Se todos os dias usamos as palavras para conversar, ler e escrever, então, porque raros são os dias em que não há atropelos na gramática? Os erros são tão antigos como as próprias línguas e ninguém – nem mesmo os revisores e os linguistas – está livre de os cometer.
Em muitos casos, o grande culpado nem somos nós. É o cérebro que armazena as palavras em famílias em vez de as convocar uma a uma na hora de redigir um texto ou um email. É um método que ele usa para poupar energia, mas acaba por criar hábitos e padrões que depois levam aos enganos. Os erros gramaticais ou ortográficos, por regra, não acontecem por ignorância ou estupidez, avisam os cientistas.
Escrever é uma tarefa altamente qualificada. E, como todas as grandes empreitadas, o cérebro automatiza as partes simples – como transformar letras em palavras e palavras em frases – para se concentrar em tarefas difíceis – como combinar frases e encadear ideias. Ao sermos também propensos a prestar mais atenção à pronúncia das palavras – afinal, é o que que dá as melhores pistas sobre como escrevê-las –, deixamos escapar a grafia, que nem sempre corresponde ao som.
Nada disso é motivo para desculpar os nossos erros. Muito pelo contrário.
Sabendo que o nosso cérebro é tão traiçoeiro como a nossa língua, teremos sempre de redobrar a atenção para não sermos enganados ou enganadas. Ler e reler o que se escreve é uma das principais formas de corrigir as falhas. A outra é ler muito e treinar bastante a escrita. Os Bichos no sótão, atrevidos como são, revisitaram algumas das calinadas, que apesar de antigas, estão sempre a acontecer. Entra neste jogo para começares já a praticar.
Ovelha ranhosa ou ovelha ronhosa?
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Ovelha ronhosa. O adjetivo ronhoso vem de ronha, doença parecida com sarna que ataca alguns animais. Uma ovelha com esta doença tem de ser afastada do rebanho para evitar o contágio. A expressão ovelha ronhosa, em sentido figurado, significa que alguém não é bem-vindo num grupo de colegas, amigos ou família.
Copo de água ou copo com água?
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Copo de água, por favor! Tal como não se diz lata com tinta ou colher com açúcar, também não se diz copo com água. Aqui a preposição «de» liga um recipiente ao seu conteúdo.
Quero ou queria?
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Ambos! Os tempos verbais têm muitos usos e até podem ser empregados no presente para dizer «queria um copo de água, por favor». O uso do pretérito imperfeito demonstra nestes casos a intenção de se ser cordial para com o outro.
Fazer a barba ou cortar a barba?
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Fazer a barba. A lógica do pensamento nem sempre está na mesma sintonia da língua. Lá porque se está a tirar alguma coisa não quer dizer que não possamos usar o verbo fazer. Este é um dos muitos casos em que a lógica não é para aqui chamada, tal como lugares sentados (nos transportes públicos), apanhar uma constipação (a constipação é que nos apanha) ou tirar um mestrado.
Com certeza ou concerteza?
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Com certeza, pois com certeza! Estamos perante duas palavras que, apesar de surgirem sempre juntas, devem estar separadas. Também não escrevemos «semdúvida», pois não?
Quaisqueres ou quaisquer?
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O plural de qualquer é quaisquer. Qualquer é formado a partir do pronome qual e do elemento invariável quer.
Havia ou haviam?
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Havia. Este verbo não gosta, nunca gostou, nem nunca irá gostar do plural.
Há muito tempo atrás ou há muito tempo?
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Há muito tempo. Se aconteceu há muito tempo, escusado será dizer «há muito tempo atrás». Tem que ver com o significado de “haver” decorrido “tempo”, o que, necessariamente, implica uma acção já decorrida. Logo, implicitamente a mesma ficou “atrás”. «Não estou com o Miguel há duas semanas». «Há duas semanas que não vejo o Miguel».
Destrocar ou trocar?
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Trocar. Aqui nem é preciso pensar muito. Se queremos trocar algo, então «destrocar» é desfazer a troca que queríamos fazer inicialmente. Mas o português tem destas delícias inofensivas. Se implicarmos com o destrocar, também teremos de implicar com o «desandar».
Bébé ou bebé?
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Bebé é adaptação do francês «bébé». Mas, durante a viagem, perdeu um acento, visto tratar-se de uma palavra aguda (com acento tónico na última sílaba). De resto, a língua portuguesa não aceita dois acentos gráficos na mesma palavra. O til não é considerado um acento, mas uma marca para indicar as vogais nasais (órfão, acórdão, bênção, sótão, entre outros).
CD ou CDs?
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CD é uma sigla que resulta das iniciais compact disc. E as siglas não têm plural. Tal como dizemos muitos CD, também devemos dizer, por exemplo, «várias ONG», «os PALOP» ou «as PME».
Peru ou Perú?
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Peru. As palavras agudas terminadas em u – menu, cru ou tabu – não têm acentos.
À última da hora ou à última hora?
Não percas tempo e descobre já a resposta.
À última hora. Se não dizemos «no último do instante» ou no «último do minuto» porquê dizer então à «ultima da hora»?
Táxi ou taxi?
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Táxi. Tratando-se de uma palavra grave (com acento tónico na penúltima sílaba) terminada em «i», leva um acento sobre a vogal «a».
Alugar uma casa ou arrendar uma casa?
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Arrendar uma casa. Arrendar é um verbo que se emprega para bens imóveis (casas, apartamentos ou garagens). Alugar destina-se aos bens móveis (carros, barcos, fato de carnaval, entre outros).
Beje ou Bege?
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Bege. Esta é mais uma palavra vinda do francês «beige», que perdeu o i, mas manteve o g.
Coco ou Côco?
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Coco. O fruto do coqueiro não leva nenhum acento.
Penalti ou penálti?
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Penálti. Todas as palavras graves terminadas em «i», «is» e «us» levam um acento agudo: júri, lápis ou vírus.
Quadriplicar ou quadruplicar?
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Quadruplicar. Escreve-se com «u» na segunda sílaba de forma a respeitar a sua raiz latina (quadruplicare)
De mais ou demais?
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Depende… De mais significa «a mais», exprime quantidade e opõe-se a «de menos». Demais é usado com o sentido de excessivamente, demasiadamente. Exemplos: «O bolo de chocolate tem açúcar de mais para o meu paladar». «Sebastião é gordo porque come demais».
Duzentas gramas ou duzentos gramas?
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Duzentos gramas. Lá porque a palavra grama acaba em «a», não quer dizer que seja do género feminino.
Fans ou fãs?
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Fãs. A origem da palavra é inglesa: fan é uma abreviatura do adjetivo fanatic, que na transição para o português alterou o «an» para «ã».
Impor regras ou impôr regras?
Carrega na seta, por favor, e descobre a resposta.
Imporregras. Os verbos derivados do pôr não têm acentos: impor, compor, supor, entre outros.
Interviu ou interveio?
Descobre aqui como o verbo intervir é dos mais tramados.
Interveio. O verbo «intervir» deriva do verbo «vir» e, como tal, deve seguir a conjugação deste verbo e não a do verbo ver. «Eu intervim», «tu intervieste», «ele interveio» e por aí fora. Já agora, o particípio passado do verbo intervir é intervindo: «Depois de eu ter intervindo, ele interveio».
Pais natal ou Pais natais?
Muitas vezes, é preciso errar para aprender.
Paisnatais. Pai Natal há só um. Os restantes são cópias que, no plural, devem ser tratados como pais natais, tal como o plural de terra natal é terras natais e de decreto-lei é decretos-leis.
Koala ou Coala?
Se calhar, já sabes esta resposta, mas carrega aqui para confirmar.
Coala. A palavra é originalmente inglesa, mas na adaptação para o português, o «k» foi substituído pelo «c».
Magestade ou Majestade?
A resposta está aqui.
Seguindo a tradição latina desta palavra, escreve-se majestade.
Melhor preparado ou mais bem preparado?
Quem nesta setinha carregar, a resposta vai encontrar.
«Melhor» é comparativo de «bom» e «mais bem» é comparativo de «bem». Recomenda-se, portanto, dizer «mais bem preparado», «mais bem-fadado», «mais bem-feito» ou «mais bem-parecido» ou então «Está melhor?», «Ela fica melhor de cabelo curto» ou «É melhor parar por aqui».
Obrigado ou obrigada?
Carrega! É mesmo aqui que está a resposta.
Obrigado para ele e obrigada para ela. Usar obrigado ou obrigada depende se é um homem/rapaz ou uma mulher/rapariga a agradecer, tal como grato ou grata.
A mascote ou o mascote?
Adivinha onde tens de carregar para confirmar a resposta?
A mascote. A palavra é do género feminino.
O téni ou o ténis?
Sim, é mesmo aqui que se carrega.
O ténis. Seja para designar a modalidade desportiva ou para o calçado é sempre ténis – no plural ou no singular.
Mídia, média ou media?
Se ainda não sabes o que fazer para saber a resposta, andas muito distraído.
Media. Apesar da vogal «e» aberta, a palavra não é acentuada para respeitar a grafia e a fonia originais do latim.
Pionés, pioné ou pioneses?
Nesta fase, já saberás o que fazer para descobrir a resposta…
O plural de pionés é pioneses.
Pólo Norte ou Polo Norte?
E, pronto, carrega aqui pela última vez.
PoloNorte. Em Portugal, as expressões para designar as extremidades do eixo imaginário em torno do qual a terra faz o movimento de rotação, escrevem-se com as iniciais maiúsculas e sem acentos: Polo Norte e Polo Sul, conforme o Acordo Ortográfico.
