente. Se tivermos ao nosso lado alguém em quem confiamos, sabemos que estamos seguros.

Cautelas de burro não são para ignorar

 O burro empanca ao pressentir perigo no caminho e só vence o medo quando confia no dono. 

E para confiar é preciso tempo. Os burros têm uma excelente memória e guardam tudo, as boas e as más experiências, que depois vão condicionar o seu comportamento. Por isso, se o dono quer um animal obediente, terá de provar que gosta dele e que tudo fará para o afastar dos caminhos perigosos.

Conquistada a confiança, os burros entregam-se de corpo e alma à sua missão. Trabalham que se fartam, percorrem centenas ou milhares de quilómetros com o dorso carregado de fardos sem nunca se queixarem. Não é por acaso que foram dos primeiros animais de carga a serem domesticados, há cerca de cinco ou seis mil anos, no continente africano.

Foi o burro e não o camelo, por exemplo, que, há cinco mil anos, abriu o caminho pelo deserto do Saara, permitindo o comércio entre o Egito e a Mesopotâmia – corresponde hoje a partes do território do Iraque e do Kuwait, além de zonas orientais da Síria e regiões fronteiriças entre Turquia e Síria e Irão e Iraque.

Os burros foram os pioneiros das rotas comerciais de longa distância, embora nenhum animal sozinho tenha feito estes trilhos do princípio ao fim.

A mistura de raças, aliás, começou durante esses trajetos, com acasalamentos não planeados, dando início à diversidade de espécies que hoje temos.

Os egípcios ficaram tão gratos aos burros que lhes concederam a maior das considerações. As sepulturas descobertas em 2002, próximo da cidade de Abydos, no Nilo, são a prova de que estes animais tinham estatuto igual à dos altos funcionários encarregues de controlar o sistema judicial ou cobrar os impostos. Dez esqueletos de burros foram encontrados em câmaras funerárias estrategicamente ligadas ao túmulo de um dos primeiros reis do Egito, mostrando como eram tão importantes.

O pioneiro no deserto do Saara

 O burro abriu o comércio entre o Egito e a Mesopotâmia. Os egípcios ficaram-lhe tão gratos que os sepultaram junto ao rei. 

A capacidade de trabalho do burro tornou-o também popular no Império Romano, que o usava principalmente nas vinhas, algumas plantadas até ao norte de França e da Alemanha. Na Grécia foi igualmente considerado o melhor animal para carregar cachos de uvas nos estreitos caminhos entre as videiras. O seu uso para o cultivo em vinhedo espalhou-se depois pelos países do Mediterrâneo, como Itália e Espanha.

Mais do que um bom vindimeiro, o burro é um camponês robusto pronto para qualquer tarefa agrícola. Foi assim que ele entrou nas povoações rurais, em Portugal. Mas, apesar da sua enorme importância para a economia do Interior, foi durante séculos considerado como o parente pobre do cavalo.

Só assim se justifica não ser tão estudado como o seu primo afastado. Nem sequer conseguimos conhecer que percursos teve para dar origem às raças que hoje habitam o território português. O pouco que se sabe é que o burro mirandês, raça originária dos concelhos de Miranda do Douro e parte de Mogadouro, é proveniente do tronco europeu Zamorana-Leonesa.

É principalmente o pelo que o distingue de todos os outros burros. A pelugem cumprida e grossa de cor castanha escura (com exceção para as três manchas brancas à volta do focinho e dos olhos), é o que lhes permite enfrentar a terra fria transmontana. Ele foi durante muito tempo usado como animal de transporte de carga e de pessoas, assumindo um papel tão importante que as feiras de burro eram um dos grandes acontecimentos das vilas e aldeias da região.

Hoje, tal como acontece com as restantes raças, os burros de Miranda perderam o seu estatuto no campo, com o uso das máquinas agrícolas.

Mas, ao contrário de boa parte de outras raças -, esquecidas com a vinda de camiões, comboios ou barcos de carga -, estes animais têm vindo a ser, nos últimos anos, mais valorizados pelos mirandeses. A sua preservação é aliás considerada um grande trunfo no ecoturismo ligado à conservação da natureza e património cultural.

O guardador de rebanhos

 Se tiverem sob o seu cuidado ovelhas ou vacas, os burros são capazes de virar feras para os proteger. 

Os mirandeses estão a perceber que o seu fiel companheiro de trabalho não serve apenas para transportar carga e é tão inteligente que se adapta ao mundo moderno. Quem se der também ao trabalho de conhecê-los melhor, verá que continuam tão úteis como antes.

Nos últimos anos, têm sido usados na Europa ou nos Estados Unidos para proteger o gado e os rebanhos, tal como já acontece há mais de um século em países africanos como a Namíbia.

Se tiverem sob a sua responsabilidade ovelhas, cabras ou vacas, são capazes de virar autênticas feras para os defender. Como são também meigos e pacientes, tornaram-se nos melhores terapeutas de qualquer humano que precise dos seus cuidados para recuperar as capacidades sensoriais, emotivas, motoras ou sociais. A sua técnica é tão eficaz que ganhou o nome de asinoterapia.

Não é qualquer um que se torna um especialista nesta terapia, só mesmo o burro tem as qualidades certas. Temperamento dócil, excelente memória, forte, estável a nível físico e emocional e com movimentos lentos e seguros. Digam lá quem se atreve agora a chamá-los de casmurros e estúpidos? Pois, bem parecia…

Duas perguntas essenciais para fazer aos burros

1 – De onde vêm e onde vivem?

Nós pertencemos à família dos equinos e temos como parentes próximos o cavalo e a zebra, mas separamo-nos destes dois grupos há qualquer coisa como quatro milhões de anos. Somos conhecidos por sermos animais resistentes, podendo viver entre 20 a 30 anos e em qualquer parte do planeta. As regiões mais frias, contudo, são mais agrestes e, como tal, já não é tão comum encontrar familiares nossos.

2 – Quantos burros há no mundo?

Não é muito fácil saber ao certo, mas uma contagem feita pela organização do Reino Unido, Santuário do Burro, diz que juntos somos à volta de 50 milhões de burros. Apesar de parecermos muitos, os de raça pura são mais raros, com vários à beira da extinção. É o caso das 17 raças oriundas da Europa, que nos últimos 20 anos tiveram um declínio de 50% nas suas populações.

O burro de Miranda não é exceção, correndo o perigo de desaparecer nos próximos 50 anos, segundo uma investigação da Universidade dos Trás-os-Montes e Alto Douro. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, o burro selvagem africano está criticamente em perigo e o asiático está classificado como quase ameaçado.

💔Se tens um carinho especial pelos animais mal-amados, espreita o artigo: «Por que gostam os abutres de cadáveres?»

Ilustrações: The runaway donkey, and other rhymes for children (1905) de Emilie Poulsson, 1853-1939

Fontes consultadas: Santuário dos Burros | Live Science | The New York | Observador

As crianças de Vasco Granja

Hoje vamos viajar com o Bicho-que-Morde até aos anos 70 do século passado. A televisão é a preto e branco e só existem dois canais. A emissão começa e acaba à hora certa e os programas infantis são praticamente inexistentes. Os rapazes jogam à bola, as raparigas à macaca e ao elástico e as famílias fazem serões à volta do monopólio.

 

Ao fim da tarde, eles e elas suspendem as brincadeiras e sentam-se frente ao televisor. Um homem de óculos, cabelos grisalhos e meio careca aparece no ecrã. Está sentado numa cadeira e levanta muito as sobrancelhas enquanto diz devagar nomes estranhíssimos de autores e de filmes de animação.

Nomes tão estranhos que ele próprio se engasga algumas vezes ao pronunciá-los. A gaguez, embora ligeira, também não o ajuda a desprender a língua no momento de soletrar apelidos impronunciáveis como Huszczo ou títulos como Zaczarowany Olowek.

Vasco Granja marcou para sempre as infâncias dos anos 70 e 80. Começou na RTP logo após o 25 de Abril de 1974. Era para fazer meia dúzia de sessões, mas acabou por ficar 14 anos e apresentar 1040 programas – Cinema de Animação (1974-1976), Os Mestres da Animação (1977-1984) e Imagens e Imagens (1985-1988).

É um mistério como tantas e tantas crianças naqueles tempos estavam viciadas nos desenhos animados que vinham da antiga União Soviética, da Checoslováquia, da Polónia, do Japão ou do Canadá.

Não era só por serem países dos quais pouco ou nada sabiam, era sobretudo porque as animações eram esquisitas. Muitas vezes nem sequer pareciam ter uma história, outras vezes só tinham história se se ficasse a matutar nelas algum tempo. Nem sempre eram cómicas e, com alguma frequência, não se assemelhavam a coisas para crianças.

Ainda assim, a miudagem via tudo até ao fim. É certo que não havia muito mais para fazer, mas só isso não explica como um programa de televisão aguentou uma década e meia. Vasco Granja, já nessa altura, sabia como prender os espectadores ao ecrã, sem precisar de se preocupar com audiências e estratégias de marketing. Só depois dos polacos, dos japoneses ou dos canadianos surgia, por fim, o que todos ansiavam: a Pantera Cor-de-Rosa, a animação da Disney ou os cartoons do Looney Tunes.

E foi assim que a criançada viu coisas maravilhosas. Sombras chinesas, desenhos animados de papel recortado, de cartolina ou de plasticina, marionetas, animações com latas, alfinetes ou parafusos.

Muitos anos se passaram e as crianças dos anos 70 e 80 cresceram. De vez em quando, ainda regressam aos desenhos animados do Vasco Granja. São hoje adultos, mas gostam de voltar à infância. Aprenderam com ele que, basta ser curioso, para descobrir que a televisão pode até ter começado a preto e branco, mas o mundo é grande e cheio de cores.

 

Ficha biográfica
Nome: Vasco de Oliveira Granja
Nasceu em: Campo de Ourique (Lisboa), a 10 de julho de 1925
Morreu em: Cascais, a 4 de maio de 2009
Alcunha: pai da Pantera Cor-de-Rosa

Percurso profissional: começou rapazito nos Armazéns do Chiado e na Casa Travassos, no Rossio, em Lisboa, onde vendia a lotaria. Em adulto, foi trabalhar para a Livraria Bertrand, onde ficou quase 30 anos, atividade que desenvolveu a par dos programas infantis da RTP.
Foi director da segunda série da revista “Spirou” (edição portuguesa). Antes disso, foi o editor do “Quadrinhos”, um dos primeiros fanzines publicados em Portugal (1972). Esteve ainda ligado à fundação da primeira livraria especializada de BD em Lisboa, O Mundo da Banda Desenhada (1978). E fez muito mais nas áreas da animação e do cinema que não cabem neste resumo.

