Por que não há papel higiénico nos supermercados?

O papel higiénico desapareceu. E não foi só no supermercado do nosso bairro. Foi em todo o lado. Em Portugal, no Japão, nos EUA, no Reino Unido, na Austrália, em França ou no Canadá. É um mistério! – pensou o Bicho-Que-Morde, decidindo de imediato investigar as causas. Antes de mais, é preciso reforçar que o momento é especial, como todos sabemos. E lembrar que a única forma de combater a pandemia provocada pela propagação do coronavírus é ficar em casa.

E é isso que toda a gente está a fazer: abastecer a despensa de bens essenciais para não ter de sair à rua durante vários dias. É um bom motivo, mas será que o papel higiénico é um produto de primeira necessidade? OK, a pergunta é parva. Quando a necessidade aperta, não há nada tão capaz de nos acudir nessa aflição como o papel higiénico. Reformulemos, então, a pergunta: precisamos mesmo de dezenas de rolos guardados em casa?

A resposta é não, não precisamos.

Todos sabemos disso, mas, em momentos de grandes incertezas, o nosso cérebro tem mais tendência para ceder ao medo do que usar a razão. Muita gente levou quilos de papel higiénico para casa com receio que ele acabasse. Como o medo gera ainda mais medo, outros tantos foram atrás, temendo que nada sobrasse quando viessem a precisar do produto sanitário.

E, pronto, foi assim que as prateleiras ficaram vazias. Em países como Reino Unido, China ou França houve rotura de stock. Nos Estados Unidos e Canadá, a venda foi racionada a uma embalagem por família. E, na Austrália, os supermercados contrataram seguranças para vigiar os clientes.

Por todo o mundo, os fornecedores aceleraram a produção do papel higiénico para responder a este súbito aumento da procura. As fábricas, apesar de terem reduzido o número de trabalhadores para minimizar os riscos de saúde, continuam a operar 24 horas por dia, sete dias por semana.

A estratégia da indústria, como conta o site da televisão americana CNN, é deixar cair outros artigos – como rolos de cozinha, guardanapos ou toalhetes – e canalizar todos os esforços neste produto. É o caso também da marca portuguesa Renova, que deixou de produzir o seu icónico papel higiénico preto, para se centrar no convencional.

Ainda assim, por mais que os stocks sejam repostos, quase todos os dias, há sempre alguém que volta para casa sem o conseguir comprar. Quem julga que este não é agora o nosso maior problema, o melhor é olhar para o que está a acontecer no Reino Unido.

Perante a sobrecarga do sistema de esgotos, as autoridades sanitárias estão a alertar a população para não atirar na sanita toalhetes húmidos ou papel de cozinha, que estão a causar frequentes entupimentos.

A esta altura, já deves estar a fazer outra pergunta. Porque é que os restantes produtos – aqueles realmente básicos, como leite, arroz, pão ou enlatados – também não desapareceram?

A teoria do nojo

 Nestas alturas em que se tenta evitar o contágio, a aversão às coisas que nos repugnam aumenta, dizem os especialistas. 

Neste caso, não há só uma, mas várias respostas. Uma delas está relacionada com o que os psicólogos chamam de teoria do nojo. Quando um vírus como este anda lá fora à solta, a tendência é sentir ainda mais repulsa por tudo aquilo que não está limpo. E, no subconsciente coletivo, o papel higiénico, como o nome próprio diz, simboliza a higiene.

Nestas alturas em que se tenta evitar o contágio, a aversão às coisas que normalmente nos repugnam aumenta, dizem os especialistas. E o papel higiénico é o que está mais à mão para nos dar uma sensação de controlo sobre a limpeza. Como também o são, aliás, os géis, o álcool ou as máscaras de proteção individual, que também têm estado esgotados.

Quando comparado com estes produtos, o papel higiénico tem ainda outras vantagens muito apreciadas nos dias que correm.

Além de ser um produto barato, nunca se estraga.

Mesmo se, no final desta pandemia, sobrarem quilómetros de rolos ainda empacotados, não faz mal. É só continuar a usá-lo até acabar. Enlatados, comida congelada, massa ou arroz, por mais que durem, têm sempre prazo de validade.

Toda essa preocupação é desnecessária. Precisamos de armazenar mais mantimentos do que o habitual, é certo. Mas sem exageros. A despensa abastecida para duas semanas é suficiente, dizem as autoridades de todos os cantos do planeta. As pessoas podem estar fechadas em casa, mas as mercadorias continuam a circular para chegar a todo o lado.

A fraqueza dos caranguejos

 Entreajuda é o que falta aos caranguejos para escapar da panela. Será que somos como eles? A História diz que não. 

Se uma boa parte da população levar para casa mais do que precisa, haverá muita gente com a despensa vazia. Sabes que é mais ou menos isso que acontece com os caranguejos? Quando um mariscador os coloca ainda vivos num balde, sabe que eles nunca conseguirão escapar. Do que eles precisavam para fugir era de sentido de entreajuda. Mas, em vez de se organizarem, atropelam-se uns aos outros. Nenhum consegue alcançar a borda do balde porque há sempre um (ou mais) a puxá-lo para o fundo. E é assim que acabam todos na panela.

Será que somos como os caranguejos? Em certas alturas, parece que sim. Mas a História também tem demonstrado que, em momentos de crise, apesar das pilhagens, motins e falta de civismo, é o sentimento de união que predomina.

Não é por acaso que agora há vizinhos a levar comida e medicamentos aos idosos, grupos no Facebook para ajudar quem precisa, operários a fazer horas extras para fabricar mais máscaras de proteção coletiva, álcool (e, claro, também mais papel higiénico), farmacêuticos a fazerem gel desinfetante nos seus minilaboratórios ou médicos e enfermeiros a trabalhar sem folgar. E não pensem que é só aqui. É por todo o mundo.

Já que chegaste até aqui, queres também saber «Quantos vírus há na Terra (além do coronavírus, claro)?»

Fontes consultadas: The Telegraph | Bangkokpost | Eco | The Guardian | CNN Business

Quantos vírus há na Terra (além do coronavírus 2, claro)?

Facto científico: os vírus são os micróbios mais abundantes do planeta, chegando a ser até mais diversificados do que bactérias, fungos, plantas e animais juntos. Só por isso, já dá para perceber que os números são monstruosos. Não conseguimos vê-los ou senti-los, mas eles estão por todo o lado. Descem dos céus, viajam nas correntes de ar e caem aos trambolhões aqui na superfície terrestre. São qualquer coisa a rondar os 800 milhões por metro quadrado por dia, segundo as estimativas dos investigadores.

Se alguém os enfileirasse a todos numa única linha, eles percorriam 100 milhões de anos-luz. E, se quisermos capturá-los numa colher de sopa cheia de água do mar, seriam mais do que todos os habitantes a viver na Europa. Nos oceanos, aliás, vivem cerca de 10 milhões de vezes mais vírus do que estrelas no universo.

É de cortar a respiração, mas não é caso para desatar a desinfestar tudo à volta. Os vírus vivem na Terra desde o princípio e não foi por isso que a humanidade acabou. Boa parte deles, aliás, está no nosso ADN. Cerca de oito por cento do genoma humano é de origem viral. Isto é, vírus antigos que nos infetaram e nos permitiram desenvolver anticorpos capazes de os tolerar.

Os bons e os maus

 Nem todos os vírus são maus. Muitos combatem organismos prejudiciais à saúde humana. 

Os cientistas desconfiam que eles até estão entre os responsáveis por criar a vida celular, fenómeno que deu origem a todas as formas de vida existentes no planeta. Apesar de, nestes tempos que correm, estarmos todos apreensivos com a propagação do novo coronavírus, é preciso não esquecer que nem todos são maus. Muitos estão mesmo do nosso lado, infetando organismos prejudiciais à saúde dos humanos. Outros são conhecidos por acelerar a captação de carbono das algas oceânicas, que purificam o ar que respiramos.

Já todos sabemos que não há um único tipo de vírus. Há uma infinidade deles, agrupados por classes, famílias, géneros ou espécies. A única coisa em comum à esmagadora maioria é serem minúsculos. O SARS-COV-2 (coronavírus 2) tem, por exemplo, 120 nanómetros de largura. Um glóbulo vermelho humano, por comparação, é 64 vezes maior do que ele.

Quanto mede 1 nanómetro?

Carrega aqui para ler a resposta.
1 nanómetro corresponde a um milionésimo de milímetro e tem como símbolo nm.

Sendo assim tão pequeninos, como é que alguns são ferozes ao ponto de provocarem pandemias como esta que suspendeu ligações aéreas, fechou escolas, encerrou espaços públicos, cancelou festas e adiou abraços? O principal motivo é que eles são muito rápidos não só a viajar de um lado para o outro – à boleia de hospedeiros e das gotículas que eles soltam ao tossir ou espirrar -, como também a sofrerem mutações para se adaptarem a todo o tipo de ambientes. É por isso que estão em toda a parte: nos oceanos, em qualquer superfície da Terra e na atmosfera.

Atacar sem danos colaterais

 Os medicamentos eficazes são os que atacam o vírus sem provocarem estragos nas células. 

A juntar a tudo isto está o desafio de a medicina conseguir combater os vírus nocivos à saúde em tempo real e sem causar danos colaterais. Para se reproduzirem, eles precisam, antes de mais, de invadir as células e sequestrarem a sua maquinaria. Só então começam a fabricar os seus próprios clones. Os medicamentos antivirais eficazes são os que atacam o vírus sem provocarem estragos nas células. Para o Covid 19 (a infeção provocada pelo SARS-COV-2), o que os cientistas estão a estudar é uma maneira de impedir o vírus de copiar o nosso material genético para se reproduzirem. Precisam de enganar os vírus, mas não as células.

Encontrar uma vacina capaz de treinar o sistema imunológico para detetar e combater o vírus antes da infeção ocorrer é o grande objetivo. Mas é também uma missão que leva tempo. São precisos muitos e demorados testes para garantir a segurança da população. E os vírus, sempre em constante mutação, não esperam pelos resultados. As vacinas da gripe, por exemplo, têm de ser, todos os anos, atualizadas para tentarem acompanhar essas mudanças.