Wangari Maathai voltou à aldeia da infância e encontrou tudo diferente. As florestas do Quénia desapareceram, deixando os habitantes sem campos férteis, água fresca ou lenha. Só o regresso das árvores poderia acabar com todos os problemas, pensou ela. E assim criou o Cinturão Verde, um movimento que começou com um punhado de sementinhas e um grupo de mulheres, mas que se alastrou para outros países de África com mais de 50 milhões de árvores plantadas.
Wangari Maathai tinha tudo para ser uma criança feliz. Tudo, tudo, não. Nas casas de Ihithe, a aldeia onde cresceu, não havia brinquedos, livros ou jogos, mas havia outros luxos como leopardos e elefantes a viver nas florestas, água fresca e campos férteis para cultivar mandioca, tomatinhos ou malaguetas nas hortas.
_ O suficiente para crianças e adultos serem felizes – pensou ela quase 30 anos depois ao regressar à província de Nyeri, no Quénia, para ajudar o marido a ser eleito no parlamento.
_ Onde está tudo isso? – Perguntou aos aldeões que, subiram com ela ao alto das montanhas para mostrar o que agora está diferente.
Nas colinas e nos socalcos, antes cobertos de cânfora e de bambu, há plantações de chá de perder de vista, mas só dão trabalho durante os meses da colheita, ficando os homens e as mulheres sem mais nada para fazer o resto do ano.
Nas antigas florestas, outrora carregadinhas de manguezais, palmeiras, teca ou sândalo, os troncos das árvores foram serrados e surgiram clareiras gigantes, que deixaram a terra ressequida. As hortas desapareceram e as mamãs têm agora de percorrer mais e mais quilómetros para encontrar água e alimentos.
Nessa noite, Wangari não dormiu, só pensava como os lugares da sua infância mudaram tanto.
_ Tenho de perceber porque já não há dias felizes nas minhas aldeias.
E ao procurar os porquês, logo descobriu o que fazer. Se os problemas surgiram quando as árvores começaram a desaparecer, então a solução é… plantar árvores. Simples. Afinal, elas dão tudo o que agora tanta falta faz: comida, abrigo e lenha.
Uma mão-cheia de sementes
Reflorestar as zonas áridas do Quénia começou com um grupo de meia dúzia de mulheres.
Wangari foi a correr contar a ideia às líderes do Conselho Nacional das Mulheres do Quénia. Ficaram todas entusiasmadas, arregaçaram as mangas e puseram as mãos na terra. A 5 de Junho de 1977, Dia da Terra, sete árvores foram plantadas no Parque Kamukunji, no centro da cidade de Nairobi.
Uma para cada chefe de um grupo étnico, unindo todos à volta dos mesmos objetivos: acabar com a pobreza e recuperar as florestas perdidas do Quénia. E foi assim que nasceu o Movimento Cinturão Verde. Começou devagarinho, com meia dúzia de mulheres e uma mão-cheia de sementinhas. Era um grupo tão pequeno que alguns até fizeram troça da ideia.
_ Como é que um bando de aldeões, que nada percebe do assunto, pensa fazer renascer as florestas?
Elas não ligaram e continuaram a viajar pelas povoações à procura de mais cúmplices. A este grupo pequeno juntou-se um outro, igualmente pequeno, e mais um e mais um. Os grupinhos formaram um outro maior, que foi crescendo como uma praga boa que alastra a sua mancha verde para os cantos mais distantes do Quénia.
A oportunidade das mulheres
O movimento Cinturão Verde deu trabalho a mais de 900 mil mulheres do continente africano.
As sementinhas foram distribuídas gratuitamente pelas sete províncias do país. Por cada três árvores que sobrevivessem pelo menos três meses, as mulheres eram pagas com algumas moedas. Quanto mais plantassem, mais hipóteses tinham e mais moedas recebiam. E, como tal, todas elas semearam muito mais do precisavam para alimentar as famílias.
Com a ajuda das Nações Unidas, o conselho nacional construiu seis mil viveiros com milhares de plantinhas, transferidas depois para as zonas onde as árvores foram abatidas. O empenho dos aldeões foi tão grande, que milhares de postos de trabalho foram criados, principalmente para as mulheres.
Wangari achava que a vida delas é que precisava de mudar. Como não ganhavam dinheiro, não podiam tomar decisões importantes sobre as suas vidas e a dos filhos. Não é que tinha razão? Com o movimento Cinturão Verde, muitas delas deixaram de precisar dos maridos e chefes das aldeias.
Ao longo de mais de três décadas, o movimento Cinturão Verde promoveu a plantação de 30 milhões de árvores.
Não só no Quénia, mas em dezenas de outros países africanos, como Tanzânia, Uganda, Malawi, Lesoto, Etiópia ou Zimbabué, ajudando qualquer coisa como 900 mil mulheres segundo as contas das Nações Unidas.
O movimento Cinturão Verde ganhou tanto poder que Wangari conseguiu até fazer frente ao seu maior inimigo: Daniel arap Moi foi o presidente do Quénia entre 1978 e 2002. Um homem alto, magro e bem-falante, mas que não hesitava prender e castigar quem tinha ideias diferentes das dele. Mas não foi por isso que ela parou de lutar, ficando conhecida como «Mama Miti» que é como os quenianos chamam em suaíli «mãe das árvores».
Os monstros do parque
Impedir que os arranha-céus ocupassem os lugares das árvores foi a primeira guerra de Wangari contra Moi.
A primeira batalha dela contra Moi, em 1989, ficou para a História. O presidente queniano queria construir um arranha-céus de mais 200 milhões de euros com escritórios para os serviços do governo. E logo escolheu o Parque Uhuru, no centro de Nairobi, como localização para o novo empreendimento. A capital do Quénia já tinha tão poucas áreas verdes e ele ainda queria destruir mais algumas dezenas de hectares de espaços verdes só para ter um complexo de 60 andares com direito a uma estátua dele e tudo.
Assim que soube dos planos do presidente, Wangari juntou algumas centenas de companheiros e foram todos escorraçar o «monstro do parque». Dá para ter uma ideia de como Moi, pouco habituado a ser contrariado, ficou fulo da vida.
_ Quem é esta louca, cheia de insetos na cabeça, que acha que pode desafiar a minha autoridade?
Wangari tanto achava que conseguiu. A polícia acabou por expulsar os manifestantes do parque, mas as imagens do confronto apareceram em tantas televisões de tantos países, que as multinacionais cancelaram as propostas de investimento no projeto por medo de má publicidade.
Desde esse dia, Wangari passou a lutar também pela democracia, pelas mães que tinham os filhos presos só por contestarem o presidente e também pela união de todos os quenianos, qualquer que fosse a etnia. A oposição ao regime valeu-lhe algumas perseguições e passagens pela prisão, mas não chegou para ela desistir.
Tanto assim é que o poder de Moi esfumou-se há quase duas décadas, mas o trabalho de Wangari continua. E cresce todos os dias, mesmo depois de ela morrer, em setembro de 2011, doente de cancro.
O movimento Cinturão Verde já plantou até agora mais de 50 milhões de árvores no continente africano.
E adivinhem qual foi lugar que os quenianos escolheram para fazer o funeral dela? Não se está mesmo a ver? Por entre as ruas de cimento e betão, mais de 100 hectares de árvores, arbustos, lagos e pradarias do Parque Uhuru abrem caminho por entre os arranha-céus de Nairobi. Dentro dessa mancha verde, estão as cinzas do corpo de Wangari, que agora são também parte de todas as árvores que ela salvou.
Para veres a cronologia dos principais eventos na vida de Wangari, passa o cursor por cima das imagens.
ATENÇÃO: esta apresentação só resulta em pleno no portátil, tablet e desktop. No telemóvel, os textos podem aparecer cortados.
Façam de conta que estão num café antigo – o Majestic do Porto, o Santa Cruz, em Coimbra, ou o Vianna de Braga. Sentados a beber uma laranjada fresca e a ver passar as modas do início do século 20. Com tanta coisa que, entretanto, já mudou, não é fácil acreditar neste jogo do faz-de-conta. Por isso, os Bichos no Sótão convidam todos a entrarem nesta cápsula do tempo. Não tenham pressa. Demorem-se nestas páginas tiradas da revista Ilustração Portuguesa.
Leiam com paciência as letrinhas miúdas. Não deixem escapar os retratos das rainhas, dos fidalgos barbudos e das gentes humildes dos campos e das cidades. Por aqui passou tudo: o Regicídio, a novela da primeira república, as cheias e as tempestades que destruíram vezes sem conta as nossas cidades, o ballet russo, os artistas modernistas e tudo o resto.
A Ilustração Portuguesa teve uma longa vida como suplemento semanal do jornal O Século. Deu a conhecer a vida social, a vida política, a vida cultural ou a vida desportiva, mostrando também o que se passava pela Europa e pelo mundo. Ela só deixa de ser publicada em 1993, mas, com a chegada da ditadura, foi perdendo o fôlego nas últimas décadas, com apenas uma ou duas edições por ano
Mas não percam mais tempo. O interessante está no que se segue. É só uma amostra. Se mais quiserem ver, visitem o site da Hemeroteca de Lisboa que tem todas as ediçõesdigitalizadas. Agora, abram a revista e, antes de tudo, olhem para a data. Vamos começar com o ano de 1903…
9 de novembro de 1903
Chronica Mundana
♣ As «toilletes» das «rainhas» dos salões de bailes ilustram as tendências dos primeiros anos do século XX. Chegaram finalmente as mulheres «envoltas em sedas preciosas» de «tons quentes de âmbar e rubim», os decotes «baixíssimos», «vestidos de veludo escuro» e «grandes cabeções de rendas antigas» a fazer lembrar os «preciosos retratos de Rembrant e Velasquez». Para trás ficaram os «enormes chapéus com abas», que engoliam os rostos, os «corpetes que tudo tapavam» ou os capotes até ao tornozelo, «altura normal dos vestidos».