 

Os bonecos de Granja

Professor Baltazar

No seu laboratório atafulhado de engenhocas movidas a chapéus-de-sol ou cata-ventos, o professor Baltazar é mais do que um cientista careca e de barbas brancas. Parece um alquimista a inventar gerigonças e a combinar poções. Líquidos e soluções fumegantes que, depois de atravessar labirintos de tubos, canalizações e torneiras, saem em gotas coloridas para acabar com os obstáculos que surgem em cada história contada em pouco menos de 10 minutos.

 

Ficha técnica
Autor: Zlatko Grgić, diretor de desenhos animados no estúdio Zagreb Film
País: Croácia (território então integrado na antiga Jugoslávia)
Episódios: 59 feitos entre 1967 e 1974.
Estreia em Portugal: 1974 no “Cinema de Animação” de Vasco Granja

 

Lápis Mágico

Piotr é um rapaz com sorte, tem um cão amarelo como companheiro e um amigo duende que lhe empresta um lápis com poderes mágicos. Tudo o que Piotr desenha, animais ou objetos, ganha vida, acabando por resolver qualquer problema ou dissipar todas as ameaças. O presente funciona apenas em momentos de perigo e, nas mãos erradas, é somente um lápis normal.

 

 

Ficha técnica
Título Original: Zaczarowany Olowek
Autores: Adam Ochocki (argumento), Karol Baraniecki (arte), Zbigniew Czernelecki e Waldemar Kazanecki (música), da produtora Se-Ma-For
País: Polónia
Episódios: 39 feitos entre 1964 e 1975
Estreia em Portugal: anos 70 no programa de Vasco Granja, “Cinema de Animação”. Regressou em 1991 no programa Canal Jovem, da RTP, em 1991

 

O pequeno Inventor

Em cada episódio, surge um problema na quinta do avô de Dobromir, uma carroça danificada, fruta madura de mais ou um chuveiro avariado. Para todos os percalços, o rapaz tem uma solução. Por vezes, é preciso pensar muito antes de ir para o sótão e rabiscar os esboços das geringonças que inventa.

 

 

Ficha técnica
Autor: Roman Huszczo
Título original: Pomyslowy Dobromir
País: Polónia
Episódios: 20 episódios produzidos de 1973 a 1975
Estreia em Portugal: 1987, no programa Imagens e Imagens, de Vasco Granja

 

A Pantera Cor-de-Rosa

A Pantera Cor-de-Rosa é originalmente uma personagem do filme Pantera Cor-de-Rosa, de Blake Edwards e com Peter Sellers (inspetor Closeau) entre os protagonistas. A comédia tem como gatilho o roubo do maior diamante do mundo, com a particularidade de mostrar no seu interior a imagem de uma pantera.

O papel da Pantera Cor-de-Rosa resume-se a uma breve aparição no genérico. Foi o que bastou para se tornar famosa e passar a estrela animada do cinema e da televisão americanas. É claro que boa parte do sucesso se deve também à banda sonora, de Hary Mancini. Uma série de curtas-metragens são transmitidas primeiro nos cinemas e depois exibidas em bloco na televisão sob o título The Pink Panthern Show.

 

Ficha técnica
Título Original: The Pink Panther Show
Autores: estúdios DePatie-Freleng Enterprises.
País: EUA
Animação: Don Williams, Bob Matz, Norm McCabe, LaVerne Harding
Argumento: John W. Dunn
Episódios: 121 exibidos originalmente entre 1969 e 1980 nos Estados Unidos.
Estreia em Portugal: 1974 na estreia do programa “Cinema de Animação” de Vasco Granja, mantendo-se regular até aos anos de 1980. Regressou em 1994 no canal SIC.

 

Os autores de Granja

 

Norman Maclaren (1914-1987)

 

Escocês, a viver no Canadá, Norman McLaren foi um dos autores que mais técnicas introduziu na animação. O stopmotion é, por exemplo, uma invenção dele – as figuras e objetos são fotografados ou filmados frame a frame e montados depois numa película para dar a impressão de movimento.

Norman McLaren fez, ao todo, 59 filmes de animação, desenhou sobre telas de raio-x da sua própria cabeça, fez experiências com luzes e profundidade e trabalhou a sincronização de imagens e sons, criando filmes até hoje inovadores. A sua obra mais conhecida é uma curta-metragem, que lhe valeu um Óscar em 1953. “Neighbours” (“Vizinhos”) é um filme de oito minutos contra a estupidez da guerra, que Vasco Granja apresentou na estreia do seu programa, em 1974.

 

Lotte Reiniger (1899 – 1981)

Com doses infinitas de talento e de paciência, Lotte Reiniger criou mundos encantados de princesas e de cavaleiros, fábulas das Mil e Uma Noites e contos de fadas, narrados através de silhuetas em papel recortado. Usou tesouras e cartolinas pretas para transportar o teatro de sombras chinesas até ao cinema. Lotte Reiniger iniciou o seu percurso na Alemanha, onde nasceu, e mais tarde no Reino Unido, para onde se refugiou durante a 2ª Guerra Mundial.

 

Tex Avery (1908-1980)

 

A fórmula do mestre Walt Disney ditou durante décadas as regras da animação. Princesas delicadas, personagens fofas, castelos, florestas e bosques encantados. E assim foi até Fredrick Bean Avery – ou simplesmente Tex Avery – chegar à Warner Bros, em 1935, e desarrumar o mundo perfeito dos desenhos animados. Logo no ano seguinte, surge a sua primeira criatura esgrouviada, o Daffy Duck.

Pouco tempo depois, chega Bugs Bunny que, não sendo uma criação de Tex Avery, ganhou dele o seu carisma, acabando por formar com Duffy Duck um duo ainda mais alucinado. E, por fim, Elmer Fudd, o caçador trapalhão que nunca consegue apanhar nem o coelho nem o pato.

 

Koniek *

* Fim em checo (a palavra que todas as crianças de Granja conhecem)

 

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Foto (abertura): ilustração feita a partir da fotografia de Manuel de Sousa.

 

 

Quantas profissões existem?

Um engenheiro nunca é só um engenheiro. É engenheiro civil, agrónomo ou mecânico. Tal como um biólogo pode ser um virologista, um micologista (estuda os fungos) ou um entomologista (estuda insetos). O mesmo acontece com médicos, advogados, físicos, terapeutas, arquitetos e por aí fora. As especializações são tantas que tornam bastante complicada a tarefa de contar o número de profissões.


Os técnicos do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) fazem esse trabalho de tempos a tempos e, na última revisão, em 2011, enumeraram 708 profissões. Se parece pouco, é porque a Classificação Portuguesa das Profissões, um calhamaço com mais de 400 páginas, não separa essas funções por especialidade. Caso contrário, a lista, organizada de acordo com os parâmetros da Organização Internacional do Trabalho, teria milhares e milhares de profissões.

Essa contagem tem de ser atualizada de vez em quando porque estão sempre a surgir novos empregos. Há poucos anos apareceu, por exemplo, o gestor de redes sociais para promover marcas ou analisar o comportamento dos consumidores no Facebook, no Twitter, no Instagram, entre outros. O desenvolvedor de aplicações móveis é outra profissão nova dentro do ramo da programação de computadores, que surgiu, há menos de uma década, com a finalidade de criar aplicativos para smartphones e tablets.

Em contrapartida, outras profissões tornam-se obsoletas, acabando por se extinguir, como é o caso das lavadeiras, dos datilógrafos ou das governantas. Um dos principais responsáveis pelo surgimento ou desaparecimento de profissões é a tecnologia que substitui o trabalho de pessoas ou cria ofícios para novas necessidades.

O mundo do trabalho é um labirinto com uma infinidade de caminhos, muito parecido com um formigueiro cheio de galerias subterrâneas.

Cada formiga tem o seu papel. Umas tratam da limpeza, outras da segurança, há as que vão à procura de comida e as que armazenam os mantimentos ou as que cuidam dos berçários, adaptando as rotinas e as estratégias às regiões onde vivem.

E nós somos quase como as formiguinhas. A grande diferença é que elas nunca perguntam a si próprias se gostariam de fazer outra coisa na vida ou se o trabalho delas deveria ser melhor recompensado. Num formigueiro, não há greves e ninguém acorda de mau humor para ir trabalhar. A desvantagem é que muitos talentos são desperdiçados.

Os humanos trabalham para pagar as contas e para manter o mundo a girar, mas não só. O objetivo também é descobrir o que melhor sabem fazer e chegar a casa com a sensação de que são bons naquilo que fazem. Uns já encontraram esse trabalho, alguns estão ainda à procura e outros adiaram essa tarefa. Há sempre os sortudos que acertam à primeira e os que experimentam muitos caminhos antes de acertarem.

E haverá também sempre aquelas profissões mais populares, advogados, gestores, informáticos, polícias ou professores. E também empregos que a maioria nem desconfia existirem, mas alguém tem de os fazer. Nancy Rica Schiff, por exemplo, é uma fotógrafa americana especialista em empregos esquisitos. Ela percorre os Estados Unidos de lés a lés à procura de profissões raras. Já encontrou de tudo dentro de laboratórios, museus, fábricas, casinos, aquários ou resorts de golfe.

Fotografou cheiradores de axilas, que se certificam da eficácia dos desodorizantes, farejando sovacos transpirados, provadores de ração, que avaliam sabores e texturas de biscoitos e comida para cães e gatos, inspetores de batatas fritas que são rápidos a eliminar as rodelas de tamanhos diferentes ou mergulhadores que se atiram de cabeça para os lagos nos campos de golfe à procura de bolas perdidas.

O Bichinho das contas também selecionou 7 profissões que, não sendo raras nem esquisitas como as que Nancy descobriu, dificilmente nos lembraríamos delas no dia-a-dia. Embora umas sejam mais visíveis e outras quase invisíveis, todas existem porque há sempre alguém a precisar de um serviço de mais alguém.

Ornitóloga ou Ornitólogo

Mochila às costas, caminhadas longas por matas, florestas e bosques, subindo montanhas ou atravessando lagos e descendo rios. Os ornitólogos fazem o que for preciso para observar de perto os passarinhos e outras aves, classificando-os em espécies, géneros e famílias. Por isso, quem achar piada a esta profissão tem de ter uma boa preparação física e, mais importante ainda, não entrar em pânico de cada vez que se cruza com insetos, aranhas, cobras e restante bicharada.