A lentidão dos anticorpos

 Quando o sistema imunitário desenvolve as defesas, já o vírus está na fase de declínio. 

Há ainda um outro problema, que é o vírus conseguir ser mais rápido que os anticorpos produzidos pelo nosso organismo. Ou seja, quando o sistema imunitário desenvolve as defesas necessárias, já o vírus está na fase de declínio e infetou, entretanto, muita gente à volta. Sintomas como febre, dores no corpo ou garganta inflamada são, na verdade, sinais de que o corpo está a reagir ao vírus. Mas, é só nessa altura que tomamos precauções para não contagiar ninguém.

Até agora, a melhor maneira de combater os vírus é prevenir as infeções. Em grandes surtos como este, as quarentenas, o distanciamento social e o reforço na limpeza e higiene pessoal são as armas que temos. Pode parecer pouco numa era em que as tecnologias e a medicina já alcançaram feitos incríveis. Mas não menosprezemos o poder da água e do sabão numa lavagem de 20 segundos.

Arma secreta para destruir o vírus

 Água e sabão é o que basta para desintegrar e tornar o vírus inativo. 

O sabão é o ponto fraco da maioria dos vírus, entre os quais do coronavírus 2 (SARS-COV-2). É claro que desinfetantes, géis e outros produtos que contêm álcool também funcionam. Mas são necessárias altas percentagens de etanol (entre 60% e 80%) para arrumar de vez com eles.

É tão mais fácil usar sabão e água. Sabem porquê? Boa parte da composição de um vírus não passa de gordura. Essa é a característica que lhe permite grudar na pele ou em superfícies e manter-se ativo durante dias. Água e sabão são, portanto, o que basta para desfazer a sua membrana adiposa, desintegrá-lo e torná-lo inativo. Só não podemos dizer que está morto porque os cientistas não os consideram seres vivos. Para isso, teriam de se reproduzir por conta própria. Mas, aqui entre nós, que se lixem os termos científicos. O que interessa é que o vírus está morto.

🐜🐛  Por falar em seres minúsculos, sabes por acaso «Quantos insetos existem no planeta?»

Fontes consultadas: Vox | BBC | The Jakarta Post | UBC Science | Nature Reviews Microbiology | The Guardian |

Por que é que as zebras têm riscas?

Há pelo menos 18 teorias para explicar as riscas das zebras. A contagem foi feita por investigadores da Universidade de Eötvös Loránd, na Hungria, mas nenhuma delas reúne o consenso da comunidade científica. De tempos a tempos um cientista anuncia que resolveu o quebra-cabeças, mas logo depois, aparece outro cientista a deitar por terra a descoberta do seu colega.


Tem sido assim desde 1871 quando Charles Darwing desmontou a primeira tese. O naturalista inglês William Burchell acreditava que as riscas, ao se confundirem nas ervas altas, protegiam as zebras dos leões e de outros predadores.  Darwing, todavia, relembrou-o que estes animais vivem nas savanas de África, com planícies abertas e vegetação rasteira.

As riscas das zebras não têm ainda uma explicação convincente.

Biólogos e outros investigadores procuram respostas desde o século XIX, mas até agora, este é um dos maiores enigmas do reino animal. Acasalamento, proteção contra insetos, defesa contra predadores ou mecanismo para combater climas quentes são algumas das funções já atribuídas às listras das zebras. Todas estas explicações fizeram algum sentido até alguém demonstrar o contrário.

Não há muito tempo surgiu uma hipótese que deixou os cientistas esperançados. Brenda Larison, investigadora na Universidade da Califórnia, nos EUA, defendeu, em 2015, que as listras ajudam a zebra combater as temperaturas baixas. Ao absorverem e refletirem o calor de forma diferente, as faixas pretas e brancas criam correntes de ar e arrefecem a temperatura corporal deste animal.

Enigma da Natureza

 Desde os finais do século 19 que se procura uma função para as riscas, mas nenhuma teoria foi ainda validada 

Uns anos mais tarde, em 2018, Gábor Horváth, da Universidade de Eötvös Loránd, na Hungria, usou barris de metal cobertos de água e forrados de pele de vários animais para demonstrar que essa crença não tem pernas para andar. Ao fim de quatro meses a medir todos os dias a temperatura descobriu que a pele cinzenta dos cavalos aquece tanto como as listras das zebras – a mais quente é do gado bovino preto e a mais fria é das vacas e cabras de pele branca.

Gábor Horváth, aliás, é autor de uma das muitas teorias sobre as funções das riscas das zebras. Em 2012, o investigador húngaro pintou cavalos de castanho, preto, branco e riscas pretas e brancas para saber quais deles têm a pele mais apetitosa para moscas e insetos. E foi assim que concluiu que as listas das zebras funcionam como um poderoso inseticida, repelindo sobretudo as moscas da família Tabanidae (conhecidas por tsé-tsé), espécie voraz que além de sugarem o sangue, transmitem doenças.

A teoria está entre as melhores até agora apresentadas, mas não chega para convencer os colegas de Gábor. Matthew Cobb, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, admite até que a experiência pode ter algum fundo de verdade, mas esta não será a principal função das riscas, uma vez que as moscas não são importantes o suficiente para comprometer a sobrevivência destes animais. Se assim fosse, os cavalos e os burros, parentes próximos das zebras, corriam grande perigo, uma vez que não têm nenhuma defesa contra insetos.

As explicações já deram tantas voltas que regressaram ao ponto de partida.

Quase um século e meio depois de Darwing ter arrasado a hipótese de camuflagem, o neurocientista inglês Johannes Zanker, da Universidade de Royal Holloway, em Londres, retomou em 2014 a teoria do disfarce, mas mostrou um ângulo diferente.

A camuflagem só funciona quando estes animais estão em grupo e em movimento. As riscas criam uma ilusão de ótica capaz de confundir os leões que não conseguem distinguir a que velocidade elas correm, qual a trajetória que tomam ou sequer onde começa o corpo de uma e acaba o corpo da outra.

Teorias há muitas

 Proteção contra insetos ou defesa contra predadores são algumas das funções já atribuídas às listras. 

A teoria aguentou pouco mais de um ano até os investigadores da Universidade da Califórnia – que, recorde-se, viram também a sua teoria invalidada em 2018 -, apresentarem um contra-argumento de peso. A ser verdade que as riscas criam uma ilusão de ótica nos predadores, haveria mais leões nas regiões onde as zebras têm menos riscas, como acontece mais a sul do continente africano, onde elas quase não são listradas nas pernas e têm a barriga lisa.

Não será de estranhar que mais teorias surjam nos próximos tempos.

É bem provável até que não haja uma explicação única, mas vários fatores envolvidos nas riscas das zebras. Uma coisa é certa: tudo na natureza tem uma razão. Os camaleões mudam de cor para se confundirem com a vegetação, os flamingos são cor-de-rosa porque comem algas carregadas de pigmentos alaranjados e os pavões têm caudas coloridas e brilhantes para chamar a atenção das fêmeas. Com as zebras e, até prova contrária, o enigma continua sem solução.

5 perguntas com respostas bem mais simples.

As zebras são pretas ou brancas?

Os biólogos julgaram durante muito tempo que as zebras eram brancas com riscas pretas. Era assim que parecia porque as barrigas de algumas espécies são brancas. Foi preciso observá-las ainda no útero das mães para descobrir que é precisamente o contrário. O embrião da zebra começa por ser totalmente preto. As riscas brancas surgem mais tarde quando os genes que codificam a melanina de pigmento preto são seletivamente desativados e substituídos por folículos de pelo branco que cobrem determinadas áreas da pele.

De onde vêm e quanto tempo vivem?

A zebra é um equídeo selvagem (família do cavalo e do burro), que vive nas savanas da África. São originárias da região sul do continente africano e herbívoras. Na vida selvagem duram entre 20 e 30 anos, enquanto em jardins zoológicos chegam ao 40.

Quantas espécies há?

Existem três espécies. A zebra-de-grevy (Equus greyvi) é a maior de todas, apresenta listras estreitas, barriga branca e vive nas pradarias semi-áridas da Etiópia e no norte do Quénia. É a espécie mais rara, considerada em risco pela World Conservation Union.

A zebra-da-planície (Equus burchelli) é a espécie mais populosa que habita grande parte da África austral e oriental. As suas listras mais largas ficam cinzentas à medida que avançam pelo corpo, razão pela qual são conhecidas como listras fantasmas. As pernas também têm muitas áreas brancas.

A zebra-da-montanha (Equus zebra) tem riscas curtas e largas que não chegam à barriga. É resistente, veloz e tem uma crina espetada. Está classificada como espécie vulnerável e vive no sul de Angola e na Namíbia.

As riscas são todas iguais?

Já sabemos que as riscas surgem quando a zebra ainda é um embrião, mas falta saber porque se desenvolvem de diferentes maneiras. É apenas possível determinar que as riscas são quase sempre verticais, exceto nas patas que surgem na horizontal.

De resto, os modelos matemáticos não foram capazes de prever com rigor um padrão. As riscas não só variam entre as diferentes espécies como de zebra para zebra. Tal como as impressões digitais dos humanos, também a zebra tem listras únicas que a diferencia de todas as outras.

É possível domesticar uma zebra?

Possível é, mas extremamente difícil porque, ao contrário dos cavalos e dos burros, as zebras são muito desconfiadas e ariscas. Ainda assim, houve algumas tentativas bem-sucedidas. A mais conhecida é a de Lionel Walter Rothschild (1868-1937), banqueiro, político e zoólogo inglês. A carruagem que fazia questão de conduzir pelas ruas de Londres, era puxada por 4 zebras, treinadas por ele.

E, agora, só para ficar tudo em família, experimenta ler também: «Por que são os burros tão casmurros?»

Fontes consultadas: The Guardian | Público | ScienceDirect | Royal Society Open Science | ionline |

Doces histórias preparadas na cozinha portuguesa

O Bicho-Que-Morde passou o dia à roda do fogão. À hora do jantar, pôs a mesa e abriu a porta para receber os convidados:  uma espanhola, um francês, uma árabe, um indiano, uma italiana e uma alemã vieram provar alguns dos pratos mais típicos da gastronomia portuguesa. Nenhum deles desconfiou que, em cada um daqueles petiscos, há uma história a ligar a cultura deles à cozinha tradicional de Portugal.