Ilustração de Sua Majestade a Rainha Senhora D. Amélia
17 de janeiro de 1910
A primeira lutadora deJu-JutsuJu-JutsuArte marcial, praticada pelos samurais no antigo Japão, apresenta um vasto leque de técnicas que incluem pontapés, socos, cotoveladas ou joelhadas.
♣ Miss Roberts chegou de Londres para assombrar o público português. Delicada só na aparência, dominou o adversário com golpes meticulosos e científicos. «Parece quase não tocar no antagonista; dá-nos a ilusão de que lhe pega delicadamente com as pontas dos dedos», escreve o repórter deslumbrado com a sua força, «graça e leveza».
♣ São 11 anúncios espartilhados numa única página. Espaço mais do que suficiente para promover a loja de Madame Santos e Silva, com «Espartilhos e cintas por medida» na Rua Garrett. Para quem acredita na magia do amor, Mademoiselle Rolland oferece «Grande variedade de pós e perfumes de atrair» «scientificamente analisados por operador diplomado pelo Instituto de Psicologia». E, para «grandes males, grandes remédios»: Siphilis cura desde moléstias de pele às impurezas do sangue. Ou Depuratol, o depurativo mais eficaz e poderoso vendido a 1$250 réis.
22 de janeiro de 1921
De como em Lisboa se é atropelado*
♣ Perante notícias recorrentes de atropelamentos, está na hora de perceber com entendidos as razões deste fenómeno que tanto perturba a vida citadina. Foi então o jornalista ter com os proprietários dos automóveis Mors, marca afamada por bater recordes de velocidade. Por um feliz acaso deu logo de caras com um estudioso do assunto, autor de detalhada tese, que dividiu os peões em vários tipos. O que «se despede na borda do passeio e atravessa impávido sem virar o focinho nem ligar importância ao pó-pó-pó». Até ao «que vai na lua (…) muito sereno no seu caminho. De repente dá um pulo, dá um ai! E dá um grito. E não dá mais nada porque morreu». Os mais «curiosos» são os das valsas e dos câmbios. «O das valsas é muito frequente do lado ocidental do Rocio. Encara o automóvel de frente. Faz depois três passos de valsa para a esquerda, 2 de polka para a direita, 4 de fox-trot para traz e quando está resolvido a fazer 3 figuras de one step está one-estampado debaixo das rodas.» .
* Artigo de prevenção rodoviária – texto e ilustrações de Sanches de Castro.
♣ 15 de Fevereiro de 1941 ficou conhecido como “o dia do ciclone”. A tempestade provocou mortos e feridos que não foram contabilizados e um rasto de destruição por todo o país. Três semanas mais tarde, a revista Ilustração Portuguesa publicava um portfólio de 6 páginas com fotos, mostrando o caos resultante da força do ciclone que se formou entre a Madeira e o Cabo de S. Vicente: famílias desalojadas, estradas cortadas, árvores arrancadas pela raiz, ligações telegráficas e telefónicas interrompidas, naufrágio de embarcações, chaminés derrubadas ou casas sem telhados.
♣ Os anos 1950 são a década dourada do Benfica que vence 3 campeonatos nacionais da I Divisão e 6 Taças de Portugal. Calado, Palmeiro, Zézinho, Ângelo, Germano, Águas, Coluna, José Augusto e Cavém estão entre as estrelas do clube, que nessa altura, não aceitava jogadores estrangeiros. ♣ No anterior campeonato, era o F. C. do Porto que se sagrara campeão. O clube só voltaria a ganhar em 1959. E, depois disso, teve de esperar 19 anos sem comemorar o título, de 1959 a 1978. Mas quando a corrente de má sorte se quebrou, venceu logo dois campeonatos de uma assentada, em 1977-78 e 1978-79. ♣ O Belenenses esteve quase a apanhar o Porto, mas ficou-se pelo 3.º lugar. A década foi frustrante para os azuis, que estiveram muitas vezes à beira de serem campeões. No ano anterior, o campeonato fugiu-lhes a 4 minutos do fim. Da equipa campeã, em 1946, apenas sobraram até meados da década Serafim e Feliciano. Até que chegaram grandes reforços. Primeiro Matateu e Vicente e, mais tarde, Yaúca, Di Pace, Dimas entre outros. ♣ Em 1956-1957 o Sporting ocupou o 4.º lugar e esteve longe do seu melhor. As grandes épocas dos leões aconteceram nos anos 40 e 50, décadas em que dominaram a I liga – venceram 9 dos 14 campeonatos entre 1941 e 1954 e 5 Taças de Portugal. O ano de 1956 é a data da inauguração do estádio José Alvalade, no dia 10 de Junho.
♣ Alice Malone, uma «tranquila» inglesa, na altura com 56 anos, tem um elemento raríssimo no sangue, que permite curar bebés com icterícia. Desde que os médicos fizeram essa descoberta, ela passou a doar quase 1 litro de sangue por semana, salvando mais de 5 mil crianças e sem receber um centavo pelo feito. E isto apesar de as autoridades médicas dos Estados Unidos lhe terem oferecido 400 contos por ano para ir viver no outro lado do Atlântico e ajudar as crianças americanas. Alice recusou e continuou a viver em Stevenage, uma pequena cidade do condado de Hertfordshire, na Inglaterra. Vale pena ler esta história.
Quem anda na estrada sabe que é verdade. Poucos são os dias em que não se ouve um insulto ou, pior ainda, ameaças por coisas sem importância nenhuma. Não é só a raiva que toma conta dos condutores e empesta o ambiente tanto ou mais do que o fumo a sair do tubo de escape. Os automobilistas são, muitas vezes, piores do que crianças mimadas. Roubam lugares de estacionamento, esquecem-se do pisca quando mudam de faixa, furam filas, aceleram no semáforo amarelo e, com isso tudo, acabam por se esquecer da segurança deles e da dos outros.
Algo de estranho acontece a boa parte dos condutores quando pegam no volante. Parece que passam para uma dimensão paralela. Como se entrassem num túnel protegido dos olhares dos outros. É como se ficassem invisíveis, explicam os especialistas que estudam esse comportamento. Em vez de pessoas, vêem tipos de carros ou um fluxo interminável de automóveis. Esse sentimento de anonimatoé o que os leva a se comportarem de uma forma que nunca se comportariam se estivessem no trabalho, na praia, na fila do supermercado ou a andar a pé na rua.
Na estrada, não há dedos acusadores e ninguém para prestar contas. Só máquinas motorizadas.
Como se, de repente, os condutores regressassem à adolescência e ficassem sozinhos em casa. É o sinal verde para quebrar regras e ser rude com os outros sem sentir uma ponta de culpa. Estão prontos para atirar com a raiva ao primeiro que se meter com eles.
E o que não faltam são gatilhos para atiçar a ira. Os muitos inquéritos já feitos apontam os fura-filas como a principal irritação dos condutores. Excesso de velocidade, exibições hostis, ultrapassagens perigosas, razias, mudança de faixa sem uso de pisca e condução irregular são outros comportamentos que também tiram os automobilistas do sério.
Treinar todos os dias para travar a raiva
O autocontrolo pode ser exercitado para ficar mais forte e dominar os instintos primários.
Conduzir é algo perigoso e, por isso, quando alguém coloca a vida dos outros em perigo, não sobra réstia de compreensão ou de boas maneiras para quem é irresponsável. Na estrada, o autocontrolo – recurso que todos temos para segurar os impulsos – está geralmente no nível mínimo. Há demasiadas coisas a acontecer e que têm prioridade.
Estar atento à estrada, verificar o espelho, monitorizar a velocidade, estar vigilante com os restantes automobilistas, controlar o tempo para não chegar atrasado. Nessas condições, é muito mais difícil dar ouvidos ao anjinho que, nos momentos de crise, nos diz para contar até 10 antes de abrir a boca ou martelar a buzina.
E isto sem contar com o cansaço que o condutor já carrega no fim de um dia de trabalho e que, segundo os especialistas, explica porque há mais tolerância com os erros dos outros no trajeto para o trabalho do que no regresso a casa.
Quando a fadiga pesa, a irritação é muita e a frustração também, é bem mais fácil ceder aos impulsos primitivos.
Embora seja mais difícil, o autocontrolo não é impossível. Há quem defenda que, tal como um músculo, a força de vontade pode ser treinada todos os dias para ficar cada vez mais forte e dominar os instintos primários. E a estrada é o melhor ginásio para praticar a autodisciplina em pequenas doses diárias. Os especialistas estão, aliás, convencidos de que, com alguma persistência, até aqueles que fervem em pouca água podem vir a ter bons desempenhos, ao perceberem que o seu esforço beneficia não só a si próprio como aos outros também.
Respirar, contar até 10 e seguir caminho
Estar focado na condução é o que mantém a calma e leva a perceber que o desgaste não conduz a lugar nenhum.
Quando se está concentrado na condução, é muito mais fácil manter a calma. E quando se está calmo não é tão difícil reconhecer que nem sempre se é o condutor mais azarado, preso na faixa mais lenta de todas. Ou que insultar o colega do lado não leva a lado nenhum.
Um bom treino – aconselham os especialistas – é imaginar cenários para simular e testar as nossas reações. Tal e qual as crianças quando brincam ao faz-de-conta. «Se um parvalhão me encandear com os máximos para sair da faixa do meio, vou desviar-me sem fazer ondas.» «Se respeitar os limites de velocidade, vou ter menos multas». «Se chegar 5 ou 10 minutos atrasado, não vai ser o fim do mundo». «Um minuto ou dois parado no semáforo não faz assim tanta diferença».