Muitas vezes, os ornitólogos percorrem quilómetros e quilómetros para depois esperarem horas a fio no mesmo lugar que as aves decidam dar o ar da sua graça. Só assim conseguem descobrir os hábitos e os comportamentos que têm sozinhos ou em grupo, as habilidades que aprenderam ou com as quais nasceram e a sua importância para a conservação do ecossistema.

Atuário ou atuária

Alguém tem de pensar no dia de amanhã. Como vai ser quando chegarmos à reforma? O que acontece se tivermos uma doença ou um acidente? Qual é o plano B, se tudo der para o torto? Esse é o papel de um atuário ou de uma atuária, que usa as ciências exatas como matemática, estatística e probabilidades, economia, finanças, entre outras, para medir, analisar e gerir todos os imprevistos que podem vir ou não a acontecer.

Ele ou ela são a nossa boia de salvação em emergências, estimando, por exemplo, o valor de indemnizações em casos de despedimentos ou acidentes, avaliando regimes de pensões ou sistemas de seguros. Mas os atuários não veem só números à frente. Cada cálculo ou estimativa tem sempre em conta que o mundo está constante em mudança.

Entomologista forense

Não é qualquer um que gosta de uma profissão que obriga a passar a maior parte do tempo entre larvas, insetos e cadáveres em decomposição. Esse é o lado negro de um entomologista forense. Mas, a faceta empolgante deste ofício é a perícia para desvendar crimes. Ele ou ela é como um inspetor ou inspetora de uma brigada de homicídios à procura de pistas.

Só que, em vez de interrogar as testemunhas sobre o que viram ou julgaram que viram, pergunta diretamente aos bichos o que aconteceu. As larvas e os seus ovos depositados nos cadáveres contam tudo o que sabem: há quanto tempo a vítima foi assassinada, se foi transportada para outros locais ou até se as lesões aconteceram antes ou depois da morte.

Musicoterapeuta

A música, sozinha, já é terapêutica. Tem poder para nos relaxar, comover, dar energia ou alegria. Agora imagine-se o que pode ela fazer quando usada por profissionais para promover a concentração, controlar raivas, stress ou ansiedades, estimular o movimento e posturas corretas do corpo, ajudar a expressar sentimentos e emoções ou desenvolver a capacidade para trabalhar em grupo.

Uma ou um musicoterapeuta estudou música, mas não só. Aprendeu também que cada som, ritmo, melodia e harmonia, aliado a outras disciplinas como psicologia ou a neurologia, pode fazer maravilhas pela saúde e bem-estar.

É ainda uma profissão pouco conhecida, mas o que não faltam são lugares onde os musicoterapeutas são precisos. Desde hospitais psiquiátricos, centros de reabilitação, lares de idosos, escolas e jardins-de-infância, prisões, hospitais, entre muitos outros sítios.

Engenheira acústica ou engenheiro acústico

Uma discoteca, um bar com música ao vivo, uma sala para espetáculos ao vivo, um auditório, um cinema, um teatro, um estúdio, um estádio, um pavilhão ou uma igreja não são apenas obras de arquitetos ou de engenheiros civis. Há sempre um dedo (ou um ouvido) de um engenheiro acústico, que mexe na arquitetura dos edifícios para conseguir o melhor resultado sonoro para cada caso.

É ele ou ela que decide, por exemplo, a quantidade e o tamanho das janelas, que muda o formato das paredes ou a altura do pé direito para tirar o melhor partido da acústica de um espaço. Os seus serviços não se esgotam no planeamento de edifícios para receber os mais diversos públicos. Juntamente com outros profissionais de áreas distintas, preocupam-se também com a acústica urbana, controlando o ruido de prédios, de transportes, de máquinas ou de equipamentos.

Barista

O café é a bebida mais popular nas manhãs dos portugueses, mas é muito mais do que uma simples bica ou um cimbalino que se bebe ao balcão antes de entrar no escritório. O café para os baristas é uma ciência que implica conhecer toda a cadeia de produção, desde o cultivo à moagem e torrefação dos grãos, aos tipos, qualidades, sabores, aromas, texturas, técnicas de extração da bebida ou modos de o servir.

O barista sabe tirar um bom café com temperatura, quantidade de água e pressão ideais. E também conhece ou então inventa todas as combinações que resultam em bebidas cujo principal ingrediente é, obviamente, o café.

Sericultora ou Sericultor

Um sericultor ou uma sericultora é alguém paciente. Alimenta e protege as lagartas do frio ou do calor e espera o tempo que for preciso para que dos seus casulos sejam extraídos delicados fios de seda. A produção de seda já praticamente não existe em Portugal, apesar de ter sido uma atividade importante até finais do século 19.

Hoje subsistem algumas produções domésticas, como é o caso da Quinta da Carapalha, explorada pela Associação de Pais e Amigos do Cidadão Doente Mental de Castelo Branco, ou de um punhado de tecedeiras de Freixo de Espada à Cinta, apoiadas pela câmara municipal.

Aventurar-se nesta atividade será quase como começar do zero, mas, por outro lado, é uma boa oportunidade para recuperar uma tradição milenar que começou na China. Conta-se que os chineses, ao terem descoberto a seda, esconderam este segredo durante quase 30 séculos, castigando severamente quem revelasse aos estrangeiros a sua origem.

Atualmente, o bicho-da-seda não tem apenas utilidade na indústria têxtil, serve também para produzir biomateriais para a medicina, ração para animais e até para consumo humano devido ao seu alto valor proteico. Na medicina tradicional chinesa, as lagartas são também usadas para tratar diabetes e outras doenças.

Salsicheira ou salsicheiro

Fazer salsichas não é só encher chouriços. É tarefa que exige prática e conhecimento para saber preparar as carnes e dosear os condimentos usados nas salsichas frescas, fiambre, paio, chouriço ou presunto. E também destreza para desmanchar carcaças de animais em peças, retirando-lhes ossos e gorduras. Picar, pesar e misturar as carnes é uma parte deste trabalho, a outra é encher a tripa com a carne, saber a quantidade de salmoura a injetar e dominar a arte do fumeiro.

Fontes consultadas: 

Classificação Portuguesa das Profissões, Instituto Nacional de Estatísticas (2011) | • Daily Mail |

Chanel. A rapariga que não gosta de andar na moda

Coco não gosta de modas só porque sim. Há alguma razão para só os homens vestirem calças? Ou para o preto ser uma cor tão séria? Coco baralhou as etiquetas sociais e entrou para a história da moda feminina. Mas ela tem um lado sombrio. Nunca gostou dos judeus só porque sim. Ensinaram-na na infância que eles são os culpados de todos os males. E ela, que na moda recusou sempre preceitos sem sentido, não conseguiu contrariar a regra mais disparatada de todas.


Coco é baixinha, nunca será a atração principal do Grand Café. Canta só uma canção nos intervalos para entreter o público, enquanto as grandes estrelas se preparam para brilhar no palco. Ainda assim, dá nas vistas. Pelo menos para Étienne Balsan. O ex-oficial e magnata da indústria têxtil acha tanta graça quando ela começa a cantarolar «Qui a vu Coco dans l’Trocadéro?» que todas as noites está na primeira fila.

Ela já reparou que ele reparou nela. E vai-lhe deitando uns olhinhos doces para derreter ainda mais o seu coração.

Quem sabe se não está ali o homem que a vai tirar finalmente desta vida tripla? De dia, Coco trabalha na Casa Grampayre, subindo bainhas e aplicando rendas nos enxovais das raparigas. De noite, é cantora de cabaré e, aos fins-de-semana, desenha e costura peças de vestuário para meia dúzia de clientes da cidade de Moulins.

Não há tempos mortos, há sim trabalho, muito trabalho. Só assim poderá vir a ser uma mulher moderna e independente. Já basta a má sorte na infância. Os pais mataram-se a trabalhar, a mãe como lavadeira e o pai como vendedor ambulante nas feiras e nos mercados de Saumur, onde ela nasceu em 1883. Mal havia comida na mesa para os cinco filhos. Quando a mãe morreu de tuberculose, foi pior ainda.

Coco tinha 12 anos quando o pai a entregou, juntamente com as duas irmãs, ao cuidado das freiras do convento de Aubazine, em Corrèze. Foi ali que aprendeu a costurar e foi ali que viveu até completar 18 anos e se mudar para a cidade de Moulins para fugir aos tristes dias da infância. Ela quer tanto cortar com o passado que até arranja um outro nome.

Coco Chanel, essa mulher que se tornaria famosa anos mais tarde, foi batizada de Gabrielle Bonheur Chanel.

Assim que chega a Moulins, inspira-se na canção «Qui a vu Coco dans l’Trocadéro?» para encontrar uma nova identidade. Como se pudesse alterar instantaneamente a má fortuna. Bom… Não foi imediato, mas foi quase.

Do alto do castelo para o centro do mundo

Coco Chanel ao lado de Dmitri Pavlovich, neto do czar Alexandre II da Rússia

 Coco muda-se com Arthur para a capital francesa, à procura do seu lugar na moda feminina. 

Com Étienne, Coco larga o cabaré, a loja de enxovais, a costura aos fins-de-semana e vai direto para o castelo de Royallieu. Conhece um mundo de festas e de glamour da alta burguesia, mas nem por isso se deixa deslumbrar. Vaguear pelos salões e corredores, dando ordens aos empregados, não é propriamente o sonho dela. O que ela quer é ocupar o seu lugar na moda feminina.

E Paris é o centro do mundo. Por isso, quando conhece Arthur Capel, outro industrial que fez fortuna com o transporte de carvão, não hesita. Deixa Étienne para trás e vai viver com o novo companheiro para a capital francesa. Com o dinheiro dele, inaugura a sua primeira loja, Chanel Modes, uma chapelaria no n.º 31 da Rue Cambon.

Começa com chapéus comprados nas Galerias Lafayette e modificados por ela, uns toques elegantes, menos flores, sem plumas e outros penduricalhos. A princípio, as mulheres parisienses estranham, mas depressa deixam-se encantar pelo estilo de Coco. O negócio cresce a bom ritmo. Em quatro anos, abre duas boutiques, uma em Deauville e outra em Paris.

Além dos chapéus, as roupas começam também a atrair as atenções. Quem é aquela mulher que desenha e costura sem se importar com as boas maneiras? O estilo atrevido intriga a sociedade parisiense e ela provoca mais ainda com outras perguntas.

Porque não podem as mulheres vestir calças, camisolas de marinheiros ou roupas desportivas? Porque vivem sufocadas em folhos e saiotes, se podem vestir peças simples, práticas e elegantes?