Não os podemos censurar, afinal, a mesa tinha tanta coisa boa que ninguém conseguiu esperar. Quando todos terminaram a refeição, o anfitrião serviu cafés e sais de fruto e contou a origem de cada uma das comidas que cozinhou. Começou pelo fim, ou seja, pelas sobremesas. E só depois passou para os pratos principais. Agora, que toda a gente está de barriga cheia, as boas maneiras à mesa de pouco servem.

A família Davidson chegou a Lisboa

Bola de Berlim

A família Davidson saiu da Alemanha, em 1935, e veio para Portugal, como tantos outros judeus perseguidos pelo regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial. O casal de Berlim deixou tudo e teve de recomeçar do zero em Lisboa para conseguir sustentar as duas filhas. O pai, que era consultor de galerias de arte, passou a vender antiguidades e quinquilharia na rua e a mãe, que era uma química, começou a fazer os tradicionais bolos da sua terra, conhecidos como berliner, e a vendê-los entre outros refugiados.

Em menos de nada, a guloseima seduziu também os portugueses que passaram a chamá-la de bola de Berlim.

As originais eram recheadas com geleia de frutos vermelhos, mas como, por estas bandas, groselhas, framboesas ou mirtilos não eram muito comuns, as bolas vendidas nas pastelarias portuguesas passaram a ser acompanhadas com creme de ovos.

Hoje, há muitos outros recheios, maçã e canela, chila, chocolate, doce de leite, de abóbora ou de morango e até bolas feitas de farinha de alfarroba, em vez de trigo. Qualquer pastelaria que se preze tem bolas de Berlim com ou sem creme expostas nas vitrinas, mas foi nas praias e durante o verão que o bolo da família Davidson se tornou popular.

Os portugueses não passam sem a bola de Berlim, mas não são os únicos. O bolo espalhou-se por esse mundo fora. Descobre, a seguir, como este bolo é conhecido em:

França

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Boules de Berlin.

Finlândia

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Hillomunkki (donut de geleia).

Estados Unidos

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Bismarck.

Brasil

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Sonhos.

Eslovénia

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Kroft.

República Checa

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Kobliha (rosquinha).

Croácia

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Krafne ( é o nome pelo qual a bola de Berlim também é conhecida entre sérvios, bósnios e herzegóvinos).

Alemanha

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Até na Alemanha, de onde o bolo é original, o nome varia consoante a região, Berliner pfannkuchen (bolo berlinense na frigideira), Berliner ballen, krapfen, kreppel ou fastnachtsküchelchen.

Um sopro oriental vindo do deserto

Arroz doce

O «roz bil halibi», o arroz doce, que nas festas e romarias portuguesas se serve quente e polvilhado de canela, veio do norte de África, mas mesmo os  habitantes da região do Magreb foram buscar a receita a outro lugar, inspirando-se na cozinha da Pérsia. Talvez por isso, o nosso arroz doce tenha qualquer coisa de oriental quando mistura o leite, o arroz e o açúcar ainda presentes nos pratos típicos dos casamentos hindus ou nos doces tailandeses feitos de arroz, coco e fatias de manga.

Com ovo ou sem ovo, além do intenso aroma a canela ou, em alguns casos, cravinho da Índia, o arroz doce costumava levar água aromática de flor de laranjeira ou de rosas. São alguns sopros perfumados que caíram em desuso, mas ainda hoje fazem parte das receitas tradicionais de arroz doce da África muçulmana e mediterrânea.

Só mais uma pitada…

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A cozinha é um belo exemplo de como os árabes influenciaram a nossa comida. E o arroz doce é só mais um entre os muitos exemplos, como o podiam ser também o escabeche do Algarve, as almôndegas, as migas ou as queijadas.

A receita de Balthazar

Bolo-rei

Balthazar Rodrigues Castanheiro Júnior tinha uma grande responsabilidade quando, em 1869, passou a gerir a Confeitaria Nacional. A casa era muito bem-afamada em Lisboa e ele tinha de manter o legado que o pai lhe deixara. Viajou, por isso, pela Europa à procura dos melhores confeiteiros e foi de Paris que trouxe para Portugal a receita do bolo-rei.

Por essa altura, o Gâteau des Rois, outrora muito popular na corte de Luís XIV (1638-1715), caíra no esquecimento.

Com a revolução francesa, os republicanos queriam distância de tudo o que fizesse lembrar os tempos da monarquia e o bolo-rei foi proibido, embora continuasse a ser confecionado com o nome de Gâteau des sans-colottes (bolo dos sem calcinhas), alcunha dada aos pobres.

A receita que Balthazar trouxe para Lisboa era da região de Loire, mas foi aprimorada em segredo por ele e pelo seu melhor funcionário, o célebre confeiteiro Gregório. O bolo-rei da Confeitaria Nacional ficou conhecido pelo país inteiro e sobreviveu até aos dias hoje.

Mais uma achega real

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Com a implantação da República, em 1910, alguns exigiram que se mudasse o nome para, por exemplo, bolo-presidente ou bolo Arriaga, que foi o primeiro presidente português. A ideia era tão estapafúrdia que não vingou.

Leve como o vento

Pão de Ló

As melhores receitas de Pão de Ló são das nossas avós, é mais que sabido, o difícil é descobrir quando surgiu e quem o inventou. Palpites há muitos. Há quem diga ter sido um confeiteiro alemão, chamado Lot, e quem acredite ter sido um cozinheiro genovês, Giovan Battista Cabona, em meados do século 18.

São duas hipóteses, mas não são as únicas. A palavra ló terá aliás origem nórdica e vem do lof, que significa «o lado de onde vem o vento», sugerindo que o nome surge por se tratar de um bolo de massa fofa e leve como o vento.

Nos dicionários de língua portuguesa, ló significa escumilha, um tecido transparente, que pode estar igualmente relacionado com este doce.

Se é um bolo de origem italiana, nórdica ou alemã, não se sabe ao certo.O que já se descobriu é que a primeira vez que surge em Portugal é no «Livro de Cozinha da Infanta D. Maria», escrito à mão no final do século 16. A obra foi encontrada na biblioteca pessoal da Infanta D. Maria de Portugal (1538-1577). Além de claras em castelo, gemas, açúcar e farinha, levava quase meio quilo de amêndoas.

Mais tarde, surgiram outras receitas, como a de Lucas Rigaud, cozinheiro de D. Maria I (1734-1816), que em 1780 dá a conhecer, no seu livro «Cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinha», uma versão mais parecida com o pão de ló que hoje consumimos. A preparação tem muitas semelhanças com o bolo francês de Saboia, que terá sido inventado em Chambérry, em 1358.

A origem deste bolo será sempre incerta, mas o que importa é que se tornou tão popular em Portugal que é um símbolo de muitas vilas e cidades como Ovar, Margaride, Alfeizerão (pão de Ló da Tia Amália), Figueiró dos Vinhos, Arouca, Castelo de Paiva, Vizela, Rio Maior, Coimbra ou Viseu.

Cada um destes sítios prepara o pão de ló à sua maneira, em formas retangulares (Arouca), forradas com uma tira de papel de linho (Ovar), húmido e com as gemas malcozidas (Castelo de Paiva) ou quadrado e coberto por uma calda de açúcar (Vizela).

Só mais um terço para o rosário

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Uma boa fatia destas receitas pertencia às freiras que, nos conventos, preparavam o bolo em dias de festa ou para receber ilustres convidados como reis, rainhas e membros nobreza e do clero.

Um deleite das arábias

Aletria

Nem que seja só pela origem da palavra, já é possível perceber que esta sobremesa é das arábias. A aletria vem do árabe al-irtiâ ou itriya, usada para designar massa. Mas se isso não for suficiente, então o «Libre de sent soví», com receitas medievais escritas em catalão, tira as dúvidas que restam.

Nessa obra, atribuída a um autor anónimo do século 14, há duas receitas de «alatria» de origem árabe. São provas mais do que suficientes para concluir que a aletria portuguesa nasceu algures entre os anos 710 e 715, quando os árabes conquistaram a Península Ibérica, chamando todo esse vasto território de al-Andalus.

Uma casquinha de limão

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Na Idade Média, a aletria era cozinhada em leite de amêndoas e mel. Hoje, usa-se leite açucarado e uma casquinha de limão na cozedura. Depois de a massinha absorver o líquido, juntam-se as gemas, indo mais uma vez ao lume por poucos minutos. Em algumas variações, a massa coze numa calda de açúcar, ficando os fios de massa tão dourados que ganharam o nome de cabelos de anjo. Há muitas maneiras de fazer esta receita, mais cremosa como no Minho ou seca e cortadas às fatias como nas Beiras.

Este tema só fica completo com a leitura de: «Histórias salgadas preparadas na cozinha portuguesa».



Fontes consultadas: 

Livros

  • «Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial», de Irene Flunser Pimentel, Esfera dos Livros, Lisboa (2006).
  • «Cafés Portugueses – Tertúlias e Tradição», de Samuel Alemão, Clube dos Colecionadores dos CTT (2017)
  • Pão e Vinho – Mil e uma histórias de Comer e beber, de Paulo Moreiras (2014), Dom Quixote.

Sites

Gale of Barceles | Virgiliogomes.com | Brasil Bom de Boca |

Histórias salgadas preparadas na cozinha portuguesa

Quem diria que, por causa das invasões francesas, a povoação de Boticas iria inventar um novo método de fazer vinho? Ou que proibir galos e galinhas na panela daria origem ao Capão de Freamunde? O Bicho-Que-Morde explica aqui o que está por detrás dos pratos da cozinha tradicional portuguesa. Ninguém vai adormecer, é uma promessa. Estas histórias metem guerras, perseguições, rituais religiosos, lendas e até a triste sina de um frango que nunca cantou de galo.


A sopa para trabalhar o dia inteiro

Caldo Verde

O caldo verde era de gente pobre que se fartava de trabalhar no cultivo da terra e chegava a casa esfaimada. Cozinhada com o que havia à mão de semear, sempre levou batatas, em abundância nos campos, e couve-galega às ripinhas, que cresce todo o ano no meio dos campos de milho ou das vinhas. Servida em tijelas de barro, pela manhã, antes de as mulheres e os homens partirem para os campos ou à noitinha, junto à panela de ferro para aproveitar o calor da lenha a crepitar.