É preciso ter calma e cortesia
A estrada é um bom ginásio para treinar a disciplina e alargar a cortesia para lá da estrada.
Com tempo e persistência, qualquer condutor ou condutora estará apto a dominar os instintos básicos. Perante momentos enervantes, todos são capazes de lembrar o inútil que é o desgaste de energia em situações que escapam ao nosso controlo. E assim, ao muscular a nossa força de vontade com doses de calma e cortesia, não estaremos apenas a despoluir o ambiente no trânsito, mas também a proteger a segurança de todos. E, já agora, porque não estender esse treino fora da estrada?
As frases, quando são orelhudas, quebram todas as regras gramaticais e entram logo no vocabulário. Elas vêm de toda a parte, dos slogans publicitários, dos humoristas, das caneladas no futebol ou das grandes deixas do cinema e da literatura.
«Problemas?» – Pergunta o mordomo às camareiras ao reparar na entrada do hotel lavada, mas sem brilho. De seguida, passa uma bola de algodão pelos mosaicos e mostra a sujidade agarrada: «O hall é limpo, mas não foi limpo como devia». Não podia ser mais desengraçado este anúncio, de 1997, ao detergente Sonasol. Mas o seu o final é inesquecível.
«O algodão não engana!» – Conclui o mordomo.
A partir daí, a frase escapa da televisão e transforma-se numa expressão popular para tirar teimas ou ir ao fundo das questões.
A maioria das frases ditas da boca para fora evapora-se sem deixar vestígio. Muito poucas são originais o suficiente para sobreviverem mais do que quatro ou cinco segundos. Mas há algumas que ficam. Saltam de slogans publicitários, de entrevistas a figuras públicas, do cinema ou de ‘sketches’ humorísticos e entram nas graçolas do quotidiano, servindo até de muletas quando não há mais nada para dizer.
O baú dos slogans publicitários
«Há mar e mar, há ir e voltar», «Aquela máquina», a publicidade é um baú sem fundo de slogans que se colam na língua.
Em muitos casos, não é difícil perceber o motivo de certas expressões se colarem instantaneamente às conversas do quotidiano. Elas têm tudo para ser um sucesso: são curtas, compactas e cheias de piada. «Eu é mais bolos…» – respondeu José Severino, um pasteleiro convidado por engano para falar sobre radiocomunicações num talk show televisivo.
A frase do personagem de Herman José, no programa Hermanias Especial Fim de Ano, em 1991-92, ainda hoje é recuperada quando alguém se sente pouco à vontade para falar sobre um determinado tema.
Quer-se dizer… Eu é mais bolos…
Mas a publicidade é que é um baú sem fundo de slogans para a posteridade. «O que é Nacional é bom» (1986) transformou-se numa declaração de patriotismo e de orgulho pelos produtos made inPortugal. E «Vá para fora cá dentro» (1995) convidou os portugueses a conhecer o país. Mas há mais, muito mais: «Ambrósio! Apetecia-me tomar algo…»,- Ferrero Rocher (1995), «Branco mais branco não há» – Tide (1997), ou «Tou xim?… É pra mim!» – Telecel (1996).
Tou xim? Só um momento. É para mim!
Mas chega de publicidade! Há também frases históricas com fartura nos livros, na música ou no cinema. Começando pelos filmes portugueses, ninguém se esquece das tiradas de Vasco Santana: «Chapéus há muitos!», Canção de Lisboa (1933), usada quando se quer mostrar que algo não tem importância. Ou «Evaristo, tens cá disto?», Pátio das Cantigas (1942), sem significado especial, provavelmente só não caiu no esquecimento por ter sido Vasco Santana a dizê-la.
Há outras expressões que resistiram sem precisarem da mestria do ator: «I’ll beback» – avisou Schwarzenegger em Exterminador Implacável (1984). Ao fim de quase três décadas e meia, continuamos a usar a expressão, com o mesmo tom robótico, sempre que damos por perdida uma batalha, mas prometemos regressar para vencer a guerra. «Hasta La vistaBaby», outra pérola, desta vez, saída do Exterminador Implacável 2 (1991). Significa o mesmo que «até qualquer dia», mas com muito mais estilo.
«May the force be with you». Não é preciso ser um maluquinho pela saga da Guerra das Estrelas (1977-2018) para reconhecer instantaneamente que nos estão a desejar boa sorte. «You talking to me?» – pergunta Travis Bickle em Taxi Driver (1976). O filme de Martin Scorcese já tem mais de quatro décadas e, ainda hoje, há pelo menos uma pessoa que, todos os dias, vai ter com o ator Robert de Niro, só para lhe perguntar: «You Talking to me?»
Grandes frases do cinema
«Muito mais estiloso do que despedirmo-nos com um «até amanhã» é usar os óculos escuros, sorrir e dizer «Hasta la vista, baby!»
Na música isso seria mais difícil. As expressões (ou melhor, as líricas) entram mais depressa no duche do que nas conversas. Ainda assim, haverá pelo menos uma obrigatória. «…não sabe nadar yo!» é o primeiro megassucesso do hip-hop português. Mas, não menos importante, o refrão da música dos Black Company foi também repetido até ao enjoo em casas, escolas, cafés ou nas ruas.
Toda a gente, em algum momento, cantou ou disse que alguém «não sabe nadar yo!» em greves e manifestações, contra governantes ou treinadores da bola. O refrão ganhou até honras de chefe de Estado quando o então presidente Mário Soares também gritou «As gravuras não sabem nadar!». Desta vez para lutar contra a barragem no Vale do Côa, que em 1995 ameaçava afundar os desenhos do Paleolítico Superior.
Mas voltemos ao Herman José, que vale bem a pena. Ele sozinho lançou mais expressões para as bocas do povo do que dezenas de campanhas publicitárias. «Resmas /paletes de gajas atrás de mim», «Nãohavia necessidade», «Eu é quesou o presidente daJunta», «Caturreira», «Fantástico, Melga!», «Let’s look at the traila», «Este homemnão é do Norte!», «Onde équevocê estava no 25 de Abril?». Foi um chorrilho de expressões que brotaram como cogumelos, a partir dos anos 1997-98.
São tiradas de Nelo (e Idália), do Diácono Remédios, da Super Tia, do Melga (e Mike) ou de Lauro Dérmio. E muito antes destas personagens do Herman Enciclopédia ganharem vida, outras tantas estavam já bem entranhadas nas graçolas que se faziam à custa de Maximiana – «Ó p’ramim!», no Humor de Perdição (1987-1988), de Serafim Saudade – «O verdadeiro artista», no Hermanias, em 1985, ou de Cachucho (e Natacha) – «Foge p’ra casa da mamã!», no Casino Royal em 1990.
O Homem a quem parece que aconteceu não sei quê… – Gato Fedorento
Ao longo de quase 30 anos, as personagens de Herman povoaram as piadas dos portugueses. É façanha difícil de superar, mas o que os Gato Fedorento fizeram com um único ‘sketch’, em 2003, também não é para se menosprezar. «O Homem a quem parece que aconteceu não sei quê…» dura menos de minuto e meio, mas foi o suficiente para popularizar expressões que nunca mais acabam. «Certas e determinadas situações», «Ah e tal!», «Maaau», «… falam, falam, falam, falam, falam, falam, pá, e eunão osvejo a fazernada», «com certeza que fico chateado, pá!Está a perceber?».
Depois disso, eles lançaram para o estrelato muitas outras expressões – «Tesourinhodeprimente», «Derivado a…» ou «De maneiras que» -, mas o curto desabafo de Fonseca é um marco. A personagem, desempenhada por Ricardo Araújo Pereira, parece-se mesmo com «certas e determinadas» pessoas com quem nos cruzamos por aí. Gente que passa a vida a deitar conversa fora e, depois de tudo espremido, não fica nada. A piada, para lá da piada, é serem justamente as frases feitas que ninguém presta atenção a fazerem o sucesso deste ‘sketch’.
O humor à solta nas ruas
«Derivado a» serem humoristas, Herman e os Gato Fedorento lançaram mais expressões do que «resmas» de campanhas publicitárias.
Parece até que todas estas expressões surgiram do nada. Pode ser verdade em alguns casos, mas o mais provável é a maioria ser resultado de horas e horas a escrever, reescrever e a ensaiar para, na altura certa, soarem como espontâneas. Regra geral, é assim que os humoristas, os compositores ou os escritores trabalham. Não pensem que George Orwell teve um momento de inspiração quando atirou para as páginas do seu livro 1984 «Big Brother is Watching You». Ou que Shakespeare colocou, sem mais nem menos, na voz de Hamlet a mais famosa dúvida da literatura: «Ser ou não ser, eis a questão!».
As tiradas inesquecíveis dão muito trabalho, a não ser que sejam enganos ditos no calor do momento. Os jogadores da bola são especialistas neste tipo de calinadas. O que, vendo bem, não é assim tão difícil de entender. Os futebolistas estão constantemente na televisão. Ou é porque perdem, ou porque ganham ou porque empatam, os jornalistas não os largam e, de tanto despejarem frases feitas, acabam por meter o pé na argola.
As calinadas da bola
De tanto falarem na televisão, os jogadores da bola acabam por enfiar o pé na argola.
Há tantos exemplos que o difícil é escolher. «Vão vir charters» ou «Sócio, por favor, estou concentradíssimo», da autoria de Futre, «O burro sou eu?», de Scolari quando treinava a seleção no Euro 2004, «Faca de doislegumes», de Jaime Pacheco ou «fornointernodo clube», de Jorge Jesus.