E porque não? – Respondem as parisienses, cada vez mais fascinadas com ousadia dela. Em 1916, Coco já comanda um exército de 300 funcionários e inaugura mais uma loja em Biarritz. Cinco nos mais tarde, fixa-se definitivamente no n.º 31 da Rue Cambon, onde a Maison Chanel tem até hoje as portas abertas.

A fama para lá do Atlântico

 Greta Garbo, Grace Kelly ou Marlene Dietrich só gostam de ser vestidas por Coco, famosa tanto na Europa como nos EUA. 

A década de 1930 são os anos de ouro. Coco dá emprego a mais de 4 mil funcionários e vende quase 30 mil peças por ano, tornando-se conhecida tanto na Europa como nos Estados Unidos.

Toda gente quer ser vista com ela, sobretudo os famosos como o pintor espanhol Pablo Picasso, o realizador de cinema italiano Luchino Visconti, ou a atriz sueca Greta Garbo. As roupas desenhadas por ela vestem grandes estrelas como Grace Kelly, Marlene Dietrich, Marilyn Monroe, Ingrid Bergman ou a primeira-dama americana Jacqueline Kennedy.

São tantas as peças de vestuário e acessórios que se tornaram ícones da marca Chanel que é difícil enumerar todas. E tantas as revoluções que ela provocou na moda, que é também tarefa complicada descrever o impacto de cada uma até aos dias de hoje (ver glossário em baixo).

Só que, entretanto, chega a II Guerra Mundial e interrompe a carreira dela. Tal como paralisa tudo o resto, quando a França é ocupada pela Alemanha, em maio de 1940. Fechar as maisons de couture é a única saída, mas perder as mordomias é que não. Nem que, para isso, passe para o lado do inimigo.

Coco muda-se para uma suite do Hotel Ritz e alia-se aos vencedores. O alto espião do serviço secreto alemão, o barão Hans Günter Dincklage, com quem tem um longo romance, é quem a apresenta aos nazis. Pouco tempo depois, é recrutada como agente n.º F-7124.

O passado sombrio de Coco

 Com o fim da guerra, ninguém ousa investigar as ligações de Coco aos nazis, mas as suspeitas levam-na a deixar o país. 

Coco não é uma espiã, mas uma agente de informação. Isto é, alguém influente que os alemães usam para obter vantagens dos seus contactos entre figuras da política e da alta burguesia. E ela também usa a sua influência para libertar o sobrinho, André Palasse, do campo de prisioneiros alemão.

Coco negará até ao fim a sua ligação ao regime nazi e, apesar das suspeitas, o governo francês nada investiga. Logo após a derrota e a retirada dos alemães em Paris, em agosto de 1944, o general Charles de Gaulle inicia uma perseguição aos «traidores da pátria».

Chanel chega a ser interrogada, mas sai em liberdade, ao contrário de outras mulheres, arrastadas para fora de casa ou obrigadas a rapar o cabelo. Ainda assim, já não se sente em casa quando percorre as ruas parisienses.

Há sempre alguém a olhar para ela de lado.

Não demora muito a mudar-se para Lausanne, na Suíça, onde o barão Dincklage vai mais tarde ao seu reencontro. Ali fica 10 anos até a poeira assentar e voltar a Paris em 1954, retomando os negócios na moda.

Coco continua a trabalhar quase até ao último dia. Morre em 1971, aos 88 anos e após doença repentina. É encontrada deitada na cama do quarto no Ritz, bem vestida, penteada e maquilhada. É a imagem que fica.

Só há meia dúzia de anos, surgiram as primeiras investigações ao seu passado, como a biografia Hal Vaugan, «Sleeping with the Enemy: Coco Chanel”s Secret War» (Dormindo com o inimigo: a guerra secreta de Coco Chanel). O jornalista americano mostrou que, afinal, as grandes figuras não são perfeitinhas. E Coco tinha muitos defeitos. O pior de todos foi julgar os judeus como os culpados de todos os males.

Ela nem sequer sabia porque nunca gostou deles. Era ainda criança quando essa ideia começou a crescer dentro dela. No orfanato, as religiosas ensinaram-lhe que os judeus são «assassinos de Cristo», repetindo um disparate tão antigo, que se perdeu no tempo. Assim começam, muitas vezes, os ressentimentos.

São sementinhas plantadas muito cedo nas cabecinhas das crianças, ganhando raízes pela vida fora. Acabando quase sempre em rancores contra crenças, raças ou modos de vida diferentes.

10 ícones de Coco Chanel

Chemisier

Coco Chanel prova que é possível dar um toque feminino às camisas, até então usadas só por eles. Transforma-as em túnicas com um cinto fininho a contornar a cintura.

Little black dress

É um simples vestido preto com corte direito até ao joelho, mas torna-se popular em 1926, quando a Vogue americana realça que qualquer mulher com bom gosto, pobre ou rica, deveria usar. E mais popular se torna quando a atriz britânica Audrey Hepburn o veste no filme «Bonequinha de Luxo».

Camélia

Flor asiática serve de inspiração para Coco Chanel fazer os broches que completam os tailleurs. A peça torna-se marca da Chanel.

Cardigan

Casaco feminino de malha, com mangas compridas, sem gola e abotoado à frente.

Jersey

Tecido de malha fino e delicado que, até Coco usar nos vestidos, era destinado à confeção de saiotes, combinações e outras roupas íntimas.

Tailleur

O casaco e a saia são adaptados às mais diversas ocasiões, tanto para o dia-a-dia como para eventos pomposos, sendo hoje um símbolo das mulheres executivas. Os quatro bolsos do casaco com botões dourados são uma imagem de marca do tailleur de Chanel.

Tweed

Quem se lembraria de usar um tecido de lã tão tosco e sem graça? Coco não pensa assim e transforma os casacos, de tecelagem normalmente em ponto sarja, num clássico da moda feminina. Além de elegantes, são resistentes, quentinhos e impermeáveis à humidade.

Pérolas

As pérolas, falsas ou verdadeiras, fizeram megassucesso nos anos 1920. Coco gostava de usá-las ao pescoço, em voltas simétricas ou desiguais e como se de uma peça de roupa se tratasse. Nunca precisou de motivo ou dias especiais para exibi-las.

Mala 2.55

É a primeira mala a tiracolo do mundo. As correntes metálicas, inspiradas nas carteiras dos soldados, libertaram as mãos e os braços. É acolchoada, imitando os casacos dos jockers, e tem sete bolsos de vários tamanhos: um, escondido na pala, serve para as cartas de amor, outro, chamado de “O sorriso de Mona Lisa” por ter as pontas ligeiramente arrebitadas, destina-se aos trocos. Há mais um a merecer especial atenção: um bolsinho com o tamanho ideal para guardar o batom. O nome tem origem na data do seu lançamento oficial: fevereiro (02) de 1955 (55).

Chanel Nº 5

Foi o perfume mais vendido da Maison Chanel, lançado em 1921, e o primeiro a usar o nome de uma estilista. Criado pelo perfumista Ernest Beaux, tem a baunilha como matéria-prima e juntou pela primeira vez o aldeído, um composto de substâncias químicas que faz sobressair o aroma dos ingredientes naturais existentes na fórmula. O frasco em estilo art deco não é menos importante. E, por fim, o nome tem três explicações: foi o quinto aroma a ser produzido pela marca, é o número da sorte de Coco e foi apresentado no dia 5 de maio.
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Fontes consultadas:

El Pais | Fashion Bubbles | Détours en France | Veja | Wikipedia | Glossário de Moda | Blue Cashemere | essenzaboutique.com | modacout | I-D |

Fotos

Foto 1 © Justine PicardieCreative CommonsAttribution-ShareAlike 4.0 International (CC BY-SA 4.0)

Foto 2 Autor desconhecido (domínio público)

Foto 3 Autor desconhecido (domínio público)

Foto 4 © Chariserin Creative commons – Attribution 2.0 Generic (CC BY 2.0)

Por que é tão gordo o lutador de sumo?

Quanto mais gordo é um lutador de sumo, mais hipóteses tem ele de se defender das tentativas do adversário para o derrubar. Ganha quem primeiro conseguir arrastar o outro para fora do tapete ou então obrigá-lo a fazer tocar uma parte do seu corpo, que não a planta do pé, no chão. Não será complicado perceber, portanto, que o jogador mais pesado estará em vantagem. É muito mais fácil fazer desequilibrar um magrinho do que um gordinho, certo?

 

 

Um gordinho ponto e vírgula; os lutadores de sumo são mesmo muito gordos, pesando em média 160 quilos. Como não há categorias de peso nesta modalidade, alguns ultrapassam largamente a fasquia dos 200 quilos, algo que não acontece em mais nenhum outro desporto.

É caso para perguntar: o que comem para ficarem tão grandes e pesados? A resposta está na dieta, eles chegam a ingerir entre 8 mil e 10 mil calorias por dia, uma alarvidade, tendo em conta as 2-3 mil calorias diárias que um adulto com apetite normal consome.

Comem muito estes atletas, mas a comida é sempre a mesma. Almoço e jantar é um prato típico, o Chanko Nabe, um guisado confecionado com legumes, peixe ou carne de aves e tofu. A refeição é ainda acompanhada de arroz e cerveja, bebida também com muitas calorias.

Embora os hábitos alimentares sejam pouco saudáveis, os nutricionistas dizem que os lutadores de sumo não são obesos porque compensam as grandes quantidades de proteínas ingeridas com bastante exercício físico para ganhar músculo, resistência e flexibilidade. A gordura que acumulam não só é mais difícil de perder como menos prejudicial ao metabolismo.

Longa tradição e curtos combates

 

 Os combates são tão rápidos que nem dá para desconfiar quão longa é a sua preparação. 
 

Apesar do peso e do tamanho dos atletas, os combates travados no ringue são os mais curtos de todas as artes marciais. Podem durar até três minutos, mas, na maioria das vezes, acabam ao fim 20 ou 30 segundos. É tão rápido que nem dá para desconfiar quão longa é a preparação e quantos segredos estão por detrás desta tradição japonesa com muitos séculos de história.

Só para se ter uma ideia, o sumo já aparecia mencionado no Kojiki, o livro sobre a história do Japão antigo, datado do 712 depois de Cristo (d.C). O costume ganhou popularidade entre lutas de guerreiros, mas já fazia parte dos rituais da religião xintoísta para proteger as colheitas. Mas, foi só durante o regime militar de Tokugawa, no século 17, que se tornou num desporto profissional.

Por ser uma modalidade tão antiga, é muito respeitada entre os japoneses. Não é qualquer um que se torna num praticante de sumo e muito menos da noite para o dia. Os que ambicionam ser lutadores têm de começar cedo, entre os 12 e os 15 anos.