O primeiro caldo

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Embora a primeira referência seja do século 15, acredita-se que o caldo verde seja mais antigo. Se bem que 500 e muitos anos já é uma imensidão de tempo.

E tudo começou no Minho

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Diz-se que a receita original é do Minho, mais propriamente dos lavradores de Valença, com broa de milho e rodela de salpicão a acompanhar e um fiozinho de azeite a regar o caldo.

Escapar à fogueira com um enchido a fingir

Alheira de aves

Uma das histórias que se conta é que os judeus inventaram a alheira para não serem queimados na fogueira da Inquisição. Na verdade, o que eles fizeram, não foi mais do que substituir a carne de porco pelas carnes de aves. Nos fins do século 15 e princípios do 16, eles não tinham escapatória senão fazer quase tudo o que os cristãos faziam. Comer carne de porco, porém, estava fora de questão e esse era um dos seus pontos fracos. Como não faziam nem defumavam os enchidos de porco, eram facilmente identificados pela Inquisição.

Vai daí, os habitantes de Mirandela começaram também a fazer os seus enchidos para não levantar suspeitas. Só que inventaram um recheio feito de pão e galinha que se parecia muito com os chouriços e farinheiras.

No entanto…

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Alguns investigadores duvidam desta história e asseguram que os judeus já faziam este enchido no século 15, ainda antes de a Inquisição os forçar a se converterem ao cristianismo. Não teria o nome de alheira, mas tabafeia.

O galo que nunca cantou

Capão de Freamunde

O capão da freguesia de Freamunde é um dos maiores orgulhos de Paços de Ferreira, mas as aves escolhidas para honrar o prato mais tradicional desta cidade têm uma vida difícil. Não passam de frangos que, antes de começarem a cantar de galo, são capados para ficarem gordos e com a carne tenra e saborosa. Seguem depois para a Feira dos Capões em Freamunde, que, desde 1719, acontece todos os anos a 13 de dezembro, dia de Santa Luzia.

Ainda antes de irem para o forno durante três horas, são embriagados com um cálice de Porto na véspera e marinados ao longo de 24 horas em vinho branco, azeite, sal, pimenta e dentes de alho esmagados. Tudo para serem servidos em ocasiões especiais, como a consoada de Natal.

A tradição é antiga, conta-se que o capão já era famoso na Idade Média, aparecendo até nos textos de Gil Vicente (1465-1536). Mas a sua origem estará mais distante ainda, no Império Romano. De tão longe veio este costume que ninguém sabe, ao certo, como começou.

Uns dizem que foi algures no ano 162 antes de Cristo (a.C.), quando o consumo de carne de galinha terá sido proibido para precaver a escassez de cereais.

Os criadores terão descoberto então que, ao caparem os galos, eles engordavam tanto que não precisavam de ser alimentados com muita ração.

Há quem acredite numa outra história, também passada em Roma. Nesta versão, o culpado é o cônsul Caio Cânio. Atormentado pela cantoria dos galos todas as noites, terá conseguido aprovar uma lei para os banir da cidade.

Mas como a população não estava preparada para ficar sem eles, decidiu capá-los, retirando-lhes assim a alegria e vontade de cantar de dia ou de noite. E nasceu assim o capão, triste e calado, mas gordo e afamado por todas as terras do império por ter a carne mais apetitosa de todas as aves. Bem vos avisei que a vida do capão não foi nem é fácil.

Um tesouro a sete palmos de terra

Vinho dos mortos

Foi a segunda Invasão Francesa, em 1809, que deu origem a uma tradição celebrada em Boticas: o vinho dos mortos. Sabendo como se comportava o exército de Napoleão, os produtores de vinho enterraram as garrafas no chão das adegas. O vinho ficou sepultado até os franceses serem derrotados e expulsos do país.
Ao serem finalmente desenterrados, julgaram eles que o vinho estava perdido. Mas, com o tempo, notaram que o sabor ficou melhor.

Ao ficar no escuro e a uma temperatura constante, o vinho ganhou um gás natural que o tornou ainda mais apreciado. 

Mais do que um produto típico da região, o vinho dos mortos passou a ser um símbolo da vila de Boticas, representando a resistência à guerra e a todas as adversidades.

Só mais uma colher para a História

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O imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) era um homem de ideias fixas. Por três vezes, ordenou que as suas tropas invadissem Portugal e, por três vezes, foi derrotado pelos soldados portugueses ajudados pelos britânicos.

Todos ao molho na panela

Cozido à Portuguesa

A esta altura do campeonato já conseguimos perceber que quase tudo é resultado de influências de povos de diferentes partes do mundo. E o cozido, esse orgulho da cozinha tradicional, não foge à regra.
O difícil é saber de onde veio. O mais provável é ter vindo de muitos lugares, com cada região a prepará-lo à sua maneira. Há versões a indicar que já era cozinhado em Castela no século 17. Além de vaca e enchidos, levava também coelho, perdizes, pombos, castanhas, nabos ou rábanos.

O que levanta menos dúvidas é o facto de ser um prato de gente pobre que aproveitava todas as sobras para fazer um novo prato. Os restos de carnes e vegetais eram cozidos juntos para apurar e misturar os sabores.

Tão rico ficou este prato que as famílias mais abastadas também quiseram tê-lo à mesa, como comprova o tratado de culinária de 1680 «Arte da Cozinha», de Domingos Rodrigues, cozinheiro da Casa Real de Portugal.

O certo é que o cozido está no top da gastronomia portuguesa com mais de 60 maneiras diferentes de o cozinhar.

Com batata-doce e hortelã, no Algarve, cozido nas furnas, no Açores, com arroz feito no forno e couve tronchuda, no Minho, alheira e feijão verde, em Trás-os-Montes, ou ainda cuscuz e tomilho na Madeira.

Este tema só fica completo com a leitura de: «Doces histórias preparadas na cozinha portuguesa».
😉

Fontes consultadas:
  • As Tabafeias e a sua Origem – in Almocreve, Carção, Trás-os-Montes 2012 – Raízes dos Judeus em Portugal, de Inácio Steinhardt, Lisboa, Nova Vega, coleção Sefarad.
  • Judeus, «joia da coroa transmontana», de Ana Catarina Leria Rocha Pinto, Universidade de Coimbra (2015).

Sites

vinhosdosmortos.com | adersousa.pt | minhaterra.pt | Ciberdúvidas | hoteldluiscoimbra.blogspot.pt | quantobaste.com | gramascomsabor.com |


Catarina de Bragança. A alentejana que ensinou boas maneiras aos ingleses

Catarina de Bragança tornou-se rainha de Inglaterra para se aliar ao trono de Carlos II e impedir que os espanhóis invadissem Portugal. Por ser católica, morena e rechonchuda, os ingleses não lhe facilitaram a vida. Mas, foi com ela que eles aprenderam a ter bom gosto e elegância.


Uma princesa não pode casar com quem quer. Uma princesa à moda antiga, é preciso que se diga. Elas, hoje, não têm de seguir muitas das tradições parvas que começaram na Idade Média e continuaram nos séculos seguintes. Catarina de Bragança não é uma dessas sortudas. Nascida em 1638 em Vila Viçosa, no Alentejo, não tinha ainda oito anos, quando os pais começaram a planear o seu casamento.

Mais do que uma tradição, tratava-se de uma urgência. O rei, D. João IV, estava aflito. Ao liderar um golpe de estado, conseguiu, ao fim de 60 anos, expulsar os espanhóis no dia 1 de dezembro de 1640. Mas a restauração da independência estava por um fio. Os Filipes de Espanha não iriam desistir e, sem um aliado de peso, Portugal corria o perigo de cair outra vez nas mãos da monarquia dos Habsburgos.

Casar a filha com o herdeiro de um trono poderoso seria a única estratégia para manter os invasores longe das fronteiras.

E foi assim que, aos 24 anos, e após negociações fracassadas com vários reinos, Dona Catarina Henriqueta ficou noiva de Carlos II de Inglaterra. O acordo nupcial reforçou a velha aliança com os ingleses, mas também custou os olhos, o couro e o cabelo aos súbditos de João IV.

Além da mão da filha, o rei deu um dos maiores dotes de casamento  – senão o maior – alguma vez concedido. Dois milhões de cruzados, joias, pratas e outros tesouros reais já chegariam para impressionar qualquer um. Mas a monarquia inglesa recebeu também duas valiosas cidades que eram pontos comerciais estratégicos do império português: Tânger, no Norte de África, e Bombaim, na Índia Oriental.

Era praticamente tudo o que Portugal tinha e os ingleses esfregaram as mãos de tão contentes que ficaram com o belo arranjo. A armada de Carlos II não tardou a atracar em Lisboa para levar a princesa. Houve missa na Sé de Lisboa, cortejos nas ruas, repiques de sinos e até trombetas para festejar a partida de Catarina de Bragança que, acompanhada por quatro damas, embarcou a 28 de abril de 1662 a bordo da nau capitania Grão-Carlos.

Uma rainha hostilizada

 Catarina era católica e os ingleses anglicanos. Bastou isso para que nunca fosse coroada. 

A partida de Lisboa foi memorável, mas a chegada a Inglaterra não foi das melhores. Catarina não era emproada nem tinha aqueles maneirismos que a corte inglesa tanto apreciava. A pele era morena e eles estavam habituados a copinhos de leite. Era também rechonchuda e ligeiramente dentuça. E, pior ainda, católica, enquanto a Inglaterra de Carlos era anglicana. Só por isso, foi sempre uma rainha sem coroa.

A vida dela, nos primeiros anos, não foi fácil. Catarina de Bragança aguentou muita maledicência, mas a pouco e pouco os ingleses começaram a tratá-la com deferência e respeito. É preciso não esquecer que estamos perante uma princesa, que se tornou rainha de Inglaterra. Ou seja, desde criança foi educada para se destacar entre a multidão.