Mas é João Pinto, antigo capitão do FC Porto, que merece a gratidão de todos os portugueses. Ele é o autor dos melhores pontapés na lógica semântica. «Sim, estamosfelizes porque estamos contentes» ou «O meu coração só tem uma cor:azul e branco». Foram muitas mais as frases lançadas pelo ex-jogador, mas pelo menos uma ficará ainda por muito tempo no vocabulário da língua portuguesa: «Prognósticos só no fim do jogo!». E com esta chegamos ao fim. Da melhor maneira.
A última vez que vimos Calvin e Hobbes foi no dia 31 de dezembro de 1995. Foi numa manhã gelada de inverno e eles acabavam de descobrir que a neve cobria tudo lá fora. “É um mundo mágico, Hobbes, meu velho companheiro. Vamos explorá-lo!», solta o rapaz. Com este final cheio de possibilidades, Bill Watterson fechou uma década de uma das BD mais populares de sempre. Foram 3160 tiras publicadas em 2400 jornais, traduzidas para mais de 40 línguas e ainda cerca de 30 milhões de livros vendidos em todo o mundo.
Mas, voltemos ao princípio desta história, publicada pela primeira vez no dia 18 de novembro de 1985, nos Estados Unidos. Calvin é um rapaz de seis anos e Hobbes um tigre de peluche. O que eles fazem juntos, só as crianças conseguem fazer – viajam no tempo, procuram ossos de dinossauros no quintal, constroem exércitos de abomináveis homens da neve ou enfrentam mutantes feitos de folhas caídas das árvores (para desespero do pai que passou a tarde inteira a amontoá-las).
O mundo pelos olhos de Calvin
Ao embarcar na fantasia de Calvin, o leitor viaja para planetas distantes e entra em dimensões longínquas do passado.
É uma bela história de amizade. E também é mais do que isso. Calvin e Hobbes são uma fantasia de Bill Watterson, mas também são reais. Depende de quem os vê. O truque é muito parecido com uma ilusão ótica. Hobbes, por exemplo, só é um tigre matreiro ou meiguinho – consoante os dias – quando está a sós com Calvin. Na presença de outros não passa de um peluche. Os leitores podem então optar por ver o mundo através dos olhos de Calvin ou dos adultos.
Não é uma escolha complicada. Com eles, viajamos para planetas distantes, somos transportados para o período jurássico e acompanhamos as aventuras do Homem Estupendo, do astronauta Spiff ou do detetive Tracer Bullet. Mas não se iludam: as dúvidas deste rapaz são bem reais. Tão reais que nos põe também a pensar nas nossas próprias inquietações.
Todos as manhãs, durante uma década, houve uma nova história que Bill Watterson contou em três ou quatro quadrados (ou retângulos) a ocupar um quarto de página do jornal. Uma breve oportunidade, à hora do pequeno-almoço, para pensar fora da caixa. Deve ter sido por isso que muitos milhares de leitores nunca mais esqueceram estes dois amigos. Calvin e Hobbes continuam vivos nos ensaios literários, nas teses académicas, exposições, documentários, livros, blogues, sites ou páginas de Facebook.
Uma ideia por dia, 365 ideias por ano
A única maneira de as ideias virem ter connosco é deixar a mente vaguear por territórios desconhecidos.
Há ainda muito para explorar. Bill Watterson deixou um legado que nunca mais acaba. Foram 365 ideias por ano, durante 10 anos. Como é que ele conseguiu? Não há grande mistério à volta disso. Pelo menos foi o que garantiu, em 1990, no discurso dirigido aos finalistas do Kenyon College, universidade de Ohio, onde também ele se licenciou, 10 anos antes, em Ciência Política.
«A única maneira de escrever todos os dias, dia após dia, é deixar a minha mente livre para vaguear por novos territórios», contou ele. Só assim é que as ideias vêm ter connosco. De outra forma, as rotinas, as expetativas dos outros ou os entretenimentos parvos tomam contam de tudo, impedindo-nos de pensar e de questionar.
Precisamos de encontrar formas para a nossa mente se expandir, seja na leitura de um bom livro, numa conversa estimulante, na arte, na música e no pensamento solto: «Relaxar, para muitos, significa ficar frente à televisão, deixando a idiotice derreter o cérebro.» Julgamos que, para recarregar energias, precisamos de esvaziar a cabeça. Mas, diz Bill, a mente é como a bateria de um carro: «Só carrega quando corre.»
A fantasia é que faz girar o mundo real
Na escola, no trabalho, em casa ou entre amigos, teremos de encontrar soluções para problemas grandes e pequenos.
Cada um de nós terá de encontrar motivação para procurar ideias por nossa conta e risco. Não julguem que é apenas um escape para nos manter longe desse mundo real. No dia-a-dia, no trabalho, em casa, com os amigos, na escola, em todo lado, seremos desafiados a ter novas ideias e soluções para resolver todo o tipo de problemas, simples ou complicados.
«Para mim, foi libertador colocar-me todos os dias na cabeça de uma criança imaginária de seis anos», confidenciou ele. Ao deixarmos a mente à solta, uma simples ideia gera carradas de outras ideias. Muitos anos depois de deixar a escola, Bill Watterson reaprendeu com Calvin como a curiosidade é uma brincadeira divertida.
E, um dia, sem ninguém estar minimamente preparado, acabou com as histórias de Calvin e Hobbes. Bill anunciou que precisava vaguear por novas histórias e encontrar outros ritmos, longe do corrupio diário dos jornais, para continuar a expandir a mente. Que remédio tiveram os leitores senão respeitar a decisão dele. Consolaram-se nos recortes colecionados ao longo de anos ou nos livros, entretanto, publicados. E nada mais. Nem filmes, nem t-shirts, nem canecas, nem peluches, nada.
A inocência das crianças não está à venda
Watterson nunca cedeu os direitos da sua obra por acreditar que o seu objetivo não é «vender coisas, mas dizer coisas».
Bill Watterson nunca vendeu ou cedeu os direitos da sua obra, embora a pressão fosse muita. Ele esteve cinco anos em conflito com a sua agência, passando mais tempo a «gritar com os executivos do que a desenhar», contou ele no livro Parabéns Calvin & Hobbes – edição comemorativa do 10º aniversário.
Mas nunca abriu mão das suas convicções. Houve quem achasse que era capricho de um artista excêntrico. Afinal quem é o doido que recusa uns largos milhões de dólares não tendo sequer de mexer um dedo para ganhá-los? A quem pensava assim, Watterson respondeu:
O mundo da banda desenhada é mais frágil do que a maioria das pessoas imagina ou está disposta a admitir. As personagens credíveis são difíceis de desenvolver e fáceis de destruir. Quando um cartoonista autoriza a sua utilização com outros fins, a voz é instrumentalizada pelos fabricantes de brinquedos, os produtores de televisão e os anunciantes.
O seu trabalho deixa de ser o reflexo de um pensamento original, passando a destinar-se a manter as personagens rendíveis. Estas tornam-se «celebridades» que promovem empresas e produtos, que evitam controvérsias e que dizem tudo o que lhes pagam para dizerem.
Atingida este ponto, a BD deixa de ter alma. Desprovida de integridade, perde o seu significado mais profundo. As minhas tiras são acerca das realidades privadas, da magia da imaginação e do que há de especial em certas amizades.
Quem acreditaria na inocência de uma criança e do seu tigre se estes se aproveitassem da respetiva popularidade para venderem bugigangas caras que não fazem falta a ninguém?Bill Watterson
A vida discreta de Bill
Quase nada se ouviu sobre ele desde que encerrou o capítulo dedicado a Calvin e Hobbes. Deu umas poucas entrevistas, raramente apareceu em público e, fotos dele, há esta que vemos aqui e pouco mais. Acredita-se que vive ainda em Hudson, em Ohio, com a mulher Melissa e três gatos: Sprite e Pumpernickel, que são normais, e Juniper Boots, que rosna e ataca ao mínimo movimento. Diz-se que ele gosta de dormir até tarde e desfrutar de momentos lentos. Longe das multidões, dos holofotes da imprensa e dos milhões de dólares que recusou da indústria do entretenimento.
Fez precisamente o que há 30 anos incentivou os alunos do Kenyon College a fazer também: «Todos temos desejos e necessidades diferentes, mas, se não descobrirmos o que queremos de nós próprios e o que defendemos, viveremos passivamente e não realizados.» Cada um terá de descobrir o quer. E saber que «há muitos tipos de sucesso». Não é só dinheiro, legiões de fãs e entrevistas na televisão.
Glossário de Calvin & Hobbes
Calvin e Hobbes
O nome de Calvin foi inspirado no teólogo do século XVI, Jean Cauvin (João Calvino). Hobbes recebeu o nome de Thomas Hobbes, matemático, teórico político do século XVII e filósofo inglês.
Transmogrificador
É uma invenção de Calvin feita a partir de uma caixa de cartão e usada para o transformar a ele e a Hobbes numa grande variedade de criaturas, desde enguias, babuínos, sapos ou dinossáurios.
Astronauta Spiff
É um explorador espacial e luta com alienígenas, que geralmente encarnam a professora de Calvin a tentar extrair dele informações sobre as suas armas ultrassecretas, mas muitas vezes ineficazes.
Homem-estupendo
Super-herói com poderes para resolver uma prova difícil em poucos segundos (sem forçosamente acertar em alguma resposta) ou enfrentar os seus arqui-inimigos.
Cerebral Enhance-O-Tron
Inventada para melhorar o cérebro de Calvin quando ele escrevia um relatório sobre como o Tiranossauros Rex era um predador temível e um carnívoro repugnante. Os efeitos desaparecem quando tarefa fica concluída.