É com essa idade que fazem testes físicos e exames psicológicos. Os que são aprovados deixam para trás amigos e família, passando a viver em beyas – academias onde obedecem a horários e disciplina rígidos. Acordam todos os dias às cinco da manhã e, depois das tarefas de higiene e de limpeza, treinam até ao meio-dia, momento em que comem a primeira refeição. Logo de seguida descansam entre duas a três horas e regressam aos treinos até à hora do jantar, ficando com uma parte da noite livre antes de se deitarem.

 

Que vida dura é a de um novato!

 Os caloiros dormem no mesmo quarto e acordam mais cedo para limpar os aposentos dos veteranos. 
 

As rotinas, contudo, não são iguais para todos, havendo grandes diferenças entre os caloiros (conhecidos como rikishis) e os veteranos (sekitori). Os mais novos têm a vida muito mais difícil. Dormem todos no mesmo quarto, acordam mais cedo para limpar os aposentos dos mais velhos e preparar o banho quente deles (Ofurô), vestem roupas de algodão, calçam tamancos de madeira, mesmo no inverno, e não veem hora de também eles ganharem um estatuto superior.

Pois, pudera… Os sekitori, em contrapartida, têm vários privilégios, começando por quartos individuais, ou casa própria quando se casam, e acabando nos quimonos de seda delicada que vestem. Ao atingirem o estágio yokozunas (o maior na hierarquia), são tão venerados que, além de fazerem fortunas com os combates, têm legiões de fãs por todo o país.

Os yokozuna são os campeões entre os campeões, estatuto que os acompanha para sempre, mesmo quando começam a perder os combates e se retiram. Tempos houve que tinham mais prestígio junto do imperador do que o próprio primeiro-ministro, não precisando sequer de marcar audiência para serem recebidos.

Uma vez que nunca perdem o título de campeões, poder-se-ia pensar que não faltam por aí yokozuna no ativo ou aposentados a gozarem as regalias do seu estatuto. Nada disso. Atingir o mais alto grau na hierarquia do sumo é tarefa tão complicada que, ao fim de mais de dois mil anos de história desta modalidade, só 72 lutadores de sumo chegaram ao topo e apenas quatro estão atualmente em competição.

Chegar a campeão não é para todos

combate de sumo (ilustração)

 Os japoneses estiveram quase 20 anos à espera de um campeão.
Yutaka foi consagrado yokozuma em 2017. 
 

Para atingir o estatuto mais elevado é preciso primeiro passar pelas categorias Jonokuchi, Jonidan, Sandan-me, Makushita, Juryo e, depois, escalar mais quatro graus da 1ª divisão – Maegashira, Komusubi, Sekiwake e Osek. Nesta última classe estão os yokozuma que têm de vencer dois campeonatos seguidos entre os seis que ocorrem por ano. E a consagração, essa, só acontece depois de serem aprovados pela Federação Japonesa de Sumo, que avalia o percurso e o comportamento moral e ético do lutador.

Poucos, mesmo muito poucos, conseguem fazer este caminho até ao fim. Há épocas consecutivas que terminam sem nenhum grande vencedor. Não será então difícil perceber a euforia dos japoneses quando Kisenosato Yutaka foi consagrado yokozuma, em janeiro de 2017. Foram quase 20 anos à espera de um campeão.

Antes dele, Wakanohana Masaru foi o último lutador japonês alcançar este estatuto, em 1998, retirando-se pouco depois, em 2000, após uma derrota. E, três anos mais tarde, foi a vez de Takanohana Kooji, o único yokozuma nipónico que restava, também abandonar as competições. Desde então, o mais alto título esteve entregue a Kakuryuu Rikisaburoo, Harumafuji Koohei e Hakuhoo Sho, três lutadores mongóis que, nos últimos anos, começaram a sobressair neste desporto.

Como seria de esperar, a vitória de Kisenosato Yutaka foi festejada com pompa, mas durante o anúncio de atribuição do título em Tóquio, Koichi Hagiuda, o chefe adjunto do primeiro-ministro, deixou um aviso, que à primeira vista pode parecer estranho.

– Espero que o nosso campeão dignifique esta honra com o seu caráter, de forma a ser recordado ao longo da história.

Até parecia que estava a dar um ralhete ao herói nacional do Japão, mas Yutaka sabia bem ao que Hagiuda se referia e tentou tranquilizar o povo japonês:

– Vou fazer tudo para me tornar mais forte e crescer como ser humano.

Heróis malcomportados

 Sem novos campeões e com lutadores a protagonizarem escândalos, o sumo foi vendo cair a sua popularidade. 
 

Mais do que uma advertência para o novo campeão, Hagiuda deixou um recado a todos os jogadores profissionais de sumo. Principalmente aos que, nos últimos anos, envergonharam a federação ao serem apanhados em clubes noturnos a beber ou metidos em brigas.

Muito pior foi o caso do lutador Asashoryu, banido desta modalidade há uns bons anos, depois de ter sido apanhado por uma televisão a jogar futebol americano, quando todos julgavam que estava a recuperar de uma lesão muscular.

Sem novos campeões e com lutadores a protagonizarem escândalos, o sumo foi vendo cair a sua popularidade. Se o beisebol já disputa a par e passo com o sumo as preferências dos japoneses, o futebol tem ganhado, nos últimos anos, cada vez mais espaço.

O Japão estava mesmo a precisar de um novo herói e a missão que Kisenosato Yutaka tem pela frente não é nada fácil. Terá de se aguentar entre os melhores nas próximas competições e andar na linha fora dos ringues.

Mais do que um comportamento exemplar, a federação japonesa de sumo espera que ele consiga recuperar o entusiasmo dos japoneses por esta modalidade que, apesar de tudo, sobrevive século atras de séculos.

 

Os rituais e a simbologia do sumo

O sumo está carregado de símbolos e rituais que servem para demonstrar respeito pelos princípios da religião xintoísta e por uma tradição que segue os valores da honra, da honestidade e de cortesia pelos adversários. Ficam aqui algumas das principais simbologias usadas antes e depois dos combates.

Sal no ringue

Antes de iniciar a luta, os atletas atiram um punhado de sal para o ringue. O gesto é um ritual para afastar as energias negativas do Dohyo (tapete ou ringue circular onde o combate decorre) e proteger os lutadores de lesões ou outras complicações. É também um compromisso dos jogadores de que o combate será leal e sem truques baixos.

Chikara Mizu e Chikara Gami

Lutador de sumo

Ainda antes de entrar no ringue, os lutadores lavam a boca com uma água benzida por um sacerdote xintoísta (Chikara Mizu, água da força) e secam-se usando um papel de arroz (Chikara Gami, papel da força). O objetivo é purificar o corpo antes do combate. A água permanece ao lado do ringue, dentro de uma tina de madeira, para concentrar as energias dos atletas.

Shiko

Ritual que consiste em bater os pés no chão para afastar os maus espíritos.

Mawashi

Faixa de tecido grosso enrolada à volta da cintura que demonstra como a luta é feita sem armas. As mulheres usam o mawashi juntamente com uma espécie de colãs para cobrir o peito. O campeonato feminino foi introduzido em 1996 como modalidade olímpica.

Tsuna

Lutador de sumo

É a corda branca, que pode pesar até 20 quilos, usada pelos sekoris durante a cerimónia da entrada no ringue. O nó atrás das costas do lutador pode ser um laço (unryugata) ou dois laços (shiranuigata).

O-icho e Tyon Maguê

Lutador de sumo

O O-icho tenta imitar uma folha de ginkgo e é utilizado pelos yokozunas. Somente eles têm autorização do imperador japonês para usar este penteado. Já o Tyon maguê, um carrapito no cimo da cabeça, é o penteado usado por todos os lutadores em torneios e cerimónias. 

Eboshi

juiz das lutas de sumoChapéu preto usado pelo Gyoji (juiz principal) que supervisiona a luta. As suas vestes são iguais a de um mestre xintoísta e usa ainda um gunbai, leque de guerra, laqueado a negro e com uma longa borda. No total, são seis juízes que assistem a luta, mas só intervêm quando são chamados pelo juiz principal até ao centro do ringue, nos casos em que a vitória ou a derrota de um lutador não é clara. Se, após a conferência, persistirem dúvidas, os juízes podem usar ainda as imagens de vídeo. O sumo foi a primeira modalidade desportiva a adotar o vídeo-árbitro, em 1969.

 

Fontes consultadas:

Diário de Notícias | Japão em Foco | Espaço Académico | Cultura Japonesa | BlogIdeias |

 

O quebra-cabeças que endoideceu uma geração

No início dos anos 80, a rapaziada estava dividida em dois tipos. Os que, em segundos, resolviam o enigma do cubo mágico e os que andavam às turras com o quebra-cabeças do húngaro Ernö Rubik. Entre estas duas espécies, uma coisa em comum: estava tudo doido, em Portugal e no mundo inteiro.

Jogava-se na escola, no quarto, no Passeio dos Alegres, do Júlio Isidro, debaixo de água ou a saltar de paraquedas. Havia porta-chaves, relógios de cabeceira, insufláveis de praia, t-shirts e uma canção da Lara Li que tocava a toda a hora na rádio. Havia adultos, adolescentes e crianças a quebrar recordes todos os dias e havia, por fim, os que, sem paciência para vencer o puzzle, se renderam à batota dos autocolantes coloridos vendidos à parte.

O cubo de Rubik foi um dos principais ícones da década de 80. Desde essa altura, venderam-se 350 milhões de exemplares, sendo até hoje o brinquedo mais vendido no mundo. E isso sem contar as cópias piratas, o que certamente multiplicaria umas quantas vezes este número.

Até hoje, o cubo mágico continua a juntar fãs que disputam campeonatos pelo mundo inteiro. O sucesso, conta Rubik no seu site, deve-se à simplicidade do objeto e à complexidade do jogo. Resolver o cubo mágico parece fácil, mas é só aparência.

A engenhoca com que um quinto da população do mundo já brincou tem 43 252 003 274 489 856 000 de possíveis combinações e uma única solução. Até Rubik demorou várias semanas para conseguir completá-lo. Mas essa é que é a piada do brinquedo. A melhor parte de um quebra-cabeças é o processo e não a solução, diz o inventor. Pode até ser verdade para uns, mas haverá sempre quem acabe com uma carga de nervos a desmembrar o cubo mágico.