Era, portanto, culta e tinha melhores modos do que muitos dos nobres a cirandar à volta da realeza. Usava rendas, sedas, sapatos a combinar com as vestes e joias enormes que impressionaram os ingleses com o seu bom gosto. Sempre muito elegante, Catarina dava nas vistas por onde passava.

Os ingleses imitavam-na não só nos gostos delicados, como também nos hábitos que ela trouxe da corte portuguesa.

Só para se ter uma ideia, antes dela, poucos ligavam ou sequer gostavam de música. E a música foi uma das suas grandes paixões. Tanto assim era que levou uma orquestra de instrumentistas portugueses para animar os saraus. E ainda mostrou pela primeira vez o que era a ópera italiana, que a partir daí teve um êxito retumbante.

O dinheiro não compra o bom gosto

 A rainha mostrou que, à mesa, a porcelana era mais bonita e prática do que o ouro. 

Catarina de Bragança também fez ver à corte de Carlos II que não basta ter fortuna para ser chique. A nobreza gostava de exibir a sua reluzente loiça de ouro e prata nos banquetes. Mas o luxo pouco ou nada impressionava quando a carne de caça, os molhos e os legumes ficavam mais enregelados do que hoje a manteiga no frigorífico.

Ela tratou de substituir todos os serviços por porcelana, não só mais práticos e higiénicos, como também requintados o suficiente para deslumbrarem os ingleses com a arte pintada na loiça chinesa.

O uso de talheres foi outra grande revolução cultural e social que esta rainha introduziu nas mesas dos ingleses. Acostumados a comer com mão direita, o garfo ajudava unicamente a trinchar e servir a carne. Mas ganhou uma nova utilidade quando Catarina mostrou como usá-lo à mesa.

Tantas foram as modas que ela levou para Inglaterra que os ingleses nunca mais foram os mesmos.

Seria cansativo enumerar tudo, desde a compota de laranjas portuguesas, que se popularizou como «marmelade», até ao mobiliário indo-português ou o tabaco que os homens passaram a transportar em caixinhas de rapé no bolso do colete.

Tudo o que Catarina de Bragança fazia ou recomendava era instantaneamente copiado pelos outros, ficando muitos desses hábitos enraizados entre os ingleses até aos dias de hoje. Acham um exagero? Quem julga que sim é porque desconhece ainda que uma das tradições mais genuínas de Inglaterra começou com a rainha portuguesa. Estamos a falar do five o’clock tea, pois claro! O chá das 5 é um dos grandes orgulhos exibidos pelos ingleses como um dos seus principais legados culturais.

São cinco da tarde: hora do chá!

 Imitando a rainha, a aristocracia não passava uma tarde sem o five o’clock tea. 

Não foi com ela que os ingleses descobriram o chá. Os holandeses já o tinham espalhado pela Europa através da Companhia das Índias Orientais. Mas apenas como remédio para uma série de maleitas como apoplexia, epilepsia, catarro, cólica, tuberculose, tonturas, enxaquecas ou vertigem.

O medicamento prometia curar tudo e mais alguma coisa, mas Catarina de Bragança apresentou uma nova forma de o beber. O chá não se limitava a ser apenas uma bebida quente para confortar as tardes frias. Mas implicava todo um ritual com bules, chávenas, leiteiras, açucareiros e ainda doçaria, pãezinhos e bolinhos a completar os apetitosos lanches servidos pela rainha.

O five o´clock tea passou a ser uma cerimónia requintada que as famílias da aristocracia gostavam de cultivar para mostrar que tinham bom gosto. Até hoje, quem não tem maneiras acaba, mais tarde ou mais cedo, a ser insultado por «ter falta de chá».

Portanto, e só para rematar, da próxima vez que um inglês gabarola disser que foram eles a ensinar o bom gosto aos europeus, lembrem-lhes que, se não fosse uma rainha alentejana dentuça e anafadita, eles teriam muito pouco para ensinar. Embrulha! 😉

FICHA BIOGRÁFICA

Nome e títulos de nobreza Infanta Dona Catarina Henriqueta de Portugal

Data de nascimento 25 de novembro de 1638 no Paço Ducal de Vila Viçosa

Nome dos pais João, 8º Duque de Bragança e Luísa de Gusmão.

Data da morte 31 de dezembro de 1705, em Lisboa. Enterrada na Igreja dos Jerónimos, o seu corpo foi depois trasladado para o panteão dos Braganças em São Vicente de Fora.

Se gostaste de conhecer mais sobre Catarina de Bragança, também irás gostar de ler mais sobre a Josefa de Óbitos. Clica aqui, se ficaste curiosa ou curioso: «De parvinha Josefa não tem nada».

Fontes consulradas: Etc e tal | escandalosreais.blogspot.com | BBC | Plataforma de Cidadania Monárquica |

Quanto vale o sorriso de Mona Lisa?

Vale uma fortuna, se tivermos em conta que a pintura foi avaliada, na década de 1960, em cerca de 100 milhões de dólares. Não é de estranhar, por isso, que esteja também no Livro do Guiness como o objeto mais valioso do mundo. Cinco séculos depois de Leonardo Da Vinci pintar a Mona Lisa (1503-1507), o retrato, protegido por um vidro à prova de bala, continua a atrair todos os dias milhares de visitantes ao Museu do Louvre, em Paris. Vêm de todos os cantos do planeta e aguentam filas intermináveis para, por fim, vislumbrarem ao longe a figura de uma mulher, aparentemente comum, com vestes tristes, sem joias, mas com um sorriso de valor incalculável.

Ainda hoje, há muita gente a tentar explicar o que tornou tão popular esta obra do Renascentismo. Mas, como em quase todos os grandes fenómenos, não há um único motivo. Há muitos. A fama de Mona Lisa é o resultado de histórias, mitos, crimes, mistérios e, claro, também do talento e da técnica de Da Vinci. O Bicho-Que-Morde selecionou sete causas que explicam a sua popularidade. Haverá muitas mais, mas comecemos por estas.

O SORRISO

Da Vinci usou luz e sombras para criar uma misteriosa ilusão. Os olhos captam imediatamente a nossa atenção, enquanto os lábios caem na visão periférica. O pintor – que era também cientista, matemático, engenheiro, escultor, anatomista ou botânico – recorreu a uma série de disciplinas como as artes, as ciências e ótica para criar uma impressão de movimento, de ambiguidade e de emoção.

Para conseguir esse efeito, ele dissecou rostos humanos à procura dos músculos que fazem mover os lábios, combinando esse conhecimento com a forma como a retina humana capta e processa as imagens. Giorgio Vasari, pintor e historiador de arte do século 16, conta que, para manter o sorriso da sua modelo sempre vivo, Leonardo contratou músicos e comediantes que a entretiveram durante as sessões de pintura.

A TÉCNICA SFUMATO

O hábil manuseio de sfumato por Leonardo é outra das razões apontadas pelos especialistas. A técnica artística tem origem na palavra italiana «sfumare», que significa evaporar e é conseguida passando o dedo sobre a tinta, o pastel ou o carvão, de forma a criar gradientes e tonalidades suaves e subtis.

Leonardo da Vinci descreveu o sfumato como algo que não apresenta «linhas ou fronteiras» e neste quadro é praticamente impossível perceber as pinceladas no rosto, no véu ou no rendilhado dos tecidos que Da Vinci pintou com muita paciência.

O MUSEU DO LOUVRE

Ter como casa o museu mais famoso do mundo contribuiu, certamente, para aumentar a fama do quadro. Mona Lisa chegou ao Louvre, em Paris, no fim século 18, tendo depois passado uma boa temporada no quarto de Napoleão. Muito antes, estivera também na corte de Francisco I, rei de França, onde Da Vinci passou os últimos anos de vida. A obra esteve a maior parte do tempo no Palácio de Versailles, até a Revolução Francesa reivindicar a coleção real como propriedade do povo e levá-la, já em 1797, para o Louvre.

A IDENTIDADE

Uma das grandes discussões no meio artístico é sobre quem é a figura representada no quadro. Muitos historiadores acreditam que se trata da mulher de Francesco del Giocondo, um comerciante de seda de Florença. Outros estão convencidos de que é Isabel de Aragão, Duquesa de Milão, para quem Da Vinci trabalhou durante alguns anos. Lillian Schwartz, artista e investigadora americana, foi ainda mais ousada ao ter usado estudos computacionais para defender que Mona Lisa é um autorretrato de Leonardo da Vinci.

O certo é que, não havendo registos sobre a identidade desta mulher, também não há forma de a identificar de uma maneira conclusiva. E esse é um excelente motivo para cada um imaginar o que quiser sobre a musa de Leonardo.

A INVENÇÃO DE UM GÉNIO

Não se pode descartar o imaginário criado à volta de Da Vinci se quisermos perceber porque Mona Lisa é a obra mais conhecida do planeta. Foi sobretudo no século 19, com o interesse crescente pelo Renascimento, que ele foi reconhecido como um génio não só na pintura, como na ciência, na arquitetura ou na engenharia. Embora boa parte dos seus estudos tenham sido desmentidos mais tarde, o mito à sua volta continuou e continua ainda hoje bem vivo, tornando-o numa das figuras mais populares de todos os tempos.

O ROUBO

No dia 22 de agosto de 1911, o Louvre anuncia que a Mona Lisa despareceu. Logo de seguida, toda a gente corre para o museu. Visitantes, jornalistas, gente das artes, da política ou do cinema, todos ficam alarmados ao se depararem com espaço vazio onde o quadro estava pendurado. O diretor, claro, não esperou nem mais um dia para apresentar a demissão. A lista de suspeitos aumentou a cada hora e nem o pintor espanhol Picasso ou o poeta francês Guillaume Apollinaire escaparam às suspeitas. Acabaram mesmo presos, interrogados e libertados alguns meses mais tarde.

Acreditou-se, nessa altura, que Mona Lisa estaria perdida para sempre, mas, dois anos mais tarde, ela foi encontrada em Itália. Um negociante de arte alertou a polícia que um homem o contactara para tentar vender o quadro. Vincenzo Peruggia, um imigrante italiano em França, trabalhara por um breve período no museu. Com a ajuda de dois colegas, tirou o retrato da parede e escondeu-o num armário, fugindo com ele na manhã seguinte. Os três foram condenados e o mundo festejou o regresso de Mona Lisa ao museu.