Tracer Bullet
Detetive privado capaz de resolver qualquer crime como, por exemplo, quem partiu o vaso da mãe ou uma questão supercomplicada no teste da escola.
Pistola do transmogrificador
É uma versão portátil do transmogrificador, modelada a partir de uma pistola de água e projetada para trabalhar em telepatia. A arma lê a mente do alvo, transformando-o naquilo que está a pensar.
Calvinbola
É um desporto inventado por Calvin e Hobbes. Os jogadores criam as suas próprias regras à medida que avançam, mas não podem repeti-las no mesmo jogo nem em jogos futuros. A única regra fixa é a obrigatoriedade de usar máscaras.
Calvin, o Tyrannosaurus
Pesa 7 toneladas e é o mais temido entre a sua espécie e em todo o reino animal. Como consequência, viu-se obrigado a enfrentar grandes presas, um esforço que, segundo Calvin, acabou por provocar a sua própria extinção.
Em qualquer cidade, há sempre grandes avenidas com muitos prédios – uns antigos, outros não tão antigos, alguns bonitos, outros feios e outros nem bonitos nem feios. Quem, no meio da correria do dia a dia, apanha o metro ou o autocarro, entra no escritório ou sai de casa não repara nessas diferenças.
As pessoas descem e sobem a rua todos os dias sem virar a cabeça para cima ou para os lados. Ninguém vê os prédios bonitos. A não ser que haja um ou mais turistas pelas redondezas. Eles não têm pressa, nem hora para almoçar, chegar a casa ou ir trabalhar. Passeiam pelas cidades com o nariz no ar, tiram fotos e acham piada a tudo porque tudo é diferente: os azulejos nas fachadas, as portas de madeira trabalhadas, as floreiras e os estendais na varanda, os gatos e as velhotas à janela.
E nós, que andamos todos os dias pelas nossas cidades, não reparamos no que está mesmo à frente (ou por cima) do nosso nariz. Por vezes, basta atravessar o passeio para descobrir uma nova perspetiva da rua que julgávamos conhecer de olhos fechados. Os lugares, os objetos, os sabores e até as pessoas quando se entranham nas nossas rotinas, tornam-se muitas vezes invisíveis. Entramos em modo automático e desligamos o sensor para aquelas coisas que sabemos estarem ali à mão todos os dias.
Quem se dá ao trabalho de sentir sabor da água da torneira? Seria preciso um paladar muito apurado para detetar o cálcio ou magnésio usados no seu tratamento, certo? Mas, quem diz a água, diz também o cheiro da roupa acabada de sair da máquina de lavar, os microtremores do metro a passar por debaixo da terra, os corredores de luz solar a atravessar a cozinha pela manhã, os arbustos floridos junto à estrada ou as janelas dos prédios iluminadas quando anoitece.
No dia a dia, essas pequenas coisas passam ao lado. Olhamos sempre para os mesmos sítios, repetimos mais ou menos os mesmos gestos, usamos as mesmas palavras e fazemos quase sempre os mesmos caminhos.
Há quem se levante da cama e a primeira coisa que faz é calçar as pantufas e correr para a casa de banho esvaziar a bexiga. Quem chegue a casa depois da escola e faça primeiro os TPC e depois vá lanchar. Quem beba um café em chávena escaldada depois do almoço. Ou quem leve o cão a passear sempre pelas mesmas ruas e sempre ao mesmo jardim (esperemos também que apanhe sempre os cocós que eles largam na rua).
É mesmo assim e nada de errado com isso. Há uma série de comportamentos programados no nosso cérebro para facilitar as decisões que precisamos tomar todos os dias. Que canseira seria todas as manhãs pensar se primeiro lavamos os dentes ou comemos o pequeno-almoço. Se tomamos banho de manhã ou à noite. Se calçamos as meias antes ou depois das cuecas. Ou ainda se vamos para a escola pelo caminho do jardim ou pelo caminho da padaria. Loucura, verdade? Agora imaginem como seria se tivéssemos de tomar estas pequeninas decisões do princípio ao fim do dia…
O nosso inconsciente usa os hábitos repetidos dia após dia para tomar esse tipo de decisões, libertando-nos para tarefas mais importantes como atravessar a estrada com cuidado, tomar atenção nas aulas, fintar um colega ou uma colega e marcar um golo, não chegar atrasado ou atrasada a um compromisso e tantas outras tarefas, que exigem tudo de nós.
A vida todos os dias
As rotinas adormecem os sentidos e deixam escapar as boas coisas da vida.
As rotinas são muito úteis. Em alguns aspetos, tão úteis como as secretárias e os secretários administrativos que organizam o dia-a-dia de escolas, de instituições ou de empresas. Só que é preciso cuidado para não deixar adormecer os sentidos por essas mesmas rotinas. Elas criam uma falsa sensação de monotonia, deixando escapar aqueles detalhes que, à primeira vista, parecem insignificantes.
E, depois, só damos por falta delas quando acabam ou são interrompidas. Imaginemos que, por absurdo, os nossos avós decidem que já somos crescidos para nos lambuzarem com beijinhos sonoros e melosos? Ou que o Jacarandá da nossa rua adoecesse e tivesse de ser cortado? Ou que o café da Alzira, na esquina do bairro, fechasse para sempre. Como diz Winnie the Pooh, esse grande sábio da literatura infantil, «as coisas pequenas são aquelas que ocupam mais espaço no nosso coração.»
Só que as coisas pequenas desaparecem num instante. Não lhes prestamos a devida atenção porque estão sempre a se repetir. Não escutamos os passarinhos pela manhã, não damos grande importância aos sorrisos de bom dia, de boa tarde e de boa noite que nos oferecem a torto e a direito, não perdemos tempo a olhar o céu estrelado ou não saboreamos demoradamente os ovos mexidos ao pequeno-almoço dos sábados.
Que importância têm essas miudezas? Muita, por acaso. Experimentem pensar em todas as boas miudezas que acontecem todos os dias ou quase todos os dias. Agora imaginem viver sem elas.
Podemos até programar o nosso cérebro para tomar decisões simples, mas não somos robôs. Sabemos que a vida é feita de momentos grandes, mas principalmente de infinitos momentos pequeninos. É preciso, por isso, estar atento: nunca se sabe quando o melhor momento das nossas vidas está mesmo diante do nosso nariz.
Já que estamos a falar de nariz, mete o bedelho também nestes dois artigos:
Para quem sente a dor na pele, a recuperação pode demorar uma eternidade. Mas, se o tempo cura todos os males, uma ferida também precisa de tempo para cicatrizar.
Um corte ou uma queimadura é muito mais do que um golpe ou um rasgão à superfície. São tecidos e vasos sanguíneos que ficaram danificados e precisam de ser reconstruídos. É um processo complicado, envolve vários tipos de células a trabalhar em simultâneo ou em etapas a variar entre segundos e meses. Em média, duas semanas é o que o nosso corpo pede para limpar, tratar e fechar uma ferida.
Esse tempo pode, no entanto, variar, dependendo da gravidade da ferida, da idade, do estado de saúde ou até mesmo se o acidente aconteceu de dia ou de noite. Sim, leram bem, se nos magoarmos durante o dia, o nosso corpo responde duas vezes mais rápido do que quando é de noite. A descoberta foi feita por investigadores ingleses em 2017 depois de monitorizarem a velocidade de cicatrização em ratinhos e humanos.
As queimaduras noturnas (ocorridas entre 20h00 e 8h00) levaram 60% mais tempo para cicatrizar e só ficaram curadas ao fim de 28 dias. Em contrapartida, as que aconteceram durante o dia sararam em 17 dias.
Nas horas de maior claridade, as células movem-se mais depressa para a zona da ferida e são mais rápidas a repará-las.
Diversas proteínas envolvidas como, por exemplo, a actina demoram menos tempo a atuar durante o dia. Do mesmo modo, o organismo deposita na zona afetada uma maior quantidade de colágeno, a principal proteína reparadora da pele.
A explicação para esta diferença entre o dia e a noite está no relógio biológico. Ele tem ciclos de 24 horas e regula o sono, as horas das refeições ou a secreção de hormonas. É um mecanismo que todos os seres vivos têm para ajustar as funções do corpo às mudanças do dia ou das estações do ano.
Na verdade, existem vários relógios, o principal está no cérebro, alojado no hipotálamo. É ele o grande relojoeiro que sincroniza os outros relógios mais pequenos plantados em todos os órgãos, tecidos e células. Como as células têm maior atividade nas horas de luz solar, o nosso corpo também se cura mais depressa durante o dia. O que faz sentido, pois é quando estamos mais ativos e é maior a probabilidade de os ferimentos ocorrerem.
Viagem completa à cicatrização de uma ferida
De cada vez que uma parte do corpo se magoa, um exército de plaquetas, anticorpos, nutrientes, proteínas, enzimas ou glóbulos brancos vêm em nosso socorro. Juntos coordenam esforços para estancar o sangue, limpar e combater as bactérias, regenerar e fortalecer os tecidos e, por fim, fechar a ferida.
O Bichinho das Contas vestiu um impermeável e entrou no polegar cortado de um cozinheiro com azar. Se vocês também estiverem curiosos venham daí, há lugar para mais alguns. Vestiam os fatos especiais e preparem-se para uma alucinante viagem.
Há quatro paragens pelo caminho, mas nem sequer dá tempo para respirar. Mal acaba uma etapa, começa logo outra ou, então, nem sequer uma etapa está terminada e já outra tem início. Apertem os cintos, não percamos mais tempo, que o desgraçado do cozinheiro está aflito.