A história do cubo mágico em 8 tópicos

O Criador

Ernö Rubik andava a matutar numa maneira divertida de ensinar geometria tridimensional aos seus alunos de design da Escola de Artes Aplicadas de Budapeste. E foi ao observar o movimento da água do rio Danúbio em torno dos seixos que teve a ideia de construir um cubo giratório. O primeiro protótipo foi feito de madeira, elásticos, clips e adesivos com cores. Assim que viu a sua obra acabada, soube que tinha inventado um objeto revolucionário.

A história do cubo mágico começou na Primavera de 1974, mas só três anos depois é que Rubik venceu a burocracia e conseguiu comercializar o brinquedo. Em menos de cinco anos, os húngaros, que nessa altura eram 10 milhões, compraram dois milhões de cubos. Em 1980, só na Alemanha foram vendidos mais de 4 milhões. Os cubos rapidamente viraram objetos de culto na Europa e nas Américas. O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (Moma) adquiriu um exemplar em 1981. Nesse ano, também o Museu de Artes Aplicadas de Budapeste fez o mesmo.

Visita o site oficial do cubo mágico.

A mecânica

A engenhoca de Rubik tem várias versões, sendo a 3x3x3 a mais popular, composta por 6 faces de 6 cores diferentes. Outras versões menos conhecidas são a 2x2x2, 4x4x4 e a 5x5x5.

 

Os métodos

Ainda hoje, o cubo mágico intriga investigadores de todo o mundo, que tentam descobrir as melhores estratégias para resolver o quebra-cabeças no mais curto espaço de tempo. Em 2007, dois cientistas da Universidade de Northeastern, nos Estados Unidos, chegaram a um algoritmo capaz de resolver qualquer combinação do cubo mágico em 26 movimentos. O feito foi ultrapassado três anos mais tarde por um grupo coordenado por Morley Davidson, da Universidade de Kent (EUA). Os investigadores descobriram o “número de Deus”, permitindo resolver o puzzle em 20 movimentos ou menos.

Recordes humanos

O primeiro recorde – 22,95 segundos – foi declarado em 1982. A partir daí, foi uma montanha russa, com os cromos do cubo a serem cada vez mais rápidos. As estratégias foram-se aperfeiçoando e os computadores trouxeram uma grande ajuda. O australiano Feliks Zemdegs é atualmente o detentor da melhor média mundial (5,53 segundos) e também do recorde único (4,22).

Consulta aqui a lista oficial dos 100 jogadores mais rápidos.

 

 

Recordes das máquinas

Por mais rápidos que sejam os dedos humanos, não chegam ainda para vencer as máquinas. O robô Cubestormer 3, feito com peças da Lego resolve um cubo mágico em 3,253 segundos, o que já é impressionante. Mas robô mais rápido de todos é o «Sub1 Reloaded», com um tempo de 0,637 segundos, construído por Albert Beer (Alemanha).

 

Os campeonatos

O primeiro campeonato aconteceu, em 1982, em Budapeste, na Hungria, terra do Cubo Mágico. Desde aí, a competição já passou por várias cidades como Toronto, no Canadá, Boston, nos Estados Unidos, Banguecoque, na Tailândia, ou São Paulo, no Brasil.

Os acrobatas

O americano Dan Knights completou o cubo em 32 segundos durante um salto de paraquedas que demorou 45 segundos a aterrar no chão. E o polaco Jakub Kipa conseguiu resolvê-lo em 20,57 segundos usando apenas os pés. O chinês Que Jianya demorou mais tempo – 5 minutos, 6 segundos e 61 centésimos de segundo -, mas completou três cubos enquanto fazia malabarismos.

 

Comunidade Pt

Em Portugal, os campeonatos oficiais são promovidos pela Comunidade do Cubo Mágico, que já organizou várias competições nacionais ou regionais.

Visita o site aqui

As combinações

O cubo mágico tem 43.252.003.274.856.000 combinações. Significa isto que, se alguém for rápido o suficiente para fazer uma jogada por segundo, só daqui a 1400 triliões de anos é que completará todos os movimentos possíveis.

 

 

 

 

Quanto pesam as palavras?

O Bichinho das Contas, habituado a ver números em todo o lado, inventou várias fórmulas para calcular o peso das palavras.

 

Exercício 1

Separar uma palavra comprida de um lado e uma curta do outro e pesar cada uma delas.

Oftalmotorrinolaringologista (28 letras) | Pé (2 letras)

 

Exercício 2

Arranjar uma palavra com mais consoantes e outra com mais vogais e ver qual é a mais pesada.

Presunçoso (5 consoantes + 3 vogais) | Fogueira (5 vogais + 3 consoantes)

 

Exercício 3

Aumentar e diminuir o grau dos substantivos para ver se ganharam ou perderam peso.

Papelão e papelinho | rapagão e rapazote | cabeçorra e cabecinha

 

Há ainda outras pesagens que podem ser feitas entre as palavras esdrúxulas, graves e agudas ou entre as palavras monossilábicas (1 sílaba), dissilábicas (2 sílabas) ou polissilábicas (3 ou mais sílabas). E, já agora, verificar também se os acentos e as cedilhas contribuem ou não para o peso oscilar.

O Bichinho da Contas ficou só pela teoria. É preciso ser muito esdrúxulo para julgar que se pode agarrar nas palavras e pesá-las numa balança. Elas não são coisas que se enfiam nos bolsos para usar quando se tem frio ou comer quando se tem fome.

Mas, então, porque se diz para pesar ou medir bem as palavras?

O peso ou a medida, no caso das palavras, tem a ver com a forma e tom como são ditas. E também com o conjunto de palavras que se escolhe para construir uma frase. É o que se diz, porque se diz e como se diz, portanto, que carregam uma ou várias palavras de significados que confortam, alegram, afrontam, alertam ou até assustam.

Uma banana , por exemplo, é só uma banana, mas quando essa banana ganha vida própria passa a ser uma ofensa. Ninguém gosta de ser uma banana ou um banana, que se deixa enganar a toda a hora por qualquer um.

 

As palavras, por isso, pesam e têm de ser medidas. Mas não se chega a lado nenhum usando uma balança ou uma fita métrica. O peso das palavras está no impacto que provocam em quem as ouve. Não é possível tocálas, muito menos agarrá-las. Mas são elas que dão forma às nossas ideias, moldam e expulsam os pensamentos que, de outra maneira, ficariam solitários na nossa cabeça.

As palavras no sentido literal não são quadradas ou redondas, não escorregam, nem arranham, não são leves nem pesadas. Muito embora, umas sejam mais difíceis de pronunciar do que outras. A facilidade com que se diz «folha» ou «lençol» não é a mesma para dizer palavras como «caramelizado» ou «atrofiado». Aquelas com mais consoantes são as que, por regra, dão mais trabalho às nossas cordas vocais, precisando ultrapassar uma maior quantidade de obstáculos até saírem pela boca e, muitas vezes, também pelo nariz.

Ao contrário das vogais – que se formam com uma simples vibração do ar –, as consoantes precisam dos lábios, dentes, língua, céu da boca e ainda do sininho da garganta (úvula) para saírem perfeitinhas.

Mas, fáceis ou difíceis de pronunciar, se convivermos algum tempo com elas, são capazes de surpreender e mostrar formas, texturas, tamanhos, temperaturas e muitas outras características atribuídas a objetos e pessoas.

São os escritores, os compositores e os poetas em particular que melhor tiram partido destes atributos. Brincam com a gramática, jogam com as palavras, tiram-nas do seu contexto, carregam ou trocam os seus significados e, ainda assim, elas continuam a fazer sentido.

 

 

É preciso talento, inspiração e trabalho para escrever como um poeta, mas não é preciso ser poeta para sentir o peso das palavras. Não só o peso, mas tudo no que elas se transformam quando lhes damos a devida atenção.

Frustrado com os primeiros exercícios, o Bichinho das Contas decidiu emendar o erro, inventando outras formas de avaliar os atributos das palavras. E não é que, desta vez, até faz algum sentido?

O que te vem à cabeça quando pensas em…?

Usa as setas na lateral para passar ao painel seguinte.

👂 E, por falar em palavras, já leste o artigo «Ninguém resiste a uma frase orelhuda»?

Porquê uma Convenção dos Direitos da Criança?

O direito à infância é básico, mas ainda há milhões de crianças sem cuidados médicos, com fome, a trabalhar quando deveriam estar na escola ou sem o amor da família. É por isso que, há 30 anos, as Nações Unidas adotaram a Convenção dos Direitos da Criança, o tratado mais reconhecido da História. Para assinalar o 30º aniversário, o Bicho-Que-Morde relembra o papel dos inventores que, a partir do nada, descobrem soluções tão simples para levar luz, água limpa ou abrigo aos lugares mais pobres do planeta.


Casa de banho com sanita, fogão para cozinhar ou sapatos para correr e brincar são aconchegos que toda a gente tem desde sempre. Não é bem assim. Nas aldeias indianas, nos ilhéus do Pacífico, nas favelas das cidades brasileiras ou nas escolas das vilas rurais do Gana, as coisas simples são as mais difíceis. A água não corre nas torneiras, a luz não se acende no interruptor e os hospitais não têm caminhas quentes suficientes para todos os bebés.

São histórias tristes, mas, tal como nos livros de banda desenhada, quando a vida se torna complicada, eis que aparecem uns super-heróis com poderes especiais. O poder é, nestes casos, a imaginação para construir aparelhos e objetos usando somente materiais baratos e fáceis de encontrar como argila, canas de bambu ou caixas de cartão. E os super-heróis são engenheiros, mecânicos, médicos, designers ou investigadores das universidades.

Todos eles estão convencidos de que, por mais longe que estejam, todas as crianças, papás e avós merecem tudo o que nós também temos. E é por eles acreditarem em histórias com finais felizes, que também nos fazem ter esperança num mundo mais justo para todos. Só por isso, vale a pena conhecer as incríveis invenções destes senhores.

As lâmpadas de Moser

Em Uberaba, as crianças costumavam fazer os trabalhos de casa à luz das velas e as mamãs cozinhavam com lamparinas à porta de casa. Miúdos e adultos andavam aos apalpões à procura dos lápis ou das panelas até Alfredo Moser ter uma ideia brilhante. Ele pegou numa garrafa de plástico transparente, encheu de água, despejou duas tampas de lixívia para evitar o verdete das plantas e colou-a ao teto com silicone. Fez-se luz.

Na cidade brasileira de Minas Gerais, boa parte dos 300 mil habitantes não tem eletricidade enquanto uma outra parte tem de suportar os apagões que volta e meia deixam tudo às escuras. Não é difícil imaginar como a invenção deste mecânico foi um sucesso em 2002. Toda a gente na cidade passou a ter iluminação em casa através de uma garrafa que a única coisa que faz é refletir a luz do sol durante cinco horas seguidas.