A MONA LISA DE DUCHAMP

L.H.O.O.Q., o objet trouvé («objeto encontrado») é um postal que reproduz a obra da Mona Lisa na qual Marcel Duchamp desenhou um bigode e uma barba bem aparada. A irreverência, em 1919, provocou um pequeno escândalo, mas também lhe trouxe mais notoriedade. Nas décadas seguintes, vários foram os artistas que se inspiraram nessa sua obra. Andy Warhol é o o mais conhecido, mas até hoje a figura de Mona Lisa continua a ser manipulada, distorcida, rabiscada, pixelizada ou escortinhada por publicitários, cartunistas, grafiters ou designers, reproduzindo e transformando a imagem num ícone da cultura popular.

🟢🟡🔵🟤 Já que chegaste até aqui, espreita também o artigo sobre a vida de Yayoi Kusama: «As bolinhas curam todas as infâncias difíceis».

Fontes consultadas: The Atlantic | ParisCityVision | NYTimes | Wikipédia (1) | Wikipédia (2) |

Por quê meeting e não reunião?

O Bicho-que-Morde caiu de paraquedas numa reunião de negócios e não percebeu patavina do que foi dito. Não é só porque ele não tem um curso de gestão ou de marketing. Tal como muitas outras atividades, as empresas, as agências de comunicação ou a banca têm uma linguagem muito própria, que é difícil de descodificar para quem não pertence ao meio. Se acham que faziam melhor figura, experimentem traduzir um só excerto do que ele ouviu do diretor de vendas. Perdão, do head of sales.

_ Meus caros senhores, convoquei este meeting porque estou muito preocupado com a performance do nosso departamento. Estamos a falhar o target e precisamos encontrar urgentemente um approach mais eficaz para cativar os nossos clientes premium.

Traduzido para bom português, o que o diretor de vendas – perdão, head of sales – quis dizer é: ou mudamos rapidamente a nossa estratégia comercial ou somos comidos pela concorrência. Mas, se é tão simples assim, porquê complicar?

Em primeiro lugar, porque esse palavreado em estrangeiro é facilmente entendido por quem está à-vontade no meio. O bom jargão é aquele capaz de poupar tempo e energia na hora de transmitir uma mensagem. Cada profissão ou atividade tem os seus próprios termos técnicos, que resumem ideias ou raciocínios numa única palavra ou expressão. Boa parte desse código empresarial, importado sobretudo dos norte-americanos, já entrou até na linguagem corrente que ouvimos na televisão ou lemos na imprensa.

O português, tal como outras línguas, tem muitos estrangeirismos, que vieram não só do inglês, como do francês, do italiano e até do alemão. Alguns deles, como, por exemplo, email, abajur, pizza ou kitsch, são tão corriqueiros que nem nos lembramos que chegaram de outros povos. O problema é quando se entra em exageros e a comunicação fica comprometida. Isso tanto vale para situações sociais como para a cultura de empresa.

Há expressões usadas a torto e a direito que ou não significam nada ou poderiam ser simplificadas. Em alguns casos, o objetivo é, se calhar, passar a ideia de que o mundo empresarial é mais emocionante do que na verdade é. É preciso bom senso, como em tudo. No caso de dúvida, fujam das palavras pomposas e sejam claros e honestos nas mensagens que querem transmitir.

Descubram, a seguir, algumas expressões usadas no mundo empresarial e vejam como, em muitos casos, podem ser facilmente traduzidas para português.

APPROACH

Outras traduções enfoque, ângulo, prisma, olhar, perspetiva, entre outros.
Significado quer dizer «aproximação» em inglês. No mundo empresarial, o termo é usado para referir o tipo de abordagem que a empresa pretende ter com o cliente.

BRIEFING

Outra tradução conferência de imprensa.
Significado tem origem no termo inglês «brief» e significa sumário, síntese ou declaração resumida. No meio publicitário e empresarial, o brief é o documento que resume as linhas que devem orientar uma campanha publicitária ou uma estratégia de negócio. Brief e briefing, embora sejam usados como sinónimos, são conceitos distintos: brief é um conjunto de instruções orais ou escritas e briefing é o ato de comunicar essas orientações numa reunião.

BENCHMARKING

 
Outra tradução avaliação comparativa.
Significado encontros ou reuniões entre empresários (concorrentes ou não) para comparar metodologias, produtos e práticas que possam ajudar a avaliar o impacto de novas estratégias em outros cenários, países e mercados.

CORE BUSINESS

Tradução  núcleo de um negócio.
Significado área de negócios definida em função da estratégia da empresa.

COACH

Outras traduções  treinador, mentor.
Significado alguém especializado numa área específica que ajuda, treina ou orienta um cliente ou um estagiário a atingir objetivos pessoais ou profissionais através de conhecimentos, metodologias e ferramentas adequadas.

CHAIRMAN

Significado é o homem da cadeira, no sentido literal, mas, na prática, nada mais é do que o manda-chuva, o mais alto cargo na hierarquia de uma empresa.

COFFEE-BREAK

Outra traduçãopausa ou intervalo numa reunião ou num colóquio, a meio da manhã ou da tarde.
Significadoum intervalo de 10-15 minutos numa reunião onde as pessoas comem um bolinho, bebem um café e conversam entre elas. É a hora do recreio entre os homens de negócios.

DEADLINE

Tradução prazo-limite.
Significado é a palavra que faz estremecer aqueles que deixam tudo para o último minuto. No sentido literal, significa linha de morte – e é aquele dia ou aquela hora em que temos mesmo de entregar um trabalho, pagar uma dívida ou submeter uma candidatura.

EXPERTISE

Outras traduções experiência, perícia.
Significado palavra de origem francesa para designar um conhecimento profundo num assunto em particular que alguém tem e que usa para executar uma tarefa.

INSIGHTS

Outra tradução  pistas.
Significadocompreensão súbita de algo. É aquele momento «eureka!» que a BD ilustra tão bem quando coloca uma lâmpada acesa por cima da cabeça de um personagem para mostrar que teve uma ideia genial. No mundo empresarial, é usado como sinónimo de pista ou indicação a seguir com vista a obter um melhor resultado.

KNOW-HOW

Outras traduções saber-fazer (em português), savoir-faire (francês).
Significadoconjunto de conhecimentos práticos (técnicas, procedimentos ou informações) que uma empresa ou um profissional tem e que os coloca em vantagem face aos concorrentes.

MINDSET

Significado o termo junta duas palavras inglesas: mind (mente) e set (configuração). Logo, no sentido literal, significa configurar a mente. Na prática, implica sintonizar a postura e o comportamento com a filosofia da empresa.

MEETING

Outras traduções reunião, colóquio, etc.
Significado é uma palavra que se adapta a vários cenários: assembleias, conferências, competições, reuniões, cimeiras, etc.

MULTITASKING

Outras traduçõesmultifacetado, polivalente, polifacetado.
Significado um funcionário multitasking é o sonho de qualquer patrão. Ele é bom a desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, não falha os prazos e, ainda por cima, consegue motivar todos os que estão à sua volta.

NETWORKING

Significado perder a vergonha e fazer das tripas coração para deixar de ser invisível numa sala ou num auditório cheio de pessoas. Geralmente, é nos coffee-breaks dos seminários, conferências ou colóquios que as pessoas aproveitam para alargar a sua rede de contactos, ferramenta muito útil para, mais tarde, fazer bons negócios, criar parcerias ou arranjar bons empregos.

PLAYERS

Outras traduções agentes, atores, concorrentes, intervenientes.
Significado são grandes empresas ou multinacionais que controlam um determinado segmento de mercado – energia, têxteis, telecomunicações ou banca, por exemplo. São tão poderosas que são capazes de influenciar o comportamento do consumidor de uma ou várias regiões.

PERFORMANCE

Outras traduções eficiência, rendimento, resultado.
Significado o meio empresarial tornou-se tão competitivo que os empresários e gestores mais parecem atletas de alta competição. A diferença é que, em vez de usarem ténis e calções, andam de fato e gravata.

SKILLS

Outras traduções habilidades, competências, talentos.
Significado são capacidades que se ganham com a experiência. Mas tudo se complica quando se fala em hard skills – conhecimentos adquiridos ao longo do percurso académico, profissional, de estágios, formações, entre outros – e soft skills – competências pessoais que soubemos retirar da nossa experiência de vida. Enquanto as primeiras são facilmente identificadas num currículo, as segundas são difíceis de avaliar – criatividade, capacidade de comunicação, adaptabilidade, poder de persuasão, entre outros.

SPONSOR

Outra tradução financiador.
Significado se tiveste uma boa ideia, mas não tens dinheiro para tirá-la do papel, bate à porta de uma grande empresa e pede para te financiarem o projeto. Boa sorte.

TEAM BUILDING

Significadoestá na moda as empresas organizarem atividades fora do local de trabalho para promover a convivência, aprofundar os laços e quebrar o gelo entre os funcionários. A estratégia serve para subir os níveis de motivação e de produtividade dos trabalhadores.
 

 

Alguém sabe quanto pesa um quilo?

Um quilo pesa um quilo, um metro mede um metro e um litro é um litro. Que raio de perguntas! Pois, está certo, ninguém diz o contrário, mas e se quisesse? O que o Bicho-que-Morde quer saber é por que não é mais ou menos e porque estas e não outras medidas. Ah, isso é uma outra história, uma história com mais de 200 anos, que começa assim…

Mais coisa, menos coisa, quilo, metro e litro são o que são desde 1789, quando, a mando do rei de França, Luís XVI, um grupo de cientistas da Academia Francesa de Ciências ficou incumbido de achar medidas iguais para toda a gente. Para acabar com os abusos e a confusão de cada um usar o que bem entendesse, foram criadas duas comissões, uma para determinar pesos e volumes e outra para definir comprimentos e larguras.

O primeiro grupo, que incluiu Antoine Lavoisier, o pai da química moderna, estipulou primeiramente o que deveria ser 1 litro – a quantidade líquida (volume ou capacidade) que cabe num cubo com 10 centímetros em cada um dos lados –, um decímetro cúbico (dm3), portanto. Resolvida que estava a questão, passou-se para o quilo, que seria nada menos do que 1 litro de água congelada.