FASE 0 – Hemostasia
Início e duração estimadaInicia-se no momento da lesão e pode prolongar-se até 72 horas.
Mantenham os cintos apertados porque vão sentir um ligeiro abanão. Não se assustem, é apenas um espasmovascular. Os vasos sanguíneos danificados contraíram-se diminuindo, assim, o fluxo sanguíneo para começar a travar a hemorragia. Não é muito diferente do trabalho de um canalizador chamado de emergência por causa de uma inundação na cozinha. A prioridade é cortar água e vedar a rotura. É mais ou menos isso que acontece na fase da hemostasia.
Com a hemorragia estancada, são as plaquetas a assumir agora o controlo. Chegam rapidamente e em abundância, alojando-se junto à ferida. Expandem-se e, logo de seguida, formam uma cobertura pastosa – trombo plaquetário – que bloqueia todas as saídas. Uma série de proteínas, adormecidas na circulação sanguínea, acordam e dão início à coagulação do sangue, que vai deixando de ser líquido para se tornar gelatinoso.
FASE 1 – Inflamação
Duração estimada Entre 48 e 72 horas.
A brigada de intervenção rápida parou a hemorragia, mas agora é que o corrupio vai começar. As células essenciais – anticorpos, nutrientes ou glóbulos brancos – deixam os seus quartéis e dirigem-se em marcha de emergência para o local do sinistro. A missão é preparar a cicatrização propriamente dita.
Há muitas tarefas a acontecer em simultâneo, mas o palco pertence sobretudo a dois batalhões de leucócitos (ou glóbulos brancos): os neutrófilos e os macrófagos. Ambos estão munidos de retroescavadoras, pás e contentores de lixo para remover os tecidos desvitalizados, defender as células de bactérias e preparar a ferida para receber a cobertura definitiva.
Com a limpeza feita, os neutrófilos desaparecem ou são engolidos pelos macrófagos que continuam o trabalho de limpeza, convocando depois outras células para a fase seguinte. Por esta altura, o cozinheiro começa a sentir uma comichão no polegar. Apetece-lhe tirar a ligadura e esgravatar a crosta, mas contém-se porque sabe que os sintomas são normais e significam que a cicatrização está a fazer o seu caminho.
FASE 2 – Proliferação/Reparação
Início e duração estimadaComeça aproximadamente entre 4 a 12 dias após a lesão e dura entre 12 e 14 dias.
Por volta do terceiro ou quarto dia após a lesão, começa uma intensa movimentação de células especializadas na reparação de tecidos e vasos sanguíneos. Saem de todo o lado e concentram-se na zona envolvente da ferida. São como formiguinhas operárias, levam consigo materiais de construção e trabalham sem férias nem fins de semana. O objetivo é regenerar os vasos sanguíneos e linfáticos para que o sangue volte a circular sem obstáculos e as defesas do organismo possam recuperar e combater infeções.
Se as lesões forem profundas ou extensas, as células constroem uma barreira protetora que pode demorar várias semanas a ficar concluída. Mas, se os estragos não forem muito graves, as camadas normais da epiderme são restauradas em três ou quatro dias. É o tempo que elas precisam para construir um novo tecido e uma rede de vasos sanguíneos.
FASE 3 – Maturação
Tempo estimadoDuração indeterminada, podendo prolongar-se por anos.
Esta viagem está a chegar ao fim. Não é que a operação esteja concluída, mas a cicatrização da ferida entrou em velocidade-cruzeiro e o Bichinho das Contas tem mais que fazer. O corte no polegar está oficialmente fechado e o cozinheiro já pode regressar à cozinha e usar todos os dedos para trabalhar. Agora, é deixar a natureza seguir o seu curso.
O processo pode demorar entre alguns meses a muitos anos, dependendo da gravidade da ferida. O importante é deixar o tecido amadurecer lentamente até ficar outra vez forte e resistente.
Já alguma vez perguntaste quanto tempo leva um hábito a aparecer? A resposta é também uma grande viagem pela mente humana. Clica aqui, se ficaste curiosa/o
Lucy é uma rapariga como muitas que conhecemos por aí. Pelo menos, assim parece. Gosta de brincar, gosta de receber miminhos dos papás e, principalmente, gosta de desvendar mistérios escondidos nas coisas e nas pessoas.
Lucy também tem um irmão mais novo. Mas Luka não é um rapazito como os outros que ela conhece. Ou, pelo menos, assim parece. Ele nunca brinca com ela. Nem sequer a olha nos olhos quando ela tenta brincar com ele. Está sempre entretido com coisas estranhas. Arruma os patinhos de borracha em fila indiana, constrói torres de cubos de açúcar ou pirâmides de dedais de costura.
Está todo o dia agarrado às mesmas coisas, repetindo os mesmos gestos e repisando nas mesmas brincadeiras. Como se fosse um boneco de corda avariado.
_ Há qualquer coisa de errado com o meu irmão – pensa ela. Mas deve ser a única lá em casa a pensar assim. A mãe nem liga aos estranhos hábitos de Luka. Se calhar, está convencida de que não pode fazer nada para mudá-lo.
_ Mas eu posso! – conclui ela – achando que a sua próxima missão é encontrar uma forma de entrar na cabeça do irmão para consertar as peças avariadas.
A missão de Jessica
Jessica quando criança julgava que tinha de fazer alguma coisa para o irmão deixar de ser esquisito.
Lucy é a personagem de uma história de animação. É feita de tecido, de fios de lã, de molas, parafusos e rodas dentadas. Mas por detrás de toda esta maquinaria está uma rapariga de verdade. O nome dela é Jessica Ashman. Se ainda não ouviram falar dela, é provável que venham a ouvir um dia destes.
Ela é uma artista inglesa bastante conhecida e, entre outras coisas, faz filmes de animação, muitos deles premiados em festivais internacionais. «Fixing Luka» é a sua primeira animação profissional e também a mais conhecida. Traduzido para português quer dizer «Consertando Luka» e narra a história de uma criança que tenta entender o que de errado há com o irmão.
Lucy é Jessica quando criança. Ela não percebe o que se passa com o irmão. Julga que tem de fazer alguma coisa para ele ser como os outros rapazitos. Mas Luka é um menino diagnosticado com perturbações incluídas no espetro de autismo.
O autismo é uma coisa engraçada. Bem… engraçado não é. No início, provoca muita ansiedade em toda a família. Mas, de uma certa maneira, é peculiar porque apesar de alguns sintomas serem comuns a muitas crianças, há vários tipos de autismo, causados por diferentes combinações e influências genéticas e sociais. Daí o termo espetro, usado para abarcar a ampla variedade de perturbações, que se manifestam de uma maneira única em cada pessoa.
Luka não é como as outras crianças
Assim que Lucy aceitou as esquisitices de Luka, passou a ser muito mais fácil brincarem como irmãos.
Aprender a lidar com crianças como o Luka leva tempo, exige paciência e, só com muito amor, é que se consegue finalmente comunicar com eles. Não querendo desvendar muito desta história, Lucy acabou por entender que o irmão é como é. Não está estragado nem precisa de conserto. Assim que aceitou as esquisitices dele, passou a ser muito mais fácil brincarem como irmãos.
Luka não é como os outros rapazes, mas a verdade é que ninguém é como os outros. Ao longe, podemos até parecer iguais. Mas basta olhar para as nossas próprias esquisitices. Há quem goste de ter tudo sempre arrumadinho. Quem só durma com o peluche ao lado da almofada. Quem coma sempre a clara primeiro e só depois a gema do ovo. Ou quem fique irritado quando mexem nas suas coisas. Quem não goste de beijinhos a torto e direito. E quem julgue haver sempre alguém a falar mal dele nas suas costas.
Até os famosos são esquisitos
Quem nos conhece bem, sabe as nossas esquisitices. E não é por isso que gosta menos de nós.
Ninguém se livra das esquisitices. Até os famosos. Albert Einstein não teria inventado a teoria da relatividade sem a sua obsessão pelas fórmulas e equações. Coco Chanel não teria revolucionado a moda feminina sem passar horas seguidas entre tecidos, desenhos e alfinetes, esquecendo até de jantar ou almoçar. Conta-se que o compositor alemão Ludwig van Beethoven andava aos círculos pelo quarto em busca de inspiração.
Poderíamos continuar a enumerar muitas mais esquisitices, mas já deu para ver que há de tudo e para todos os feitios. No supermercado, na escola, no cinema ou do outro lado da rua, somos mais ou menos todos iguais. Mas, como diz o compositor brasileiro Caetano Veloso, de perto, ninguém é normal. Quem nos conhece bem, sabe quais são as nossas esquisitices. E não é por isso que gosta menos de nós.
Não deixes de ver agora esta incrível animação. Depois, se ainda sobrar tempo, pensa nas tuas próprias esquisitices e partilha com a tua família. É bem capaz de ser um jogo divertido.
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Esta é uma pergunta que deixa o Bicho-Que-Morde bastante curioso, como devem calcular. Quantos primos diretos ou afastados terá ele por esse mundo fora? Há muita gente com a mesma dúvida, mas nem os próprios entomologistas – especialistas no estudo dos insetos – sabem ao certo quantas espécies diferentes existem. São tantas as variedades que só é possível fazer estimativas – à volta de 5 milhões e somente uma ínfima parte já foi catalogada.
Aproximadamente 1 milhão de espécies são conhecidas – 20 mil das quais também existem em Portugal O número, contudo, está sempre a subir, com cerca de 20 mil novas espécies descobertas todos os anos, principalmente nas florestas tropicais húmidas. Por esta amostra já dá para perceber a loucura que seria contar todos os insetos do planeta.