A ideia de Moser está hoje por todo o lado. A fundação My Shelter e os estudantes do Massachusetts Institute of Technology criaram o projeto Litro de Luz,  levando a invenção a 21 países, entre os quais Quénia, Colômbia, Honduras ou Filipinas. Mais de um milhão de lâmpadas Moser já foram instaladas e, recentemente, foi também acrescentada tecnologia LED para iluminar as casas durante toda a noite, se for preciso.

Água sobre rodas

Cynthia Koenig ficou boquiaberta quando descobriu que as mães das aldeias do Rajasthan, na Índia, demoravam horas e percorriam dezenas de quilómetros só para transportar água até às suas casas. Aproveitou então a sua viagem, em 2010, para andar de povoação em povoação a perguntar aos habitantes do que mais precisavam para conseguir levar a água até às cozinhas ou às hortas ao pé das casas.

A partir destas conversas, a diretora executiva da Wello, empresa social que dedica grande parte da sua atividade a levar água potável a países pobres, decidiu criar a WaterWheel, um bidão de plástico rotativo com dois tamanhos – 50 e 20 litros -, que pode também ser usado na rega e ainda para dar de beber aos animais.

Carrosséis de energia

Há vários tipos de crianças: as traquinas, as meiguinhas, as birrentas, as sossegadas, as dorminhocas, a lista poderia continuar porque há rapazes e raparigas de todas as cores e feitios. Cada uma é especial, mas todas, sem exceção, gostam de brincar. Nas escolas do Gana, porém, as crianças têm de ajudar os pais e só depois do sol posto é que vão à escola. Como não há eletricidade, as aulas são à luz dos candeeiros e as brincadeiras ao ar livre limitadas porque está demasiado escuro lá fora.

Será que tem de ser assim? – Perguntou Bem Markham, um ex-engenheiro da petrolífera ExxonMobil. Dessa dúvida nasceu a empresa Empower Playgrounds, que constrói carrosséis e outros brinquedos capazes de usar a energia cinética das brincadeiras para iluminar as salas de aulas. Genial, não é? As crianças brincam nos parques infantis e as luzes acendem-se. E como a energia dos miúdos é inesgotável não há qualquer risco de ficarem às escuras. O projeto, que contou com o apoio da Universidade Birgham Young, nos Estados Unidos, já permitiu construir 46 carrosséis para 15 mil crianças, suficientes para gerar eletricidade em 45 escolas do Gana e uma no Mali.

Sapatos que crescem

Assim que saiu da faculdade, Kenton Lee decidiu viver alguns anos no Quénia e trabalhar num orfanato de Nairobi. As crianças andavam descalças ou então com os sapatos rotos e, uma em particular, chamou a atenção dele. Tinha uns ténis pequenos e fez uma abertura para os dedos respirarem sem obstáculos. Foi nesse momento que o pastor de Nampa, uma cidade americana de Ohio, teve a ideia de criar uns sapatos que acompanham o crescimento das crianças. O resultado é The Shoe That Grows (O Sapato que Cresce).

Bastam meia dúzia de fivelas e uma tira para a sandália acomodar-se ao pé à medida que a criança cresce. O próximo passo é agora angariar fundos para conseguir distribuir gratuitamente os sapatos em África. Para isso Kenton Lee criou o site Because International, onde qualquer pessoa pode fazer a sua contribuição: uma doação de 9 euros chega para comprar um par.

Sanitas sem água

Um em cada três habitantes do planeta – 2,4 mil milhões – vive ainda sem saneamento básico. A grande maioria está em África e na Ásia, onde muitas habitações não têm esgotos nem casa de banho. Sabendo que este é um dos problemas mais sérios que o mundo enfrenta, uma equipa da Universidade de Cranfield, na Inglaterra, inventou uma sanita que, em vez de água, usa a nanotecnologia – ciência que trabalha no nível das moléculas e dos átomos – para tratar a urina e as fezes. Melhor ainda, transforma tudo isso em energia e água limpa para ser usada na rega e na limpeza da casa. E oferece ainda como bónus um fertilizante para hortas e plantas. O sistema não precisa de rede de esgotos ou estações de tratamento, mas o desafio é conseguir torná-lo barato, pois cada sanita ainda custa cerca de 200 euros, missão que conta com a ajuda da Fundação Bill and Melinda Gates.

Incubadora de bebés portátil

Nascer antes do tempo nos países pobres é muito mais arriscado do que em qualquer outro lugar. A temperatura dos quartos pode ser demasiado fria para os bebés prematuros que precisam de incubadoras logo nas primeiras horas de vida. Esta foi a razão para um grupo de estudantes da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, criar o Embrace Warmer. Parece um saco de dormir, mas é mais sofisticado. Cada kit inclui um aquecedor e almofadas que regulam a temperatura ideal para manter os recém-nascidos aquecidos. O seu custo, cerca de 200 euros, é extraordinariamente mais barato do que as incubadoras profissionais dos hospitais. A ideia da universidade passa por arranjar parcerias para distribuir o Embrace Warmer em clínicas, hospitais públicos e organizações sem fins lucrativos dos países em desenvolvimento.

Repelente de mosquitos

Basta fixar um autocolante à camisola e fica-se invisível. Não acreditam? É porque ainda não conhecem o Kite Patch, um adesivo inventado pelos investigadores da Universidade Riverside, na Califórnia, que faz desaparecer qualquer pessoa, mas apenas aos olhos dos mosquitos. Explicando melhor: o dióxido de carbono que o corpo solta é o principal responsável por estes insetos se sentirem tão atraídos pela nossa pele. O que os cientistas fizeram foi inventar o diacetil, uma substância produzida durante a fermentação da cerveja e do vinho, que bloqueia os recetores de CO2 dos mosquitos.

Os testes foram um sucesso e a universidade, em parceria com várias instituições, já começou a distribuir gratuitamente o adesivo no Uganda, onde 60% das crianças adoecem por causa da malária. O objetivo é comercializar a invenção no Ocidente para financiar a distribuição gratuita nos países mais afetados pela febre amarela, dengue, malária e outras doenças causadas por mosquitos.

Palhinha purificadora

No nosso planeta há 783 milhões de pessoas que ainda não têm água potável. As crianças adoecem só por beberem dos poços ou dos rios e charcos poluídos. Na Suíça, a empresa Vestergaard Frandsen inventou uma palhinha que filtra a água na esperança de reduzir as epidemias de diarreia e de outras doenças muito perigosas nos países em desenvolvimento. A LifeStraw purifica a água enquanto se bebe.

O tubinho, composto por dois filtros e uma câmara com iodo, consegue eliminar 99% das bactérias e parasitas em mil litros de água. Ou até mais se o modelo for o LifeStraw Family, que consegue purificar até 18 mil litros de água, o suficiente para dar de beber a uma família de cinco pessoas durante três anos.

Lentes em estado líquido

Nos países em desenvolvimento, a miopia ou estigmatismo são doenças dos olhos que impedem mais de um milhão de pessoas de verem uns quantos palmos à frente. O problema é sério porque interfere na aprendizagem dos alunos na escola e também não se resolve facilmente porque óculos ou lentes de contacto são luxos para as famílias carenciadas. Um fabricante de produtos químicos sediado nos Estados Unidos, a Dow Corning Corporation, e uma organização britânica, Centre for Vision in the Developing World, inventaram uns óculos especiais para todas estas crianças e também para as famílias delas.

Além de serem baratos porque são produzidos em larga escala, não precisam de oftalmologistas ou optometristas para serem receitados. A invenção do diretor do centro, Joshua Silver, foi batizada de Adspecs e é um par de óculos que distribui quantidades controladas de silicone líquido pelas lentes até a vista conseguir ver com nitidez. O projeto, conhecido como Child Vision, já foi responsável por distribuir mais de 100 mil pares de óculos por todo o mundo, mas o objetivo é atingir 100 milhões de pessoas até 2020.

Mochilas que viram carteiras de escola

Nas aldeias ou nos bairros dos subúrbios de Mumbai, na Índia, o regresso às aulas após as férias do Diwali é uma barulheira, como provavelmente em qualquer escola de qualquer parte do mundo. Os alunos chegam pela manhã, tiram os cadernos e os lápis da mochila e logo de seguida desmontam-na e voltam a montá-la. Só que em vez de uma mochila passam a ter uma carteira para escrever e pousar os livros.

A iniciativa é da organização não governamental AARAMBH, que trabalha com crianças e famílias carenciadas de Mumbai. E a ideia é tão simples que cada mochila/carteira custa menos de 5 cêntimos. As caixas de papelão são recolhidas nos centros de reciclagem, escritórios, lojas, entre outros locais. Os voluntários levam a matéria-prima para oficinas onde depois fazem os moldes e recortam o papelão. O projeto chama-se The Help Desk e além de ser uma solução muito barata é também ecológica pois ajuda a combater o desperdício e a promover a reciclagem.

Por que há coisas nojentas a saírem do corpo?

 


O corpo humano está sempre a expulsar nhanha pelo nariz, ouvidos, poros da pele, boca, intestinos ou bexiga. Ao fim de muitos anos são quilos e litros de substâncias pastosas, viscosas, amareladas ou esverdeadas em quantidade suficiente para encher piscinas ou camiões-cisternas.  Quem não tem estômago para maus cheiros e secreções pestilentas fica desde já avisado: este texto é uma nojeira do princípio ao fim.

 

A Lueji pediu à mãe para perguntar ao Bicho-Que-Morde porque quase todas as manhãs acorda com ramelas. Ele foi investigar e acabou a chafurdar em muitas outras imundices que todos têm, novos e velhos, ricos e pobres, princesas e chefes de Estado, eu, tu e, claro, também a Lueji. Descobre a seguir as 10 nojeiras que o nosso corpo liberta para limpar e proteger o organismo de bactérias, de fungos, de poluição, de insetos, de cáries ou simplesmente de oscilações da temperatura.

Puns 😷

PARA QUE SERVE?
Os microrganismos que vivem no intestino – bactérias, protozoários e fungos – ajudam a fermentar os alimentos difíceis de digerir, mas isso tem um preço. Após a fermentação, esses mesmos microrganismos libertam hidrogénio, gás carbónico e metano que têm de ser expelidos. Mas esses não são os gases da vergonha. O enxofre, presente em alimentos como a carne vermelha, é que é o responsável pelo pivete. Para derrotar as proteínas com enxofre, os microrganismos usam o hidrogénio, que, por sua vez, liberta o sulfeto de hidrogénio e esse sim, quando sai não passa desapercebido.