Ao segundo grupo, liderado pelo astrónomo Jaques Cassini, coube a tarefa mais demorada: medir a distância do Equador ao Polo Norte, através do meridiano que passa por Paris. Feitos os cálculos, decidiram que 1 metro corresponderia a uma distância ínfima do percurso que vai de um ponto ao outro (décima milionésima parte).

Entretanto, veio a Revolução Francesa. O povo, farto de ver o clero e a nobreza a viver à grande e à francesa, saiu à rua com ganas de se vingar da miserável vida que levava.

Muitas cabeças rolaram, nem a do rei nem a de Lavoisier escaparam. Mas o governo revolucionário decidiu, ainda assim, manter o essencial dos trabalhos das comissões científicas da academia.

As medidas internacionais

 As medidas da academia francesa foram adotadas por quase todos os países do mundo. 

Tiveram de passar, no entanto, cinco décadas até o seu uso no comércio e nas construções se tornasse obrigatório em todo o país, em 1840. O novo método foi, a pouco e pouco, sendo adotado em quase todo o mundo. Hoje, os únicos a não fazerem parte deste clube são a Libéria, Mianmar e ainda as ex-colónias inglesas da Jamaica, da Gâmbia e do Malawi.

No Reino Unido, embora o sistema internacional de unidades seja obrigatório no comércio, na saúde, na segurança e na administração, o modelo imperial (milhas, polegadas ou pés, entre outras) é ainda bastante comum no dia-a-dia.

O mesmo acontece, aliás, nos Estados Unidos e, apesar de o sistema internacional ser recomendado desde 1959, é muito pouco usado. Em Portugal, por exemplo, passou a vigorar em exclusivo um século antes, em junho de 1859.

As medidas da academia francesa mantiveram-se até 1889, quando ficou demonstrado que o grau de pureza faz variar o peso da água e que os polos da Terra são achatados.

As descobertas obrigaram a retirar 1/4 de milímetro ao metro e a construir também um cilindro e uma barra composta por 90% de platina e 10% de irídio – metais resistentes à oxidação e à deformação – para manter inalteráveis tanto o quilo como o metro.

É no Bureau International des Poids et Mesures (Departamento Internacional de Pesos e Medidas), em Paris, que estão guardados os exemplares originais, mas, ao longo das últimas décadas, tanto o quilo como o metro foram sofrendo transformações.

Em 1960 – ano em que o modelo francês foi adotado como Sistema Internacional de Medidas (SI) –, os cientistas concluíram que seria pouco fiável manter o metro oficial isolado numa espécie de redoma, dado que a Terra está sempre a mudar. Passaram a usar como referência o comprimento de onda da luz emitida pelo gás criptónio das lâmpadas fluorescentes. E, duas décadas mais tarde, em 1983, o metro passou a ser definido pela velocidade da luz.

O pé do rei como medida

 As primeiras medidas tiveram partes do corpo humano como referência – a polegada, o pé, o palmo ou os dedos. 

Mais recentemente, em 2010, foi a vez de introduzir mudanças nas condições de conservação do quilo. Os investigadores ficaram espantados ao ver que o peso, apesar de todas as preocupações para o conservar intacto, tinha emagrecido. Substituíram, por isso, o cilindro de platina por uma esfera de silício, ainda mais resistente.

Pode até ser que, no futuro, surjam outras alterações nos protótipos, mas será pouco provável que este sistema seja substituído por outro radicalmente diferente. Levou muito tempo a fazer com que todos aceitassem utilizar as mesmas medidas e os mesmos pesos.

Desde a Antiguidade, usou-se de tudo um pouco para achar o peso e a medida das coisas. De tudo não, que as primeiras medidas, por exemplo, tiveram quase sempre partes do corpo humano como referência – a polegada, o pé, o palmo ou os dedos.

Usar o próprio corpo como padrão de medida tornou-se pouco eficaz, já que havia dedos grandes e pequenos, homens altos e baixos, braços mais compridos ou mais curtos.

E ainda que se tentasse definir tamanhos fixos, como foi o caso do pé real, de cada vez que morria um monarca e um outro ocupava o seu lugar, era uma dor de cabeça mudar o pé padrão e todas as outras unidades derivadas daí.

E, como tal, da próxima vez que levarmos para casa um quilo de laranjas, 1 litro de leite ou meio metro de tecido, já sabemos que são o que são porque foram precisos séculos até se chegar a um entendimento entre todos. O pacto é, antes de mais, um dos fundamentos da justiça social. Hoje ninguém mais aceita dois pesos e duas medidas. Queremos todos ser tratados por igual, certo?

Ken foi o único a tentar mudar as medidas da América

A história de Ken Butcher dava um filme de Hollywood. Era um funcionário exemplar, com um futuro promissor, mas acabou sozinho num escritório vazio e silencioso durante anos a fio. Em 1975, o presidente Gerald Ford atribuiu-lhe uma importante missão: fazer com que os americanos esquecessem o galão e começassem a usar, no dia-a-dia, o litro e outras unidades do sistema internacional.

A tarefa era ambiciosa, mas os Estados Unidos não podiam adiar por mais tempo uma medida adotada por praticamente todos os países do mundo. Deram-lhe um departamento federal para chefiar e um projeto-piloto para coordenar no estado da Virgínia Ocidental, o primeiro a servir de modelo para todos os outros. O Programa Métrico dos Estados Unidos, contudo, não foi longe.

A primeira tentativa para abrir um posto de gasolina preparado para converter galões em litros foi tão atribulada que tiveram de o fechar logo a seguir.

Todos os outros concorrentes desataram a criticar a iniciativa, dizendo que os consumidores estavam a ser enganados nos preços e nas quantidades. Um grandíssimo disparate! Naturalmente que um galão é maior (1 galão = 3,79 litros), mas, por isso mesmo, o litro do combustível era mais barato.

O certo é que os automobilistas ficaram impressionados com a diferença de preços, fazendo filas para abasteceram o carro naquele novo posto. O que poderia ter sido um bom impulso para fazer a mudança acabou por ser um fiasco.

Para os donos das gasolineiras, o que estava em causa não eram as contas bem ou mal feitas, mas a falta de vontade em mudar de sistema. E nem sequer estavam interessados que a medida pudesse vir a beneficiar as trocas comerciais dos EUA com o resto do mundo. O governo cedeu e ficou tudo como estava.

Um fiasco que dura até hoje

 Durante anos, Butcher foi o único funcionário de um departamento federal sem dinheiro nem ajudantes. 

Em 1982, a administração do presidente Ronald Reagan achou que o programa estava a desperdiçar tempo e recursos para uma medida tão pouco popular entre os americanos e dispensou quase toda a gente do escritório federal. Só ficou Ken Butcher. Durante mais de duas décadas, ele trabalhou sozinho e, sem ajudantes nem dinheiro, a sua função ficou reduzida a contar o número de entidades que aderia ao sistema internacional, que era praticamente nenhuma.

Nos últimos anos, Butcher trabalhou com mais um colega num departamento do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia, a pouco menos de 30 minutos da Casa Branca, em Washington. Ambos promoveram o sistema internacional em escolas ou em conferências, mas a conversão das medidas continua a ser um projeto adiado, sabe-se lá até quando.

Muito do insucesso é atribuído às teorias da conspiração que circularam, na década de 1980, sobre supostas tentativas da antiga União Soviética em tentar enfraquecer a economia dos EUA. Há também quem acredite que o orgulho americano em querer manter algo só deles contribuiu muito para o programa não vingar. O medo e os custos desta mudança também não ajudaram nada.

Mitos e má-vontade

 Teorias da conspiração, orgulho americano e medo contribuíram para o programa fracassar. 

Tudo isso teve, certamente, o seu peso, mas este programa não teve qualquer hipótese ainda antes sequer de existir. Ao contrário do que aconteceu noutros países, o sistema internacional nunca foi obrigatório nos Estados Unidos.

Em 1875, Portugal e Estados Unidos estiveram entre os 17 primeiros países a oficializar o sistema internacional. Só que, nos EUA, os acordos internacionais precisam ser validados no Congresso e, neste caso em particular, isso nunca aconteceu. Estas unidades de medida até já eram permitidas, mas os americanos estavam habituados ao sistema imperial britânico e, a não ser que fossem obrigados, não iam mudar um milímetro.

Quando, um século mais tarde, o presidente Gerald Ford decidiu, em 1975, transformar em lei o Ato de Conversão Métrica, de nada adiantou, porque a norma era só para quem quisesse adotá-la voluntariamente.

Se não é obrigatório, ninguém cumpre

 Só obrigados é que os americanos deixariam os velhos hábitos, o que nunca aconteceu. 

Ora, quem é que está disposto a alterar rotinas assim do pé para mão? A mudança, muitas vezes, não acontece por vontade própria. Por alguma razão são as leis que obrigam as pessoas a deixarem de lado os velhos hábitos. Mas nem as leis conseguem mudar as coisas de um dia para o outro. Como é o caso do Reino Unido, que é uma espécie de meio-termo. Ou seja, para umas coisas vale o sistema internacional, mas para outras é o sistema imperial que reina.

O governo, as escolas e faculdades, a indústria e o comércio adotaram as unidades métricas, mas as medidas de velocidade, distância e volume (nas bebidas) ainda usam oficialmente o sistema imperial. A adaptação tem sido muito lenta, mas as gerações mais novas têm mostrado, por outro lado, uma maior abertura ao sistema métrico. É o que revelam, pelo menos, os inquéritos mais recentes feitos às populações mais jovens. É, portanto, uma questão de tempo e de paciência.

Fontes consultadas: The Gist | FlatOut | Mental Floss | Wikipédia (1) | Wikipédia (2) |

 

Quanto sal tem o mar?

Se um dia o homem usasse a engenharia para retirar todo o sal do mar precisaria de muito espaço para o armazenar. Esse sal, espalhado uniformemente pela a superfície da Terra, daria, segundo o National Ocean Service, para formar uma camada com mais de 166 metros de espessura, o suficiente para atingir a altura de um edifício de 40 andares.