Só as formigas são tantas que pesam mais do que todos os humanos do planeta.
Se juntarmos todos os insetos de todas as espécies, os cálculos feitos pelo Instituto Smithsoniano rondam os 2 mil milhões de insetos por cada humano.
Há uma razão simples para eles serem tantos e de espécies tão variadas. Estamos perante as primeiras criaturas a conquistar a terra. O fóssil mais antigo está datado de 396 milhões de anos. Trata-se do Rhyniognatha hirsti, uma espécie de lagarta, que não terá sido muito diferente da traça dos livros.
Os insetos tiveram, portanto, tempo mais do que suficiente para colonizar todos os cantos do planeta, desde as planícies geladas do Ártico, às dunas escaldantes do Sara, passando pelas densas florestas do Equador ou mergulhando nas profundezas dos oceanos. Ao longo de milhões de anos, passaram por inúmeras mutações genéticas. Algumas espécies ficaram pelo caminho, outras aperfeiçoaram as suas habilidades e foram selecionadas pela natureza como as mais aptar para cada habitat.
Estas são as espécies mais antigas:
Libélulas e libelinhas
OrdemOdonatos (inclui cerca de 6000 espécies). idade 300 milhões de anos. Características Corpo alongado e um par de asas com dimensão a variar entre os 2 e os 20 cm. As antenas são muito curtas e possuem dois olhos compostos, que lhes dão excelente capacidade de visão. Habilidades Podem bater as asas até 50 vezes por segundo e atingir cerca de 90 km/h, com condições de se manterem no ar por aproximadamente 5 horas diárias. Antepassados A Meganeuramonyi viveu há aproximadamente 300 milhões de anos e tinha 75 centímetros de envergadura.
Besouros e escaravelhos
OrdemColeópteros (350 mil espécies conhecidas). idade 300 milhões de anos. Características Têm dois pares de asas, mas apenas as asas posteriores são usadas no voo. Habilidades Vivem em qualquer ecossistema, árido ou muito húmido, sobrevivendo também em zonas montanhosas com mais de 5 mil metros de altitude. Antepassados O besouro do tempo dos dinossauros tem o tamanho do bico de um lápis, é preto, tem as pernas curtas e antenas enormes e ultrassensíveis ao ambiente.
Moscas, moscardos, melgas e mosquitos
OrdemDípteros (150 mil espécies). idade 250 milhões de anos. Características Com dois pares de asas, apenas um serve para voar, enquanto o outro ajuda a equilibrar e controlar o voo. Estão organizadas em duas subordens, os braquíceros e os nematóceros, a primeira composta principalmente por mosquitos e melgas e a segunda pelas diversas famílias de moscas. Habilidades Durante o voo, as moscas atingem, no máximo, 8 km/h, apesar das asas baterem 20 mil vezes por minuto. Antepassados A mosca da pré-história tinha um chifre na testa e três olhos na cabeça que lhe permitia ter um amplo ângulo de visão. Apesar do aspeto medonho, era dócil, alimentando-se do pólen e néctar das flores.
Borboletas e mariposas
OrdemLepidópteros (220 mil espécies). idade 100-120 milhões de anos. Características Têm dois pares de asas e o corpo coberto de escamas. Habitam os mais variados pontos do planeta, exceto a Antártida. Habilidades A boca é formada por uma espirotromba: uma palhinha enrolada em espiral debaixo da cabeça, que se desenrola quando está a sugar água e néctar das plantas. Antepassados O Protocoeliadeskristenseni, achado nos sedimentos com 55 milhões de anos numa ilha da Dinamarca, é o fóssil de borboleta mais antigo até agora encontrado.
Formigas, abelhas e vespas
OrdemHimenópteros (200 mil espécies). idade 400-480 milhões de anos. Características Dois pares de asas com poucas nervuras (alguns insetos, como as formigas, podem não apresentar asas). Habilidades Principais polinizadores e controladores de pragas. Antepassados Há cerca de 35-40 milhões de anos, as abelhasapresentavam características comuns às vespas. Só algumas dezenas de milhões de anos mais tarde é que elas se separaram das suas antepassadas.
Conhecidas as características dos insetos mais antigos, o Bicho-Que-Morde convocou um de cada espécie e fez as perguntas que todos nós gostaríamos de fazer.
Formiga: quanto peso consegues carregar?
Uma formiga pesa cerca de 3 miligramas e levanta qualquer coisa que tenha até 20 vezes o seu peso. Significa que 300 mil formigas conseguem transportar 20 quilos. E que cerca de 86 milhões de formigas seriam capazes de levantar um elefante com 5 toneladas e meia. Mais impressionante do que isso, só mesmo as abelhas que conseguem levantar um peso 300 vezes superior ao seu.
Barata: é verdade que sobrevives a uma guerra nuclear?
Perto do impacto da explosão morria esturricada, disso não há dúvida. Mas, posso sobreviver a radiações 10 vezes maiores do que as suportadas pelos humanos. Contudo, os bichinhos da farinha (da família dos besouros) e as mosquinhas da fruta é que detêm o recorde, segundo os resultados de uma experiência feita pelo Discovery Channel.
A maior proeza da minha espécie está, no entanto, na capacidade em sobreviver vários dias (ou até semanas) sem cabeça. Mesmo decapitadas, continuamos a respirar por buraquinhos minúsculos do corpo. Por sermos animais de sangue frio, não gastamos energia para regular a temperatura, podendo ficar vários dias sem comer. É claro que, mais tarde ou mais cedo, acabamos mesmo por morrer à fome.
Borboletas: porque têm tantas cores?
As cores ajudam os machos e as fêmeas a reconhecerem-se uns aos outros. Tão importante é também o efeito camuflagem que serve para confundir os predadores. Entre outras funções, destaco igualmente os tons garridos, como laranja, vermelho e amarelo, que funcionam como um aviso aos caçadores: “Cuidado! Se me comeres, vais morrer envenenado com as minhas toxinas”. As escamas sobrepostas a cobrir o nosso corpo é que são as responsáveis pela variedade de cores. Num só milímetro quadrado da minha asa chegam a acumular cerca de 600 escamas, cada qual com um pigmento diferente.
Desculpa lá, formiga, lembrei-me de mais uma pergunta:
vocês dormem ou estão sempre a trabalhar?
O trabalho nunca para, mas nós organizamo-nos por turnos para assegurar as tarefas do formigueiro em permanência. Mas, sim, é verdade que não dormimos. O nosso repouso consiste em desacelerar o metabolismo e entrar num estado de letargia. Mais alguma questão?
Não, obrigado. 😉
Pirilampos: como acendes e apagas as luzes?
A luz é produzida por uma substância química chamada luciferina que, ao reagir com o oxigénio, oxida e resulta na oxiluciferina. Esse processo liberta energia, refletida no brilho que emitimos. A cor e o ritmo da luz variam de espécie para espécie. Todos nós somos capazes de controlar não só a produção como também a duração e o pisca-pisca da luz. A sua função é emitir um aviso para afastar os inimigos, mas também atrair a fêmea para o acasalamento.
Moscas: porque desaparecem à noite?
Somos insetos de hábitos diurnos, alimentamo-nos do lixo, fezes e todo o tipo detritos durante o dia. À noite, procuramos frechas nas paredes, janelas, móveis ou chão para tirar uma soneca. Mas, assim que surge a primeira luz da manhã, acordamos cheias de energia para dar cabo dos vossos nervos.
Mariposas: porque voam à volta das lâmpadas?
Tal como outros insetos noturnos, orientamo-nos pela luz da Lua, mas ficamos desorientadas quando encontramos uma fonte de luz mais forte. Para mantermos constante o ângulo em relação à luz e podermos regressar ao nosso habitat, precisamos corrigir a rota de voo. Por isso, voamos em espirais cada vez apertadas até colidirmos com a lâmpada.
Desculpa lá formiga, mais uma pergunta para ti:
para que servem as vossas antenas?
À semelhança de outros insetos, as nossas antenas servem para farejar comida. Como a maioria das espécies de formigas são cegas, elas são ainda mais úteis para tatear os lugares por onde caminhamos. Já reparaste com certeza que passamos boa parte do tempo a limpá-las, certo? A limpezaserve para remover a sujidade e aguçar os sentidos.
E, agora, uma pergunta para todos:
qual a vossa maior utilidade?
Pode responder a abelha.
Somos de uma importância vital para o funcionamento dos ecossistemas e, quiçá, da própria sobrevivência de todas as espécies do planeta. Somos responsáveis pela propagação das plantas, através da polinização e também pela dispersão das sementes. Fazemos igualmente a manutenção dos solos e das coberturas vegetais, decompondo e reciclando os nutrientes ou mantendo a cadeia alimentar que permite a existência de muitas comunidades de animais. Melhor que tudo, todos estes serviços são oferecidos à natureza com um custo zero.
Falando em concreto da minha espécie – as abelhas domésticas –, se fôssemos recompensadas pelo trabalho que fazemos nos pomares e em tantas outras culturas, poderíamos receber todos os anos qualquer coisa como 150 mil milhões de euros. Isto sem contar com as várias centenas de milhões de euros pelos lucros adicionais com a produção de mel.
Por tudo isso, pensem muito bem da próxima vez que quiserem esmagar um inseto que se cruzar no vosso caminho. Muitos de nós, aliás, estamos em vias de extinção. Cerca de 40% de todas as espécies conhecidas podem estar ameaçadas nas próximas décadas. E cerca de 41% tiveram declínios populacionais nos últimos dez anos. O principal fator conhecido é a perda de habitat, devido às más práticas agrícolas, urbanização e desmatamento.
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