QUANTIDADES
Em média uma pessoa solta entre 12 e 25 peidos por dia, o equivalente a um 1 litro/1,5 litros. Segundo o blogue da revista Discover, se uma pessoa peidasse ininterruptamente durante 6 anos e 9 meses, produziria gases com energia equivalente à de uma bomba atómica.

 

Cera dos ouvidos 😣

O QUE É?
Cera natural (cerúmen/cerume) composta por queratina e ácidos graxos (saturados e insaturados). É produzida pelas glândulas sebáceas e ceruminosas no canal auditivo.

PARA QUE SERVE?
Proteger e limpar o ouvido. Essa secreção além de lubrificante é ácida, o que ajuda a matar bactérias e fungos. É igualmente útil para repelir os insetos. Alguns especialistas suspeitam ainda que a cera também atue como antibiótico.

QUANTIDADES
Ainda ninguém calculou. Quem quer ser o primeiro?

Ranho 🤧

O QUE É?
Líquido transparente (muco) produzido pelas glândulas mucosas que revestem o nariz, a garganta e os pulmões. A ranhoca é composta principalmente por água, mas também por restos de células e ainda por uma proteína chamada glicoproteínas.


PARA QUE SERVE?
Humedecer as fossas nasais e bloquear a entrada de corpos estranhos no organismo, como bactérias e poeiras.


QUANTIDADES
Um litro é o que nariz produz em média por dia. E para onde vai esse ranho todo? Quando estamos constipados, o excesso é expelido ao assoar. Mas, nos dias normais, o muco viaja até à garganta e é engolido, sem disso darmos conta.

 

Pus 😖

O QUE É?
Líquido geralmente amarelo rico em proteínas e produzido pelo organismo após uma infeção causada por bactérias ou fungos. É composto por glóbulos brancos, bactérias, proteínas, e outros elementos orgânicos. Às vezes, o pus pode ser esverdeado porque alguns glóbulos brancos produzem uma proteína antibacteriana verde chamada mieloperoxidase.
PARA QUE SERVE?
Combater infeções causadas por bactérias e fungos. 
QUANTIDADES
Muito variável e, como tal, difícil de quantificar. Em demasia pode provocar abcessos.

Chulé 😝

O QUE É?
Transpiração dos pés misturada com bactérias e pele morta. As bactérias que produzem o chulé são as mesmas apodrecem parcialmente o queijo que comemos.
PARA QUE SERVE?
Indicar que há algo de errado com os hábitos de higiene. Os sapatos não são guardados em lugares ventilados, o tecido das meias tem muitas fibras sintéticas ou os dedos dos pés não são bem limpos após o banho.
QUANTIDADES
Mais uma vez, ninguém ainda teve coragem de fazer as contas.

 

Suor 😅😅

O QUE É?
Líquido libertado por 2,5 milhões de glândulas sudoríparas (concentradas principalmente na cabeça, mãos e pés). É composto por de 99% de água e 1% de sais minerais. A transpiração não tem cheiro, o odor acontece apenas quando há contacto com bactérias e pele morta.
PARA QUE SERVE?
Regular a temperatura do corpo e eliminar substâncias tóxicas através dos poros.
QUANTIDADES
Depende de muitos fatores como stress, exercício físico, comida condimentada, idade, peso, excesso de roupa, temperatura ambiente, entre outras causas. Mas, em média, uma pessoa pode perder entre 4,5 e 7,5 litros de suor por dia. Em repouso, o valor diário oscila entre 600 ml e 1,5 litros.

Cuspo 🤤

O QUE É?
Substância líquida transparente libertada pelas glândulas salivares composta principalmente por água, proteínas e glicoproteínas. Dentro das glicoproteínas destaca-se a mucina, moléculas que tornam a saliva viscosa.
PARA QUE SERVE?
Protege a boca, os tecidos gastrointestinais e a orofaringe, localizada na faringe. Uma das principais funções é também controlar a quantidade de água no organismo. A ausência de saliva seca a boca e indica que está na hora de hidratar o corpo. A saliva também diminui a acidez na boca, ajudando a prevenir a cárie.
QUANTIDADES
Entre 1 e 2 litros de saliva por dia. A quantidade chega a 0,5 mililitros por minuto em estado de repouso e aumenta para até 5 ml/minuto durante as refeições.

Ramelas 😴

O QUE É?
São sobras de lágrimas concentradas nos cantos dos olhos. Essas partículas são formadas por fluídos lacrimais, poeiras e lipídeos, como ácidos graxos e colesterol. Quando estamos a dormir, as glândulas lacrimais reduzem a produção da parte aquosa, mas continuam a produzir muco e gordura que cristalizam perante a descida da temperatura corporal, usual durante o sono.
PARA QUE SERVE?
Evitar que as lágrimas escorreguem pelas bochechas é uma das funções, mas não a mais importante. Ao impedirem que o líquido escape, as ramelas ajudam os olhos a manterem-se húmidos.
QUANTIDADES
Ainda ninguém fez os cálculo, mas já existem medições para as lágrimas – entre 60 a 75 litros por ano.

Cocó & xixi 💩

O QUE É?
As fezes são compostas por cerca de 70% de sólidos e 30% de fluidos. A urina tem água principalmente (95%), mas também ureia, ácido úrico, sal, entre outras substâncias.
PARA QUE SERVE?
Eliminar os resíduos que são extraídos dos alimentos e dos líquidos durante a digestão.
QUANTIDADES
Entre 400 a 500 gramas de fezes por dia. Tendo em conta esses valores, a produção de cocó numa semana seria de 2,8 kg. Num ano são 145 kg e ao fim de 75 anos são 7,7 toneladas – o peso de dois hipopótamos adultos. 

No caso do xixi, a média ronda 1,5 litros/dia por indivíduo. Significa que ao fazer 75 anos, uma pessoa já terá feito à volta de 41 mil litros de xixi, o suficiente para encher quatro camiões-cisternas.

 

Sebo 🤔

O QUE É?
Óleo natural ou sebo, produzido pelas glândulas sebáceas e libertado através dos poros.
PARA QUE SERVE?
Manter a pele saudável e hidratada.
QUANTIDADES
Os valores oscilam consoante o peso, a altura, o sexo e as características da pele – seca, oleosa ou mista. As médias podem por isso variar entre 12 gramas/dia para uma mulher de estatura baixa e 29,1 gramas/dia para um homem corpulento. Arredondando a média para 20,39 gramas/dia, significa que no final de um ano são 7,41 kg e ao fim de 75 anos são 556 kg (611 litros).

 

 

Fontes consultadas: Megacurioso | Mundo Estranho | Revista Galileu | Revista Saúde | Hyperscience | BBC (1) | BBC (2) | Discovermagazine | Academia Americana de Oftalmologia | Superinteressante | Live Science | Globo | The Guardian | NYT |

Quanto pesa uma nuvem?

Leves e fofas como bocados de algodão a flutuar nos céus, ao sabor da brisa: assim são as nuvens que se formam no horizonte. Nada mais errado! Poucas coisas enganam tão bem como as nuvens. Parecem tão frágeis, que se desfazem ao mínimo sopro mas, carregadinhas de água, chegam a pesar centenas de toneladas.

 

 

As nuvens do tipo cumulus, por exemplo (ver classificação em baixo), podem armazenar 550 toneladas de água ou até mais, diante de uma tempestade. Por mais que este seja um facto cientificamente comprovado, é difícil de acreditar. Como é que se consegue pesar uma nuvem inteira suspensa no ar? Com uma balança e dois pratos não é certamente.

Os instrumentos usados são apenas estimativas e fórmulas para calcular o peso das nuvens. Foi isso que fez a investigadora americana Margaret (Peggy) LeMone. Quando era ainda adolescente, ouviu um amigo do pai perguntar se alguém saberia o peso exato de uma nuvem. A dúvida ficou com ela até ser adulta e começar a trabalhar no Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, no Colorado (EUA). Em 2013, colocou um ponto final no mistério.

Peggy escolheu a nuvem mais comum de todas – a cumulus, que se forma quando o ar está mais estável – para fazer a demonstração. Depois de alguns cálculos, envolvendo a densidade, o volume e o diâmetro, obteve um resultado: 500 milhões de gramas de água.

É muita água, mas torna-se difícil imaginar a quantidade certa. Para se ter uma ideia mais aproximada, Peggy converteu estes valores em elefantes.

Explicando melhor:

 

Se um elefante africano pesa, em média, cinco toneladas, uma nuvem cumulus de dimensão média pesa 100 elefantes.

 

E numa tempestade? O peso equivalente de uma nuvem cumulus pode chegar a 200 mil elefantes.

 

Num furação, são 40 milhões de elefantes! Não é uma tromba de água, são milhões e milhões de trombas a caírem de uma só vez.

 

Desfeito o enigma, resta perceber como é que, com tanto peso, uma nuvem se aguenta lá em cima. Um elefante não demoraria um milésimo de segundo para cair aos trambolhões e estampar-se no chão. A resposta está na distribuição de água por toda a nuvem. São milhões e milhões de gotículas e cristais de gelo espalhados por áreas que ultrapassam por vezes dois, três ou mais quilómetros.

As nuvens são vapores que se formam em correntes de vento quente. Como o ar que está a ser elevado é mais forte do que a pressão que as gotinhas fazem para baixo, a queda não acontece. E é também essa relação de forças que falta aos elefantes para conseguirem flutuar.

Mas, assim que o ar arrefece, a água das nuvens congela. Se a temperatura for muito baixa, as gotas transformam-se em flocos de neve; em climas mais temperados, o gelo derrete ainda antes de tocar no chão.

 

A fórmula de Peggy em 4 passos

1. Calcular a densidade da nuvem: no caso das nuvens cumulus, o índice não é superior a ½ grama de água por metro cúbico.

 

2. Esperar que o sol se ponha em cima da nuvem para analisar a sombra e o tamanho, que no caso  das nuvens cumulus têm, em média, 1 km de diâmetro.

 

3. O mesmo método serve para calcular a altura: 1 km de altura equivale a 100 mil milhões metros cúbicos de volume.

 

4. Achados o volume e densidade, a Matemática encarrega-se de fazer as contas e dar a resposta: 500.000.000 gramas de água.

 

Agora, só mesmo para desanuviar, entrem na fantasia de Yezi Xue. A curta-metragem, produzida pelo Ringling College of Art + Design, é mesmo curta: são 2 minutos para mostrar como os acidentes ou os erros são oportunidades para soltar a imaginação.

Fontes consultadas: Mental Floss | Meteoropole | Geofísica | NCAR & UCAR News |