A água do mar tem em média 35 gramas de sal por cada litro. Tomando como referência essa proporção e, multiplicando esse valor pelos cerca de 1,3 mil milhões de quilómetros cúbicos de água que enchem os oceanos, o resultado é aproximadamente 50 triliões de toneladas de sal. A concentração média de sal no mar (salinidade) não invalida, contudo, que, em alguns lugares, os valores possam variar.

Junto aos polos, por exemplo, a salinidade é mais baixa por causa do degelo. No mar Morto, essa concentração chega a 300 gramas por litro.

E quem julga que esta é a água mais salgada do planeta, é porque ainda não ouviu falar do lago Dom Juan. Encaixado nos vales secos do noroeste da Antártida, tem dezoito vezes mais sal do que a água dos oceanos e quase o dobro do mar Morto: um litro dessa água contém cerca de meio quilo de sal, tornando qualquer forma de vida impossível.

 O princípio do princípio

 O cloreto e o sódio são 85% de todos os iões dissolvidos na água do mar. 

E de onde vem tanto sal? A resposta rápida e simples é que vem das rochas, mas para perceber como foi parar aos oceanos será preciso, primeiro que tudo, viajar até ao princípio dos princípios, quando a terra, há 4,5 mil milhões de anos, era um lugar a ferver de fogo e lava.

Nesses tempos, gigantescas nuvens de vapor foram libertadas pelos vulcões, acumulando-se na atmosfera. A temperatura do planeta começou a baixar e o vapor foi condensando, dando origem a longos períodos de precipitação.

A chuva intensa que caiu sobre o planeta provocou a erosão das rochas, retirando-lhes os sais e outros minerais que foram arrastados pelas correntes, até se acumularem nas depressões mais fundas do planeta. Ali ficaram retidos e concentrados.

Esse é, aliás, o fenómeno que se repete todos os dias durante o processo de erosão provocado pelas chuvas ou pelo desgaste que o mar exerce sobre as rochas. Mas os principais responsáveis pela salinidade dos oceanos são os rios que, na sua água doce, conduzem os minerais até ao mar.

Os sais transportados pelos rios e pela chuva desaguam nos oceanos na forma de iões, ou seja, átomos que ganham ou perdem elétrones durante uma reação. O cloreto e o sódio – o nome que a química deu ao sal de cozinha –, representam cerca de 85% de todos os iões dissolvidos na água do mar, mas não estão sozinhos. Nos oceanos estão mergulhados pelo menos 89 elementos químicos, a grande maioria em concentrações muito fracas.


Além do cloreto de sódio, a água do mar também contém cloreto de magnésio, bicarbonato de cálcio, ouro e muito, muito mais.

Percebendo a importância que o ciclo da água tem na salinidade dos mares, há uma dúvida que pode ainda inquietar alguns leitores: porque é que a chuva não é salgada, já que 84% do total da água evaporada sai dos oceanos? O sal fica no mar, enquanto a água sobe lentamente para a atmosfera.

Lá onde o mar encontra o rio

 Quando a água salgada se encontra com a água doce, há uma explosão de energia. 

Assim à primeira vista, esse sal retido no mar pouca serventia tem. Já sabemos que não mata a sede e é muitíssimo mais do que algum dia precisaríamos para temperar todos os tachos, panelas e frigideiras deste mundo. A utilidade do mar salgado, todavia, vai muito além disso. O sal do mar e o doce dos rios são poderosos quando se juntam. A água salgada ao se encontrar com a sua velha companheira, a água doce, origina uma explosão de energia capaz de compensar todas as perdas que a natureza provocou ao separar a água dos solos.

Nas águas com diferentes concentrações de sal, esconde-se uma fonte de energia, que desperta agora o interesse dos cientistas.

A potência gerada pela junção dos mares e dos rios, nos estuários, nas fozes ou nos oceanos, pode vir a ser, muito provavelmente, a energia do futuro, tal como já acontece com o vento, as ondas do mar ou os raios solares, transformados em energias limpas.

A água doce, ao correr para o lado da salgada, cria uma pressão contínua que poderá vir a ser usada para pôr os reatores a funcionar e gerar energia. Os cientistas acreditam que investir nessa solução pode ser mais compensador do que outras alternativas já conhecidas. A energia gerada na confluência da água doce e da água salgada pode, segundo a Penn State University satisfazer até 40% das necessidades mundiais de eletricidade.

O sabor do sal

 O sal emite um poderoso ião negativo que ajuda a neutralizar a poluição. 

Não é à toa que o sal é tão importante. Na Antiguidade serviu para conservar alimentos e no Império Romano foi moeda de troca, estando até na origem da palavra salário. Ainda hoje é valorizado por algumas culturas como a japonesa. Tomar um banho com sal grosso é, só para citar um exemplo, um costume popular no Japão.

Um punhado de sal grosso na banheira reduz a condutividade térmica da água quente, deixando não só a pele suave, como fazendo também as ansiedades, o cansaço ou as irritações do dia-a-dia desaparecerem pelo ralo da banheira.

Há quem julgue serem crendices com pouco valor científico, mas os próprios investigadores já reconheceram que o cristal do sal emite um poderoso ião negativo, sobretudo junto das matas, florestas, quedas de água e praias que ajuda a neutralizar a poluição.

Essa característica deve-se ao comprimento de onda eletromagnética contido no cristal do sal com um forte poder purificador que o povo japonês usa em abundância para limpar o ambiente e reequilibrar as energias dentro de casa. Se, por fim, fizermos os cálculos ao que o sal faz todos os dias pela nossa existência, o seu valor, apesar de ninguém dar conta, é incalculável.

É evidente que, consumido em excesso, provoca tensão alta, insuficiência renal ou ataques cardíacos.

Mas viver sem sal é igualmente um perigo. Basta aliás examinar uma parte ínfima do nosso corpo para compreender a sua importância. A transmissão de impulsos nervosos (sinais enviados de neurónios para neurónios e células) é conseguido pelos movimentos de iões de sódio e de potássio presentes nas membranas celulares. O sal regula também a pressão arterial e, ao transportar glicose nas células, torna-se fundamental para o metabolismo celular.

E os iões de cloreto, que tomam a forma de ácido clorídrico nos sucos gástricos libertados pelo estômago, são igualmente importantes para a digestão. Ou seja, sem o sal não é só a vida que perde sabor, é a nossa própria existência que se dissolve.

Tabela do sal

Há muitos tipos de sal, os mais comuns são o marinho, retirado através da evaporação da água do mar, e o sal-gema, extraído das minas subterrâneas formadas por lagos e mares extintos. Aqui fica uma lista com alguns dos mais populares.

SAL ROSA Extraído das salinas dos Himalaias, tem 84 minerais importantes para o corpo humano. Contém o mais alto grau de sal natural integral e as suas propriedades previnem a pressão alta e o envelhecimento. Regulam também o teor de água no organismo e atuam na manutenção das hormonas da tiroide.
SAL DO PERU Produzido nas Salineras de Maras, o sal do Peru tem origem num oceano muito antigo que secou, aprisionando os cristais de sal nos subterrâneos das montanhas, no Vale Sagrado dos Incas. É extraído manualmente, tem uma coloração rosa e um sabor intenso.
SAL NEGRO É também extraído nos Himalaias. O mais conhecido é o kala namak, uma variedade indiana de sal de pedra vulcânica, misturada com ervas e frutas da região. Conhecido pelos benefícios para a saúde gastrointestinal, é valorizado pela medicina ayurvédica – sistema medicinal indiano com cerca de cinco mil anos.
SAL MARINHO Obtido a partir da evaporação da água retida nas salinas, não contém aditivos químicos, mantendo todos os minerais e nutrientes. A OMS recomenda uma colher de chá rasa/dia (5 gramas para adultos e 3 gramas para crianças), podendo essa quantidade ser excessiva para adultos com mais de 50 anos e histórico de doenças cardiovasculares.
SAL MALDON Colhido no sul da Inglaterra desde o século 11, é produzido através da evaporação de água em recipientes aquecidos. Conhecido como o sal usado pela família real britânica, é mais crocante e resistente à humidade dos alimentos do que a flor de sal. Uma vez que é mais intenso, o recomendável é reduzir a sua quantidade.
FLOR DE SAL Necessita de sol e vento em abundância. É um aglomerado de cristais que se forma à superfície e que tem de ser cuidadosamente removido para não se afundar. Em cada 80 kg sal, só se consegue extrair 1 kg de flor de sal. A sua produção é feita em muitas regiões do mundo, as mais conhecidas são Guérande (França) e Algarve (Portugal).
SAL GROSSO No essencial, é um sal marinho, mas com uma granulação mais rugosa. Comparado com o sal refinado, salga e desidrata menos os alimentos, além de preservar os nutrientes de origem.
SAL LIGHT Composto de 50% de cloreto de sódio e 50% de cloreto de potássio, costuma ser recomendado aos que sofrem de hipertensão. Devido ao alto teor de potássio é, contudo, desaconselhado a quem sofre de doenças renais.
SAL REFINADO É obtido, tal como sal marinho, através da evaporação da água do mar, mas passa por um processo de refinamento e branqueamento que lhe retira uma grande quantidade de minerais, permanecendo como uma elevada percentagem de sódio.
SAL DEFUMADO Há muitos tipos de sais defumados, mas os mais afamados são os franceses. A extração assemelha-se ao processo que ocorre com a flor de sal mas, depois de removido, é defumado com barris de carvalho usados no envelhecimento do vinho Chardonnay.
GERSAL Famoso na cozinha macrobiótica, o gersal é a mistura de sal refinado com sementes de sésamo torradas e moídas. O sésamo é uma boa fonte de proteína, cálcio e gordura insaturada, que contribui para a manutenção dos níveis normais de colesterol no sangue.
SAL HAVAIANO Tem uma coloração avermelhada por causa da presença de uma argila havaiana chamada Alaea, rica em dióxido de ferro. Não é refinado e possui a mesma quantidade de sódio dos sais comuns, recomendando-se por isso moderação.

💧 Este tema só fica completo com a leitura de: Quanta água doce há na terra?

Fontes consultadas:

U.S. Geological Survey | Sal dinâmico, de Jérôme-Cecil Auffret | PennSateNews | National Ocean Service | Saúde | Megacurioso |